terça-feira, 30 de dezembro de 2008

HISTÓRIAS VERDADEIRAS, E NÃO PIADAS, SOBRE PAPAGAIOS...



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Quando alguém, numa roda de bate-papos, se aventura a contar algum fato curioso que diga respeito a uma de nossas principais aves de estimação – o papagaio – o assunto, invariavelmente, sempre acaba descambando para o anedotário, e muito raro é o se ouvir histórias verdadeiras sobre esta cômica ave. O que poucos sabem é que este danado é uma personagem literária que estrelando histórias do gênero desde a Idade Média.

Hoje, trago aqui doze destas raras histórias que compilei ao longo dos últimos anos. O interessante nelas, é que, apesar de sua veracidade, todas não estão isentas de um certo conteúdo cômico tão inerente à "biografia" desta afamada espécie de pássaro. A maioria são história antigas, centenárias, mas nenhuma indigna de nota, e tanto o são que sugiro lê-las acompanhadas de uma boa taça de Rum Montilla, sim, aquele rum do pirata com o papagaio no ombro...

Esta, foi recolhida pelo escritor Nelson Vainer, em seu livro No Reino das Aves:

“G. Birdwood conta que, em 1869, estando no Palácio de Cristal, viu no aviário um papagaio verde, tão murcho que fazia pena olhar para ele. Falou-lhe, chamou-o de Loiro, fez-lhe festinhas, mas o papagaio não se moveu.
Birdwood lembrou-se, então, que o papagaio poderia ser indiano e saudou-o com Ram-Ram! Falando-lhe em maiata (língua da Índia Central). No mesmo instante, o loiro saiu do marasmo em que estava, pôs-se a saltar e a gingar, respondeu trepando às grades até chegar-se à Birdwwod, e encostou a cabeça aos nós de seus dedos.
Daí em diante, todas as vezes que Birdwood ia visitá-lo, ficava o papagaio contentíssimo e corria para ele.”


Eurico Santos, cita uma história de dois papagaios recolhida por Alberto Faria, em Aérides:

“Conta-se que, de volta da batalha d’Ácio, Augusto ouvira de um papagaio:
“Eu te saúdo, César vencedor!”
E como o informassem de que o dono possuía outro exemplar falante, ordenou sua vinda.
Chegado que foi, pronunciou com grande escândalo:
“Eu te saúdo, Antônio Vencedor!”
Compreende-se: o mestre, na incerteza da sorte das armas, ensinara cada ave a felicitar um dos antagonistas no prélio.”


Sobre esse famoso papagaio de Nassau, o escritor Sergio Paulo Rouanet, em seu texto Do Homem-Máquina ao Homem-Genoma, trouxe uma curiosa história, onde se refere ao médico Julien Offray de La Mettrie (1709-1751) – que escreveu o líbelo anti-humanista O Homem-Máquina. Em certa passagem, esse médico aludia ao fato de que os animais pudessem um dia aprender a falar pela imitação dos homens.

“De resto, afirma La Mettrie, isso já aconteceu, segundo depoimento do príncipe Maurício de Nassau, que jurou ter mantido no Brasil uma conversa perfeitamente racional com um papagaio. Como a ave falava em tupi-guarani, é bastante provável que o príncipe tenha sido enganado pelos intérpretes e que, em vez de ser o autor de uma observação científica, Maurício de Nassau tenha sido o inventor involuntário da primeira anedota de papagaio de nossa história. O comentário não é meu, e sim de Afonso Arinos, que conhecia bem esse episódio. De qualquer modo, La Mettrie acreditava na veracidade da narrativa, e é o que importa.”

Um leitor da revista Nossa História, Aureliano Moura, do Rio de Janeiro, enviou a seção Almanaque uma curiosa história, mas de papagaio que, segunda a revista, “merecia, por seu patriotismo, pelo menos uma medalha”...

“No livro Siete años de aventuras en el Paraguay, Jorge Federico Masterman, um boticário inglês, descreve a desolação que tomou conta de Assunção, sob bombardeio brasileiro, no final da Guerra da Tríplice Aliança. Como a população se retirara, levando consigo seus cães, milhares de gatos famintos tomaram conta da capital uruguaia, atacando os galinheiros ainda existentes. Nove papagaios sobreviveram graças à proteção do ministro Washburn, chefe da legação norte-americana, que prontamente lhes concedeu asilo, acomodando-os num enorme poleiro e alimentando-os com cubinhos de mandioca. Certo dia um papagaio causou pânico entre os asilados que, como eles, estavam hospedados na legação. Esse louro, que era o mais falante e corajoso de todos, bradou de repente no mais puro português: “Viva d. Pedro II!” Todos corriam perigo. Uma demonstração de simpatia ao Brasil àquela altura podia ser vista pelos paraguaios como traição. “O que é isso, perguntou Washburn, atônito. Como resposta, o papagaio repetiu: “Viva d. Pedro II!”. “Torça-lhe o pescoço imediatamente,” ordenou o ministro, desesperado, a seu secretário, mr. Meinke. Não se sabe o destino do louro monarquista, pois Masterman, embora tenha testemunhado o fato, não registrou o fim da história.”

O livro O Homem e o Mundo Natural: Mudanças de Atitude dm Relação às Plantas e aos Animais, 1500-1800, de Keith Thomas, traz uma interessante história de papagaio, mas é inegável que ela resvala para a piada:

“John (?) ficou muito impressionado com os relatos sobre um papagaio falante que pertencera ao príncipe Maurício de Nassau. Havia uma história ainda mais conhecida de um papagaio de Henrique VIII, que caiu no Tâmisa e gritou: “Um barco, um barco! Vinte libras por um barco!”. Quando um barqueiro que passava recolheu a ave e a levou ao rei em busca de sua recompensa, ela mudou o refrão, disse: “Dê um tostão ao tratante.”


Aqui, três outras histórias colhidas na Internet, no blog Recanto das Palavras:

“Há uns dois anos, os jornais noticiaram a história de Ziggy, um papagaio que à época contava 8 anos de idade e dedurou a sua dona, que dava umas voltas no namorado com um tal de Gary. Ziggy, zeloso de suas atribuições parlantes, toda as vezes que ouvia o nome “Gary” vindo de um programa de televisão, danava a imitar beijinhos estaladinhos e, para jogar de vez as cinco letras que não cheiram bem no ventilador, quando o telefone celular da sapeca tocava, ele dizia languidamente… ‘Oh… Gary’. Está pensando que parou por aí? Nada disso! O dedo duro completou com a frase que incriminou de vez a cachorra: ‘Gary, eu te amo’, imitando a voz da dona, que ficou sem o namorado, agora sabedor de todas as chifradas que andou levando.
(...) Casanova, o maior de todos os amantes, certa vez comprou um papagaio e o ensinou a dizer ‘Miss Charpillon é tão puta quanto sua mãe’, tentando, assim, vingar-se de duas mulheres que tentaram passá-lo para trás.”

Jacob Penteado, em seu livro biográfico sobre poeta Martins Fontes (1884-1937), traz duas histórias de papagaio. Numa delas, cita uma conferência: “O que as aves e os pássaros nos dizem”, em que Fontes descreveu a história do inglês que contara à noiva que havia no Brasil um pássaro verde, amarelo, vermelho, bizarríssimo, que falava, mas falava! Ninguém acreditou e riram do que o inglês dissera. Mas o homem prometeu trazê-lo, na próxima viagem ao Amazonas. Ao chegar a Manaus, procurou logo um seu conhecido, um cearense viajado, que sustentava, havia anos, um papagaio velho, “mudo como um deputado pelo Piauí, inteiramente inútil, parasita”. Na verdade, ele se referia ao Senador Mal. Pires Ferreira, “que jamais abriu a boca, no Congresso”. “Está claro que o papagaio não ia falar nem em Londres. Ao retornar ao Brasil, o inglês procurou o cearense, exigindo explicações. – ‘É verdade, respondeu o matuto, mas pensa, pensa muito... Chama-se Pacheco’.”

Na segunda história, Fontes fala de um português que bateu à porta de uma casa e ouviu uma voz: – “Entre!” Ele foi entrando, foi entrando, até chegar à sala onde estava um papagaio, que lhe disse: – “Sente-se!” E o chegadinho da terra, de chapeirão braguês, calças de cano de espingarda, respeitosamente se curvou e disse: – “Tenha a bondade de me desculpar, pois não sabia que o senhor era um passarinho”.

Há uma outra curiosa história, recolhida pelo professor Alcyr Mathiesen (desenho), que aconteceu em minha cidade, Araras (SP), por volta de 1939/40. Num distrito da cidade, conhecido como Loreto, uma epidemia de febre grassou no lugar e muitos moradores começaram a morrer por causa desse mal. O pessoal do serviço de saúde chegou à conclusão que a febre era o tifo exantemático, transmitido pela picada de carrapatos que infestavam os animais do lugar, como os cachorros, p. ex. Como resultado, todos os cães foram mortos naquele distrito. Na cidade, a funerária do senhor Antonio Severino aumentou consideravelmente o números de caixões vendidos, tal era o número de mortos no Loreto, e todo dia um caixão era despachado para o lugar. Como resultado, a frase que mais se ouvia no estabelecimento era a que o “seu” Severino dizia para o seu funcionário: – “Tonho... caixão pro Loreto!”. Acontece que o proprietário da funerária tinha um papagaio, e tantas vezes esse pássaro ouviu a tal frase, que era bastava um cliente adentrar a funerária e o papagaio já ia dizendo: – “Tonho... caixão pro Loreto... currupaco, caixão pro loreto!”...

Em Denver, nos EUA, um papagaio de estimação de nome Willie (foto) foi responsável por salvar uma garotinha que havia se engasgado durante o café da manhã. Megan Howard, dona da ave, havia deixado o local em que estava a criança no momento do acidente. Ao perceber que a garotinha estava engasgando, Willie começou a agitar as asas e a repetir as palavras “mama” (“mamãe”) e “baby” (“bebê”). Alertada a tempo, Megan conseguiu ajudar a menina. Pelo gesto, Willie foi condecorado pela Cruz Vermelha e recebeu um prêmio especial para animais que salvam vidas.

Na cidade colombiana de Barranquilla, um papagaio foi “engaiolado” pela polícia depois de uma batida contra traficantes de drogas no dia 15 de setembro de 2010. Segundo autoridades ambientais, Lorenzo – este era o nome do papagaio (foto) – estava treinado para avisar os traficantes sobre a chegada da polícia. “O papagaio mandava alertas”, disse Hollman Oliveira, da Polícia Ambiental. “Podemos dizer que era uma espécie de ‘pássaro de guarda’.” Ele seria apenas um dentre os 1.700 papagaios treinados com esta finalidade pelos traficantes. Lorenzo fez sucesso ao ser apresentado aos jornalistas: chegou a exibir suas habilidades, gritando “Corre, corre, corre, que te coge el gato.” (“corre, senão te pegam”). Pelo menos quatro homens e dois outros pássaros também foram presos nas operações.

Mas, afinal, os papagaios realmente sabem o que estão falando? O livro O Império do Grotesco, de Muniz Sodré e Raquel Paiva (2002), traz o seguinte esclarecimento:

“Esse argumento não parecerá tão absurdo a alguns cientistas contemporâneos, como o etólogo Donald Griffi,, da Universidade de Harvard, para quem é possível conceber-se uma ‘consciência’ animal, inclusive com faculdades comunicativas, do tipo das dos macacos africanos Cercophythecus pygerithrus, cujos gritos de alarme ‘transmitem a identidade dos predadores específicos: cobras, águias ou leopardos.’ Garante Griffin: ‘Tenho a impressão de que, se os cientistas realmente se aplicassem a estudar esses problemas, como fazem com outros, não demorariam a perceber que existem muitos animais - como o papagaio cinzento africano de Irene Pepperberg - que, quando falam, falam sério.”


BIBLIOGRAFIA - 11 fontes
Consultar o autor
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

OUTRAS FRASES DE HUMOR DE MINHA AUTORIA

No desenho, eu por eu mesmo...

HUMOR FORA DE MODA
Depois do pânico da Síndrome de Lorena Bobbit e do advento das facas Ginsu, nas relações sexuais só mesmo usando preservativo de tecido de meia Vivarina.
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VOCAÇÃO
Humorista é o tipo de pessoa que atira pó-de-mico para cima para ver de que lado o vento está soprando.
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SUTIS DIFERENÇAS
Mulher falsa é aquela que nos largou para ficar com outro homem. Mulher verdadeira é aquela que largou outro homem para ficar conosco.
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EFEITO RAIMUNDA
A 'abundante' Rita Cadillac, ex-chacrete do extinto Cassino do Chacinha, disse tempos atrás que, quando morresse queria ser velada de bruços, para que as pessoas a reconhecessem. A Carla Perez do 'Tcham' talvez desejasse o mesmo, mas com um adendo: a garrafinha do lado...
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HOMO SAPIENS
Eu, como todo ser humano, sou metazoário, enterozário, triblástico, deuterostômico, cordado, celomado, vertebrado, mamífero, metanéfrico, primata, bípede, hominídae, eucarionte, vivíparo, heterodonte, heterótofo, homeotérmico, pulmonado, placentário, amniota, alantoidiano, etc., e tem gente que ainda acha que eu sou um zé-ninguém!
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COISA DE LOUCO
Há prazeres insubstituíveis - não se pode rachar lenha com uma moto-serra.
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MODERNIDADE
Era um sambista de vanguarda: só batucava no isqueiro.
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CONVERSA DE QUITANDEIROS
- Ih, cara! Deu pepino no relacionamento dos dois. Ele só falava abobrinhas prá ela e, aí, ela começou a pisar nos tomates e espinafrou ele de vez. O azar dele é que a garota era mais lisa que quiabo.
- Nossa, que abacaxi, hein! E agora?
- A pobre da garota, por sinal uma repolhuda, virou rameira. Hoje dá mais que chuchu na serra e, o pior, à preço de banana!
- Ah, mas vá plantar batatas, que vida vegetativa!
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ATINAÇÕES
Clínico geral - o Mc Gyver dos médicos.
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JOGUETES DE CELEBRIDADES
O Bira está para o Jô Soares, assim como o Caçulinha está para o Faustão.
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ZOOLÓGICAS
Entre o riso da hiena e as lágrimas do crocodilo, há um fraternal abraço de urso.
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SÁBIAS DICAS
Não acenda um fósforo numa casa onde esteja vazando gás. Sua vida pode não valer nada, mas o gás está uma nota.
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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS...
A Terra é chata nos polos. E uma chatice em Sarara.
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BOSSA VELHA
O rio é de janeiro, mas as águas são de março.
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DESDITADO
Casa de Gepeto, brinquedo é de pau.
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APÓLOGO
O rolo compressor se apaixonou pelo cortadeira de grama, e suspirou ao vê-la passar: - Ah, Que Deus coloque ela no meu caminho!
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TEMPOS MODERNOS
Antes de dizer para uma jovem que ela está com varizes, repare se ela não está usando uma tatuagem tribal.
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FRASES PARA O DIA-A-DIA
Mais contrariado que girafa com torcicolo.
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DESDITADO II
A úlcera é nervosa porque a mandioca é brava e o intestino é grosso.
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ESPIRITISMO
Não podemos ter certeza que existem outras vidas só para compensar a bagunça que fizemos com esta.
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MUNDUS MULIERIBUS
A pior depilação é aquela 'feita nas coxas'.
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COMO PUXAR UMA CONVERSINHA COM O SEU ÍDOLO
- Você chupa lima, Duarte?
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- Teus lábios são vermelhos como uma pitanga, Camila!
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- Não fuja da raia, Cláudia! (essa é manjada...)
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- Você gosta de leite, Serginho?
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- Você veio de lá ou dali, Salvador?
*
- Você nunca foi furtado, Celso?
*
- Você veio nessa frota, Marcos?
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- No teu caso, o que tu farias, Reginaldo?
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- Você sabe dizer se já caíram as últimas neves, Tancredo?*
- Você agora está pintando quadros, Jânio?!
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- Você jogou na Sena, Airton?
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FRASES QUE NÃO SE DIZ PARA PERSONALIDADES
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- Seja, franco, Moacir!
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- Eu não gosto de brigadeiro, Luiz Antonio.
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- Aí, mané, vai ser Garrincha na vida!
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- Não quero nenhum adorno, Theodoro!
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- Se eu cozinho eu não lavo, Bilac.
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- Não me venha com esse filme, Geraldo!
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- Mia, Farrow, mia!
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- Vai lá no galinheiro e pega um pinto, Roquete.

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FRASES PARA VOCÊ COLOCAR NO VIDRO TRAZEIRO DE SEU CARRO
Não me acompanhe que eu não sou enterro.
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Tenha bom gosto - desfile comigo.
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Na minha frente, só bombeiro e ambulância.
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Silêncio, não buzine - estou doente!
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Calma, ô boiola, não vê que tem mais 23 na sua frente!
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Eu sou um ás na direção. Você é um asno volante.
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Se meu fusca falasse, pegaria carona de cegonheiro.
*
Abaixe o farol - eu não preciso ver o caminho das estrelas.
*
Mantenha distância - meu parachoque dá choque.
*

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

AS SETE MARAVILHAS DESAPARECIDAS DA CIDADE DE ARARAS/SP


"O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia
Para a pousada dos ventos."
(Paulo Eiró)

Por ocasião da recente eleição das setes maravilhas do mundo atual, o “Estadão” trouxe uma matéria recente do jornalista Sérgio Augusto (fev.2008) – “Factóide dos desocupados” – onde este afirmava que “O ser humano é o único animal que faz e gosta de fazer listas”. Disse ainda que “a maioria das listas é arbitrária, inútil, perecível, com forte tendência ao ridículo”. Disse mais e pegou pesado: as listas são “Dominadas por jovens com ociosidade e ignorância para dar e vender, a grande infovia é uma fórmula 1 de disparates e cânones estapafúrdios”. Não vou entrar aqui no mérito da questão (que, inevitavelmente, causa ressentimentos bairristas), nem “assino embaixo” do que disse Sérgio, mas este assunto me diz respeito e me atrai por outro viés: o da preservação de bens históricos e naturais. E a lista que hoje aqui se publica nada tem a ver com a primeira, mas guarda certa relação com a recém-votada “7 Maravilhas de Araras”. É ela, além de didática, uma lista de protesto, alerta e lamentações, onde incluo alguns dos muitos patrimônios que foram postos abaixo sem muita cerimônia e compaixão, devido falta da informação e bom senso das sucessivas administrações. Muitos outros bens de não menor importância poderiam ser incluídos nela, logo, as escolhas não foram tão criteriosas. Através desta lista, podemos nos dar conta de que o mal é antigo – vem dos primórdios essa prática de demolir bens históricos em prol de construções e benfeitorias modernas, daí talvez a antiga alcunha de “Araras, cidade progressista”...


1- BOSQUE DA “PRIMEIRA FESTA DAS ÁRVORES DO BRASIL”: plantando em 7-6-1902 por ocasião da festa, localizava-se abaixo da praça “Martinico Prado” e do T. G., ao lado de uma belíssima aléia de bambuais. Em 1947, na administração de José Paulino de Oliveira, a prefeitura elaborou no local um plano de loteamento, e foi o golpe fatal que colocou abaixo esse importante bosque da chamada “Cidade das Árvores”... Na foto, década de 1950, o lugar onde ele se situava, donde se conclui que a área era tão extensa quanto o Lago Municipal. Esse bosque constituía um testemunho vivo daquele que foi considerado pela revista Silvicultura como o “Primeiro movimento brasileiro de tomada de consciência do problema ambiental”, assim como era o símbolo maior do “Primeiro movimento ecológico brasileiro”, como colocou o Jornal da Tarde em 1978, fato que as administrações e o povo teimam em ignorar, mantendo o país alheio à iniciativa tão pioneira. Estes procedimentos insensatos provam claramente que em Araras, há muito, a natureza é a última que fala em questões imobiliárias...



2- PALACETE DO BARÃO DE ARARI: residência de José de Lacerda Guimarães, que se situava em frente a atual “Praça Barão”. Tempos depois da morte do barão, foi transformando no Palace Hotel, o que se deu em 1929. Foi nela que se recepcionou D. Pedro II e sua comitiva, em 1887, quando José recebeu o título de barão. Foi demolido em 1981 para a construção da nova sede do banco Itaú, ao que se sabe sem qualquer protesto dos povo ararense. Isto representou não só a perda irreparável de um bem histórico de excepcional valor – um “vestígio” do passado que nos permitia recordar a morada de um dos grandes fundadores de nossa nação e, conseqüentemente, a descaracterização do mais antigo logradouro urbano, a praça Barão, lugar onde nasceu o primeiro núcleo populacional da cidade. Infelizmente, essa força centrípeta que atrai bancos para os centros históricos das cidades do interior, impede-os muitas vezes de acordar para a política do restauro privado de edifícios históricos para fins comerciais.



3- HORTO FLORESTAL DO LORETO: era a grande reserva artificial de eucaliptos da cidade, além de possuir pequenas reservas de Mata Atlântica integradas à ele. Devido a sua importância, foi citado no livro “A Onda Verde” de Monteiro Lobato em 1920, lembrando-se que seu criador – o visionário Navarro de Andrade – foi o pioneiro da introdução do eucalipto no Brasil, com a sábia intenção de preservar matas nativas e abastecer as locomotivas com lenhas de plantações desta espécie. Constituía ele um excelente recanto para amantes da natureza, ideal para piqueniques, treckers, ciclistas e os que gostavam de se enveredar e se perder por seus sossegados aceiros. Na foto, no final da década de 1970, a parte sudoeste do horto. Ao contrário do seu “irmão” rio-clarense, ele não foi tombado, à salvo de “sem tetos” e “sem terras”, e, infelizmente, recebeu o golpe de misericórdia em 1997 quando foi definitivamente desflorestado para dar lugar a assentamentos... Aliás, nossa vizinha é uma cidade que preservou grande parte de seus bens históricos e culturais, como também a maior parte de seu equipamento ferroviário, além do seu imponente horto, isto, sem se gabar de ser uma “Cidade das Árvores”, slogan que não é nada bom para Araras como conceito sociológico, pois reduz a imagem de cidade à uma qualidade que ela não possui. Como se vê, os ideais conservacionistas do grande Navarro não fizeram eco na... “Cidade das Árvores”. Curiosamente, antes do advento dos motéis e drive-ins na cidade, o horto era o “malhômetro natural” da galera da época. Bons tempos estes!



4- ESTAÇÃO “SÃO BENTO” DA FEPASA: Inaugurada em 1885, era constituída de depósito e estação, e assim permaneceu até 1922, quando ganhou um novo prédio, ao lado do antigo, que permaneceu somente como depósito. Foi demolida quase que conjuntamente com a estação do Loreto, ou seja, após 1986. Com seu desaparecimento, o bairro circunvizinho decaiu consideravelmente e até a escola foi desativada! Nesta estação, há mais de um século, desembarcaram pintores de renome, como o francês Gabriel Biessy e o grande pintor regionalista Almeida Jr., que pintaram belos quadros tendo como motivo a fazenda Montevidéu e seus proprietários. Sabe-se que seu famoso quadro, o célebre “Caipira picando fumo”, foi pintado da janela de uma fazenda onde ele estava, de onde teria visto o tal caboclo, cujo apelido era “Quatro Paus”. É de se perguntar se esta fazenda não seria a Montevidéu ou a São Bento? Quem o dirá?...


5- CORETO "CHAMPIGNON": este coreto em forma de cogumelo gigante, foi construído em 1901 por Otávio Monti, pintor e arquiteto amador oriundo da Itália. Se situava no mesmo lugar onde hoje se ergue a Fonte Luminosa. Os antigos dizem que foi a primeira obra feita em concreto armado no Brasil, isto, décadas antes de ter sido inventado na França. A Internet diz que ele foi inventado pelo francês Joseph-Louis Lambot em 1845, mas Inglaterra e EUA também reivindicam a paternidade. Visto como um "monstrengo" por alguns "progressistas", foi posto abaixo em 1940. Curiosamente, o mesmo se deu com um coreto que ficava no cume do Corcovado carioca, que foi demolido para dar lugar à famosa imagem do Cristo Redentor em 1931 - a causa da demolição de nosso coreto foi menos nobre: deu lugar à um insosso lago com estátuas... Não se sabe se sua demolição foi motivada por alguém que soube do caso do coreto carioca. Conhecido também como "guarda-chuva", foi um dos primeiros bens históricos demolidos em nome da "picareta do progresso", como se disse na época. Houve raros protestos, mas levando-se em conta que nesta época os ideais de preservação sequer ensaiavam os primeiros passos na cidade, a maioria dos homens de então não poderiam aquilatar a importância cultural e arquitetônica que esse monumento teria com o passar dos anos se preservado. Numa época em que os ararenses se gabam de ter sapos, gnomos e cogumelos em seus jardins, o velho Champignon não faria feio nos dias atuais...



6- ESTAÇÃO “LORETO” DA FEPASA: na década de 1920, costumavam desembarcar nesta estação a famosa troupe da Semana de Arte Moderna de 22: Villa-Lobos, Blaise Cendrars, Tarsila do Amaral, Mario e Oswald de Andrade, Victor Brecheret, Lasar Segall, etc. Ali, eram recebidos pela “grande musa de nossos artistas das primeiras décadas do século XX”, a célebre Olívia Guedes Penteado, em sua bela fazenda, a Sto. Antonio – “marco da cultura europeizante”, “polo convergente da elite cultural da S. Paulo do momento”. Fato não confirmado, dizem que Villa-Lobos, em viagem de trem para a fazenda, compôs a famosa “Trenzinho Caipira”. Para se chegar à fazenda, havia uma estrada com uma belíssima aléia de bambuais – a “Via Carola” – que, partindo da estação, se estendia até a entrada da mesma. Inaugurada em 1899, foi desativada em 1962 e, por fim, demolida após 1986, o que também se deu com a singela estação do Remanso. Assim como estas, o bambual também foi colocado abaixo, mas o motivo foi a construção do Nosso Teto I em 1981, quando foi transformando por seus moradores em cercas para suas novas casas...



7- ARQUIBANCADA DO “COMERCIAL FUTEBOL CLUBE”: um monumento vivo da época de ouro do futebol local, erigida no campo da grande agremiação surgida em 1929. Em 1988 o estádio receberia nova iluminação, mas anos depois, a arquibancada foi posta abaixo, dizem que para se lotear o estádio... Se o verdadeiro problema fosse avarias em sua estrutura, é óbvio que ela poderia ser restaurada sem problemas. Na foto, a arquibancada em 1948, década em que foi construída. Dizem também que sua demolição foi o primeiro passo dado por aqueles que tinham a intenção de abrir uma rua ali e desafogar o trânsito, priorizando-se assim o maior sonho de consumo do ararense, digo, o automóvel, em detrimento do elemento humano, ou seja, o torcedor e o jogador. Lembrando-se de como as coisas velhas e históricas são desprezadas e vivem em constante situação periclitante na cidade, passo aqui a palavra ao velho e sábio São Lucas que, parecendo se referir à Araras, escreveu em seu evangelho: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”...
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

ENTREVISTA COM O CANTOR E COMPOSITOR CLÁUDIO NUCCI

V-Newton Daltro - Nov. 2008


Após exatas duas décadas, o cantor e compositor Cláudio Nucci retorna à Araras para mais um show. Desnecessário dizer, mas Cláudio foi integrante do famoso quarteto vocal Boca Livre, junto do qual gravou o 1º LP, que é considerado um “100 mais importantes produtos em vinil da indústria fonográfica brasileira de todos os tempos”, além do que é considerado também “o disco independente que mais exemplares vendeu até então”.

Há 20 anos, o show foi no extinto Bar Academia, do Nê Morandini, casa lotada, e me recordo que foi um show excelente. Particularmente, um senão neste dia é que os amigos que iriam ao show comigo deram mancada, e eu acabei comprando uma mesa sozinho, o que equivalia a pagar 4 ingressos... Guardei os 3 restantes, e um deles foi dado ao Cláudio como lembrança nesta sua volta a Araras.

O “show do retorno”, desta vez ocorreu no Aero Música Bar, que fica no Aeroclube de Araras, do amigo e músico Xandão – um dos maiores, senão o maior, produtor de eventos músicais de MPB em Araras. Aliás, não foi propriamente um show do Cláudio, mas sim em evento musical com diversos músicos locais, o 6º Encontro da MPB em Araras, que acontece todo ano em Araras, à cargo do batalhador incansável que é o Xandão. Este show foi no mesmo nível do Bar Academia, impecável, mas com novidades: foi um show muito humorado também. Aliás, Xandão, fez percussão para o Cláudio em algumas músicas.

Com todas as pessoas que conversei, a opinião era uma só: “Um grande show!” E quem não conhecia muito bem a carreira-solo do ex-integrante do Boca Livre, se surpreendeu e vibrou com as músicas, seu pique e seu carisma, além de muito seguro no violão e cantando melhor ainda, com aquela voz que o Daniel Piza, o renomado colunista do Estadão (Caderno 2, página 2) afirmou ser uma das mais belas vozes masculinas do Brasil, colocação a que a maioria dos críticos musicais fazem coro.

As perguntas abaixo foram elaboradas por mim, e o Cláudio respondeu a todas com clareza, relembrando muito detalhes e episódios de sua vida, bem como algumas passagens de sua trajetória musical que o fez um dos mais importantes artistas da história da Música Brasileira, criador de sucessos como “Sapato Velho”, “Toada”, “Quero Quero” “Acontecência”, “Amor Aventureiro”, “Pelo Sim, Pelo Não”, “Meu Silêncio”, dentre outras pérolas.

1- Cláudio, é a segunda vez que você se apresenta em Araras. A primeira, há 20 anos atrás, foi em 26 e 27 de agosto de 1987 (foto abaixo). Quais lembranças você guarda daquelas apresentações no hoje extinto Bar Academia do Nê Morandini?

R: Rapaz, você como coletor de dados, histórias, fatos e afins, deve ter muito mais memória que eu daquela época. Coisa de historiador... Já eu, não tenho assim esse banco de dados factual, mas tenho uma memória afetiva e aí, claro, tem coisas que ficam...o que sei é que o público ararense é muito acolhedor e gosta da música que faço. Fico muito feliz em retornar por aqui.

2- Você, apesar de ser um exímio compositor de, digamos assim, música MPB de alto escalão (e o primeiro disco está recheado de pérolas do gênero, como “Gosto de mim”, “Valsa dos casais” ,”Santo protetor” e a liríssima “Vontade de viver”), me parece que sua tendência ao estilo regional é mais acentuada. Você concorda com isto?

R: Eu tenho uma vivência muito rica em influências, porque nasci e me criei no interior paulista e ouvi muita moda de viola e um monte de outros tesouros da música regional, mas me mudei para o Rio de Janeiro ainda em 1971 e isso me impregnou das coisas que o litoral e a cidade grande têm pra oferecer. Portanto, nesse misto de acentos dessa coisa caipira-caiçara-rural-urbana, eu publiquei alguns discos bem diferentes entre si e tenho ainda muita coisa inédita. Mas no show que fiz aqui em Araras, devo confessar que foi inevitável minha atração pela proximidade com o ambiente da minha infância, daí eu ter enfocado mais meu lado regional, com as parcerias com Cacaso, Juca Filho e Murilo Antunes, por exemplo.

3- Você, o Chico Buarque e o Guinga, acredito eu, parecem ser dos raros compositores brasileiros que ainda compõem valsas. Você, p. ex. tem valsas belíssimas como “Quero-quero”, “Valsa dos casais”, “Nossos caminhos” e “Vontade de viver”. Você poderia comentar esta característica tua?

R: Tem muita gente boa no Brasil que compõe valsas...Eu tive o privilégio de ouvir muitas na infância, ou com meus avós tocando violino em dueto, ou com meu outro avô cantando pra mim coisas de Pixinguinha e compositores “valseiros”. Tenho ainda uma boa disse de lirismo e por isso aprecio o gênero, a valsa flui naturalmente pra mim.

4- Cláudio, você e o Juca Filho tem belíssimas canções em parceria, como, p. ex., “Acontecência” – clássica do estilo regional –, a já citada “Nosso Caminhos” e “Luz do dia”. O que é feito do grande compositor que é o Juca? Ambos ainda tem parcerias?

R: O Juca e eu compusemos uma música recentemente e temos ainda algumas coisas inéditas, que vão ser publicadas oportunamente. Ele continua escrevendo, mas roteiros, para a TV Globo. Já esteve em equipes de redação do “Sai de Baixo”, “A Grande Família” e agora, “Toma Lá, Dá Cá”.

5- Por que logo a belíssima “Quero-quero” – seu primeiro sucesso na carreira solo –, não entrou no primeiro disco?

R: Realmente, foi um erro. Eu deveria tê-la incluído. Na época, acho que a gravadora tinha até sugerido, mas eu bobeei, não coloquei no LP e assumo a falha.

6- Sou da opinião que “Meu silêncio” é uma música superior à “Canção da América” do Milton, tanto no teor da letra, na intenção, quanto harmonicamente. Sua gravação com a Nana Caymmi é clássica (veja o vídeo clicando aqui). De onde veio a inspiração pra você e o Luiz Fernando Gonçalves comporem uma música tão tocante e bela como esta?

R: Eu morava em Ipanema em 1976 e peguei um ônibus para o Leblon, a fim de gravar uma canção nova que tinha surgido, no gravador do Luiz Fernando (naquela época, eu nem telefonava pra ir lá, simplesmente aparecia). No caminho, veio outra melodia nova e, à medida em que eu chagava perto da casa do Luiz Fernando, ela ia ficando mais clara na minha cabeça. Luiz Fernando me atendeu com uma cara meio estranha e pediu para que eu deixasse gravado na sala, se recolheu pra dentro e não mais apareceu. Passei a música com acompanhamento para o violão, gravei essa melodia primeiro e depois a outra, aquela que já estava pronta e fui-me embora. Dois dias depois, ele me ligou, pedindo que fosse à sua casa. Chegando lá, ele me mostrou a letra de “Meu Silêncio” pronta, explicando que naquele dia, tinha reencontrado um amigo e que os dois falaram muito sobre um outro, inseparável (Luiz Antônio) aí ele ligou para ele, mas ele tinha morrido fazia uma semana. Daí ele ter ficado meio estranho naquele dia.

7- Você poderia comentar a hábil construção harmônica da música “Asas a voar”, que passa a impressão de que a empolgação vai crescendo a cada estrofe quando sobe o tom, bem como o curioso desfecho em que o trecho inicial de cada estrofe vai sendo somado.

R: Falar sobre música pra mim, é bem mais difícil que fazer...mas arquitetura dessa composição é bem interessante mesmo. Um baiãozinho leve que vai modulando sucessivamente, até desembocar numa situação harmônica meio “beco sem saída” e aí a solução veio naturalmente, pelo “puxar do fio” da idéia. Quando a gente presta atenção na música, ela ensina pra gente direitinho pra onde ir.

8- Duas perguntas numa: você trabalhou com excelente letristas de porte como Cacaso, Paulo César Pinheiro, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos, mas a parceria com teu sogro – o Luiz Fernando Gonçalves – parece ser a melhor pois rendeu belíssimas músicas. Seria uma afinidade eletiva? Frustrado, Cláudio, por não ter conseguido uma parceria com o poeta Mário Quintana?

R: Eu tenho o privilégio de compor com muitos excelentes parceiros letristas e músicos também: Além desses autores que você citou, também tem parceiros que impulsionaram minha carreira em momentos-chave como Juca Filho (“Acontecência”, “Toada”), Mauro Assumpção (“Quero Quero”) e Paulinho Tapajós (“Sapato Velho”), sem falar nos parceiros das melodias Zé Renato e Mu Carvalho, mas sem dúvida o parceiro que acendeu a chama de compositor, aquele que primeiro “vestiu” de palavras as minhas melodias e revelou o conteúdo lírico embutido nelas, é o Luiz Fernando Gonçalves. Somos parceiros desde 1976 e ele se tornou meu sogro apenas nesse século XXI, não se trata de “nepotismo” mas de justiça. Quanto ao Mário Quintana, eu fiz duas músicas pra poemas dele, ainda inéditas. “Canção da Primavera” e “Ciranda do Meio do Mundo”.

9- A flauta, me parece, nunca mais foi a mesma na MPB depois do surgimento do Boca Livre. Penso que ninguém a usou do mesmo modo que a banda, chegando mesmo até a parecer uma instrumento indispensável nos discos do grupo. Penso eu que, nos arranjos, ela tornou as músicas mais sutis, virginais – femininas, diria até –, e assim, a rústica música regional paulista, mineira e nordestina, também a folclórica, se tornaram mais sofisticada pelas mãos de vocês. Um ótimo exemplo é canção “Atravessando a cidade”, onde ela dá o tom predominante no arranjo reforçando o clima de sonho de amanhecer numa aldeia. Já “Casa de João de Rosa”, do Chico Buarque e do Edu Lobo, com aquelas flautas é também um arranjo típico Boca Livre.

R: Quando comecei profissionalmente em 76, Zé Luís Oliveira tocou flauta comigo. Depois em 77 fundamos a banda “Semente”, com o Zé Luís e mais um flautista “da pesada”, o Márcio Resende. Existiu na época outro grupo, o “Cantares”, com o excelente Marcelo Bernardes, na flauta. No LP de estréia do Boca Livre, tem uma faixa (“Diana”) com três solos de flautistas diferentes: Danilo Caymmi, Paulo Guimarães e Zé Carlos Bigorna. Como pode ver, a flauta é um fenômeno e virou “moda”. O Ritchie tocava flauta na “Barca do Sol”, o Tom Jobim tocava flauta nos seus discos e isso pegou em todos os segmentos da música.

10- O que é feito de canções tuas jamais gravadas por você e muito elogiadas por quem as ouviu como “Bailarinos de Porcelana”, com o Luiz Fernando Gonçalves; “Parceira”, com Juca Filho; “Dia do juízo”, com Cacaso; “Delírios de Orfeu”, com a Joyce; “Uns entre uns”, com Abel Silva; “Desafinada”, com Mário Adnet; “Caçada Humana”, com o Aldir Blanc; “Todas as palavras”, com Vander de Castro, etc. Todas não renderiam um novo e excelente disco?

R: Estão “hibernadas” ainda, mas eu tenho o dever de publicá-las. São composições muito importantes realmente, mas não estiveram em nenhum produto porque não criei projeto para que se contextualizassem. Fico devendo isso o mais rápido possível e talvez essa característica de “hibernadas” as possa colocar juntas sim!

11- E músicas como “Olhos de selva” e “Assovio” do Cantares, bem como “Um pequeno caminhão”, “Canoa branca” e “A voz dessa canção”, todas em parceria com Juca Filho e Zé Renato, além de duas outras gravadas pela nana Caymmi: “Você que me ouve” e “Asas nos olhos” – todas não são boas canções a ponto de merecerem também uma releitura sua? Há ainda outras duas canções belíssimas como o tema de “Helena” da TV Manchete e a terníssima “Boungavilles” de “O direito de amar” da TV Globo.

R: Sem dúvida, merecem releituras. Como disse, vou cuidar disso com carinho o mais breve possível. Como disse o Antônio Cícero em seu livro, uma obra na gaveta é uma obra que não existe, já uma obra bem guardada é uma obra publicada da melhor forma possível.

12- O trabalho da efêmera banda Zil que rendeu um disco. Porque uma guinada assim na carreira, já que esta banda foi considerada quase como uma banda instrumental misturava jazz e rock progressivo?

R: Com a Zil eu retomei caminhos instrumentais que havia abandonado na época do Semente. Não chegou a ser rock progressivo, mas uma “fusion” instru-vocal de muita qualidade. Foi efêmera sim, porque todos tinham muitos compromissos, além de dois morarem fora do Brasil.

13- Tem-se dificuldades em descolar partituras e cifras de tuas músicas. Há probabilidade de um songbook teu, ou, no mínimo, sua disponibilização em tua homepage?

R: Um songbook sim. A publicação no website ainda não está na prioridade, mas é uma possibilidade futura.

14- E a tua volta ao Boca Livre entre 1999 e 2004 – foi uma “recaída”?

R: Sim, uma “recaída” sim, mas não deixou de ser interessante...Fui convidado para “apagar um incêndio”, já que o quarteto estava numa baita crise de convivência e falta de perspectiva, quando reingressei nele, em final de 1999. Não conseguimos produzir nada por nós mesmos, apenas atender a projetos de outros, como o CD que gravamos com a Joyce para o Instituto Escola Brasil, o DVD “Nossos Cantos”, com vários artistas e o premiado CD de Ruben Blades, “Mundo”, que nos rendeu também uma excursão com shows pelos Estados Unidos.

15- Se assim posso dizer, o estilo vocal Cláudio Nucci e Zé Renato fez escola. O excelente cantor e compositor Renato Motha, bem como a cantora Lucila Novaes, p. ex., ao meu ver, são cria de vocês. Conhece-os? Poderia comentar isto?

R: Existem “Tribos” de cantores que se identificam entre si. O Brasil está cheio de talentos e todos somos cria da excelente qualidade da música brasileira. Assim como na genética, os produtos de várias influências são riquíssimos, quanto mais influências melhor e eu me sinto feliz por contribuir com alguma coisa, nesse mosaico cheio de matizes e traços tão distintos.

16- Quais os projetos futuros?

R: Bem, você já me deu uma boa idéia, que é compilar as “hibernadas”, tem também um outro projeto mais urbano e carioca, em cima das estéticas da bossa e do samba, terreno em que me sinto também à vontade. Um DVD é preciso hoje em dia, pra preencher a expectativa do público que procura cada vez mais o produto audiovisual.

17- Para findar a entrevista, Cláudio, você poderia me saciar uma curiosidade: o Beto Guedes colocou uma fruta de pequi num canto da capa de alguns discos seus – certamente, um ícone de mineiridade. Por que a goiaba cortada na capa do segundo disco? Goiaba é fruta onipresente no interior paulista, fruta de beira de estrada mesmo.

R: Exatamente! Meu avós paternos moraram há muito tempo na rua Prudente de Moraes 1500, em Jundiaí, e lá no quintal tinha uma goiabeira que eu considerava “minha”, vivia pendurado nela à toa, ou comendo suas deliciosas goiabas. O Jô Oliveira e o Locca Faria, que fizeram o projeto gráfico de “Volta e Vai”, sugeriram que eu colocasse uma fruta significativa como símbolo, na capa.

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FOTOS DO SHOW NO AERO BAR



















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Entrevistador e entrevistado

V-Newton e Cláudio Nucci,

Aero Bar, Araras, 29-11-2008








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