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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O CORTE DE CABELO "À ESCOVINHA"


Quando era criança, a moda capilar que rolava nas cabeças dos homens, seja crianças, seja adultos, era o tal de "Escovinha", que era um corte que mantinha o cabelo curto no alto da cabeça e as laterais rapadas. Na verdade, originalmente, ele é um corte de cabelo utilizado pelos militares do mundo todo até hoje. 

A moda foi desaparecendo aos poucos com o surgimento dos hippies cabeludos, sumindo antes dos meados da década de 70. 

Depois, quando adolescente, ao ver fotos minhas e de meus irmãos com o tal corte à escovinha, rockeiro que era, eu achava horrível aquilo. Não, não era nenhum ranço com os militares, nem com a ditadura, que não me afligia na época (e jamais me afligiu), aliás, este corte é a cara dos militares e lhes cai muito bem! 

Por outro lado, não sei porquê, nunca me esqueço que este corte de cabelo me remetia à cabeça dos filhotes de rolinha mal implumes que eu via em seus ninhos pelas árvores quando criança morando na Usina Palmeiras (Araras-SP), filhotes que, igualmente, eu achava feios prá danar. 

Mas acontece que se eu já achava feio o corte à escovinha naqueles tempos, imagina hoje ao revê-los na cabeça de funkeiros, e como corte exclusivo de manos!...

Como curiosidade, gostaria de comentar de como este tipo corte escovinha surgiu entre os militares. Falando deste assunto, isto, em 1908, o político e escritor Generoso Ponce Filho, em seu livro “O menino que eu era” (1967), relembrou: “Passam-se meses, e com o serviço militar, surge a voga das cabeças raspadas, antecipação da devastação capilar à Yull Bryner. Eu ardia de vontade por imitá-los. Acanhado, comecei pedir a tia Filinha mais, um pouquinho mais, quando ela veio cortar nosso cabelos. Às páginas tantas ela me disse:  ─ “Generosinho, eu já vi tudo.  Você quer raspar a cabeça como esses voluntários, que passeiam no Jardim. Não reclame depois. Sorri encabulado, mas concordante… Usando a máquina zero, pôs-me up to date, expressão muito usada então. Mamãe não gostou nada, ela que adorava aqueles cachinhos caídos em Corumbá.”

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quarta-feira, 26 de julho de 2017

O PUNK E A CONTRACULTURA


Há quem o faça, mas não me agrada incluir o Punk na Contracultura. Penso que o Punk, tentando decretar a morte dos "dinossauros do rock" - do Rock Progressivo em especial - e até mesmo dos hippies - , não passou de um mero hiato entre a Contracultura e a Disco Music... Sua "filososfia" depunha contra discurso flower & power da Contracultura. Acredito que, na verdade, o Progressivo acabou por si mesmo - nenhum outro movimento o matou propositalmente. Por outro lado, é curioso que nem o Punk nem a Disco Music deram cabo do indestrutível Heavy Metal - e lá estavam o Sabbath, Led, Purple, Uriah Heep, Iron Maiden, Judas Priest, ScorpionS, Ufo, Van Hallen, e tantos outros, a todo vapor levando o movimento adiante. 

Os hippies (passados exatos 50 anos) parecem eternos; idem o Heavy Metal. Sim, sim, os punks sobrevivem, não como os hippies (um meio de vida), e o Punk, como movimento musical, está aquém do Heavy Metal, se assemelhando mais à "sobrevida" da Disco Music. 

Pretendiam eles, nos primórdios, retornar à raízes e resgatar a simplicidade do rock, num estilo de música de quem - diziam - não sabe tocar muito bem e não é escolado. O Pete Towshend, do The Who, na época deu 3 ou 4 anos de vida para o Punk - bateu na trave, pois a principal fase do movimento não durou mais que isso... Oras, se os punks queriam mesmo retornar às raízes, à simplicidade, porque não retornaram ao Blues, a raiz de tudo?!... Aliás, o Blues vem se mostrando imortal desde que surgiu entre os escravos plantadores de algodão nos EUA.... Já o Punk!...  - é o Green Day e mais quem mesmo?!...

sábado, 15 de agosto de 2009

HOMENAGEM AOS 40 ANOS DE WOODSTOCK, O FESTIVAL DOS FESTIVAIS

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Há exatos 40 anos atrás, nos dias 15, 16 e 17 de agosto do distante ano do verão do hemisfério norte de 1969 – apenas um mês depois da célebre chegada da Apollo 11 à Lua –, o mundo se surpreendia com uma nova façanha humana, mas desta vez no próprio planeta Terra: o não menos célebre festival de Woodstock. Sem sombra de dúvida, se existiu um evento onde qualquer jovem de qualquer época sonharia participar, este evento era Woodstock. Oriundos de diversas partes do mundo, uma multidão de jovens com visual propositadamente desarrumado, com roupas coloridas, ponchos e vastas cabeleiras se reuniram para curtir três dias de sexo, drogas & rock’n roll.

Vale lembrar que nenhum outro festival de música teve tanta repercussão e tanta importância como esse que é considerado o mais importante evento musical da história contemporânea. Woodstock foi um evento que primou pelo fato de ter promovido e levado ao estrelato muitas das bandas participantes, e, ao mesmo tempo, de provar como era grande o apetite do público pelo estilo de música que rolou: pop, psicodélico, rock, country e blues.

A clássica imagem do casal, ainda vivo.


Flashes do festival

OS IDEALIZADORES, O "QUARTETO FANTÁSTICO"

Woodstock foi obra de quatro jovens: John Roberts, Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Michael Lang. Dois deles, Roberts e Rosenman, eram dois milionários seriamente decididos a investir numa empreitada qualquer desde que ela aumentasse seu nada modesto capital. A princípio, a dupla colocou um anúncio no jornal dizendo: “jovens homens com capital ilimitado procuram oportunidades de investimento e propostas de negócios interessantes e originais”. Lang e Kornfeld não tinham dinheiro algum, mas apenas boas idéias. Na época, Kornfield trabalhava na Capitol Records e Lang era um promotor de shows que, em janeiro de 1969, organizou um grande festival (para a época) em Miami, assistido por 40 mil pessoas.

Depois, sabe-se que Lang se uniu a Kornfield, e juntos tiveram a idéia de um outro festival de música, mas faltava verba. O advogado deles os levou até Roberts e Roseman, e os quatro vieram a se conhecer em fevereiro de 1969 - foi quando acabaram se juntando para por em práticas suas idéias.ticas suas idse juntando para porem em prmo , jis de TV

Inicialmente, os quatro pensaram em montar uma gravadora independente especializada em rock numa pequena cidade longe de Manhattam conhecida como Woodstock, mas depois optaram por realizar um festival misturando cultura, música e o nascente estilo de vida ditado pela contracultura - nascia aí a "Feira de Arte e Música de Woodstock".

Em março, para organizar o evento, o membros do “quarteto fantástico” fundaram a empresa Woodstock Ventures Inc. Nova York foi escolhida para a realização do festival, pois muitos dos músicos que seriam convidados residiam na cidade, como, p. ex., Bob Dylan e Hendrix. Por volta de abril, a WVI já havia descolado um local e propagandas começaram a ser veiculadas em cartazes e comerciais nas TV dos EUA. Foram investidos 2.4 milhões, e as primeiras bandas a serem contratadas foram o Jefferson Airplane e o The Who, que embolsaram US$12 mil e US$12,5 mil, respectivamente. O cachê mais alto foi o de Jimi Hendrix, US$ 18 mil, que foi o último a se apresentar. Embora estes valores pareçam muito baixos hoje, na época eles equivaliam ao dobro do que as bandas recebiam normalmente por seus shows, o que nos mostra como o show business mudou. Em julho, apenas um mês antes da estréia do festival, inicialmente cotado para atrair 50 mil pessoas, a Câmara dos Vereadores do lugar originalmente escolhido, Wallkill, baixaram leis que proibiram a realização do festival, deixando os produtores com um prejuízo de US$ 2 milhões já investidos em estrutura de palco, som e técnicos. Felizmente, com a ajuda de um sujeito conhecido como Elliot Tiber, a WVI acabou encontrando um novo lugar: um campo de 600 acres da fazenda do leiteiro Max Yasgur, no vilarejo de Woodstock, em Bethel, a 145 quilômetros de Nova York.

O fato de o festival ter sido realizado não numa cidade grande, mas numa fazenda, enfatizava o clima reinante de “cair na estrada” e “volta ao campo”. Para atrair seu público alvo, a WVI lançou mão de todos os símbolos e chavões consagrados pela contracultura – o próprio slogan do evento, “três dias de paz e música” –, era baseado nesse conceito. Assim, sobre o festival pairou um clima de protestos antiguerra e anticapitalismo, o conceito de amor livre, o movimento de libertação das mulheres, vida em comunidade e outras reinvidicações da época. O próprio Kornfield, considerado hoje o "Pai de Woodstock" (na foto, visitando o local), explicou na época que o festival não deveria ser pensado em termos de construção de palcos, assinatura de contratos ou venda de ingressos, mas sim encarado como um estado de espírito, um acontecimento para se tornar um símbolo de toda uma época e geração.

Houve quem considerasse os quatro loucos, utópicos e pretensiosos por pretenderem realizar o maior festival de música do planeta e ambicionar reunir 200 mil pessoas. Mas Woodstock superou todas as expectativas e se revelou um verdadeiro fenômeno de massa, reunindo cerca de 500 mil pessoas e 32 artistas e bandas dos mais famosos dos anos 60.

O FESTIVAL

O festival teve início na tarde de 15 de agosto, sexta-feira, às 17:07h e se estendeu até a metade da manhã do dia 18 de agosto, uma segunda-feira. Os policiais locais, estaduais e do resto do país estavam preparados, sabiam o que estava por vir e confiavam em suas habilidades para que corresse tudo bem, seja com o trânsito, as emergências médicas, o saneamento e outros problemas inesperados. Woodstock não estava sendo cotado com um grande festival. Seria, a princípio, um festival de rock como tantos outros que ocorriam pelos Estados Unidos na época.

Na foto, Joe Cocker em sua louca performance de "With a Little Help from My Friends" , dos Beatles. Cocker, com certeza, o inventor do air guitar!


OS INCIDENTES E OS PORQUÊS

No início de agosto, cerca de 200 mil ingressos tinham sido vendidos antecipadamente, e o que tinha começado como um festival de música para aproximadamente 200 mil pagantes, teve seu número dobrado após o primeiro dia do festival.

Já no primeiro dia do evento, os organizadores se viram obrigados a transformar o festival num evento grátis, já que, simplesmente, não houve jeito de controlar a multidão que ia chegando. O problema é que não tinha jeito de abrigar tanta gente naquela área; então, quando os músicos começaram a chegar, o engarrafamento ficou gigantesco. Carros foram abandonados no meio da estrada e as pessoas tiveram de ir a pé para o show. Com todas as estradas bloqueadas, os organizadores tiveram de alugar helicópteros do exército para trazer os músicos.


Depois, a cerca ao redor do local foi derrubada, e aí mais pessoas entraram sem pagar. Com isso, os promotores tiveram US$ 100 mil de prejuízo inicial, mas depois veio o lucro: o filme lhes proporcionaria um retorno imediato de US$ 17 milhões e a glória de ser o filme que inovou a arte de registrar espetáculos musicais, além de ter ganho o Oscar de melhor documentário de 1971.

O site do Jornal Imparcial explicou o porquê de as coisas terem tomado esse rumo:

“Em entrevista no início de Woodstock, seu organizador, Michael Lang, afirmou esperar na fazenda em Bethel 200 mil pessoas entre 15 e 17 de agosto de 1969. A manchete do New York Times do primeiro dia do evento dizia o mesmo: 'Duzentos mil indo para festival de rock engarrafam as estradas ao Norte do estado'. Não demorou para que o número duplicasse, triplicasse até chegar ao ponto de não se saber quantos milhares estavam ali. O anúncio de que o festival havia se tornado gratuito e a visão das pessoas arrebentando as cercas da fazenda de Max Yasgur deram conta de que o que estava ocorrendo no interior do estado de Nova York era mais do que um festival de música.”


Havia também o problema do tempo, que às vezes ficava pavoroso. Na sexta-feira caiu uma tempestade e houve uma inundação. Centenas de pessoas estavam cortando os pés em garrafas quebradas e em tampas de garrafas. No geral, mais de 5 mil atendimentos médicos foram documentados, e muitos deles em razão do uso de drogas e álcool, que foram consumidos à exaustão.

Ocorreram também alguns problemas não menores: falta de comida; condições sanitárias precárias ou inexistentes. e preocupações do gênero. O pior de todos foi a mortes de 3 pessoas (uma overdose, um atropelamento por trator e um ataque de apendicite), além de quatro abortos, mas, felizmente, 2 ou 3 crianças nasceram, fato contestado hoje em dia, já que nunca foram localizadas. Apesar de tudo, a ação da polícia limitou-se à trabalhar na apreensão de drogas e outros casos sem maiores repercussão.

No final, a cena hilária: todo mundo embarreado pelas estradas e perguntas como “Onde está meu carro?” e “Onde estão meus amigos?” pipocavam pelo ar...


OS ARTISTAS QUE SE APRESENTARAM

- Primeiro Dia: Richie Havens; Country Joe McDonald; John Sebastian; Incredible String Band; Sweetwater; Bert Sommer; Tim Hardin; Ravi Shankar; Melanie; Arlo Guthrie; Joan Baez.

- Segundo Dia: Quill; Santana; Canned Heat; Mountain; Janis Joplin (foto); Sly & the Family Stone; Grateful Dead; Creedence Clearwater Revival; The Who.

- Terceiro Dia: Jefferson Airplane; Joe Cocker; Country Joe & The Fish; Ten Years After; The Band; Blood, Sweat and Tears; Johnny Winter; Crosby, Stills & Nash (e Young como convidado)

- Quarto Dia: The Paul Butterfield Blues Band; Sha-Na-Na; Jimi Hendrix.


CURIOSIDADES

* Até hoje há quem pergunte sobre o porquê da banda mais famosa da época, os Beatles, não terem participado do festival. É que John Lennon, George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr, estavam em pleno clima de separação definitiva da banda, que foi anunciada oficialmente em março de 1970, e nesta época preparavam seus discos individuais seguindo carreira solo. Os promotores chegaram a entrar em contato com John Lennon, pedindo para que os The Beatles tocassem no festival. Lennon disse que os Beatles não tocariam no festival a não ser se a Plastic Ono Band, da Yoko Ono, também pudesse tocar. Os promotores o recusaram.

* Neil Young não fazia parte da banda de Crosby, Stills & Nash. Ele apenas tocou algumas músicas com os três, e acabou, mais tarde, sendo chamado para a banda.

* A banda Iron Butterfly foi convidada para tocar, mas teve sua apresentação cancelada porque o vôo atrasou e os músicos ficaram presos no aeroporto, não podendo chegar ao local do show.

* A banda Grateful Dead tocou durante a chuva. Alguns membros da banda tomaram choques durante a sua apresentação e Phil Lesh (o baixista) ouviu o rádio de transmissão de um helicóptero através do amplificador de seu baixo enquanto tocava.

* A banda Led Zeppelin foi chamada para tocar no festival, mas o empresário da banda, Peter Grant, afirmou: “Nós fomos chamados para tocar em Woodstock e a gravadora (Atlantic) estava bastante entusiasmada, e Frank Barsalona (o promotor) também. Porém eu disse não, pois em Woodstock nós seríamos apenas outra banda na parada”. Em vez disso, o grupo foi para uma turnê de mais sucesso.

* The Doors inicialmente concordaram em tocar, pois acharam que o festival fosse ocorrer no Central Park, mas decidiram ir contra a idéia quando souberam que o festival ocorreria em uma fazenda isolada da cidade. Eram considerados uma banda com grande performance, tinham bastante potencial, mas cancelaram a apresentação em cima da hora. Ao contrário do que muitos pensam esta ocorrência não está relacionada ao fato de o vocalista, Jim Morrison, ter sido preso por postura indecente em um show anteriormente. O cancelamento do show se deu ao fato de que Morrison sabia que a sua voz soaria repugnante por estar ao ar livre. Há também a idéia de que Morrison, em um momento de paranóia, estava com medo que alguém atirasse nele e o matasse quando o mesmo pisasse no palco. No entanto, o baterista John Densmore compareceu no festival; no filme, ele pode ser visto ao lado do palco durante a apresentação de Joe Cocker, quando esse cantava o hino lisérgico “Let’s Go Get Stoned”.

* Frank Zappa e The Mothers of Invention afirmaram: “Muita lama lá em Woodstock. Nós fomos convidados para “tocar lá, mas recusamos” justificou Frank Zappa na época.

* Não se sabe o porquê, mas os Rolling Stones não foram convidados para tocar em Woodstock, mas a banda, enciumada, quatro meses depois, realizou o festival Altamont, na Califórnia. Programado para ser uma resposta da costa oeste americana a Woodstock, o evento reuniu bandas californianas e público em número semelhante ao de Woodstock, mas ficou marcado pela violência e pela morte de quatro pessoas que foram esfaqueadas por motoqueiros do grupo Hells Angels, que foram contratados para fazer a seguranças do festival. “As drogas já estavam sob controle do crime organizado”, afirmou o jornalista Joel Macedo, autor do livro Albatroz, o encontro das tribos na Califórnia dos anos 60 (Editora Danprewa). “O movimento hippie mudou de mão, fugiu de controle. Em Altamont, o sonho acabou”.


HENDRIX, O PRINCIPAL ARTISTA

Jimi Hendrix foi o último a se apresentar naquele dia, às 8.30 hs da manhã de segunda-feira, onde “restavam” cerca menos de ¼ do público de 500 mil nas noites anteriores. Os que foram embora não sabem o que perderam, pois foi talvez o melhor show de sua carreira, dia em que ele apresentou sua célebre e inimitável versão do hino nacional norte-americano, em meio da qual improvisou com uma maestria jamais vista, a cena de uma batalha no Vietnã. Sua humildade impressionou antes do início do show, quando ele disse: “Vocês podem ir se quiserem, nós estamos fazendo uma ‘jam’; é tudo”... É que jam fez a banda ! Nunca, Hendrix tocara tão bem como nesse dia! Ele estava iluminado, e talvez preconizasse a importância que o festival viria a ter para a posteridade! Mais tarde, quando lhe perguntaram se ele sabia que iria gerar tanta polêmica com a performance de Star Splanged Banner, ele declarou apenas dizendo Eu achei que foi lindo”. Hoje, é sabido que a grande vitória da Geração Woodstock foi ter conseguido arrancar os Estados Unidos do Vietnã.



Hendrix interpretando Star Splanged Banner

Bob Tequila, da comunidade Jimi Hendrix Brasil no Orkut, fez um belo comentário sobre essa apresentação:


“É uma multidão que admira silenciosamente o que ele está tocando. Há quase um clima religioso, um ritual pagão em ouvir, captar aquelas notas alucinadas, principalmente quando ele executa The Star Splanged Banner. A maioria do pessoal parece ser do sexo masculino e observa atentamente as notas que saem e o que os dedos, a língua e o cotovelo do MESTRE está fazendo. Mas os seus rostos atônitos parecem não acreditar no que ouvem!”


WOODSTOCK HOJE

Passadas quatro décadas, os debates discussões sobre sua importância persistem, e até hoje divide opiniões: enquanto uns dizem que Woodstock foi o fim de toda a ingenuidade e utopia que cercavam os anos 60, outros afirmam que foi o apogeu de todas as mudanças e desenvolvimento na sociedade. Hoje, cultores da onda hippie encaram Woodstock como “o marco final de uma era dedicada ao avanço humano”. Há ainda os que dizem que tudo aquilo foi apenas uma “festa dos infernos”... Mas numa coisa todos são unânimes: o festival foi evento cultural relevante não só para a história da música, mas para a história da humanidade e muitos saíram dali com uma visão totalmente diferente do mundo.

O escritor e jornalista Celso Lungaretti, 58 anos, sintetizou em poucas palavras, o que representou Woodstock:

“Woodstock foi o evento musical que mais influenciou as artes e os costumes na história da humanidade. (...) as gerações seguintes se desinteressaram de mudar o mundo, voltando a priorizar a ascensão profissional e social. O rock, depois de uma fase intensamente criativa e experimental, voltou aos caminhos seguros do marketing. (...) O sonho acabou? Talvez. Mas, quem o partilhou só lamenta que haja durado tão pouco e tenha sido substituído por uma realidade tão insossa.”


E as coisas mudaram mesmo: hoje, ironicamente, no museu local do estranhamente limpo Bethel, se lê avisos assim:

"Proibido utilizar drogas em público"; "Proibido instalar guarda-sóis ou barracas de acampamento"; "Não tocar música em alto volume"...



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segunda-feira, 11 de maio de 2009

AFINAL, ROCKEIRO BRASILEIRO SEMPRE TEVE CARA DE BANDIDO?

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Até pouco tempo atrás, eu não concordava com a famosa frase setentista de Rita Lee, a de que “Rockeiro brasileiro sempre teve cara de bandido”, frase que inclusive virou verso de uma música sua, o rock Ôrra, meu! (Lança Perfume, 1980). Ela própria, por seu envolvimento com drogas, foi vítima do sistema: Rita, em agosto de 1976, aos três meses de gravidez, foi presa em sua própria casa, sob a acusação de porte de drogas, num dos fatos de truculência explícita mais revoltantes da ditadura que vinha dominando o Brasil desde 1964. Imaginem uma mulher jovem, no meio de um monte de cabeludos a banda Tutti Frutti (foto) , abrindo as portas para o rock brasileiro feminino e com músicas falando de drogas em plena época da ditadura! O site CCUEC, da Unicamp, escreveu:

"Rita Lee foi roqueira num tempo em que o fato de ser roqueiro era caso de polícia ('... roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido ....'). Os cabeludos eram muito discriminados e eventualmente presos, e uma mulher roqueira era uma afronta quase insuportável."

Hoje, eu vejo a coisa por outra ótica: é que a polícia da época implicava com os cabeludos, não que eles fossem bandidos realmente o problema era cisma mesmo com gente do ramo: rockeiros, motoqueiros e hippies e, reconheça-se, o envolvimento com drogas a maconha e o LSD eram indissociáveis da cultura riponga... Houve, na história do cinema brasileiro , uma banda de rock psicodélico, a Spectrum, responsável pela trilha sonora daquele que é considerado o primeiro filme hippie nacional – "Geração Bendita: É isso aí bicho!" (1971) que durante as filmagens, membros da banda e artistas foram presos e tiveram seus cabelos raspados pelas autoridades moralistas da cidade carioca Nova Fibrurgo.

É um episódio para lá de marcante e hilário o pessoal preso durante a filmagem! O jornal acima relatou o que o delegado disse ao autuar os artistas em plena filmagem:

“- Corta! Está todo mundo em cana. Ninguém sai de cena. As representações serão, agora, no xadrez, mas com artistas carecas e todos de banho tomado, asseados e limpos.”

Vale lembrar que o movimento rock é que é o determinante no aparecimento dessas tribos, e não alguma forma de bandidagem ou violência. Convém lembrar também que esse pessoal da "Era de Aquarius" não era "inimigo" do estlablishment e tampouco sonhava em tomar as rédeas do controle social, para transformá-lo, no mínimo, em uma revolução contracultural, mas o que eles queriam mesmo apenas era curtir o espírito da filosofia da Nova Era, colocar o pé na estrada num estilo de vida baseado no ócio, voltar à natureza, se amar em liberdade, montar uma banda, transar artesanato, etc., em suma, nada mais nada menos que a utopia escapista da filosofia hippie. Mas o sistema pegava pesado com eles, e em se falando dos hippies, na época, o chefe de relações públicas chamou-os de de "inimigos irreconciliáveis da higiene, cheios de parasitas e frequentes portadores de doenças contagiosas (uma clara alusão às doenças venéreas e à hepatite, subprodutos do amor livre e das injeções de drogas)." Também a morte de grandes ídolos internacionais por seu envolvimento com drogas (Hendrix, Brian Jones, Janis Joplin e Jim Morrisnson), colaborou (e muito) para estigmatizar o pessoal ligado ao rock.

Me recordo que, em minha cidade (Araras/SP), era só a polícia passar e ver um bando de cabeludos em atitudes que nem precisavam ser suspeitas, e lá vinha a tal da “geral”... Aquela moçada feliz, descontraída, "cabeça feita", bebendo cerveja, coca-cola, fazendo ou ouvindo um som e se amando em liberdade, realmente incomodava os “meganhas” acostumados até então com o ingênuo, pacato e ultrapassado footing na praça principal...

Curiosamente, já na época da Jovem Guarda, a cisma com os cabeludos (as inocentes franjinhas dos Beatles...) já dava ibope negativo: uma indústria alimentícia disse que "'aquele cabeludo' daria indigestão aos cliente de sua comida." O cabeludo era nada mais nada menos que o Roberto Carlos ...

Ao contrário do Brasil, nos EUA os hippies eram considerados vagabundos inocentes. Já polícia brasileira da época sabia sim quem eram os verdadeiros bandidos, e para ser bandido não era necessário ser cabeludo, mas simplesmente ser bandido, independente da aparência. Aliás, roqueiro brasileiro nunca posou de visual bandido. Uma coisa era ser consumidor, outra era ser traficante, e a maioria dos rockeiros daquela época, ao que eu saiba, eram apenas consumidores, fato que, reconheça-se, não os exíme da cumplicidade na contravenção. Como bem sabemos, tanto o Raul Seixas quanto a Rita Lee – nossos papas do rock –, nunca traficaram, mas eram usuários, fato que nunca negaram o Raul bem o disse em seu hit “Não quero mais andar na contra-mão”:

"Hoje uma amiga
Da Colômbia voltou
Riu de mim porque
Eu não entendi
Do que ela sacou
Aquele fumo rolou
Dizendo que tão bom
Eu nunca vi...”

Cita-se que depois que a revolução empreendida pelos tropicalistas passou – caldeirão cultural onde se incluíam a psicodélica banda Os Mutantes , o rock tupiniquim foi alçado à uma posição marginal no cenário da música brasileira. Em pleno apogeu da era do desbunde – de um lado a emergência da MPB, e de outro o clima pesado da política repressiva – , tudo isso concorreu para que na década de 1970 como queria a Rita Lee , o roqueiro brasileiro tivesse "cara de bandido", lembrando que o Maluco Beleza, por seus diversos problemas, foi um dos que mais “colaboraram” para a difusão desse estigma equivocado.

Agora, analise a situação: a maioria esmagadora dos favelados e marginais daquela época não eram cabeludos e barbudos (como forma de distinção de tribos, se assim posso dizer), e nem se trajavam com os adereços típicos dos rockeiros, ou seja, faixas na cabeça, pulseiras, colares, anéis, blusões de couro, botas, tachinhas, etc., aliás, que eu me recorde, bandidos nunca trajaram roupas típicas de rockeiros, no máximo as famosas calças "boca-de-sino" e sapatos "cavalo de aço". Tampouco o sotaque peculiar dos rockeiros tinha a ver com os verdadeiros bandidos. Na foto, bandidos da década de 80 presos em Porto Velho, após assalto ao Banco do Brasil. A legenda original diz que eles pareciam um time de várzea. Alguém aí vê alguma semelhança com roqueiros?

Mas, afinal, aonde quero chegar? É que, atualmente, a frase da Rita Lee tem ser refeita para se adaptar aos tempos atuais, digo, adaptada com mais propriedade: "Funkeiro brasileiro sempre teve cara de bandido". Mas porquê desejo isto? Veja agora os funkeiros e rappers da atualidade: cabeça raspada, touca (em pleno Verão!), tatuagens pesadas – é o mesmo visual dos malandros e contraventores das periferias, das favelas, os mesmo gesticular característico, as mesmas gírias de cadeia, o modo de falar com a mesma entonação de presidiários, em suma, é difícil distinguir um dos outros, aliás, a pergunta que fica é que se são os funkeiros e rappers que se vestem de bandidos, ou vice-versa... Aliás, parece que, atualmente, até membros de torcidas violentas de futebol adotam esse visual... (na foto, um bandido carioca moderno). Em tempo, não nos esqueçamos (jamais!), a ligação entre o cruel assassinato do jornalista Tim Lopes e funkeiros cariocas...

Um site, denominado Funk de Raiz, traz este texto como abertura:

“Em meados dos anos 90, há uma pequena reviravolta no mundo Funk. As equipes de som promovem Festivais de Rap's nas favelas onde haviam bailes e lançam em discos as gravações lá realizadas. Assim surgiram os MC's cantando funk nacional, conhecido como RAP.”

Inclusive, este site menciona como referência, e com orgulho, o nosso grande DJ Big Boy (foto) como se ele tivesse algo a ver com esses bailes funk modernos... Mas, se teve, a deturpação foi total. Nosso maior e inimitável DJ deve estar se revirando em seu túmulo! A propósito, bailes promovidos pelo Big Boy – o grande “Baile da Pesada” –, tocavam Funk verdadeiro (e muito rock e outros estilos também, ou seja, muita diversidade), algo muitíssimo superior se é que se pode comparar – essa escória de rap e funk que se ouve por aí. Saiba, clicando aqui, quem foi essa fera.

Musicalmente falando, isso que esses cariocas chamam de funk, não tem nada de Funk (com F maiúsculo) – o que aconteceu, na verdade, é que o verdaeiro Funk foi vilipendiado por uma confusão estética, se é que os curtidores do falso funk tem noção disso. Esse "estilo" medíocre dos subúrbios cariocas não tem verdadeiros instrumentistas, suingue, groove, o vocal é linear e sem emoção, e o timbre da voz é horrível – resumindo, não são cantores em hipótese alguma, e tem mais, esse negócio ridículo de neguinho ficar esfregando discos de vinil e dizer que está tocando ou fazendo música, não passa de piada barata. As bandas de Funk autêntico – Funk primórdios da black music, de meados de 1974 até 1991 – chegavam à vezes a ter mais de 20 integrantes, tinham vocais excelentes e tocavam um estilo muito rico em se tratando de música instrumental. Quanto ao Funk carioca autêntico, só para ficar num exemplo, evidencio a grande (em todos os sentidos) banda Black Rio, do célebre Oberdan.

O site Ato ou Efeito, se referindo ao moderno funk carioca, o do estilo pancadão, traz o seguinte: “Não EXISTE música no Funk. É sempre a mesma coisa, sempre a mesma batida e sempre a mesma... coisa”. À esses alienados que desconhecem o verdadeiro Funk, recomendo uma simples audição do mega-hit “Get Off” da danda Foxy – ouçam neste link do You Tube. Agora, veja este funk, o Bonde dos 40 Ladrão, e sua clara apologia ao crime.

Veja agora um dos clássicos do funk original, a música "Pick Up The Pieces", um tema instrumental da banda escocesa Average White Band, peça que vira e meche o Quinteto Onze e Meia, a banda do Programa do Jô, executa:

Se referindo à uma gang de bandidos, o Mooca Chapa Quente, bando que assalta e estupra orientais, o site da Globo noticiou agora, em 19 de maio:

"Membros da quadrilha "Mooca Chapa Quente", que assaltava casas de estrangeiros na Zona Leste de São Paulo e foi presa pela Polícia Civil, não fazia questão de se esconder. Eles planejavam os crimes em bailes funks e divulgavam vídeos de armas e munição na internet. Quem faz parte do bando tem a tatuagem de um cifrão na mão."

O Mooca Chapa Quente e o Bonde dos 40 Ladrão são a mesma galera. Enfim, nada que uma "boa" cadeia resolva, aliás, já resolveu...

O disc jockey carioca Humberto DJ, por sinal nascido no mesmo dia, ano deste que voz escreve (mas no mês de agosto; sou de janeiro) , disse:

“Sou de uma época que o funk era regido pela essência da cultura musical, atrelado aos bons costumes e a prática da verdadeira parceria, com produtores cercados de ética, profissionalismo e um grande 'feeling' em determinar o que seria sucesso ou não.”

Poderia até dizer , à esta altura, que o que se salva no funk carioca são as letras e a mensagem que elas passam, mas, sejamos realistas: elas beiram a total alienação, mediocridade e baixaria é coisa de analfabeto funcional mesmo; e olha que, nestes tempos doidos, tem gente insensata (me refiro ao Wagner Montes!...) que cria projetos de lei querendo tornar o funk carioca uma manifestação cultural oficial. Em junho deste ano, a funkeira Fernanda Abreu (ex-Blitz) afirmou que o funk carioca é "estudo sociológico"... Vejam o que pesquisador de Ciências Sociais Antonio, o professor Fernando Borges, escreveu em seu blog:

Cada vez se produzem mais panfletos e menos obras literárias, sendo que no Brasil, como é de hábito, as coisas vão ao exagero: a pretexto de se ‘dar voz aos excluídos’, eleva-se à condição de literatura o discurso dos rappers e funkeiros, malandros e contraventores da periferia das grandes cidades.

O mesmo DJ acima, se referindo ao teor das letras do funk carioca, escreveu:

“Afinal, neste país quando o assunto é sexo, tráfico e sacanagem a massa aplaude, bate palma, acha engraçado, ao contrário de antigamente, cujo repúdio era mantido, ou melhor ainda é mantido.”

Como se vê, o Rio de Janeiro começou por roubar a capital da Bahia (1763), e agora compete com os baianos para ver quem faz música de pior qualidade: é bundaxé de um lado e funk do outro... Ai, que saudade dos bons tempos do James Brown (outro que está a revirar em seu tumulo) e do verdadeiro e original Funk!

Pois é, meus caros, como se vê, entre os "bichos" dos rockeiros e o "manos" dos funkeiros e bandidos há um abismo imenso... Flower & Power era paz e amor mesmo, e não essa apologia do crime, da violência e da banalização do sexo que fazem essa outra gente, isto para não falar da exploração sexual de menores nos bailes funks financiados pelos traficantes, na favela carioca da Vila Cruzeiro (vide Elias Maluco).

Galera, olha só o comentário que descolei numa comunidade do Orkut, a “Memorias de uma época!”, falando dos rockeiros e dos bandidos do Rio de Janeiro dos anos 70, comentário de um cara que vivenciou intensamente esta época:


“(...) E como ninguém era santo e nem tudo eram flores e boas lembranças, existiam as 'bad-trips' das chamadas 'bolinhas “marcha-ré' (Mandrix, Optalidon, Artânia...), xarope Pambenil (acho que era esse o nome), Melhoral moído no cigarro, fluido de isqueiro, chá de cogumelo, etc...OBS: mas tudo isso parece 'fixinha' tendo em vista do que se consome hoje !!!

Teve gente que tremeu na rua com a simples aproximação de um Dodge preto e branco (Camburão) ou a 'Joaninha', parando para 'dar um bote' nos 'Bichos cheios de grilos na cuca'?

Parece tambem piada, mas se não me falha a memória, só existiam 3 bôcas no RJ: Saçú, Cabeção e Inferno Colorido e nenhum 'bang-bang'na rua, nem balas perdidas, nem essa verdadeira guerra civil atual do trafico.”

O depoimento veio a calhar, e o cara resumiu tudo!

Enfim, viva o James Brown, a Rita e o Raul (e o Foxy também...), e, daqui para adiante, mais respeito com essa "geração bendita"!

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