sábado, 28 de novembro de 2009

A KAPSA "PINTA VERMELHA", UMA GRANDE MÁQUINA FOTOGRÁFICA!

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Um belo dia, eu, menino, estava na sala de espera de um dentista, e folheando uma revista encontrei uma interessante reportagem sobre como fotografar o céu noturno estrelado. Louco que era por assuntos astronômicos e fotográficos, não pensei duas vezes em arrancar secretamente a reportagem da revista. Iniciava-se aí um hábito que me acompanha até hoje: “roubar” reportagens de revistas de consultório... Mas, voltando ao assunto, a reportagem dizia que, para se fotografar o céu noturno, uma máquina popular e barata como a Kapsa, que ainda era encontrada no mercado, seria a ideal, uma vez que ela possui o dispositivo para se fazer fotos com longas exposições, em “pose” e sem o uso de flash. Popularmente, ela era conhecida como “caixão de abelhas”...

Quanto à reportagem sobre como se fotografar o céu, apesar de eu ser cuidadoso e guardar até hoje muitas das coisas que influenciaram a história de minha vida, infelizmente ela se perdeu e pouca recordação tenha dela, mas lembro-me de uma foto que mostrava o traçado que as estrelas deixam no céu em seu movimento aparente, para ser mais preciso, era uma foto da estrela Polar com as estrelas girando em torno dela numa longa exposição de tempo.

Clique no folheto para vê-lo em tamanho melhor.

Como o meu amigo Osvaldo Tesche tinha uma máquina dessas, mostrei a reportagem à ele e sugeri de fazermos umas fotos noturnas do céu e ele topou. Comprei um filme preto e branco de 400 ASA, Trix-X Pan profissional e, numa certa noite, fui até a casa dele, e na colônia de cima, no quintal da escola e no campo em frente a venda, fizemos vários fotos. O problema é que além de não termos sido bem sucedidos, algumas fotos se perderam. Por outro lado, um novo campo fotográfico era aberto para nossas instigantes experiências com fotos noturnas. E esse foi o exato momento em que surgiu meu interesse definitivo pela fotografia, momentos daqueles que constituem um dos mais marcantes episódios de minha vida. Assim, aos 13 anos, fiz minhas primeiras fotos do céu noturno com essa Kapsa “pinta vermelha”.

A partir desta data, tanto eu quanto o Tesche, o Marcelo Aragão, meu irmão Weber, e mais tarde dois primos na cidade, fizemos muitas fotos com a Kapsa, e grande parte delas eram fotos experimentais, com sobreposição de chapas, pincéis de luz, fogos de artifício, chispas de Bombril incendiado, e até mesmo o desafio de se escrever na chapa com a luz da lua! Ia me esquecendo que, depois que mudei para a cidade, me apoderei de uma pertencente à um amigo que havia dado um sumiço numa monareta minha.... (na ilustração, anúncio de 1958; notar o flash).

Fazer fotos do céu noturno com a Kapsa não era brincadeira – devido ao fato de o visor desta máquina ser pelo sistema de espelhos (viewfinder). À noite, era praticamente impossível mirar imagens com pouca luz, e as estrelas não se podia vê-las, ao contrário da lua, que já na fase nova era visualizada. Desse modo, fotografando-se em pé, tínhamos que colocar ela apoiada na barriga e ver a cena de cima através do pequeno visor. Fotos noturnas com exposição de tempo nem pensar sem tripé ou apoio num substrato qualquer. No entanto, em seus disparador ele tinha uma rosca onde se podia encaixar um cabo extensor, de modo a não interferir na máquina na hora do disparo. Nestas horas, fotos tremidas eram comuns...Em muitos casos, devida à péssimas condições de iluminação, tínhamos que fazer mira no chutômetro. Fotografei por anos a fio com a Kapsa, mas com a compra de uma máquina digital em 2007, a minha velha Kapsa, assim como a minha Olympus Trip 35 (foto), estão curtindo uma merecida e definitiva aposentadoria. Na foto acima, a constelação de Órion, feita por mim e o amigo Osvaldo Tesche em 14-11-1974.; tempo de exposição 15 minutos, das 21:45 às 22:00 hs; notar a antena no lado direito.

Convém ressaltar que a Kapsa, que surgiu nos anos 50, tinha dois recursos interessantes e, que eu saiba, recursos não existentes em qualquer máquina digital moderna, como o de exposição de tempo infinita com o obturador aberto, além de ser possível se fotografar mais de uma vez na mesma chapa, o que permitia fazer fotos fantásticas com sobre-exposição. Normalmente, era, feitas 16 fotos no tamanho 4,5 x 6 cm, mas ela tinha um recurso incrível em sua parte interna que permitia se fazer uma única foto em dois negativos; assim, era possível se fazer 6 poses no tamanho 6 x 9 cm. Para se fazer estas fotos, também era necessário remover uma chapinha no visor para que ele ficasse nesse padrão de imagem. Desse, modo, não era necessário fazer ampliação da foto na hora da revelação, pois o negativo já possuía um bom tamanho.

Seus ajustes de abertura do diafragma eram manuais, e contava com apenas 3 ajustes (F22, F16 e F11). As velocidades de disparo eram apenas duas: 1/100 e "B" (nesta opção o obturador fica aberto enquanto se mantém o disparador pressionado). Além da Pinta Vermelha, existia a Pinta Verde e Azul, que se tratavam de modelos mais simplificados. Sua lente era uma Vascromat 110 mm, e a regulagem de distância eram 1-2, 2-8, 8 metros e Infinito. Era uma máquina simples e resistentes, feita de baquelite, trabalhando com filme 120, como o Agfa, de preço até hoje muito acessível.

Negativo 120

A fabricante da Kapsa era uma indústria ótica brasileira, a D. F. Vasconcelos, empresa ainda existente, que iniciou suas atividades em 1941 na cidade de São Paulo, com a fabricação de telêmetros de depressão para Artilharia de Costa, encomendados pelo Exército Brasileiro. Era também fabricante de teodolitos, microscópios e binóculos, sendo que a Kapsa foi a primeira máquina fotográfica nacional do tipo caixão – um grande sucesso tecnológico inspirada na velha Kodak, surgida no início do século, cujo modelo durou até os idos de 1950. E quantos fotógrafos deste país não tiveram seus primeiros rudimentos em fotografia estreando com uma velha Kapsa?

"The winter-sky star trail over the vast Khoor salt lake in Iran". Notar o movimento aparente das estrelas. Foto de Ehsan Sanael Ardakani.

Vale lembrar que a D. F. Vasconcelos foi a construtora do famoso brinquedo Polyopticon (fotos abaixo), lançado por volta de 1974, com o qual se montava lunetas, microscópios, binóculos, etc., brinquedo que, por sinal, eu tive o prazer de conhecer e brincar, uma vez que o meu amigo Sylvio Baggio possuía um. Aliás, o Tesche também tem desta marca um pequeno binóculo 3 x 40 que é uma relíquia (anúncio abaixo, década de 1970). Enfim, vale lembrar que a maioria das fotos noturnas da Usina Palmeiras da década de 1970 foram feitas com ela.

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sábado, 14 de novembro de 2009

MINHAS NOVAS FRASES DE HUMOR

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ATINAÇÕES

O aniversário de Jesus é a única festa de aniversário em que não se vê velas e bolo. Em compensação, que glutonaria e beberrância!

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NÃO CONFUNDA

Não confunda o óbvio ululante com o Lula, obviamente.

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ATINAÇÕES

Tirem a palavra “adrenalina” da boca dos praticantes de esportes radicais e eles não terão mais assunto.

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HONRA AO MÉRITO

Frequentemente, levamos um cão à categoria de gente. Mais frequentemente ainda, levamos gente à categoria de “cachorros”...

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RELATIVIDADE

O que o Pelé fazia na época ninguém fazia – foi gênio e pioneiro em sua arte. Agora, o que os Ronaldinhos e Maradonas da vida fizeram, um monte de mané faz por aí: sair com travecos e cheirar cocaína, por exemplo.

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PASSARINHANDO

“Dois bicudos não se beijam”. Nem bicudo, nem curió, nem azulão, mesmo porque eles não tem lábios.

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UM SABIÁ CONTOU...

A frase que os mudos mais detestam ouvir, e a que eles mais queriam falar: “Não coloque estas palavras em minha boca!”

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RELATIVIDADE II

O Pelé está para o Vitasay, assim como o Maradona está para a cocaína.

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COMO DIRIA O RICARDÃO

“– Usou vestidinho e não é botijão-de-gás, usou sainha e não é liquidificador, tô comendo!”

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EFEITO GOODYEAR

É mais que o Tácito, é o Tácito em turno, é o taciturno.

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ATINAÇÕES

TV Aberta: instrumento para entretenimento de cabeças fechadas.

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DATILOGRAFIA EM TEMPOS DE INFORMÁTICA

Eu tenho ódio de digitar sem querer “voc~e”, e você?

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COMIGO NÃO!

Dos quatro elementos existentes: terra, ar, água e fogo, eu bebo, como, cheiro e engulo todos, com exceção deste último, que eu deixo para o Gene Simmons do Kiss engolir.

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PARA BOM ENTENDEDOR

Maldito o que não vem em nome do Senhor. Osama nas profundas.

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ATINAÇÕES

O verdadeiro problema desses que gostam de bancar os bonzões da natação e atravessar rios sozinhos, não é o fato de eles terem cãibra e morrerem afogados, mas sim o trampo desgraçado que um infeliz deste vão dar para os bombeiros encontrá-lo.

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CANTADAS EM TEMPOS DE SUSTENTABILIDADE

– Sabe, você não é de se jogar fora, mas se alguém fizer isso com você, eu a recolho e reciclo para mim...

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DESDITADOS

Mais vale um dente de leite na boca, que um dente de ouro na mão.

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ATINAÇÕES

Meu cotidiano é duro: tenho de tomar um Mate Leão por dia!

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AVASSALADOR

Baby, hímem complacente faz mal a saúde, e eu tenho o remédio...

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AOS MODOS DE ROBERT FROST

O anonimato rende-nos bons vizinhos.

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POEMETO SUJO

Puta cara cara-de-pau!
Puta cara filha-da-puta!
Puta filha cara-de-pau!
Puta filha cara de puta!

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DIGA RÁPIDA, REPETIDAMENTE E SEM ENROLARAR A LÍNGUA

Além da lenda.

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DIGA RÁPIDA E REPETIDAMENTE, E SEM BABAR

Chinelo chileno.

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ATINAÇÕES

O exibicionista não é responsável pelo voyeurista que cativa.

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CONVERSINHAS INFAMES

– O infeliz arrastou o nome da família na lama!
– Que família?
– A família Barros...

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ATINAÇÕES

Na linguagem internetêz ninguém é homem com “H” maiúsculo.

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VAI ENCARAR?

Perante, mim, meus inimigos tem o direito de ir e vir: de ir para o quinto dos infernos e vir quente que eu estou fervendo.

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VOCÊ CONHECE A...

Susylei Áurea, vulgo abolicionista?

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PRÁ INGLÊS VER...

Certos psicólogos, só parecem entender os desajustes humanos da porta para dentro de seus consultórios. Na rua, no cotidiano, são iguais a todo mundo – sem piedade e compaixão –, julgando pela mesma ótica e lógica do senso comum.

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BOCAL

John Forget, do Creedence: voz elétrica, ardente, quentíssima – se acenderia uma lâmpada em sua boca.

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SANTUÁRIO ECOLÓGICO

Certa vez, decidi eleger a natureza – os campos, rios e matas – como meu templo, a única igreja realmente eu deveria freqüentar – o meu “santuário ecológico”. O problema é que, desde esta época, eu estou a pé (sem carro), e esse bendito santuário está cada vez mais raro e mais distante... A propósito, não escrevera a sábia Petra Kelly, do Partido Verde da Inglaterra: “Todos querem voltar para a natureza, mas ninguém quer ir a pé”... (V-Newton, 31-12-2005)

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ATINAÇÕES

O remorso é um pensamento que se ajoelhou.

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FAÇANHA

Ter ido à Guerra dos 100 anos e na ter matado ninguém.

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LOVE HISTORY

Um amigo chegou a ele e o advertiu:
– Cara, a fulana cuspiu no teu copo sem que você visse!
– Bom, meu véio, já que para ela isto é uma coisa tão nojenta e repugnante, fudido está o infeliz do namorado dela que tem que beijar essa boca imunda todo santo dia...

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FUTEBOL FORA DO XINGU

Índio quer apito. Mas não quer ficar na reserva.

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DESDITADO

Em terra de boi unicórnio, toureiro ciclope é rei.

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HUMOR NEGRO

- Você sabe qual a diferença entre um suicida ariano e os judeus do holocausto?
- Não.
- É que o suicida abre e gás e se mata sozinho, enquanto que os judeus morriam em turminha quando o gás era aberto.

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ESSAS CRIANÇAS...

- Vamos brincar de Noé!
- Vamos!
- Tá bom, eu sou Noé, você é uma anta e ele é uma toupeira...

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PONTO DE VISTA

- Você sabe o que o Ray Charles falou do Estevie Wonder?
- Não?
- “Não vejo nada neste cara!” E você sabe o que o Estevie Wonder respondeu?
- Não.
- “Será que esse cara não se enxerga!”
- !!

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GRANDE CHANCE DE CALAR A BOCA

Certa vez um corintiano ia passando por um campo de várzea e viu seu amigo palmeirense cuidando de um burro doente. Ele não pensou duas vezes:
-E aí, palmeirense, ensinando o burro a jogar bola?
-Sim, o burro é corintiano...

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CRAZY WORLD

Um louco diz para o outro:

-Todo dia eu sonho que saio do meu corpo, acordo, levanto e me coloco ao lado da cama para dar remédio para dormir para mim mesmo.
-E o que você faz?
-Oras, eu tomo o remédio e volto dormir.

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CONVERSINHAS INFAMES NO ALÉM

Raul Seixas:- Ei, Osório, eu fiz uma versão do teu hino!
Osório Duque de Estrada: - O que, como ousas bulir no Hino Nacional!
Raul Seixas: - Oras, Osório, é só um trechinho, ouve só.
Osório Duque de Estrada: - Está bom, está om, então cante esta versão.
Raul Seixas: - Ói, ói que céu, já não é o mesmo céu que você conheceu não é mais. Vê, ói que céu, é o teu formoso céu risonho e límpido que a imagem do cruzeiro resplandece...
Osório Duque de Estrada: - Não é possível!

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

NOVAS FRASES DE HUMOR DO V-NEWTON!

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JAM SESSION NA CASABRANCA...

A Paula Jones levava a vida na flauta, até que ficou louca pelo saxofone (do Bill Clinton). Por fim, decidiu colocar a boca no trombone.

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DESDITADO

Maria mole e rapadura tanto bate e o dente fura.

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PONTO DE VISTA

Os tecnocratas usam blusa de couro de jacaré. Os ecologistas, camisetas da grife do jacarezinho.

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REFLEXÕES

Eu estava pensando em fazer um balanço da minha vida. Que besteira: minha vida já é uma montanha russa!

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ATINAÇÕES

Sim, dois e dois podem ser mais que quatro, desde que ambas as mulheres estejam grávidas de gêmeos.

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MONDO BIZARRE

Que tempos são estes em que há mais crimes adentrando as portas das prisões que pecados sussurrados nas grades dos confessionários?

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CAPACIDADE

Eu brinquei tanto em árvores quando criança, que, ainda hoje, eu subo em árvores brincando.

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ATINAÇÕES

A diferença entre a justiça e a vingança é que a justiça é pela frente e a vingança é pelas costas.

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SUTIS DIFERENÇAS

Uns inventam os pára-raios; outros, os seqüestros relâmpagos.

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MÁS NOVAS

O Vando lançou um disco: O “Uivando de Paixão”. Agora é a vez do Latino: “Latino pra Lua”.

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DO CIVILICO

Tava na peneira
Mas não tava peneirando
O sol com a peneira
É que eu tava tapando.

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ATINAÇÕES

Dislexia é o tipo de distúrbio que impede uma pessoa de escrever a palavra mirim ao contrário.

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SUGESTÕES MAQUIAVÉLICAS

Não tardará o dia em que extremistas usarão cães São Bernardo como animais-bomba. Será quando eles desfilarão entre as pessoas com barrilzinhos de pólvora no pescoço.

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ATINAÇÕES

Se a necessidade é a mãe da invenção, a serendipidade é mãe solteira.

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AOS MODOS DE MILLÔR

Uma vida inteira passada num cemitério não faz de um coveiro um médium que dialoga com os mortos.

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SUTIS DIFERENÇAS

Os grandes amores são cegos. Os grandes cornos são mansos.

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FRASES PARA O DIA-A-ADIA

Tão comum quanto trombada de ambulância com carro de auto-escola.

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MULHER MELANCIA

Esses sujeitos estúpidos que ditam a moda das modelos anoréxicas são os que menos entendem de mulheres. Pelo menos do modo como se espera que homens verdadeiros entendam de mulheres...

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ATINAÇÕES

O direito do riso da hiena termina onde começa o da lágrima do crocodilo.

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EFEITO GOODYEAR

É mais que um mico. É um mico-leão. É um leão pagando um mico para um mico-leão.

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NÃO CONFUNDA

Não confunda o critério da mulher do clima com a mulher que entrou em climatério.

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PRESTA ATENÇÃO!

Par o bo entend mei palav bast.

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ATINAÇÕES

Bom ateu é aquele que trabalha em feriado de dia santo.

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COMO DIRIA O SARNEY

Demagogia é eu acreditar em você. Nepotismo é você acreditar em mim.

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NÓIA

Como dizia a sopa de letrinhas ao esquizofrênico: “Decifra-me ou te devoro!”.

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ATINAÇÕES

Pé-de-galinha não mata pinto, mas que faz mulher pintar a cara, ah, isso faz!

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NÃO CONFUNDA

Não confunda o eco do urro do urso panda com o urro do urso em pandareco.

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DOCTA IGNORANCIA

O mundo é assim: sujeitos com cultura de almanaque de farmácia querendo emitir opiniões que nem médico com PhD se atreveria.

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CONVERSAS DE PORTUGUÊSA

Cá no Brasil me falaram de uma simpatia que para se fazer uma pessoa parar de roncar é só assoviar perto dela. Um dia, no início da madrugada, o Manoel pegou a roncar do meu lado, e eu resolvi testar a tal simpatia. Para minha alegria, ele parou! – a simpatia dá certo mesmo! Minutos depois ele voltou a roncar e novamente eu assoviei, e ele, vejam, novamente parou de roncar! Que maravilha esse povo brasileiro! E assim foi. O que eu sei dizer é que a hora em que eu dei por mim já tinha amanhecido, e eu ali, maravilhada ainda, entre um assovio e outro, não preguei o olho um minuto sequer vendo o Manoel parar de roncar cada vez que eu assoviava!

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ATINAÇÕES

É melhor ser bebedor social do que ser pingaiada, mas é melhor ser bebedor social que abstêmio.

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BARES DA VIDA

Como diria a loira gelada: – “Cerveja preta é a mãe!”

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COMO DIRIA O PORTUGUÊS

Mas, ô raios, por que será que nas transmissões televisivas de futebol eles colocam a câmera principal sempre do mesmo lado – aquele em que estamos assistindo o jogo?

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REPARE

A desordem alfabética do teclado.

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ATINAÇÕES

Omelete: ovo frito surrealista

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FRASES PARA O DIA-A-DIA

Esse aí é um daqueles que casaram em igreja de cemitério.

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CONVERSINHAS INFAMES

– João, você sabe como se limpa rã?
– Não.
– É simples: estando a rã agachada, depois que ela fizer cocô você pega papel higiênico e limpa o rabo dela...
– Ah, vai caçar sapo, seu panaca!

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NAMORO À ANTIGA

Mão na mão. Mão naquilo. Mão na cara.

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LEI MARIA DA PENHA

Antes de namorar reze uma vez. Depois de casar rezes três vezes. Depois de desquitar... continue rezando...

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EXTRA! EXTRA!

Papai Noel existe! Ou melhor, existia: encontraram seu cadáver calcinado na lareira.

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ATINAÇÕES

É menos pior ser compulsivo em sexo do que ser onanista inveterado, mas é menos pior ser onanista inveterado que ser broxa.

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CONVERSINHAS QUE NÃO SE OUVE POR AÍ

– Mas aonde foi que eu errei na criação desse menino?! Ô, pestinha!
– Eu sei onde você errou, mamãe, eu sei!
– Onde, menino, me diga: aonde?!
– No cálculo da tabelinha...

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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CAREGIVER STRESS ou TODO AMOR E RESPEITO AOS CUIDADORES DE DOENTES

“Dar tudo a todos o tempo todo
é deixar nada para si mesmo.”
(Irvin D. Yalon e Ginny Elkin)

Poucos tem ciência disso, mas as pessoas encarregadas de cuidar de familiares idosos doentes e incapacitados – os chamados cuidadores –, por seu dedicado e estafante trabalho de melhorar suas qualidades de vida, também sofrem estresse. Este mal a que estão sujeitos estas abnegadas pessoas também tem um nome apropriado: caregiver stress, ou estresse do cuidador.
Escrevo estas linhas hoje como um alerta e orientação àquelas famílias que passam por isso, o que, aliás, é fato comuníssimo, e, particularmente falando, escrevo-as como uma forma de “protesto”, já que houve um caso assim entre os descendentes de minha avó do lado paterno. Vale dizer que minha indignação sobre o triste final dessa história ainda não teve fim, passados mais de três anos do ocorrido. Para reforçar este “alerta e orientação”, convém lembrar que atualmente se prevê que, com o envelhecimento da população mundial e o aumento das doenças neurodegenerativas, a tendência é de que o número de pessoas que precisem atuar como cuidadoras aumente.
E esse foi o caso de uma prima minha, que dedicando-se por anos a fio como cuidadora de três familiares adoentados, sacrificou sua juventude e sua vida particular, além de afetar sobremaneira sua carreira profissional e seus estudos.
Neste período, notei que minha prima estava com algum problema, pois ela, que sempre fora uma pessoa jovial, falante e com o astral para cima, estava visivelmente mudada. Intuí que seu problema era derivado da vida desgastante que levava como cuidadora, fato que, estranhamente, ninguém levara em conta.

O QUE DIZ A CIÊNCIA
Uma pesquisa recente empreendida por Stella Velasques Cassis, clínica geral especialista em geriatria do Hospital das Clinicas da USP, avaliou 67 pacientes com demência e seus cuidadores. O tempo de cuidado foi um dos fatores determinantes. Ela relatou que “Quanto mais tempo a pessoa dedicava à tarefa, mais estresse sentia. Tanto que os cuidadores que moravam com o paciente sentiram-se pior”. Além disso, o estresse dos cuidadores também aumentava quanto maior era o grau de dependência do idoso. Constatou-se também que maridos e mulheres cuidadores reagem de formas diferentes: os primeiros tendem a ter mais transtornos de ansiedade, e elas, pendem para os sintomas depressivos. E o problema é mais que “contagiante”: quando o cuidador está estressado, a pessoa doente de que cuida tem mais chance de ser hospitalizada ou internada em uma instituição.

Segundo a assistente social Ursula Margarida Karsch, coordenadora do Grupo de Pesquisa Epidemiológica do Cuidador, da PUC-SP, em alguns países, o familiar que cuida do pai ou da mãe doente, já tem direito à benesses, como ajuda de custo, benefícios no trabalho e rede de cuidadores para cobrir folgas e férias. O Brasil ainda engatinha nesse quesito, mas países como Inglaterra, Alemanha e Canadá estão bem mais avançados nessa área.

Uma das cuidadoras entrevistada, se referindo à mãe doente, afirmou conta que às vezes sofre com a rotina e com algumas peculiaridades da doença, como mudanças de comportamento. “É um super desgaste, demanda muito tempo e energia. Ela fica teimosa, às vezes apática. Perco minha mãe todo dia, isso é muito doído.”

ABRINDO UM PARÊNTESES

Convém falar aqui de algo que a citada pesquisa não levou em conta, e que reforça mais ainda o meu “alerta e orientação”: será que aquelas pessoas cuidadoras que, flagradas em filmagens secretas que frequentemente vemos na TV espancando idosos, incapacitados, doentes, dementes e crianças, não seriam vítimas também do caregiver stress? É mais um caso a ser estudado: o de cuidadores totalmente estressados que são induzidos à atitudes extremas que os levam a perder a cabeça ante certos comportamentos que não toleram nas pessoas que cuidam. Logicamente, há os casos de sadismo e distúrbios de personalidade, mas são fatos que não podem ser descartados nas pesquisas.

ENTRE PARENTES...
Quanto à minha malfadada prima, primeiramente, ela ajudou a cuidar de nossa avó paterna (fotos fictícias), que era bem idosa e se encontrava doente, e, que além de ser pessoa de um certo gênio difícil, ficou meio “ranzinza” com a doença. Os cuidados com ela duraram mais de uma década, até que ela faleceu. Pouco tempo depois, foi meu tio que sofreu um derrame e ficou totalmente dependente do cuidado da esposa e da filha, cuidados que se estenderam por cerca de cinco anos, e foi um caso mais complicado que o de nossa avó, já que o meu tio ficava o tempo todo irritado com sua incapacidade locomotora e total dependência dos familiares. Com sua morte, foi a vez da mãe, que já na casa dos 80 anos, adoecera e ficara dependente dos cuidados da filha; felizmente, o caso mais “leve” dos três, mas, ainda assim, era um terceiro ente a ser cuidado... Esse processo todo durara cerca de 20 anos – e 20 de uma juventude, são uma vida! –, e nestes anos todos, minha prima, em plena flor da idade, se dedicara abnegadamente ao cuidado dos três familiares com que convivia desde que nascera.
Lembremos que, de todo os filhos de minha avó, somente os pais dessa minha prima é que cuidaram da matriarca diretamente, coisa, que, como se diz, ninguém gosta de morar com a sogra...
Acontece que minha prima não passou incólume ao mal do caregiver stress. Com os casos sucessivos de doença na família, ela, que, como já disse, era uma pessoa alegre e radiante, foi se tornando uma pessoa amarga e revoltada, nunca conseguindo esconder a desgastante situação emocional a que fora submetida nesses constantes cuidados. No contato com os familiares que visitavam sua casa, era-lhe impossível esconder o estresse que a dominava, reagindo com explosões e destratos, sendo frequentemente mal interpretada. Nisto, para piorar a situação, injustamente foi chamada de louca, mal educada, dentre outras coisas. Tudo bem, ninguém poderia adivinhar que suas reações fossem devidas à altas doses de estresse e depressão a que fora submetida, mas ter um pouquinho de bom senso e simancol não era exigir muito de alguém... Oras, ninguém estava ali para ajudar a cuidar dos adoentados, e ela, que o fazia incondicionalmente e de boa vontade, não tinha o direito dar vazão ao seu esgotamento, e, ainda por cima, tinha ouvir críticas injustas! Note-se que o fato de ela cuidar de três familiares adoentados, não a tornou imune à incompreensão e maledicência dos parentes.
O problema maior começou com a morte de minha tia, quando finalmente, os familiares começaram a cogitar do destino que seria dado à “casa da vovó”, como se, na mais pura falta de consideração, ninguém mais morasse ali, ou, se morasse, não seria empecilho para suas decisões. À todos os familiares e parentes que conversava sobre o destino a ser dado à casa de minha avó, sugeri que, pelos “serviços prestados” pela prima, a casa deveria ser invariavelmente doada à ela, e de papel passado, e nada mais justo para uma pessoa que cuidou sucessivamente de três familiares doentes. Não levaram a sério minha sugestão, e só faltou também me chamarem de louco. Inda afirmando que o valor que receberiam pela partilha era irrisório se rateado entre os descendentes, mesmo assim ninguém me deu ouvidos e até me ironizaram. A casa, só para ela morar e passar o resto de seus dias, era-lhe muito, mas dividida entre o restante dos herdeiros materialistas, uma mixaria que não melhoraria a vida de ninguém nem lhes faria falta. Era como se rapineiros se reunissem para arrancar a abnegada cuidadora do ninho onde nascera, para, sedentos, dividir entre si a “valiosa” partilha...
Por fim, ela, que não tinha onde morar, em suma, não tinha mais a própria família e sequer tinha um emprego, foi “banida” da própria casa e se não fosse a ajuda de cunhados e irmãos, sabe-se lá o que teria acontecido a ela na revolta, estresse e depressão em que se encontrava. Felizmente ela está viva! Convém notar que, usando a evasiva de que ela era louca e, assim, não digna de (ou capacitada para...) herdar a casa, foi mais fácil tirá-la dali. E ela, que tanto apoiou e ajudou o próximo, a hora e que mais precisava de apoio de todos os parentes – pois havia perdido tudo e todos os familiares com os quais convivia desde a infância –, perdeu até a casa onde morava!... e pior, saiu quase como uma espécie de vilã da história!! É por isso que esse mundo me mete nojo!!!

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Note-se que nem sempre a idade e a vivência torna alguém mais sábio, compassivo e humano – em questões de herança familiar, é um truísmo que a ganância e a cobiça, inda que seja por merrecas monetárias, sempre fala mais alto que os valores e princípios, e nisto, se passa por cima de todo e qualquer sentimento e periclitantes situações alheias com o rolo compressor de nossas friezas, injustiças e falta de compaixão.
Lembro-me que ela, ao deixar a casa, rasgou certas fotos de família, e dei-lhe toda razão pois ninguém era digno de guardar aquelas fotos hipócritas onde, numa festa de reunião da “grande família”, todos se abraçavam fraternalmente, riam, comiam, bebiam e brindavam à saúde de todos... Pobre prima... ela não imaginava o que lhe estava reservado anos depois!...
Às vezes, eu me pego pensativo, remoendo estes assuntos e me pergunto: “Será que, dentre todos os descendentes de minha avó, só eu enxerguei estas coisas?” Certa vez, o escritor Humberto de Campos (1886-1834) – o “Pai dos que sofrem” – disse algo assim:
“Trabalhado pelas dores próprias, meu coração está melhor preparado para a compreensão das dores alheias.”
Talvez seja isto...
Há uma outra sábia frase que já fora usada em outra postagem neste blog, e que urge ser repetida. É também do grande e compassivo Humberto de Campos:
“Qualquer que seja o bem que procuremos fazer neste mundo, e quaisquer os esforços para praticarmos o bem, não evitaremos jamais que se digam mal de nós. Zombemos, pois do mundo, meu filho, e percamos a esperança de nos pôr de acordo com ele.”
À esta altura, o que me preocupa é que eles lendo isto, como reagirão? Caindo em si, reconhecendo que erraram, baterão no peito o “mea culpa”, ou se atreverão a dizer que o injusto e insensato (ou louco) estou sendo eu? Bom, não raro, os parentes – apesar de parentes –, sem que saibamos (e sem conhecimento de causa), nos criticam injustamente e falam horrores sobre nossa indefesa pessoa (como fizeram com minha prima), e eu digo: o que podemos fazer contra isto? Nada? Podemos sim, e, então, hoje, agora, foi a minha hora de criticar – mas criticar com sensatez e compaixão – por uma causa nobilíssima e mais que justa, e aqui levada à baila de um modo corajoso, e não lançando mão de cochichos, conversinhas e tramoias secretas, travadas às escuras, longe de nossas vistas...
Alguém talvez perguntará malicioso: mas e você, não recebeu nada na partilha? Recebi sim – mas não ia receber nada! –, porém, como não atenderam minha sugestão de deixar a casa para minha prima, exigi a parte que julgava me caber. Já que a ela não ficaria com minha prima, pelo menos que viessem parar nas mãos de quem lutou pelo mais justo e mais sensato – minha parte para eles é que não podia ficar!
Quanto à esses parentes, lembrando certas verdades que o povo diz como: “o mundo dá muitas voltas”, “a gente não sabe o dia de amanhã”, e que a chamada “ironia do destino” anda à ronda e pode nos reservar uma desagradável surpresa um dia desses, desejo-lhes toda a saúde de mundo e torço para que nunca venham a passar pelo o que minha prima passou, e muito mais, pelo o que minha avó, meu tio e minha tia passaram...
Prima, te aquieta - dias melhores virão! E eu estou contigo nessa!

ADENDO
10 Conselhos para os cuidadores
1 - Permita a si mesmo pausas freqüentes. Cuidar da saúde de um familiar é um trabalho difícil e você merece um descanso;
2 - Atenção aos sintomas de depressão. Não demore a buscar ajuda profissional quando necessitar;
3 - Aceite quando alguém oferecer ajuda. Sugira objetivamente o que pode ser realizado;
4 - Aprenda sobre a condição da pessoa querida e como conversar de forma efetiva com os médicos;
5 - Utilize a tecnologia e idéias que promovam a independência do familiar que você cuida. Existem diferenças entre cuidar e fazer;
6 - Confie em seus instintos pois, na maioria das vezes, o levarão ao caminho correto;
7- Cuidado com a sua coluna. Os cuidadores freqüentemente realizam atividades que exigem esforço, como empurrar, puxar e levantar;
8- Lamente as suas perdas, mas não deixe de lado os novos sonhos e esperanças.
9 - Faça valer os seus direitos como cuidador e cidadão;
10 - Busque apoio de outros cuidadores. Além de retirar a impressão de que está só, você pode aprender muito.
Taí gente, simples assim… Mas faz toda a diferença!
FONTE:
Folha de São Paulo. Com todo cuidado. Equilíbrio. São Paulo, 28 fev. 2008, págs. 7 a 9.
http://www.thefamilycaregiver.org/
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terça-feira, 29 de setembro de 2009

O BENNETT, O INCRÍVEL COMETA DO OUTONO DE 1970


"Canto a tua beleza, adorada Provença
terra onde o sol põe luz nos olhos de cristal,
e os ciprestes, olhando a azul esfera imensa,
contam. oh Mãe, a tua história imemorial!"
(Provença - Béatrix Reynal, 1892-1990)


Tanto quanto escrever sobre as recordações de minha vida, eu gosto de escrever sobre os cometas que vi em minha infância. Quem é, ou viria a ser escritor, jamais esqueceu a visão de um deles e, nesta condição especial, fez questão de registrá-los. Só mesmo quem viu um grande cometa no céu, sabe do sentimento estranho e indescritível de que é apossado. Foi assim com Drummond e Pedro Nava, dentre outros, escritores que tiveram a suprema felicidade de ver o majestoso Halley em 1910, e transcrever suas impressões para a posteridade. Da infância, a partir dos quatro anos, até hoje, tive a felicidade de ver dois cometas — até o momento, vi 10 ao todo —, e, hoje, vou falar do segundo, não muito grande mas interessante cometa também.

Por volta do final da década de 1960 e início da 70, a impressão que se tinha na Usina é que haviam “coisas no ar”, e sentia-se nela uma atmosfera mágica, algo de presságio, coisas que, parecia, só minha mãe e eu éramos capazes de captar na Usina. O cometa Bennett, creio, foi uma delas. 

Estimaram que ele poderia se tornar um dos maiores cometas do século e ser comparado à cometas históricos como o Halley de 1910 e o Donati de 1858, mas tal não ocorreu, infelizmente. Porém, assim como o Ikeya-Seki, que o antecedeu, o Bennett foi um dos mais belos cometas que passaram pelas proximidades de nosso planeta nestes últimos 40 anos, o que se deu entre março e abril de 1970, ocasião em que pode ser visto a olho nu antes do amanhecer. Seria o primeiro e único cometa que eu vi em meus dez anos de Usina (e era para ter visto três). Viria ele a ser o segundo alumbramento celeste que pontuara minha vida, e uma das imagens que conservo mais nitidamente em minha memória.

Foi descoberto visualmente com magnitude 8.5, por John Caister Bennett, um astrônomo amador de Pretória, África do Sul, em 28 de dezembro de 1969, 15 minutos após haver iniciado sua rotineira busca por cometas, encontrando-o nas imediações da Nuvem de Magalhães. Na foto abaixo, o cometa fotografado por Akira Fuii. Designado como 1970 II, o Bennett foi um dos mais belos cometas que passaram pelas proximidades de nosso planeta nestes últimos 40 anos, o que se deu em março e abril de 1970, ocasião em que pode ser visto a olho nu antes do amanhecer. 



Seu núcleo, onde foi constatado a existência de um envoltório de hidrogênio, era amarelo amarelo-brilhante, parecendo uma estrela. Sobre o núcleo citou-se que  “Além de jatos e envoltórios parabólicos, ele ostentava uma formação peculiar, à feição de ‘rodinha de São João’, de filamentos laranja, na zona próxima do núcleo. A ‘rodinha laranja’, como foi designada na ocasião, foi observada tanto visual como fotograficamente e demonstra, em parte, a extensão da atividade nas regiões centrais de um cometa verdadeiramente ativo”. Por isto, seu núcleo parecia estar girando rapidamente. Já sua cauda, que era dupla, reluzia com brilho amarelo-pálido (foto: Staten Island, New York, 1970 March, Perti 135mm f3.5,15 seconds on Tri-X. Pho), e cerca de duas semanas antes de sua máxima aproximação do Sol, ele foi visto no céu sul-oriental com uma cauda de poeira, curva e brilhante, e outra de gás, tênue e reta, que parecia brotar como um raio reto de um lado da cauda curva de poeira. Ambas eram separadas entre si por uma distância de cerca de um grau da cabeça. Em 21 de março se podia ver uma larga cauda de poeira, de 13 a 14 graus de extensão, curva e brilhante, na cor amarelo-clara, junto de uma cauda de gás, que tinha uma borda convexa muito nítida voltada para o norte, outra borda côncava indefinida que, para o sul, se dissolvia numa luminosidade amarelada, dando a impressão de um repuxo curvo jorrando em direção oposta ao movimento do cometa e se pulverizando numa fina névoa de vapor luminoso amarelado. Em 11 de abril a cauda chegou a atingir 25 graus. 

Para se ter uma noção de seu comprimento aparente no céu, com o braço estirado, a mão aberta e dedos esticados, 20 graus é a distância entre as pontas do polegar e do dedo mindinho, portanto, um cometa de proporções bem significativas. (foto: Dennis di Cicco)

Entre fevereiro e março houve a passagem pelo periélio, sendo que ele foi visível em seu esplendor entre 15 de março e 10 de abril de 1970. À medida que ele ia se aproximando do Sol, seu aspecto foi mudando até que a cauda de poeira eclipsou em parte a cauda de gás. Coincidentemente, em março deste ano o Sol se encontrava em sua máxima atividade, quando as manchas solares se intensificam após um ciclo de 11 anos, mas não sei dizer se isto influenciou no tamanho de sua cauda. Depois dessa aproximação, a cauda de gás foi novamente vista, enquanto a de poeira continuava a girar para o norte, sendo facilmente observada em começos de abril. Cita-se que nos primeiros 5 graus da cauda houve ejeção de gazes, o que pode ser visto na foto abaixo. 


Era rico em poeira. E cometas assim são os que melhor tem a oferecer aos astrônomos visuais, porque brilham com luz refletida, fornecendo imagens vivas em todos os campos do espectro, inclusive aqueles captados pela vista humana, em contraste com as caudas de gás, cujo constituinte principal, o monóxido de carbono ionizado, irradia no violeta, uma faixa espectral a que os nossos olhos não são muito sensíveis. As caudas de poeira se mostram mais comumente como apêndices longos e encurvados, mais ou menos como a fumaça saída de uma locomotiva a vapor. (foto acima: National University of Ireland, Maynooth)

Curioso foi um fato ocorrido durante a missão Apollo 13: no dia 14 de abril de 1970, às 21h03, Houston orientava os astronautas para que manobrassem a nave para fazer algumas fotos do cometa Bennett. Após o “OK”!, seguem-se dois minutos de silêncio, quando o astronauta Lovell diz “Temos um problema”, afirmando que havia uma falha elétrica num dos sistemas. Havia ocorrido uma explosão, que os astronautas não perceberam, mas após custosos reparos conseguiram voltar para a Terra sem problemas. Outra curiosidade se deu durante a guerra no Oriente Médio: o cometa chegou a ser alvejado por soldados árabes que imaginaram se tratar ele de uma arma secreta de Israel!... Já no Vietnã, os camponeses ficaram apavorados ao vê-lo, chamando-o de “Vassoura Celeste”.


Não sei como minha mãe ficou sabendo da aparição deste cometa, pois, naquela época, a divulgação de eventos do gênero, seja nos jornais (que não assinávamos) e na TV era rara no Brasil. Mas posso garantir que não foi por informações minhas que ficamos sabendo do fato, embora eu já soubesse ler. Por este mesmo problema, deixei de ver o belíssimo cometa West, que surgiu na virada de 1975/76 (foto: New Jersey). Neste caso, o problema se deu com os meios de comunicação, que estavam embaraçados com o anticlímax gerado pela "frustrada" visita do cometa Kohoutek em 1974, e temendo um novo fiasco, pouca cobertura deram ao surgimento do West. O resultado foi que esse cometa espetacular passou desapercebido do grande público. Para reforçar o que digo, leia o que o senhor Adelino P. Silva, de Fortaleza/CE, escreveu sobre o Bennett:

“Imaginei que a passagem do Cometa seria o assunto do dia seguinte na cidade. Se não nos jornais (não dava tempo), pelo menos nas estações de rádio e TV. Nada, rigorosamente nada. Nenhum dos meios de comunicação comentou o fato, aliás, como também nada tinham mencionado anteriormente. Pensei em doar a foto para um jornal, mas acabei desistindo. Achei que seria apenas mais uma. Que nada. Jamais se tocou no assunto. Até hoje tenho a nítida impressão de que somente eu observei e fotografei o Cometa Bennett no céu já quase totalmente azul daquele lindo amanhecer de 1970 em nossa querida cidade de Belém, Pará.”

Na foto acima, feita entre 21 e 25 de março de 1970, o Bennett fotografado por Adelino, com magnitude 1.8 e cauda com 12 graus de extensão.

O cometa, em foto de 20 de março, por Cláudio Pamplona, Fortaleza, Ceará.

Lembro-me que, numa certa madrugada de março ou abril, minha mãe me acordou e fomos eu e ela tentar encontrar o Bennet no céu da Usina. Uma manhã como essa tinha um encanto particular, pois só quem passa a noite semi-acordado, na expectativa de ver algo incomum é que sabe o sabor que tem despertar e ir ansioso para o quintal e olhar para o céu. Acredito que o vimos no auge de sua aparição no hemisfério sul, no final de março por volta das 4:30h. Do próprio quintal de casa pudemos vê-lo facilmente, pois ali a vista era descortinada, já que haviam cortado o velho pé de flamboyant que se erguia no gramado frontal. A noite estava límpida e fresca – como eram a maioria das noites outonais nesta época –, e olhando acima do horizonte ao lado de um cipreste que havia em frente à nossa casa, lá estava o novo cometa, bem visível e brilhante em meio à luz da anteaurora que já se insinuava e começava a azular o céu matutino (na foto acima, o cometa em Waasmunster, Bélgica).

Gornergrat. Close to the Lyskamm. "Jena Primoplan",, 75mm lens, f-1.9

Custava-me a crer que, após cinco anos, eu estava novamente diante de um cometa, de modo que nos que meus olhos quase não acreditavam no que viam. Sempre quando vejo o quadro “Noite Estrelada” do Van Gogh, o segundo quadro, o que tem os ciprestes e os entrelaçamentos de espirais, os torvelinhos de estrelas, e revivo esta noite especial da aparição do Bennett, em que meus olhos de menino curioso e sonhador se deslumbraram. Interessante saber hoje que o cipreste é a árvore que simboliza a união entre o Céu e a Terra. 

By Andiroby

Bennett era um cometa mediano, mas bem visível no céu, e dificilmente não chamaria a atenção mesmo para os que “são inábeis para as afeições do céu”, como diria o poeta. Por causa disto mesmo, a sensação de se ver um cometa a maioria das pessoas desconhece, mas é algo indizível – só mesmo se vendo para saber o que é este sentimento ao ver um astro milenar que veio dos confins do universo nos visitar, coisa que, felizmente, pude desfrutar novamente vendo o belíssimo cometa McNaught em janeiro de 2007. Ele não proporcionou o mesmo show deslumbrante do grande Ikeya-Seki, que eu havia visto cinco anos antes em Araras, mas foi ótimo ver novamente um cometa, coisa tão rara atualmente. Dos 10 cometas que vi até hoje, o Bennett foi o terceiro melhor, o McNaught o segundo e o Ikeya-Seki o primeiro. Ainda estou na espera de um gigante cometa rasante solar – aqueles que são vistos até de dia. Mais dia, menos dia, um desses aparece.


Na foto acima, o Bennet visto numa praia de Samoa, fotografado por John M. Flanigan.

No livro que abandonei temporariamente, O Romeiro da Maldição – As reinações do poeta Fagundes Varella – meu personagem que volta no tempo, ao século 19, passando por 1910, se detém para ver o cometa Halley e reclama do século 21, em que vive, época pobre de cometas e outros eventos astronômicos:

“Como não se bastasse, os cometas e chuvas de estrelas que foram eventos tão freqüentes e deslumbrantes no século XIX e anteriores proporcionando inesquecíveis espetáculos, no século seguinte, com a possessão da luz, deixaram a desejar, aparecendo raramente e, ainda assim, timidamente, e o XXI, pelo que se nota, lamentavelmente ainda não soube repetir à altura um destes raros eventos astronômicos que encantaram e assombraram estes nossos afortunados habitantes aqui do passado...”

Gornergrat . With track of an Echo satellite. "Jena Primoplan" 75mm len

Roy Stemman – um dos papas da Ufologia Bíblica – sentenciou:

“Quanto mais olhamos para trás no tempo, mais impressionantes são as histórias que se descobrem.”
 
E já que falamos em Ufologia, veja esta outro colocação do ufólogo George Adamsky, em seu livro “Os Discos Voadores”, em pareceria com Desmond Leslie, lançado no Brasil em 1953:

“Procissões enchem os caminhos do espaço à volta do nosso globo, fazendo parecer vazias, pela comparação, as nossas estradas principais em dias de feriado. O século XIX bateu o recorde no que diz respeito ao turismo estelar. Milhões de seres extraterrenos, aparentemente, espreitaram, bisbilhotaram, investigaram, estudaram e registraram tudo o que viram no nosso planeta nas suas fantásticas excursões.”

Assim sendo, resta-nos apenas lamentar estes tempos insípidos e insossos em que estamos vivendo...

Para fechar a matéria, uma belíssima foto do Bennett, nas montanhas suíças, em 26 de março 1970.

O Bennett na revista Veja, em 1º de março de 1970




* * *
* Este texto é um capítulo do livro, em fase de redação, "APÓLOGO 11 – OS DEVANEIOS DE UM MOLEQUE NA ERA DA CONTRACULTURA Volume 2 — Sweet memories ― janeiro de 1969 a dezembro de 1970".

Veja aqui um outro documentário meu sobre cometas:
O GRANDE COMETA MCNAUGHT EM JANEIRO DE 2007: UMA BELA SURPRESA QUE POUQUÍSSIMOS FELIZARDOS VIRAM!...



Fontes:
Seis fontes. Consultar o autor.
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