sábado, 20 de março de 2021

ALGUMAS BEBIDAS ANTIGAS E FOLCLÓRICAS DE CAIPIRAS E SERTANEJOS

- Jacuba: papa de farinha de mandioca preparada com mel, açúcar ou rapadura, a que se acrescenta, por vezes, leite ou cachaça e que também se dilui com água e sumo de limão, para servir como refresco.


- Aluá: é uma bebida fermentada refrigerante de origem afro-indígena (com seu nome proveniente do Quimbundo “Ualuá”, feita a partir da fermentação de grãos de milho (ou arroz, menos comumente) moídos. Tradicionalmente, é fermentada em potes de cerâmica. Bebida presente em rituais de candomblé.


- Capilé:  xarope feito com suco de avenca ou capilária; água adoçada com esse xarope ou com outro qualquer; bebida alcoólica feita de polpa ou suco de fruta e aguardente. 




- Gengibirra: cerveja feita de gengibre, limão, açúcar e outros ingredientes.




- Jeropiga: uma bebida alcoólica tradicional em Portugal e difundida entre os antigos caipiras. É preparada adicionando aguardente ao mosto de uva para parar a fermentação, resultando uma bebida mais alcoólica que o vinho.







- Anisete: é uma bebida alcoólica à base de anis. Muito popular na Europa, principalmente na França. Bebida muito comum entre os antigos caipiras e ainda sobrevivente em festas juninas, feita de álcool de cerais, essência de anis (ou erva-doce e anis estrelado), açúcar e corante vermelho (groselha) ou azul.


- Cajuína: bebida típica do Nordeste brasileiro, muito produzida e consumida no Maranhão, Ceará e principalmente no Piauí, onde é considerada Patrimônio Cultural do Estado e símbolo cultural da cidade de Teresina. Preparada a partir do suco de caju, sem álcool, clarificada e esterilizada, apresenta uma cor amarelo-âmbar resultante da caramelização dos açúcares naturais do suco. Pode ser preparada de maneira artesanal ou industrializada. 


- Genebra: no Nordeste brasileiro, é o nome que se dá a uma infusão de aguardente com um pouco de açúcar e casca de laranja, que era coada depois de cinco dias de maceração. A Genebra original é elaborada segundo uma antiga e original receita holandesa, à partir da destilação de bagas de zimbro maceradas.




- Cachimbo: aguardente com mel da abelha e polpa de uma fruta qualquer de época. Misture a cachaça e o mel de abelha agitando-se bem. Depois, junta-se a polpa de uma fruta qualquer de época, e, finalmente, coloque a mistura num recipiente como uma vasilha com tampa "que se preste ao sacolejo". Do mesmo modo que o ritual do charuto nas cidades quando as mulheres dão à luz, no Nordeste brasileiro, seja na cidade seja nos sertões, os maridos servem o Cachimbo.

- Tiquira:
é um destilado de mandioca muito popular no Maranhão. Alguns consideram a Tiquira a verdadeira aguardente brasileira por ser feita da mandioca, uma planta nativa. Brasil é conhecido como o país da cachaça, mas deixamos de lado algumas raridades de lado para fortalecer a imagem da aguardente de cana. Uma delas é a Tiquira, entre outras, como Canjinjin, Cataia e a Consertada. Bebida típica do Maranhão, em torno de apenas cinco a sete municípios ainda produzem esta bebida. A Tiquira é feita através da destilação de mandioca e adição de folhas de tangerina. O nome Tiquira possui dois possíveis significados. De acordo com Stradelli, tiquira é a palavra nheengatu que significa “destilado obtido a pingos, através do beiju de mandioca fermentada”. Já para Anchieta, tiquira deriva da língua indígena tupi, “a gota”, por fazer referência ao gotejar do líquido durante a destilação. Você pode encontrar isso no livro de Gonçalves de Lima, Anais da Sociedade de Biologia de Pernambuco, 1943.

Pau-a-pique:
em 5 litros de água, ferva 1/2 quilo de gengibre socado, 200 gramas de erva doce, um pouco de nos moscada, uma pitada de cravo moído, 300 gramas de canela em pau. Depois de fervido, adoce até melar e deixe dois dias em infusão. A seguir, junte de 1 a 2 litros de cachaça e leve ao fogo até abrir fervura. Depois de frio, engarrafe.”


segunda-feira, 15 de março de 2021

FARINHA DE JATOBÁ E CÃIBRAS

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Tenho o costume de comer farinha de jatobá faz décadas, depois que soube que ela tem as mesmas propriedades de energéticas do pó de guaraná. Todo ano vou coletar frutos, que depois retiro a polpa das sementes, e bato-a no liquidificador par fazer a farinha, que pode ser tomada com água ou leite. Dizem que esta farinha cheira à chulé, e cheira mesmo, mas ela é agradável e adocicada. Daí que, vira e mexe, eu sinto umas cãibras estranhas no pé. Um dia destes, relendo o livro "Bandeirantes d'Oeste” (1952), do sertanista Willy Aurelly, ele fala de um incidente ocorrido com seu pessoal após o consumo de farinha de jatobá. Diz ele:

“Pus a cabeça fora do abrigo providencial e deparei com meus rapazes nus como vieram ao mundo, sob tormenta Infernal, esmagando frutos jatobá e deliciando-se colocar por farinhento."

Quando chegara a noite, ele comentou o que aconteceu:

“Tudo era paz e sou atacado por violentíssimas câimbras. Dores insuportáveis, enlouquecedoras! Já uma vez, no alto rio das Mortes, após penetração cansativa até a serra da Piedade sofrerá mal idêntico juntamente com ele Henri Julien. Caí grotescamente, gemendo de dor. Não tardou que Valderino sentiu o mesmo e, logo a seguir, Aristides. Estorcíamo-nos em dores, suando frio, gemendo, quase perdendo os sentidos. Paulo aqueceu cobertores, envolvendo-nos neles. Melhoramos logo, para em seguida acordemos o bravo rapaz e o gaúcho, agora atacados pelo Mal.  Só os índios e o Augusto nada sentiam. Esse, querendo pontificar:

- Tá í macacada! Vocêis bebem pinga e sofrem as câimbras. Eu nunca bebi estou bom.

Não se vangloriar a, é que se atira ao chão, emitindo gemidos prolongados. Todos rimos com a desdita do bom companheiro, pois que as cãibras vieram, oportunamente, para desmenti-lo! E lá foi um cobertor quente também para o abstêmio que custou a se refazer.

- Quá! De hoje em diante não rejeito mais minha ração! Tanto faz…

A despeito de experimentar melhoras, não podíamos fazer movimentos bruscos e nem manter-nos em pé. As cãibras voltavam e vimos obrigados, para alimentar as fogueiras, a arrastar nos pelo chão. E durante a noite toda, quem se incumbiu do quarto de guarda, fê-lo sentado, pela impossibilidade de se erguer. Que nos teria acontecido se tivéssemos sido atacado pelos índios naquela situação?”

Notemos porém que Willy parece não ter se alimentado de jatobá durante o temporal, e no surto de cãibras em outra ocasião ele não menciona a ingestão de jatobá pelo pessoal.

O Visconde de Taunay, em seu livro "Viagens de outrora" (1921), Se referindo a farinha de Jatobá que consumia com seu pessoal atravessando os sertões do Mato Grosso, não se referiu à acessos de cãibra após o consuma, mas louvou os benefício do fruto:

“Uso destes frutos provou bem nas forças contra as diarreia e serviu de muito para o sustento geral. É, pois, com reconhecimento profundo que os expedicionários de Mato Grosso devem falar de estilismo vegetal”.

Daqui para diante, vou prestar mais atenção nos acessos de câimbra  e a ingestão de farinha de jatobá, para saber se há uma relação entre eles, mas à princípio, acho que é mera coincidência.

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quinta-feira, 11 de março de 2021

"DIBARÁ", UMA IMPORTANTE PALAVRA TUPI QUE SE PERDEU


Muitos termos da língua tupi, ao longo dos séculos, entraram para o nosso linguajar cotidiano, mas há alguns que passaram batido. 

O escritor Gastão Cruls, em seu livro “Amazônia misteriosa”, lançado em 1957, traz um desses termos que nos escaparam: DIBARÁ, que significa "a mulher que se entrega prontamente, que é facilmente conquistada". 

Não me recordo de um termo específico na Língua Portuguesa para designar isto. À propósito, este termo tupi nem mesmo na Internet é encontrado, e digo que ele é "importante", pois condensa numa única palavra algo que, através de nossa língua, precisaríamos de várias delas para explicar algo simples assim...

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domingo, 7 de março de 2021

TRIBUTO A UM ÍDOLO - A DISCRETA PARTIDA DE SYLVAIN SYLVAIN

Eu não sabia, pois, estranhamente, não vi comentário algum nas mídias que frequentei naquele dia: a morte, no dia 13 de janeiro passado, do grande Sylvain_Sylvain, genial guitarrista da banda norte-americana New York Dolls! Capitulara o artista após uma longa batalha contra o câncer nos últimos dois anos e meio.

Certamente, por seu visual provocante e a frente do tempo - imitado à exaustão pelas bandas glan da década de 80 -, o New York Dolss foi a banda mais polêmica dos anos 70, mas, infelizmente, talvez a mais desventurada e azarada na história do rock and roll, isto, pelos mal-sucedidos e trágicos incidentes ocorridos em sua curta carreira, o que levou a sua fatal dissolução.

Mas voltemos à morte do Sylvain. Pois bem. Daí que, quarta-feira passada, com insônia, saí em meio à madrugada e fui dar um rolê com minha cachorra pela noite agradável de Rio Claro, ouvir um som e tomar umas cervejas... Ocorre com certa frequência, mas adoro isto! 

Então, no meio do caminho, coincidentemente, procurando vídeos da banda para ouvir, soube de sua triste passagem - isto, como se algo me levasse até a banda para me avisar de sua morte - e fiquei arrasado!  

Era o segundo membro original do New York Dolls ainda vivo. Então, numa espécie de homenagem, passei o resto da noite ouvindo os dois grandes discos da banda, e até chorei de tristeza...  

Ele era o meu integrante predileto na banda, compositor inspirado e criador de grandes e marcantes riffs de guitarra. Muito aprendi com ele em meus primeiros anos de aprendizado de guitarra, já deixando a bateria. Isto se deu quando comprei o segundo disco da banda, "Too Much Too Soon”, que é fantástico e inspiradíssimo. 

Na história do rock, depois do Alice Cooper, até então não havia visto um cara com uma cara tão safada e bandida como a do mal-encarado Sylvain Sylvain, mais parecendo um membro oriundo do MC5. Aliás, Sylvain era judeu, de origem árabe. Visualmente falando, antes dele - inclusive em postura de palco e mize en scéne - só mesmo o  Hendrix para peitá-lo. 

A propósito, dois artistas que muito imitaram o  Sylvain em presença de palco jeito foram dois integrantes do Kiss, Gene Simmons e o Paul Stanley - aquele passo alto que o Simmons dá com a perna esquerda quando se aproxima do microfone para cantar foi roubado do Sylvain. Já o Paul Stanley roubou-lhe diversas trejeitos de palco, que todos pensam ser cria do guitarrista do Kiss, inclusive no visdual... O Sylvain, por sua vez, a meu ver, era meio que um misto de Syd Barret com Marc Bolan.

Sylvain tinha o estilo de guitarra todo calcado no rock and roll dos anos 50, mas, recriando o gênero, jogava muito peso e floreios constantes em cima das execuções, embora nem sempre usasse distorção. Mas foi um criador de estilo, e um estilo muito pessoal e particular de tocar e arranjar as músicas. 

Acho o seu riff de “Babylon” o mais lindo de toda a história do rock and roll,  e se um alienígena me pedisse uma amostra de rock and roll para ele conhecer o estilo e o espírito desse gênero musical terráqueo, sem dúvida eu colocaria “Babylon” para rolar...

Enfim amigos, é triste ver que a mais um icônico integrante-chave de um das grandes bandas setentistas nos deixa, todos já indo em direção da casa dos 70 e outros 80! Adolescente ingênuo, achava que eles eram eternos e esse dia nunca chegaria!..., isto, quando desejaríamos que todos fossem eternos e imortais pela alegria que nos deram e terem tornado nossa juventude muitíssimo melhor. Felizmente, suas obras fantásticas estão aí para todas as gerações seguintes se esbaldar pela eternidade afora.

Reconheço que ele não foi tão famoso e deu tanto ibope quanto seu parceiro de guitarra na banda, o não menor Johnny Thunders (1952-1991), guitarrista insano, tão talentoso quanto auto-destrutivo; mas, para mim, o Sylvain Sylvain era o cara! 

À propósito, Sylvain e Thunders encarnavam o próprio espírito do "fenômeno" da chamada "twin guitar", pois eram muito semelhantes no compor, no executar e florear as canções, de modo que, para mim, era a melhor dupla neste quesito: não eram virtuosos no executar, no solar, mas sim no compor com maestria. Inclusive, Jimmy Page ao ver Johnny Thunders tocar, seu visual provocante e sua postura muito louca no palco, vaticinou que ele seria, em breve, o novo "guitar heroe”, opinião que foi um evidente exagero de Jimi...

Deus o tenha, Grande Mestre Sylvain Sylvain! 

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