terça-feira, 20 de agosto de 2019

REVOLVERES, FACAS E CAIXAS DE FÓSFORO: MALES NECESSÁRIOS?...

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O Tom Jobim, de tanta indignação por ver a incompreensível mania de os brasileiros colocarem fogo nas matas, disse, décadas atrás, que "o homem devia ter passaporte para andar com uma caixa de fósforo". A colocação, mesmo com as melhores intenções possíveis, não foi perfeita, digo, não foi uma boa analogia - o correto seria ter dito que o homem devia ter algo como uma licença para poder portar caixa de fósforos. 

Mas, aonde quero chegar? Se o homem é um criminoso dependendo do uso que faz, por assim dizer, de um artigo do lar: a caixa de fósforos, a faca - outro artigo - vai pelo mesmo caminho: um inocente item de cozinha que, mal utilizada é uma arma igual ou pior que uma caixa de fósforo.

Então, se antes, o homem que possuía revolver ou espingarda dava um jeito de escondê-la em casa, em lugar não acessível às crianças, parece que agora, na falta de armas, quem terá de ser escondido são as facas, e pelas mulheres... Explico: é uma ironia a colocação, mas ela não foge à verdade. Mulheres que tem maridos violentos, ou as que tem aqueles que não se conformam com o final de uma relação e que depois vão "visitá-las", escondam suas facas - pois basta uma discussão, uma briguinha qualquer, e o brutamonte vai para a cozinha e, daí, já se sabe o que pode acontecer... Isto, quando o monstro não aparece de surpresa com sua própria faca ou canivete escondido - aí não tem jeito...

A caixa de fósforo, assim como o isqueiro, também não deixam de ser armas brancas, e os crimes cometidos na sua posse são, p. ex., colocar fogo na natureza, incendiar ônibus, pneus e até mesmo colocar fogo em moradores de rua e colchões de penitenciárias... E aí, notamos que entram mais dois itens na lista do portes perigosos: o cigarro e o galão de gasolina... Quanto ao cigarro, podemos concluir que se ninguém fumasse neste mundo, muitíssimo menores seriam as queimadas que assolam o planeta, mas... Já o galão de gasolina é mais fácil de coibir, desde que os postos de gasolina vetem sua venda, mas quem vai impedir a venda de caixa de fósforos e isqueiros? 


Assim como há lei para porte de armas, devemos, na atual conjuntura criar projetos de lei que objetivem criminalizar o porte de armas brancas incluindo cigarros, caixas de fósforo, isqueiros, facas, galões de combustíveis e afins?

À propósito, ultimamente tem maridos inconformados visitando esposas portando caixa de fósforos e galão de gasolina!... Onde iremos parar neste Brasil?! Pobres mulheres!

WOODSTOCK, A CONTRACULTURA E A DITADURA

O que quero mostrar neste post é que, mesmo nos chamados "anos de chumbo", eles foram tempos incríveis, intensos e criativos para nossos artistas nas mais variadas áreas, seja música, seja teatro, seja literatura. Parece até que a repressão estimulava a criatividade, como numa espécie de revolta, ou mesmo vingança, e esta não é opinião só minha. Mesmo com todos os medos e limitações, analisando os trabalhos que deixaram, notamos claramente que eles deram o melhor de si e criaram obras fantásticas naquele que é um dos períodos mais fecundos e criativos deste País, ou seja, o fenômeno da Contracultura por aqui.

Leiam este trecho de reportagem (sobre os 20 anos de Woodstock e sua repercussão no Brasil), a cargo de um dos ícones desse movimento no Brasil, o Antonio Bivar (1939), escritor e dramaturgo brasileiro - sujeito que abraçou a onda hippie e o drop out, e viveu intensamente esta época. Notem que, a certa altura, ele confessa com sinceridade, falando como que em nome da galera daquela época: "Na verdade, mesmo com todos os seus momentos difíceis, foram, por assim dizer, os melhores anos de nossas vidas."

Mas aonde quero chegar? Pois bem: esse depoimento deve analisado e ser levado em conta pelas novas gerações, de modo que saibam que mesmo com a "guerra" e aquela repressão toda, as perseguições, as censuras, o exílio de alguns, o escambau, os artistas em geral curtiram muito, criaram demais, deixaram obras-primas definitivas e eternas.

E vou mais longe ainda, e vou fazer uma pergunta aos músicos de MPB, aos rockeiros, aos teatrólogos e escritores da época. Amigos, digam se, na verdade, lá no fundo, vocês não queriam voltar à essa época instigante, e digam também se ela não foi a melhor de suas vidas com as obras que lançaram, os shows que fizeram, as peças que encenaram, as viagens pelos País, os festivais, a galera da época, aquele período mágico de criação?

E quem escreve aqui é também, de certo modo, uma testemunha ocular da história, de modo que endosso a colocação do Bivar sem pestanejar, pois, mesmo naquela minha fase de menino à adolescente (no auge da Contracultura), eu acompanhei tudo e me joguei de corpo e alma no movimento: no dia-a-dia, nos shows que ia, nos programas de TV que assistia, nas revistas que lia, nos discos, revistas e livros que comprava, etc. , e posso garantir que nada foi melhor e mais incrível que aquilo tudo, e tanto o é que essa geração de artistas faz sucesso e é endeusada até hoje pelas novas gerações, e tenho a certeza que serão eternos!

Enfim, a benção, Bivar! Evoé, Contracultura!


quarta-feira, 10 de abril de 2019

AS MALUQUICES DO HERMETO PASCHOAL E DO CESAR LOUCO NA ARARAS OITENTISTA

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O Hermeto e sua partitura
No já distante dia da graça de 12 de março de 1987, a banda do mundialmente famoso multinstrumentista Hermeto Paschoal ia fechar o "III CANTORIA DAS ARARAS" no Ginásio de Esportes de Araras, um festival de MPB criado pelo finado cantor e compositor ararense, Borg Domingues, falecido em 2001, artista que era de minha banda e parceiro de composição em muitas músicas. Foi um festival de altíssima qualidade, do qual participaram todos os vencedores de festivais do gênero do Brasil, artistas que o Borg conheceu em suas participações nos mesmos festivais. Ressalte-se que esses, eram os chamados festivais populares que ocorriam no interior de muitos Estados brasileiros, portanto, nada a ver com os festivais de TV.

O Borg, de cangaceiro, num festival em Leme, com nossa banda.

Depois do festival, o Hermeto foi convidado para ir a uma república de estudantes - a então República Covil -, e ele, para não fugir às suas costumeiras excentricidades, escreveu numa das paredes de um quarto a partitura (complexa) que se vê na foto, de uma música que fez na hora, segundo me disseram! Mas acontece que algum iluminado registrou esse momento histórico, o que pode ser checado na foto! Hermeto batizara a criação de "Música da Parede Linda"...

O flyer do festival

Wenilton e Borg
Lembro-me que, apesar do alto nível do festival, a empreitada resultou em prejuízo, pois, já que, como era de se esperar, o povo de Araras não compareceu... O Borg, nesta época, tinha um violão Ovation - a coqueluche da momento -, e que valia uma nota, e para poder pagar o show do Hermeto, teve que abrir mão de seu estimado violão!... À propósito, o mesmo se deu com um show no mesmo ginásio, em 25 de novembro de 1978, do não menor Arnaldo Baptista - sim, o Loki dos Mutantes -, quando foram fora cerca de 20 pessoas assisti-lo (eu estava lá)!... Prejuízo total, mas o maior foi o prejuízo emocional do pobre Arnaldo, que chegou a chorar nos bastidores! É que, no mesmo dia, havia um show de dança discoteque na AAA e todo mundo baixou lá!...

O "Bruxo"
No mesmo dia do show - e eu presenciei isto - o Hermeto ia dar uma entrevista à TV local a partir do hotel Diplomata, no Jardim Cândida, onde estava hospedado sozinho, e pude vê-lo em mais umas de suas excentricidades: ele pegou duas garrafas plásticas com um pouco d'água cada e começou a fazer música soprando na boca delas, e, alternando, ia bebendo a água de cada uma aos poucos, no que as "reafinava" , e, assim, ia improvisando sons tribais!... O gerente do hotel torceu o nariz para aquilo que, para mim, não era nenhuma novidade! Eu, por minha vez, me esbaldei com a performance!...

O casarão do Horto Florestal do Loreto
No final de tarde deste mesmo dia, soube que o resto da banda do bruxo se hospedou no casarão do Horto Florestal do Loreto junto da maioria do músicos participantes do festival, e lá fomos nós, eu, o Jonas Bueno, o Jairzinho Francatto (baterista de minha banda) e o Cesar Louco, outro grande amigo músico, falecido exatos 10 anos depois do Borg, portanto, 2011. Soubemos também que ia ser  servida um a canja de galinha para a galera, mas chegamos tarde e não havia sobrado nada para nós a não ser arroz e caldo!...

Wenilton e Jair, no ano anterior ao festival
Acontece que, durante o trajeto, enquanto íamos atravessando a avenida central do Nosso Teto I, o Cesar foi no banco da frente ao lado do Jair aprontando as suas costumeiras loucuras... Resultado: o Jair se distraiu com a brincadeira e acabou batendo com uma das rodas da Brasília de seu pai na guia da rotatória, entortando gravemente o eixo, mas ainda dava para dirigir!... (no dia seguinte, o pai do Jair, ao ver o estado do carro, que puxava para o lado, chegou a chorar de raiva!...)

Em vista aérea, a sede do Horto Florestal do Loreto

O lendário Cesar Louco
Depois do "jantar", já à noite, fizeram uma fogueira em frente ao casarão e rolou um som de violão e flauta ali, mas os músicos do Hermeto se limitaram a só olhar, e ficaram rindo vendo o Cesar Louco tocar suas maluquices ao violão. À certa altura, o Cesar - sabe-se lá como! - descobriu (no meio da escuridão!) um pés de rama-de-batata atrás do casarão e, após desenterrar algumas, na melhor tradição secular indígena, trouxe-as para assar nas brasas da fogueira... Foi quando um acontecimento excêntrico se deu, tão louco quanto os do Hermeto, e desta vez, quem estava no comando do espetáculo era o próprio Cesar, que, por seu histórico, poderia ser encarado como o músico equivalente local, digo, o Hermeto ararense  (sim, guardadas as devidas proporções). Mas num quesito, como se verá, o Cesar era melhor que o bruxo - digo, se não era melhor músico, era, por assim dizer, melhor causador de excentricidades... 

A capela do Horto Florestal do Loreto
Pois bem. O doido do Cesar, enquanto ia retirando das brasas as fumegantes batatas e verificando com as próprias mãos se  já estavam assadas, ia improvisando uma cantiga maluca com a voz - um scating engraçado como só ele sabia fazer: retirava as batatas das brasas e ia recolocando-as rapidamente enquanto fazia uma cantiga meio tipo Escravos de Jó (pena não haver celular na época)!... Os músicos do Hermeto se esbaldaram com a performance, riram a valer! Pena que o Hermeto não estava lá.

Jonas Bueno
A uma certa altura, estávamos eu e o Jonas na varanda do segundo andar do casarão, e lá embaixo vimos o Jair - outro maluco da noite -, que havia pegado uma folha de árvore de unha-de-vaca, cortou-a ao meio e colocou sobre o nariz simulando um raybam B&L, e depois ficou desfilando com ela pelo gramado!...

Mas o fechamento da noite com chave-de-ouro ainda estava por acontecer. Não estávamos mais lá, pois tínhamos ido curtir a final do festival com o encerramento da banda do Hermeto. Nisto, estranhamente, o Cesar não voltou para a cidade com a gente. No outro dia, rolou um papo entre os amigos em que o caseiro do Horto contou que um sujeito magrelo e cabeludo entrou no meio da madrugada na igreja do casarão, virou todos os bancos para baixo e o crucifixo da parede de ponta cabeça, e disse que ia fazer uma missa negra no local!... Desnecessário dizer que era nada mais nada menos que o Cesar!... A turma rachou o bico! 

A banda do Hermeto Paschoal em 1989

Hoje, passados tantos anos dessa saudosa e engraçada e maluca noite, fico pensando que, se caso o Hermeto estivesse lá, quem sabe não ia rolar uma jam muito maluca entre ele e o Cesar Louco aos pé daquela fogueira - o bruxo na flauta e o Cesar ao violão!

Não custa sonhar, né, galera!...
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

EFEITO PIRELLI


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As agências de publicidade e propaganda gostam muito de criar slongans brincando com trocadilhos.

Houve um, da segunda metade da década de 80, que foi criado para a empresa Pirelli, fabricante de pneus, slogan que deu muito ibope na época, o famoso: "É mais que um pneu, é um pneu de aço, é um pneuaço!", feito para o pneu radial criado por André Michielin, porém, em 1948.

Em Araras (SP), teve gente que não deixou barato e recriou o slogan, porém, puxando para a malandragem!... A pérola, devidamente recolhida por mim, assim como muitas outras pichações que marcaram época na cidade, é esta: "É mais maconha, é maconha de maço, é maconhaço!". Ararense é foda!...

Então, como eu gosto muito de brincar com a Gramática, as palavras, os trocadilhos, notei que eu também podia criar umas frases no estilo, e criei a série "Efeito Goodyear", mas como os amigos podem notar, eu me equivoquei quanto à empresa, pois era a Pirelli...

Enfim, aqui vai a lista das expressões "Efeito Pirelli" que criei nas últimas décadas:
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É mais que uma jura, é a jura de um jumento, é um juramento.
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É mais que uma Áustria, é uma Áustria mais a Itália, é uma Austrália.
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É mais que uma dama, é uma dama com asco, é um damasco.
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É mais que uma terra, é uma cota de terra, é uma terracota.
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É mais que um ócio, é o ócio de um equino, é um equinócio.
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É mais que uma gare, é uma aragem na gare, é uma garagem.
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É mais que uma ema, é o dia da ema, é um diadema.
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É mais que um isqueiro, é um isqueiro na chuva, é um chuvisqueiro.
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É mais que um sapo, é o papo de um sapo, é um sopapo
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É mais que um asco, é um asco de churros, é um churrasco.


E a última, que é minha homenagem particular ao povo da Bahia:

É mais que um nego, é um nego com ócio, é um negócio.
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