quinta-feira, 10 de setembro de 2020

“MANCADAS” DE GRANDES E SENSÍVEIS ESCRITORES...

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O escritor Gilberto Freyre (1900-1937) em seu livro memorial “Tempo Morto”, diz que chegou a ver o dirigível Zeppelin no Recife em 1930, mas infelizmente, não fez nenhuma descrição do aparelho em si nesta que foi sua sua primeira aparição no lugar e da visão que teve. Escritor ao inspirado e fecundo, limitou-se à informações relevantes e insossas e mais nada. Lamentável.


Outro, dentre outros, que cometeu "erro" semelhante foi Augusto Mayer (1902-1970), escritor sensibilíssimo, autor dos ótimos e conceituados “Segredos da Infância” (1949) e No Tempo da Flor” (1966), que no seu primeiro livro, obra muito poética, lírica e bem escrita podia ter perfeitamente feito um capítulo sobre o cometa Halley em 1910, que certamente deve tê-lo visto, isto, quando tinha 8 anos. Fica difícil acreditar - pelo ibope mundial que dera a aparição do gigantesco astro -, que ele não o tenha visto e sensibilizado com sua visão.


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quarta-feira, 22 de julho de 2020

SOB A TAL MODA DA MODA DA "MODIFICAÇÃO CORPORAL"...

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Um dos rapazes que contestou minha postagem e postura sobre esta primeira foto, disse que se trata da moda da "modificação corporal", nada a ver com a "body  modification" com fins puramente corretivos, portanto, de alçada da medicina.

Mas, convenhamos que não é nada saudável se extirpar partes do próprio corpo - ainda mais dando cabo de áreas vitais como bochecha -, justamente da boca, uma das portas de entrada de inúmeras doenças, e isto, com o insensato propósito de fazer sucesso social se exibindo numa espécie de "vitrine teratológica" humana...


Será que estamos voltando àquela época dos circos que exibiam pobres pessoas com defeitos congênitos? Não duvido, e penso que estas modificadores corporais e pessoas que cobrem o corpo totalmente com tatuagens, além dos silicones da vida, piercings e penduricalhos de toda sorte, terão esta "serventia" quando estiverem desempregados a partir dos 50 anos, coisa que se agravará e aumentará sobremaneira o impacto visual com o envelhecimento progressivo, as rugas, a gibose (corcunda),  a caquexia, a canície (cabelos grisalhos), o geno varo (as pernas arqueadas), o escambau...


Com o avançar da idade, e com as sérias ameaças à própria saúde (que com o tempo se fragiliza e deteriora), certamente virá o arrependimento e a pessoa terá que arcar com uma boa grana em operações plásticas para recompor o perdido, se é que, em casos como este, isto será possível... 

Em suma, há maneiras muito mais legais (mas é legal a extirpação?...) de exibir corpo e chocar as pessoas sem que se tenha de abrir mão de partes nobres dele com om intervenções carnais e que causam aflição só de ver. 


Meus caros e amados jovens, o corpo é sagrado demais para ser violado e submetido à auto-agressões com propósitos estúpidos, desnecessários e que não se justificam. Afinal, uma coisa é melhorar o corpo; outra, é comprometê-lo gravemente extirpando-lhe partes vitais, destruindo-o! 

E, enfim, convenhamos, galera da Geração Saúde: ninguém em sã consciência precisa disso. E viva o Saci-Pererê!
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O TAL DE ROCK ESTILO "AOR"...

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Journey, Kansas, Toto, Survivor, Foreigner, Styx, Boston, Asia e REO Speedwagon. Ouvi todas estas bandas quando surgiram, mas nunca gostei do estilo de som, e sempre achei que havia uma "semelhança" inexplicável entre elas. Achava-as bandas com um sabor pop que não me agradava, algo meio musak (música de elevador). 

Quando meu irmão apareceu em casa com o primeiro disco do Boston (ao que parece a primeira banda AOR), eu ouvi e pensei: "Tem alguma coisa aí de som comercial nisto".

Soube hoje, após décadas (imperdoável...), que são as tais bandas do gênero AOR. Hoje, constato que o meu conhecimento de rock, me levou, ainda que de maneira "inconsciente", a traçar um paralelo entre elas, ainda que eu não soubesse que era um estilo "intencional", um movimento  musical (será que foi?). 

AOR significa "Adult Oriented Rock" (rock direcionado para adultos), e trata-se de uma fusão entre rock, hard e progressivo surgida no final dos anos 1970 e início da década de 1980, caracterizada por uma sonoridade rica e cheia de camadas, produção cristalina e uma forte presença de melodia e refrões fortes.

Hoje, sei que, se for me referir à elas, não preciso ter o "inconveniente" de ficar listando banda por banda - que respeito e são bandas ótimas - mas apenas dizer a sigla que resume tudo: AOR.
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segunda-feira, 6 de julho de 2020

TERIA A ILUSTRAÇÃO DA EMBALAGEM DO CHOCOLATE EM PÓ "DOIS FRADES" DA NESTLÉ SIDO UM PLÁGIO DA PINTURA "FRADES COMENDO MACARRONADA", DE JOAQUIM DA MATA DUTRA, PINTOR DOS QUADROS SACROS DA IGREJA MATRIZ DE ARARAS-SP?

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O caso é um mistério, e envolve dois pintores, duas empresas do ramo e um proprietário delas. 

Mas, vamos ao mistério, porém, antes, deixem-me esclarecer que esta minha abordagem não é inédita, pois há pelo menos diversas publicações anteriores, mas todas elas omitem o nome de um dos pintores. No entanto, dentre as três abordagens, a minha traz mais um fato e é nele que reside o principal mistério a que me refiro, mistério, por sinal, de difícil solução, pois exige pesquisas mais profundas.

Os cinco envolvidos são: dois pintores, o italiano Alessandro Sani e o brasileiro Joaquim Miguel Dutra; duas as empresas: a "Chocolates Gardano" (e seu proprietário) e a Nestlé.


Tudo começa no distante 1957, quando a Nestlé compra a empresa "Gardano" (sim, ela já tinha esta tática há muito tempo...), que já comercializava o chocolate em pó com a ilustração dos frades: a usada pela Nestlé. A "Gardano" fora fundada em 1921, na cidade de São Paulo, e após a posse da Nestlé, alguns dos antigos produtos foram mantidos com os rótulos originais, porém, incluindo o logo da nova marca. Acontece que o ex-proprietário da empresa, Paulo Gardano, era um apaixonado por arte e usou como ilustração da embalagem uma pintura do citado Sani, pintura esta batizada como "Il piatto favorito" (O prato preferido), onde aparecem dois frades degustando, segundo alguns, uma refeição de frango com batata. No site leiloeiro "Invaluable", o título desta pintura é "Testing the recipe" ou "The Gourmet".

Alessandro Sani, "Il piatto favorito" (O prato preferido)

"Testing the recipe" ou "The Gourmet"

Apesar da mudança de nomes, a Nestlé manteve a mesma imagem escolhida por Gardano, porém, inverteu seu sentido, espelhando a imagem, e também mudou o desenho da tigela além de eliminar parte dos corpos dos frades com o tampo da mesa. O nome "Gardano" permaneceu no mercado até 1959, quando foi substituído pela marca Nestlé. Anos mais tarde, em 1975, a Nestlé registrou a marca "Dois Frades" para o tradicional Chocolate em Pó Nestlé,e, em 1991, foi registrada a marca Chocolate dos Padres pela companhia. Abro aspas aqui para lembrar que o Paulo também criou a embalagem do "Alpino" (outro produto da Gardano) e ela foi utilizada em seu desenho original por muitos anos. Esta embalagem era um embrulho de um fino laminado dourado e chanfrado, coberto por uma tampinha de papelão com alça envolvendo o chocolate (alguém se lembra?). Porém, hoje - opinião pessoal - é aquela embalagem toda amassada e sem a tampinha que depõe contra a alta qualidade deste conceituado chocolate da Nestlé. Relembro também, que a ultra-famosa e extinta pastilhas "Mentex", era obra também do bom-gosto da Gardano, e o porquê de a Nestlé tê-la tirado do mercado hoje constitui também outro mistério a ser desvendado...


Uma pausa aqui: Alessandro Sani nasceu e residiu na Florença, sendo considerado um dos últimos grandes pintores da Itália, e foi um dos poucos artistas que permaneceu no País durante a imigração em massa para os EUA e Brasil no final do século XIX e início do século XX, fato que tornou seus quadros um raro acervo de obras de arte italianas produzidas neste período.

Joaquim Miguel Dutra
O Wikipedia (mais confiável) traz as datas de nascimento e morte de Sani em 1856 e 1927, mas outros site dão 1870 e 1950. A publicação da Veja (e não se sabe onde ela obteve esta informação) traz a data de feitio do quadro de Sani para 1913, enquanto o leilão do E-Bay dá a data 1931. Porém - e é aqui que começa o grande mistério -, existe uma pintura semelhante à de Sani, "Frades com Macarronada", datada de 1911, de autoria do supra-citado Joaquim Miguel Dutra (1864-1930), pintor piracicabano, também decorador, músico, escultor e professor. Sim, a pintura de Dutra não foi utilizada na embalagem da Nesté, mas a pergunta que fica é se Sani, para fazer seu quadro, se inspirou na pintura de Dutra, ou o contrário. 

Mas, outra pergunta se faz necessária: a pintura de Dutra era conhecida na Itália, e se sim, o Sani travou contato com ela e fez uma releitura? O paradeiro atual da pintura de Dutra não sabemos, mas uma reprodução sua está no site do Enciclopédia Itaú Cultural. 


Outras buscas na Internet me levaram a uma gravura vendida também no site E-Bay - uma reprodução desta pintura creditada ao Dutra - o que aumenta mais ainda  mistério -, e ela traz o título "Macaroni", com data de 1893. 


Aliás, aqui começa uma verdadeira confusão: esta imagem dos padres degustando macarrão - repito: creditada ao Dutra pela Enciclopédia Itaú Cultural - reaparece em diversos outros sites sendo ela creditada ao Sani e também mencionado como a imagem do Chocolate em Pó da Nestlé! Dentre os sites, um deles, o "Segredos de Cozinha", talvez lance uma luz no mistério, onde, se referindo à pintura creditada ao Dutra, lê-se: "A tela aí de cima, "The tasting", é outro óleo do mesmo pintor e foi vendida recentemente, em um leilão realizado pela Christie’s de Nova York, por US$ 6.000." A publicação deste site traz a data 23 de fevereiro de 2007. O site "Karla Cunha" vai  na mesma toada e diz: "'The Tasting', outro quadro do autor, que brinca novamente com figuras religiosas e o pecado da gula." Esta imagem serviu como ilustração de um livro lançado em 1999: "The Art of Being a Good Friend: How to Bring Out the Best in Your Friends and in Yourself", de Hugh Black.


O quadro de Sani (o do frango com babata) apareceu duas vezes em leilões pela internet do site "Invaluable", em 2001 e depois em 2015, mas não me informei se ele fora vendido. Nestes sites, a pintura tem nomes diferentes do dado ao quadro em poder da família Gardano: no "Invaluable" vem como "Testing of recipe" ou "The gourmet", e no E-bay como "Monks" (Monges).

  
Segundo Andrea Gardano Bucharles Giroldo, o quadro de Sani "está com a minha mãe, Marilena Gardano, neta de Francesco Gardano que, ao lado de Mário Gardano, foram os fundadores da fábrica de chocolates Gardano." Surpreendetemente, na Internet podemos encontrar o mesmo quadro à venda num leilão internacional. A mãe também se manifestou no mesmo site: "Realmente o quadro dos frades encontra-se comigo e nele lê-se bem a marca Gardano. Por 5 ou 10 anos essa embalagem com a imagem dos frades não pode ser usada pela Nestlé. Acredito que nunca devia ter sido dada essa permissão já que mais tarde construíram a Fabrica Dulcora também de chocolates e a imagem que era originalmente deles não pode ser usada."

O quadro em poder da família Gardano. * Notem a diferença de moldura do anterior.

No meu entender - se a Enciclopédia Itaú Cultural não cometeu um grande equívoco atribuindo a pintura de Sani ao Dutra -, penso que este recriou a pintura de Sani, que era famoso por pintar diversos quadros do gênero ironizando religiosos animados e glutões, e no lugar de frango com batatas, colocou algo mais italiano, a macarronada. Depois veio a Gardano e abrasileirou a desgustação com uma boa panelada do nosso famoso produto de renome mundial originário da bacia hidrográfica do rio Amazonas, o cacau... De todo modo, Sani é reconhecido por seus quadros que são verdadeiras sátiras à vida doméstica e o dia a dia dos frades, temática que geralmente foge dos quadros normalmente pintados por Dutra, um exímio paisagista, muito embora Dutra pintasse temas religiosos em igrejas, como é o caso em questão da Basílica de Araras.

Para incrementar mais ainda o debate, encontrei no site "Belgin Club" uma outra variante destes quadros do Sani, denominada "Dois monges bebendo", creditada segundo o dono deste blog ao pintor belga Adrien Henri Vital van Emelen, cujo motivo de degustação é uma garrafa de vinho. Para variar, o blogueiro pergunta se não foi esta pintura que inspirou a dos frades do chocolate da Nestlé... Adrien Henri Vital van Emelen (1868-1943) foi um escultor, pintor e professor belga que se radicou no Brasil em 1920. Ele viveu em São Paulo, e realizou diversas obras encontradas ainda hoje no Mosteiro São Bento, e, portanto,  diríamos que a temática "fradiana" era "familiar" ao Emelen...

 
Notem, então, que há vários mistérios: duas pinturas iguais de Sani (a do frango com babata), uma com a família Gardano e outra leiloada em sites internacionais, além de outra variante dele também, a "Testing" (que a Itaú diz ser do Dutra). A pergunta que fica: das duas primeiras, uma delas é reprodução ou Sani pintou dois quadros semelhantes? O outro mistério diz respeito às datas da pintura do Sani e da do Dutra: como vimos, a do primeiro pode ser de 1913 ou 1931, e a de Dutra de 1911, por sinal, época que ele esteve em Araras pintando os quadros da Matriz, lembrando que, diga-se de passagem, a empresa Nestlé já existia quando Dutra esteve na cidade. Esta suposta pintura de 1911 do Dutra, o site E-Bay dá-lhe a data de 1893, mas traz Sani como autor.

Como se vê, e como afirmei, só mesmo profundas pesquisas irão sanar esta dúvida, mas ainda creio que o erro mais grave se deve à Enciclopédia Itaú Cultural - em suma, o quadro seria do Sani e não do Dutra. Um solução para isto é contatar o fotógrafo (austríaco?) citado neste site, o Horst Merkel, que fez a reprodução fotográfica do quadro, perguntando-lhe sobre qual material fez a foto: um quadro ou uma gravura, e quem está em poder desta obra. Geralmente, as fotos dele são feitas a partir de quadros expostos em museus.

Aqui, algumas da pinturas internas da igreja Matriz "Nossa Senhora do Patrocínio", hoje Basílica, feitas por  Dutra nas paredes e no teto, obras devidas, segundo ele, à seus "fracos préstimos"...



 

 


 

À esta altura, amigos, embora ambos trabalhem com motivos religiosos, reparem que o estilo de fisionomia humana do Dutra difere sensivelmente do de Sani.

Enfim, amigos, ao contrário de todas as pessoas atentas a estes pormenores, como, modéstia à parte, eu e os citados acima, poucos sabem que quem compra um quadro de um artista, não obtém o direito de comercializar a imagem sem a permissão legal do autor ou da família do finado autor, e, pelo jeito, nem mesmo os Gardano e a própria Nestlé sabem disto..., mas, fica outro mistério: se o Sani e o Dutra (e o Emelen?...) estão indignados rolando em seus túmulos, é coisa que sabemos menos ainda!...


FONTES: 

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra66346/frades-com-macarronada
https://www.ifd.com.br/publicidade-e-propaganda/a-verdadeira-historia-dos-dois-frades-da-nestle/
https://vejasp.abril.com.br/comida-bebida/chocolate-nestle-padres-pintura/
http://paiobirolini.blogspot.com/2009/05/27-os-padres-da-nestle.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Adrien_Henri_Vital_van_Emelen
http://segredosdecozinha.blogspot.com/2007/02/chocolate-dos-padres.html
http://www.karlacunha.com.br/chocolate-com-arte/
https://www.panelinha.com.br/blog/ritalobo/Chocolate-dos-padres
https://www.amazon.com/Art-Being-Good-Friend-1999-08-01/dp/B01N8UABNN
https://www.nestle.com.br/marcas/dois-frades/chocolate-em-po-dois-frades
https://picclick.co.uk/1893-PEARS-PRINT-CHRISTMAS-ANNUAL-POSTER-391768790938.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Alessandro_Sani
http://www.belgianclub.com.br/pt-br/pintura/dois-monges-bebendo
http://blogdoprofflavio.blogspot.com/2011/03/trilogia-das-caixas-o-chocolate-dos.html
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quarta-feira, 1 de julho de 2020

AS ILHAS FLUTUANTES DE VEGETAÇÃO E SEUS NOMES REGIONAIS

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Em minha leituras de livros de sertanistas, exploradores, viajantes, desbravadores, expedicionários, cientistas e afins, coletei algumas curiosas expressões usadas para indicar as touceiras ou pequenas ilhas cheias de vegetação (sim, elas tem nome!) que às vezes vemos flutuando em lagoas ou descendo rios, geralmente desgarradas de moitas de terra com plantas aquáticas. Embora a maioria das expressões designe uma planta específica, elas também são usadas para indicar um bloco desgarrado delas. Aqui, os nomes coletados:

- Canarana (Estado de São Paulo)
- Capituva (Estado de São paulo)
- Saran (Pantanal)
- Matupá (Amazônia)
- Periantã (Amazônia)
- Baronesa-do-rio (Nordeste)
- Camalote (Araguaia)

Às vezes, curiosamente, elas vem com galhos incrustados onde se pode ver aves pegando carona nelas, assim como há nadadores que brincam nas mesmas quando elas surgem nos rios!... 



* Em Araras-SP, na represa "Zézito Lemos", já vi este fenômeno algumas vezes.
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segunda-feira, 8 de junho de 2020

A DITADURA NA ARARAS SETENTA-OITENTISTA E SUAS CONSEQUÊNCIAS (história que vale para muitas cidades do interior do Brasil)

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Eu me lembro de Araras, naquela época da ditadura, de certas pessoas que conhecíamos de vista, ou que eram famosas na cidade, gente que sofria deveras com a repressão e a violência perpetrada pelo governo militar. Víamos essas pessoas pelas ruas, becos e vielas e praças, sempre andando furtivamente, com os olhos esbugalhados, enclavinhados ─ paranóicos até ─, tremendo de medo cada vez que mal viam a polícia ou militares. Geralmente, eram professores, escritores e artistas da vida, bancários, contraventores, amantes de ideologias exóticas etc., gente que, depois, foram presas e torturadas; e, até mesmo, muitos deles nunca mais vimos! Disseram que “os homens deram sumiço neles”. Era gente que não se misturava, de vida secreta e sinistra, que sempre evitava sair de casa, e se saía, lá vinha a tal de paranoia...

Também se incluía neste caldeirão oposicionista os poetas marginais, os compositores de MPB subversiva (sim, eles existiam em Araras!) e músicos de rock. Todos estes, eram gente que tiveram suas criações censuradas e suas modas reprimidas e condenadas. Pobres rockeiros, que também tiveram seus cabelões (“cheios de piolhos”) cortados e os discos proibidos, que não conseguiam tocar com suas bandas, pois a polícia vinha e arrebentava a galera, acabava com o show e prendia meio mundo. Do mesmo modo, não podiam ir aos bares da moda, em shows em outras cidades onde havia circuitos de bandas de rock, em festivais de música, em peças de teatro etc. 

Já eu e minha turma, e outras turmas, amigos da escola, conhecidos das lanchonetes, das sessões de cinema e footings na praça, também meus familiares ─ na verdade, muitas pessoas da cidade ─, ficávamos só vendo, à distância, ou sabendo destas coisas ruins acontecendo com aquela gente lá do outro lado... Nós, na verdade, éramos todos uns caretões, gente certinha demais que só bebia Coca Cola e que ia dormir às 10 da noite, de modo que nada sofremos dessas coisas terríveis infringidas pela ditadura àquela gente inocente que sofria injustamente nas mãos dos brutamontes dos meganhas.

Meu Deus, como essa pobre gente sofreu na Araras daqueles tempos! E, quanto a mim, nunca mais quero reviver aquilo, e quero mesmo é esquecer tudo o que aconteceu! Isto é página virada na história de Araras!

Uma pausa aqui. 

Estão estranhando algo neste texto, amigos? Se sim, saiba que vocês estão certos! Como podem ver, esta história acima é mentirosa, é ficção, é utopia, que isso nunca existiu na cidade. E o que existiu não passou de um certo medo dos atiradores do Tiro de Guerra local de que o Lamarca ou o Marighella viessem, na calada da noite, assaltar a corporação e roubar os armamentos. 

Mas, amigos, querem saber mesmo quem são essas pessoas que sobreviveram à toda aquela monstruosidade e carnificina militarista? Essas pessoas, caros ararenses, são esses “artistas” que ficam aí nas redes sociais contando mentiras sobre coisas que jamais viveram ou sofreram naqueles tempos bonançosos de “Cidade das Árvores”... Não passam de saudosistas às avessas que ficam rememorando fatos ditatoriais que nunca ocorreram em nossa terra, e até acreditam que os estão revivendo na “Era Bolsonaro”!... 

Vale lembrar que eu nunca vi ou soube, em Araras, de uma pessoa que fosse guerrilheiro, assaltante de banco, sequestrador, comunista, ou mesmo marxista, socialista ou leninista. Na verdade, o que eles iriam fazer naquela cidadela setenta-oitentista que era Araras com todo esse “cabedal”? Se existiu algum, então ele se debandou para os grandes centros, onde realmente deve ter tido serventia, bem como sofrido as consequências por seu ato... Sei de um caso em Araras, e talvez seja o único, no que ele representa 0,01% de sua população, de modo que 99,% da cidade viveu sem tais problemas.

Portanto amigos, não se fiem nas palavras e depoimentos dessas pessoas traumatizadas pelas torturas que só podem ter sofrido em estado onírico... Um dia eles irão acordar e se dar conta de que o que falam não passa de mero lero-lero de periquitos de realejo...

Para finalizar, gostaria de lembrar que, eu mesmo, que era cabeludo e tocava numa banda de rock, nunca sofri com minha banda repressão alguma ou mesmo uma mera intimidação da polícia. Frequentávamos shows de rock e bares da moda onde se reunia toda a rapeize, tomávamos todas, voltávamos para casa naquelas madrugadas de ruas vazias de carros e de gente, e mais, não existiam ladrões como hoje. Todos nós, adultos e jovens daquela época, curtimos tudo o que tivemos direito em qualquer hora do dia e da noite, e a polícia ou militar algum jamais colocou um dedo em nossos cabelos... Havia a chamada “geral”, uma vistoria da polícia em pessoas suspeitas, mas, geralmente, a coisa não passava disso.

Mas, e aqueles nossos conterrâneos, os mesmos que, num saudosismo às avessas, falam no Facebook sobre a ditadura? Saibam, amigos, que eles também desfrutaram de todas aquelas coisas boas, dos benesses da Contracultura, do Paz & Amor, do Flower Power e do Milagre Econômico, tudo no mesmo nível e intensidade de todos os ararenses e e sem problema algum, sem o fantasma dos militares no seu encalço… Tenho dito!
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domingo, 31 de maio de 2020

EXPRESSÕES POETICAMENTE VIOLENTAS...

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Li, anos atrás, esta incrível expressão de autoria do irmão do ex-Presidente Figueiredo, o genial dramaturgo Guilherme Figueiredo (1915-1997), extraída do livro "Despropósitos (1983), mas, antes que os leitores  interpretem mal, ele não se referia ao irmão (como pode parecer), embora se tratasse de um político... 

"Quando falava, parecia destruir um roseiral a chicotadas".

Mas lendo o Monteiro Lobato (1882-1948) recentemente, cheguei à conclusão que ele foi mais longe - olha esta pérola dele, do livro "Na Antevéspera (1933), na qual ele se referia a uma nova poeta estreante: 

"Gilka Machado dá a sensação nobre de criatura afeita a partir cristais com martelo de ouro ."


* Notem que, porém, o Machado escreveu sua frase 50 anos antes do Figueiredo.


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