sábado, 20 de março de 2021

ALGUMAS BEBIDAS ANTIGAS E FOLCLÓRICAS DE CAIPIRAS E SERTANEJOS

- Jacuba: papa de farinha de mandioca preparada com mel, açúcar ou rapadura, a que se acrescenta, por vezes, leite ou cachaça e que também se dilui com água e sumo de limão, para servir como refresco.


- Aluá: é uma bebida fermentada refrigerante de origem afro-indígena (com seu nome proveniente do Quimbundo “Ualuá”, feita a partir da fermentação de grãos de milho (ou arroz, menos comumente) moídos. Tradicionalmente, é fermentada em potes de cerâmica. Bebida presente em rituais de candomblé.


- Capilé:  xarope feito com suco de avenca ou capilária; água adoçada com esse xarope ou com outro qualquer; bebida alcoólica feita de polpa ou suco de fruta e aguardente. 




- Gengibirra: cerveja feita de gengibre, limão, açúcar e outros ingredientes.




- Jeropiga: uma bebida alcoólica tradicional em Portugal e difundida entre os antigos caipiras. É preparada adicionando aguardente ao mosto de uva para parar a fermentação, resultando uma bebida mais alcoólica que o vinho.







- Anisete: é uma bebida alcoólica à base de anis. Muito popular na Europa, principalmente na França. Bebida muito comum entre os antigos caipiras e ainda sobrevivente em festas juninas, feita de álcool de cerais, essência de anis (ou erva-doce e anis estrelado), açúcar e corante vermelho (groselha) ou azul.


- Cajuína: bebida típica do Nordeste brasileiro, muito produzida e consumida no Maranhão, Ceará e principalmente no Piauí, onde é considerada Patrimônio Cultural do Estado e símbolo cultural da cidade de Teresina. Preparada a partir do suco de caju, sem álcool, clarificada e esterilizada, apresenta uma cor amarelo-âmbar resultante da caramelização dos açúcares naturais do suco. Pode ser preparada de maneira artesanal ou industrializada. 


- Genebra: no Nordeste brasileiro, é o nome que se dá a uma infusão de aguardente com um pouco de açúcar e casca de laranja, que era coada depois de cinco dias de maceração. A Genebra original é elaborada segundo uma antiga e original receita holandesa, à partir da destilação de bagas de zimbro maceradas.




- Cachimbo: aguardente com mel da abelha e polpa de uma fruta qualquer de época. Misture a cachaça e o mel de abelha agitando-se bem. Depois, junta-se a polpa de uma fruta qualquer de época, e, finalmente, coloque a mistura num recipiente como uma vasilha com tampa "que se preste ao sacolejo". Do mesmo modo que o ritual do charuto nas cidades quando as mulheres dão à luz, no Nordeste brasileiro, seja na cidade seja nos sertões, os maridos servem o Cachimbo.

- Tiquira:
é um destilado de mandioca muito popular no Maranhão. Alguns consideram a Tiquira a verdadeira aguardente brasileira por ser feita da mandioca, uma planta nativa. Brasil é conhecido como o país da cachaça, mas deixamos de lado algumas raridades de lado para fortalecer a imagem da aguardente de cana. Uma delas é a Tiquira, entre outras, como Canjinjin, Cataia e a Consertada. Bebida típica do Maranhão, em torno de apenas cinco a sete municípios ainda produzem esta bebida. A Tiquira é feita através da destilação de mandioca e adição de folhas de tangerina. O nome Tiquira possui dois possíveis significados. De acordo com Stradelli, tiquira é a palavra nheengatu que significa “destilado obtido a pingos, através do beiju de mandioca fermentada”. Já para Anchieta, tiquira deriva da língua indígena tupi, “a gota”, por fazer referência ao gotejar do líquido durante a destilação. Você pode encontrar isso no livro de Gonçalves de Lima, Anais da Sociedade de Biologia de Pernambuco, 1943.

Pau-a-pique:
em 5 litros de água, ferva 1/2 quilo de gengibre socado, 200 gramas de erva doce, um pouco de nos moscada, uma pitada de cravo moído, 300 gramas de canela em pau. Depois de fervido, adoce até melar e deixe dois dias em infusão. A seguir, junte de 1 a 2 litros de cachaça e leve ao fogo até abrir fervura. Depois de frio, engarrafe.”


segunda-feira, 15 de março de 2021

FARINHA DE JATOBÁ E CÃIBRAS

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Tenho o costume de comer farinha de jatobá faz décadas, depois que soube que ela tem as mesmas propriedades de energéticas do pó de guaraná. Todo ano vou coletar frutos, que depois retiro a polpa das sementes, e bato-a no liquidificador par fazer a farinha, que pode ser tomada com água ou leite. Dizem que esta farinha cheira à chulé, e cheira mesmo, mas ela é agradável e adocicada. Daí que, vira e mexe, eu sinto umas cãibras estranhas no pé. Um dia destes, relendo o livro "Bandeirantes d'Oeste” (1952), do sertanista Willy Aurelly, ele fala de um incidente ocorrido com seu pessoal após o consumo de farinha de jatobá. Diz ele:

“Pus a cabeça fora do abrigo providencial e deparei com meus rapazes nus como vieram ao mundo, sob tormenta Infernal, esmagando frutos jatobá e deliciando-se colocar por farinhento."

Quando chegara a noite, ele comentou o que aconteceu:

“Tudo era paz e sou atacado por violentíssimas câimbras. Dores insuportáveis, enlouquecedoras! Já uma vez, no alto rio das Mortes, após penetração cansativa até a serra da Piedade sofrerá mal idêntico juntamente com ele Henri Julien. Caí grotescamente, gemendo de dor. Não tardou que Valderino sentiu o mesmo e, logo a seguir, Aristides. Estorcíamo-nos em dores, suando frio, gemendo, quase perdendo os sentidos. Paulo aqueceu cobertores, envolvendo-nos neles. Melhoramos logo, para em seguida acordemos o bravo rapaz e o gaúcho, agora atacados pelo Mal.  Só os índios e o Augusto nada sentiam. Esse, querendo pontificar:

- Tá í macacada! Vocêis bebem pinga e sofrem as câimbras. Eu nunca bebi estou bom.

Não se vangloriar a, é que se atira ao chão, emitindo gemidos prolongados. Todos rimos com a desdita do bom companheiro, pois que as cãibras vieram, oportunamente, para desmenti-lo! E lá foi um cobertor quente também para o abstêmio que custou a se refazer.

- Quá! De hoje em diante não rejeito mais minha ração! Tanto faz…

A despeito de experimentar melhoras, não podíamos fazer movimentos bruscos e nem manter-nos em pé. As cãibras voltavam e vimos obrigados, para alimentar as fogueiras, a arrastar nos pelo chão. E durante a noite toda, quem se incumbiu do quarto de guarda, fê-lo sentado, pela impossibilidade de se erguer. Que nos teria acontecido se tivéssemos sido atacado pelos índios naquela situação?”

Notemos porém que Willy parece não ter se alimentado de jatobá durante o temporal, e no surto de cãibras em outra ocasião ele não menciona a ingestão de jatobá pelo pessoal.

O Visconde de Taunay, em seu livro "Viagens de outrora" (1921), Se referindo a farinha de Jatobá que consumia com seu pessoal atravessando os sertões do Mato Grosso, não se referiu à acessos de cãibra após o consuma, mas louvou os benefício do fruto:

“Uso destes frutos provou bem nas forças contra as diarreia e serviu de muito para o sustento geral. É, pois, com reconhecimento profundo que os expedicionários de Mato Grosso devem falar de estilismo vegetal”.

Daqui para diante, vou prestar mais atenção nos acessos de câimbra  e a ingestão de farinha de jatobá, para saber se há uma relação entre eles, mas à princípio, acho que é mera coincidência.

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quinta-feira, 11 de março de 2021

"DIBARÁ", UMA IMPORTANTE PALAVRA TUPI QUE SE PERDEU


Muitos termos da língua tupi, ao longo dos séculos, entraram para o nosso linguajar cotidiano, mas há alguns que passaram batido. 

O escritor Gastão Cruls, em seu livro “Amazônia misteriosa”, lançado em 1957, traz um desses termos que nos escaparam: DIBARÁ, que significa "a mulher que se entrega prontamente, que é facilmente conquistada". 

Não me recordo de um termo específico na Língua Portuguesa para designar isto. À propósito, este termo tupi nem mesmo na Internet é encontrado, e digo que ele é "importante", pois condensa numa única palavra algo que, através de nossa língua, precisaríamos de várias delas para explicar algo simples assim...

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domingo, 7 de março de 2021

TRIBUTO A UM ÍDOLO - A DISCRETA PARTIDA DE SYLVAIN SYLVAIN

Eu não sabia, pois, estranhamente, não vi comentário algum nas mídias que frequentei naquele dia: a morte, no dia 13 de janeiro passado, do grande Sylvain_Sylvain, genial guitarrista da banda norte-americana New York Dolls! Capitulara o artista após uma longa batalha contra o câncer nos últimos dois anos e meio.

Certamente, por seu visual provocante e a frente do tempo - imitado à exaustão pelas bandas glan da década de 80 -, o New York Dolss foi a banda mais polêmica dos anos 70, mas, infelizmente, talvez a mais desventurada e azarada na história do rock and roll, isto, pelos mal-sucedidos e trágicos incidentes ocorridos em sua curta carreira, o que levou a sua fatal dissolução.

Mas voltemos à morte do Sylvain. Pois bem. Daí que, quarta-feira passada, com insônia, saí em meio à madrugada e fui dar um rolê com minha cachorra pela noite agradável de Rio Claro, ouvir um som e tomar umas cervejas... Ocorre com certa frequência, mas adoro isto! 

Então, no meio do caminho, coincidentemente, procurando vídeos da banda para ouvir, soube de sua triste passagem - isto, como se algo me levasse até a banda para me avisar de sua morte - e fiquei arrasado!  

Era o segundo membro original do New York Dolls ainda vivo. Então, numa espécie de homenagem, passei o resto da noite ouvindo os dois grandes discos da banda, e até chorei de tristeza...  

Ele era o meu integrante predileto na banda, compositor inspirado e criador de grandes e marcantes riffs de guitarra. Muito aprendi com ele em meus primeiros anos de aprendizado de guitarra, já deixando a bateria. Isto se deu quando comprei o segundo disco da banda, "Too Much Too Soon”, que é fantástico e inspiradíssimo. 

Na história do rock, depois do Alice Cooper, até então não havia visto um cara com uma cara tão safada e bandida como a do mal-encarado Sylvain Sylvain, mais parecendo um membro oriundo do MC5. Aliás, Sylvain era judeu, de origem árabe. Visualmente falando, antes dele - inclusive em postura de palco e mize en scéne - só mesmo o  Hendrix para peitá-lo. 

A propósito, dois artistas que muito imitaram o  Sylvain em presença de palco jeito foram dois integrantes do Kiss, Gene Simmons e o Paul Stanley - aquele passo alto que o Simmons dá com a perna esquerda quando se aproxima do microfone para cantar foi roubado do Sylvain. Já o Paul Stanley roubou-lhe diversas trejeitos de palco, que todos pensam ser cria do guitarrista do Kiss, inclusive no visdual... O Sylvain, por sua vez, a meu ver, era meio que um misto de Syd Barret com Marc Bolan.

Sylvain tinha o estilo de guitarra todo calcado no rock and roll dos anos 50, mas, recriando o gênero, jogava muito peso e floreios constantes em cima das execuções, embora nem sempre usasse distorção. Mas foi um criador de estilo, e um estilo muito pessoal e particular de tocar e arranjar as músicas. 

Acho o seu riff de “Babylon” o mais lindo de toda a história do rock and roll,  e se um alienígena me pedisse uma amostra de rock and roll para ele conhecer o estilo e o espírito desse gênero musical terráqueo, sem dúvida eu colocaria “Babylon” para rolar...

Enfim amigos, é triste ver que a mais um icônico integrante-chave de um das grandes bandas setentistas nos deixa, todos já indo em direção da casa dos 70 e outros 80! Adolescente ingênuo, achava que eles eram eternos e esse dia nunca chegaria!..., isto, quando desejaríamos que todos fossem eternos e imortais pela alegria que nos deram e terem tornado nossa juventude muitíssimo melhor. Felizmente, suas obras fantásticas estão aí para todas as gerações seguintes se esbaldar pela eternidade afora.

Reconheço que ele não foi tão famoso e deu tanto ibope quanto seu parceiro de guitarra na banda, o não menor Johnny Thunders (1952-1991), guitarrista insano, tão talentoso quanto auto-destrutivo; mas, para mim, o Sylvain Sylvain era o cara! 

À propósito, Sylvain e Thunders encarnavam o próprio espírito do "fenômeno" da chamada "twin guitar", pois eram muito semelhantes no compor, no executar e florear as canções, de modo que, para mim, era a melhor dupla neste quesito: não eram virtuosos no executar, no solar, mas sim no compor com maestria. Inclusive, Jimmy Page ao ver Johnny Thunders tocar, seu visual provocante e sua postura muito louca no palco, vaticinou que ele seria, em breve, o novo "guitar heroe”, opinião que foi um evidente exagero de Jimi...

Deus o tenha, Grande Mestre Sylvain Sylvain! 

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

AS TINTAS TÓXICAS E OS RISCOS DA TATUAGEM

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Tatuar o corpo pode ser uma decisão perigosa para sua saúde, já que as tintas utilizadas podem ser tóxicas. Tintas coloridas, muitas vezes contêm chumbo, níquel, cádmio, cromo, titânio, além de outros metais pesados que podem provocar alergias ou doenças como o câncer. Por exemplo, as tintas de cor vermelha, laranja e amarela são as mais perigosas, uma vez que contém um compostos chamado “azólico”, que se desintegra quando exposto à luz solar, que se espalha pelo corpo e podem aumentar o risco de câncer. As cores verde e azul metálica contém níquel, composto que pode causar alergia, e os compostos resultantes são tóxicos e cancerígenos. Já a cor preta, a menos perigosa, possui substâncias venenosas como o “carbon black”, composto à base de alcatrão, petróleo, e borracha, que contribuem para aumentar as toxinas no corpo, o que facilita o surgimento de doenças. Um outro produto químico usado para fazer a tinta preta é o benzopireno, conhecido por ser um potente cancerígeno se usado na pele de animais. Segundo uma recente pesquisa norte-americana, apenas dois terços das tintas utilizadas nas tatuagens permanecem sob a pele, e o restante se espalha através do corpo: “‘As substâncias vão para o sangue, para os nódulos linfáticos, os órgãos, e vão parar em algum lugar. Onde, exatamente, não se tem ideia", relata o dermatologista Wolfgang Bäumler.

Peter Laux acrescenta que "também há no mercado substâncias para tatuagens que cumprem os requisitos". No entanto, é difícil para o consumidor definir qual substância é boa e qual não.

O site DW traz a seguinte e preocupante informação:                            

 “Quem gostaria de injetar alguns gramas de verniz de carro sob a pele? Ou um pouco de fuligem resultante da combustão de petróleo ou alcatrão? Provavelmente ninguém. Mas isso é o que recebem todos os que se deixam tatuar. ‘Os pigmentos para tatuagens contrastantes e de longa duração foram desenvolvidas para cartuchos de impressora e tintas de automóveis’, revela Wolfgang Bäumler, professor do Departamento de Dermatologia da Universidade de Regensburg, em entrevista à DW. Acima de tudo, as tintas de tatuagem não foram desenvolvidas para estar sob a pele. Grandes empresas químicas fabricam toneladas de pigmentos coloridos, principalmente para fins industriais; empresas pequenas os compram e transformam em produtos para tatuagem. ‘As substâncias nunca foram testadas para aplicação subcutânea’, diz à DW Peter Laux, do Instituto Federal Alemão de Avaliação de Riscos (BFR) em Berlim. ‘A própria grande indústria diz que, na verdade, os pigmentos não são feitos para isso’."

Lembremos que nossa pele, que pesa em torno de 3 quilos, é o maior órgão externo, órgão que respira, elimina toxinas, absorve a luz solar e sintetiza a vitamina D. Em cada 5 centímetros quadrados da pele humana consistem de 19 milhões de células, 60 pelos, 90 glândulas sebáceas, 6 metros de vasos sanguíneos, 625 glândulas sudoríparas e 19 mil células sensoriais. Repararam quantos órgãos e quanta atividade há numa ínfima fração de pele, de modo que é difícil acreditar que as tintas de tatoo uma vez aí injetadas não comprometem todo este intrincado e delicado sistema.

É bom também não esquecer que uma tatuagem pode mascarar evidências de uma doença na pele. O site Vixe! traz uma ocorrência:                            

“Um caso de 2013 exemplifica muito bem esse risco: um homem só teve o diagnóstico de melanoma depois de remover uma tatuagem com laser – o crescimento do câncer não foi visto a tempo, pois a mancha estava coberta por tinta preta.”

Já a tinta preta pode causar queimaduras quando se faz ressonância magnética, e elas são provocadas pela formação de correntes elétricas que reagem com o óxido de ferro da tinta que está na pele.

Também nada se comenta se as tintas usadas em tatuagens são ácidas ou alcalinas, e, no caso destas últimas, o contato com elas pode neutralizar o sistema de defesa da própria pele. Até o momento, as substâncias para tatoo não foram sofreram testes para avaliar seus riscos. Faltam pesquisas em seres humanos, de longo e de curto  prazo, e, além disto, experimentos com animais são vetados. 

Após estes esclarecimentos, amigos e amigas, vocês acham que vale a pena mesmo arriscar a fazer tatuagens no corpo?

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O CORTE DE CABELO "À ESCOVINHA"


Quando era criança, a moda capilar que rolava nas cabeças dos homens, seja crianças, seja adultos, era o tal de "Escovinha", que era um corte que mantinha o cabelo curto no alto da cabeça e as laterais rapadas. Na verdade, originalmente, ele é um corte de cabelo utilizado pelos militares do mundo todo até hoje. 

A moda foi desaparecendo aos poucos com o surgimento dos hippies cabeludos, sumindo antes dos meados da década de 70. 

Depois, quando adolescente, ao ver fotos minhas e de meus irmãos com o tal corte à escovinha, rockeiro que era, eu achava horrível aquilo. Não, não era nenhum ranço com os militares, nem com a ditadura, que não me afligia na época (e jamais me afligiu), aliás, este corte é a cara dos militares e lhes cai muito bem! 

Por outro lado, não sei porquê, nunca me esqueço que este corte de cabelo me remetia à cabeça dos filhotes de rolinha mal implumes que eu via em seus ninhos pelas árvores quando criança morando na Usina Palmeiras (Araras-SP), filhotes que, igualmente, eu achava feios prá danar. 

Mas acontece que se eu já achava feio o corte à escovinha naqueles tempos, imagina hoje ao revê-los na cabeça de funkeiros, e como corte exclusivo de manos!...

Como curiosidade, gostaria de comentar de como este tipo corte escovinha surgiu entre os militares. Falando deste assunto, isto, em 1908, o político e escritor Generoso Ponce Filho, em seu livro “O menino que eu era” (1967), relembrou: “Passam-se meses, e com o serviço militar, surge a voga das cabeças raspadas, antecipação da devastação capilar à Yull Bryner. Eu ardia de vontade por imitá-los. Acanhado, comecei pedir a tia Filinha mais, um pouquinho mais, quando ela veio cortar nosso cabelos. Às páginas tantas ela me disse:  ─ “Generosinho, eu já vi tudo.  Você quer raspar a cabeça como esses voluntários, que passeiam no Jardim. Não reclame depois. Sorri encabulado, mas concordante… Usando a máquina zero, pôs-me up to date, expressão muito usada então. Mamãe não gostou nada, ela que adorava aqueles cachinhos caídos em Corumbá.”

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MILITARES: A PONTA DA PONTA DE UM ICEBERG…

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Em se falando de corruptos no Brasil, eles proliferam em todas as classes sociais e em todos os tempos desde seu surgimento como profissão, e, obviamente, ninguém é santinho nisto tudo. 

Dentre os que mais se destacam, temos políticos (acima de tudo e de todos), sindicalistas, juristas, empresários, professores, religiosos, e, naturalmente, militares. 

O problema que conta é qual deles é, ou foi, o mais pernicioso ao Brasil. Naturalmente, os políticos são "campeõs" imbatíveis neste quesito, e, sinceramente, não creio que os velhos responsáveis pela Segurança Nacional tenham sido os piores corruptos na história deste País. 



Querer superestimar a participação de militares neste processo pernicioso é desconhecer a verdadeira história de nossa pátria, que a banda podre submersa deste imenso iceberg de corrupção que surgiu com a Abertura e o final do Regime Militar é imensa, e muita coisa corrupta ainda está por vir à tona. 

E, aliás, o nosso Salvador da Pátria, o desbocado Bolsonaro, segue sereno, sobranceiro e impoluto, pairando muito aquém deste antro de locupletação e sinecura que ainda grassa nesta terra.

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ALÁ, OUTRO FUSQUINHA!

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Pensei que era uma brincadeira infantil moderna, mas lendo uma propaganda da Volkswagem numa edição da revista Seleções Reader's Digest de setembro de 1962, me surpreendi ao saber que aquela brincadeira das crianças de ver quem, numa disputa, consegue contar maior número de Fusquinhas que vê pelas ruas e estradas, surgiu em meados deste ano. 

A Volkswagem, nesta época, produzia 50% dos carros do Brasil, tanto o é que as crianças, ao brincar, costumavam dizer que parecia haver só Fusquinhas pelas estradas.

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

UM GUITARRISTA E UM PASTOR: UMA INUSITADA E TALENTOSA PARCERIA NUMA CANÇÃO!...




Eu sou da opinião que é muito mais fácil se colocar uma melodia cantada em cima de uma base instrumental que o contrário. Por outro lado, fazer uma canção em cima de uma letra colocando-se a melodia nela, é algo meio difícil. 

O que este guitarrista fez é soberbo, é genial e de um bom gosto extremo, pois pegou o discurso inflamado de um pastor e colocou um arranjo sublime em cima, isto como se os dois tivessem sentados juntos e composto uma canção com começo, meio e fim. E, acima de tudo,  o cara fez naquele estilo único criado pelo grande Tony Yommi, estilo negro e sabbatiano, com notas menores, sombrias, com o tétrico trítono pelo meio, e mais, casando o arranjo à linha performática do pastor, com seu estilo de interpretar meio "demoníaco" - pastor este que é um verdadeiro artista em sua área. 

O resultado desse trabalho vem provar que nem sempre é necessário se cantar uma música, mas  podemos apenas falar a letra, como o Hendrix fazia, e o Bob Dylan, o Dave Lee Roth e o Mark Knopfler fazem, e, no caso do pastor, falar agressivamente jogando uns drives em cima. 

Outro detalhe interessante nesta composição, são os diversos andamentos obtidos nela, com vários ritmos, acelerações, paradas e desacelerações - isto se deveu ao fato de o guitarrista ter se fiado nas cadências da fala do pastor; aliás, isto é um ponto positivo para quem compõe em casos assim, pois estimula  a criatividade e ajuda a enriquecer a música. 

Amigos, eu não me canso de ouvir essa música e ficar tão maravilhado quanto abestalhado com o trabalho primoroso que esse guitarrista fez. No fundo parece um perfeito videoclipe promocional de um guitarrista, o que, convenhamos, daria um trabalho do caralho para fazer, isto, com roteiro, muitas horas de gravação e envolvendo uma grande equipe e muita grana. 

Enfim, esta música deveria ter feito sucesso nas paradas de todo mundo, pois é coisa de gênio.


A VELHA TATUAGEM DE UM TOSQUIADO...


Sabe aquela tatuagem tosca de marinheiro antigo, ou então de velho estivador de beira-de-cais, tatuagem já oxidada pelo tempo, com aquela cor de zinabre azul-esverdeado que dá em bronze ou latão, e a figura já amarfanhada em meio à pele enrugada? Uma raridade hoje, não é?

Pois bem. E não é que eu arrumei uma briga numa festa de confraternização no final do ano passado, simplesmente porque vi uma dessas no braço de um sujeito ─ sujeito mais tosco que a própria tatuagem ! 

Tudo aconteceu porque apontei a tatuagem discretamente para um amigo ao meu lado na fila do chopps, e disse: "Essa é das antigas, hein!" Mas, acontece que alguém viu e ouviu, e foi lá e contou para o infeliz! E, depois, o idiota veio tirar satisfação comigo, falou, falou, me expliquei, disse que não foi ironia , mas o panaca insistiu, me encheu o saco, atazanou, no que perdi a cabeça e, num empurra-empurra, partimos para a porrada! 

Ele levou a pior, com um murro bem aplicado no meio da fuça que o jogou de costas no chão, e, de modo humilhante e hilário, caiu com as pernas para cima feito um frango assado, no que eu aproveitei e dei uma bela bica bem no meio do fiofó dele, que a hemorroida do cara deve ter virado no avesso e, pior, deve estar doendo até hoje!  

Resumindo: foi buscar lá e saiu tosquiado!...


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

SAIBA DE ONDE VIERAM ALGUMAS CARAS E BOCAS DO SEU MADRUGA!

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O Seu Madruga, nas suas caras e bocas, muito certamente deve ter se inspirado num célebre personagem de Cinema Mudo, o hoje tão esquecido James Finlayson (1887-1953), um ator escocês-americano que trabalhou como coadjuvante junto da dupla “O Gordo e o Magro”.
 

James era careca e usava bigode falso, e tinha muitos maneirismos e mímicas faciais cômicas ─ marcas registradas sua ─ como, por exemplo, aquela conhecida reação de, quando bravo ou assustado, olhar para a câmera com cara de indignado, franzindo o cenho e arregalando um dos olhos.




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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

COCÔ DE CÃES PELAS RUAS: A POLÊMICA!

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Existem pessoas presumidas que acho que imaginam ser seres superiores e de Primeiro Mundo só porque recolhem o cocô de seus cães pelas ruas. Será que eles também recolhem o cocô dos cavalos, dos gatos, dos pássaros ou de um PET qualquer? Obviamente que não, pois é só os seus amados cães que contam.

E, tão irônico quanto contraditório nessas pessoas, é que elas têm horror de ver fezes de cães pelas ruas, mas são elas mesmas que permitem que estes mesmos cães deitem em seus sofás, e, pior, durmam consigo em suas camas, lugar onde seus eles se espojam à vontade, se livrando de suas secreções, bem como deixando ali seus pelos e parasitas - um absurdo da hipocrisia!

De minha parte, eu procuro evitar que meu cão faça cocô pelos passeios fazendo que ele defeque em casa logo após ser alimentado, mas se ele o fizer, eu não me importo e nem recolho as fezes, pois sou contra. Quem quer recolher, que recolha, mas não venha reclamar se me verem não fazendo isso. Oras, afinal os cães cagam pelas ruas  desde há mais de 3.000 anos atrás, quando surgiram as primeiras cidades na Mesopotâmia, e ninguém reclamou tanto como se reclama hoje - parece caso de polícia!

Mas uma coisa que muitos desses presumidos não fazem é recolher o lixo das ruas em frente às suas casas, aquelas porcarias todas que podiam muito bem jogar numa lixeira, como garrafas, latas, embalagens plásticas de todos os tipos, tocos de cigarro (altamente poluentes) etc. Eu recolho os inorgânicos das rua em frente minha casa, e, nem por isso sou um presumido, melhor que os outros. Oras, o inocente cocô dos cães não polui o ambiente - são naturais, e em um ou dois dias estão secos, inertes e não causam mais problema algum. Será que, nas ruas, a gente só pisa em cocô de cachorro e não há também um monte de porcarias que as pessoas jogam por todos os lados? Um exemplo: basta uma pessoa lavar seu quintal ou a calçada com um detergente ou solvente, a água ir para a sarjeta, e um pássaro qualquer (e um cão também) beber esta água, e no mesmo instante se envenenar podendo vir a óbito.

Ilha de lixo no mar do Caribe

Sim, o lixo inorgânico que as pessoas jogam nas ruas geralmente são poluentes, nem sempre não biodegradáveis, e quando vem as chuvas, eles são carreados para os bueiros, de onde seguem para os rios, e, finalmente, vão desembocar no oceano. Precisamos ter mais gente recolhendo o lixo humano nas ruas do que os inocentes cocôs dos cães. Afinal, se hoje existe uma gigantesca ilha de lixo flutuante no mar do Caribe (e em outros lugares), é porque ele é feito geralmente de plásticos e outros materiais não biodegradáveis jogados nas ruas (e também diretamente nos rios e nos mares), e não é o cocô de cachorro que vai parar lá. 

As pessoas da moderna geração Nutella precisam aprender a amar mais não só o próprio Planeta, mas também respeitar as necessidades fisiológicas dos cães como algo natural, afinal, se elas gostam tanto assim de seus PETs, não devem tratar suas fezes como algo tão grave no seio da sociedade. Vamos nos preocupar mais com o destino dos lixos produzidos pelos humanos e deixar os cães cagar felizes e em paz. 

Enfim, gostaria que soubessem que o mesmo direito que esses presumidos tem de me obrigar a recolher as fezes de meu cão, é o mesmo que eu tenho de sugerir a eles que recolham o lixo jogado na rua em frente suas casas. E eu recolho sempre, mesmo que não tenha sido eu que os joguei ali. 

Em suma, a diferença entre a briga deles e a minha é que a minha é de bandeira ecológica, e não de meras etiquetas sociais de gente afetada e enojada. Sim, concordo que é louvável o recolhimento das fezes dos cães nas ruas, mas vamos recolher primeiro os lixos inorgânicos de origem humana .

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terça-feira, 20 de outubro de 2020

O PRIMEIRO FILME REALIZADO EM ARARAS: "LUAR DO SERTÃO", EM 1949

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"Luar do Sertão" é um drama rural do italiano Mário Civelli (1923-1993) e Tito Batini (?-?), lançado no final de abril de 1949, com duração de 85 minutos.  O filme foi rodado na fazenda Santo Antonio, e na Estação do Loreto, o que é citado no “Álbum de Araras 1862-1949”, livro, por sinal, lançado no mesmo ano. O título do filme se deve ao fato de a história ter sido inspirada na música "Luar do sertão", do poeta e compositor Catulo da Paixão Cearense. A fazenda, na época, era de propriedade da família Silva Telles, que poucas décadas antes foi ponto de encontro dos modernistas de 1922. Vale lembrar também que foi nela que a escritora Lygia Fagundes Telles escreveu seu famoso romance "Ciranda de Pedra", que depois virou novela pela Rede Globo em duas versões, 1981 e 2008. 


A fazenda Santo Antonio, em 1948

Foto feita no início das filmagens, em 1947

Isaura Garcia, no filme
O filme marca também a estreia da atriz negra Isaura Bruno, que depois ficou famosa  na TV ao interpretar Mamãe Dolores na  novela "Direito de nascer", exibida entre 1965 e 66, pela extinta  TV Tupi. Isaura teve um final de vida triste. Após diversos trabalhos na TV, ela foi morar com a filha adotiva Penha Maria em Campinas, e voltou a limpar casas para ajudar nas despesas. Trabalhou também como gari e vendendo doces na Praça da Sé. Em 02 de maio de 1977 faleceu na unidade para indigentes da Santa Casa de Campinas, com 60 anos de idade.

Lydda Sanders

Curiosos observam as filmagens


Do elenco constavam, o futuro galã de novelas Walter Foster (ator de rádio-novela na época), Lydda Sanders (muito elogiada por sua atuação), Fernando Baleroni, Machadinho, Nena Batista, Vicente de Paula Neto e Vicente Leporace.

Walter Foster
Certamente, o filme foi exibido pelo Cine-Teatro Santa Helena, inaugurado em 1930, mas os jornais da época, ao que parece, não documentaram o fato, ao contrário de "Sinhá Moça", que deu muito ibope não só nos locais bem como nos grandes jornais. 

Assim como "Sinhá Moça" (1953) - e este, por sua vez, ligado à estação do Elihu Root -, o valor de "Luar do sertão" para Araras reside do fato de as locações terem sido feitas na zona rural da cidade em duas importantes localidades, constituindo as filmagens, portanto, raras imagens de valor documental feitas há mais de 70 anos.

Abaixo, jornal carioca "A Noite" com propaganda do filme:


Outra edição do jorrnal elogiando a atuação da atriz Lydda Sanders.

Jornal "A Noite", 26-3-1949


FONTES:
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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

“MANCADAS” DE GRANDES E SENSÍVEIS ESCRITORES...

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O escritor Gilberto Freyre (1900-1937) em seu livro memorial “Tempo Morto”, diz que chegou a ver o dirigível Zeppelin no Recife em 1930, mas infelizmente, não fez nenhuma descrição do aparelho em si nesta que foi sua sua primeira aparição no lugar e da visão que teve. Escritor ao inspirado e fecundo, limitou-se à informações relevantes e insossas e mais nada. Lamentável.


Outro, dentre outros, que cometeu "erro" semelhante foi Augusto Mayer (1902-1970), escritor sensibilíssimo, autor dos ótimos e conceituados “Segredos da Infância” (1949) e No Tempo da Flor” (1966), que no seu primeiro livro, obra muito poética, lírica e bem escrita podia ter perfeitamente feito um capítulo sobre o cometa Halley em 1910, que certamente deve tê-lo visto, isto, quando tinha 8 anos. Fica difícil acreditar - pelo ibope mundial que dera a aparição do gigantesco astro -, que ele não o tenha visto e sensibilizado com sua visão.


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