quinta-feira, 14 de julho de 2011

TONICO RIGUIDÃO, O MAIS ESPERTO DOS TIPOS POPULARES DA ARARAS ANTIGA *

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“Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia, um pobre coitado, de pouca inteligência que vivia de pequenos bicos e esmolas.
Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 réis e outra menor, de 2.000 réis.
Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.
Eu sei - respondeu o tolo assim: – Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda.

A história acima é antiga, e não se sabe quem é seu autor. Porém, quem foi contemporâneo do tipo popular ararense conhecido como Tonico Riguidão, que vivera em meados do século passado, poderia ao lê-la pensar que se tratasse de mais uma das cômicas histórias que ele estrelara. 

Este curioso sujeito, assim como o Preto Salomé, também costumava carregar um porrete de madeira consigo, mas, ao contrário deste, usava-o como um instrumento musical - para ser mais preciso, como um violão!... Nisto, lembrava o tipo popular Adão Soares citado no livro História de Uberaba (1974) de José Mendonça, que possuía instrumento igual e de igual finalidade. Na ilustração, o Tonico Riguidão em pintura de Juca Quintaes, ano 1972.

Era comum vê-lo encostado num poste de uma esquina qualquer, com seu instrumento nas mãos do qual nunca se separava. E ali, entretido consigo mesmo, dedilhava maquinalmente as cordas imaginárias de seu rústico instrumento. O escritor Emílio Wolff, que teve a oportunidade de presenciá-lo numa destas horas, escreveu: “(...) na posição de viola, como quem afina: Dim, dliii, dliii, para depois fingir que toca e canta: Reguidão, dão, dão...”. Era um tipo louco, mas não louco à ponto de não saber o que fazia – o Tonico Riguidão era espertíssimo, como se verá.

 Era um tipo louco, mas não louco à ponto de não saber o que fazia — o Tonico Riguidão era espertíssimo, como se verá. Chapéu velho quebrado à esquerda, rosto vincado pelos anos, os olhos empapuçados, bigode e cavanhaque à moda caipira, lábios porém com inapagável expressão irônica, jamais era encontrado sem seu estimado “violão”. Sua voz estranha, deturpada pela vida incerta que levava, era coro dissonante em meio as famosos seresteiros que alegravam as ruas daquele tempo. Não precisava ser instado para cantar, pois cantava sem qualquer cerimônia – seja para afugentar alguma tristeza, seja para festejar a alegria em que se encontrava. Na verdade, tudo era motivo para cantorias para o Tonico Riguidão, e o dedilhar vago e abstrato de seu cajado era o que tudo o que lhe bastava para se realizar em seus anseios boêmios, ainda que cantarolasse sozinho.

Cardoso Silva, que também o conheceu, traçou umas rápidas linhas, destacando as proezas burlescas do esperto “malandro”:

“(..) era malandro. Nunca mais tive noticias dele. Tapeava meio mundo pra conseguir prato de comida e dinheiro pra cachaça. Era andarilho. Amanhecia em Leme e entardecia em Araras. Não era bem negro. Creio que de tanto sol que tomara, ficou vermelho. Um vermelho indígena. O apelido era uma delícia: ‘Tonico Riguidão’. Por quê? Tinha a mania de estender aos braços o cajado tosco, a imitar um violão, e, cantarolava, gesticulando com as mãos como se executasse o instrumento-alma do Brasil, a fazer: ‘Riguidão’, dão, dão... Riguidão, dão, dão!’ Tonico Riguidão’ tinha o delírio episódico das distâncias. Era uma espécie de embaixador de todas as caravanas possíveis. Como andava! Pra mim, há-de continuar andando por esse vasta mundo sem termo!”

Como numa versão humana da cigarra - a da parábola da cigarra e a formiga -, mas uma cigarra mais esperta, diziam que o homem não gostava de trabalhar, mas tão somente em levar vida de andarilho e cantar e dedilhar em seu tôsco instrumento, e era justamente nisto que residia a sua esperteza. No desenho ao lado, de autoria do Emílio Wolff, o Tonico com seu inseparável “violão”.

Já à primeira vista, lia-se na sua fisionomia o passaporte de andarilho, o selo de forasteiro que não para em lugar algum, os caçados surrados e a pele cozida de muitas insolações. Todos sabiam das suas condenáveis manias de enganar as pessoas, mas perdoavam-no uma vez que os meios que usava para conseguir o que queria sempre acabavam despertando o riso de todos. E assim vivia, seja pedindo um prato de comida aqui, seja implorando um trago de pinga ali, ou mesmo se oferecendo para um serviço braçal numa casa qualquer - era quando as pessoas começavam a desconfiar que ele estava prestes a aprontar alguma, afinal, o homem não era mesmo chegado num batente!... Não há registros de que freqüentasse ambientes baixos e era amigos de pagodes e serestas, mesmo porque não tocava instrumento algum. 

Além de dedilhar em seu porrete, gostava também de imitar trens fazendo manobras, manobras estas que passaram a ser sua marca registrada. Nestas horas, chamava deveras a atenção de quem quer que fosse ? paravam para ver; riam; apupavam; descriam; meneavam a cabeça em desaprovação... Entretido consigo mesmo, fazia todos os ruídos e papéis possíveis dos envolvidos com o cotidiano ferroviário: o chefe do trem, o foguista, o maquinista, o guarda freios etc. E lá ia ele em seu particular espetáculo: corria, diminuía a marcha, avançava um pouco, aumentava o ritmo, armava os braços e antebraços em cotovelo angulado, e movia-os girando para frente e para trás como as alavancas que impulsionam as rodas das locomotivas. Ao mesmo tempo, toda aquela “sonoplastia” de alguém que só pode ter ficado observando e mentalizando por horas a fio as manobras dos trens...  E a boca imitando os sons correspondentes de partida, o apito do chefe do trem, o resfolegar, o chiar entre lábios das descargas de vapor; freava... tchi-tchi, tchi-tchiii..., e em seguida crack da batida dos vagões engatados por ocasião da frenagem... E o show devia continuar... o ato de jogar a lenha na fornalha; puxava a corda do apito e novamente apitava, outra partida, tocava a máquina para a frente à toda brida, levantava o braço; mãos em punho puxava as alavancas... Tudo isto acompanhando os gestos e mais gestos e o escambau! Partia enfim, avançava e se ia, às vezes em ritmo frenético como um trem descendo serra; depois, a subida, o resfolegar lento... O ápice das manobras era quando o trem virava numa curva, uma surpresa... 

Contemporâneos seus ainda vivos (2013), mantém-se fiéis à tradição, não ocorrendo a menor discrepância entre seus relatos à respeito destas suas curiosas características. Os episódios que se narram sobre as coisas que aprontou não divergem absolutamente da personalidade que ele ostentava — armava peças dignas de um grande comediante. Por outro lado, algumas pessoas consultadas que o conheceram, e até viram cumprindo sua sina de desajustado, nada acrescentaram. 

Mas acontece que o Tonico se viu envolvido em diversos causos engraçados na cidade, e chegou mesmo a armar situações dignas de um grande comediante, e nunca será demais relembrar uma delas, história clássica, recolhida pelo Emilio Wolff, que, por sinal, nada fica a dever à história da introdução deste capítulo, a do idiota esperto e as moedas:

“Certa ocasião, passando em frente da casa do Juiz de Direito, viu descarregarem a lenha de um carroção.
Aproximou-se e disse ao Juiz:
– Dotô, qué que eu recolho a lenha?
– Pois não, respondeu o Juiz.
– Mais, Dotô, eu ainda não comi e estou com fome. Saco vazio não para em pé.
O Juiz mandou-o entrar e dar comida.
Tonico saiu para rua, viu o montão de lenha e foi logo dizendo:
– Seu Dotô... Saco vazio não pára em pé, mas saco cheio não dobra. Dotô, enquanto o estango fais digestão, vô mostrá como o trem fais manobra.
– Como? perguntou o Juiz.
– Olha Dotô. É assim. E imitou um apito prolongado, movimentou o braço como pistão de máquina a soltar vapor por todos os lados, andou para frente e para trás diversas vezes, imitou manobra. E depois disse: Olha, Dotô, agora ele vai virar na curva. Dobrou a esquina e até hoje não apareceu para recolher a lenha.”

À esta altura, fica claro que o fato de agir assim, ludibriando inocentemente as pessoas, era uma estratégia sabiamente utilizada para obter dividendos. Uma coisa é certa: o Tonico Riguidão podia ser louco, mas de esperteza, ah, disso ele não carecia não!...

Como sói à estes tipos, ninguém sabia seu nome de batismo, de que família era e de onde era natural. Também nada se escreveu sobre o destino que teve, assim como nada se revelou sobre o que empreendera nas terras remotas - quiçá do vício e da perdição -, por onde errara em seus enigmáticos sumiços. Sim, é provável que se perdera mesmo, devido a essa vida errante de que falara Cardoso Silva, e, assim, a esperta cigarra humana se fora “andando por esse vasto mundo sem termo”, partindo em seu trem particular... e sumindo para nunca mais voltar ...


* Capítulo de um livro meu em andamento, "Tipos populares de rua da Araras antiga", onde disseco 36 tipos que viveram no século 20.

BIBLIOGRAFIA: 4 fontes. Consultar autor.

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domingo, 3 de julho de 2011

ABSURDOS SOBRE O MUNDO DO ROCK NA IMPRENSA BRASILEIRA

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Hoje, garimpado diretamente de meus alfarrábios e arquivos de matérias sobre o mundo do rock, vou postar aqui três preciosidades publicadas na imprensa brasileira, verdadeiros absurdos de gente que não sabia o que estava escrevendo.

Colunista do Notícias Populares mata o guitarrista Steve Vai!!!...


O colunista ouviu o galo cantar e não sabia onde: confundiu o Steve Vai com o Stevie Ray Vaughan!... Notar que a notícia é de 6/10/1990, e o Stevie faleceu em 27/08/1990, portanto, passados quase dois meses, e o sujeito ainda não sabia da verdade!... o "rock é bicho esperto", mas o colunista não...

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Judas Priest influenciou Black Sabbath e Led! ...


E não é que o sujeito conseguiu inverter o curso da História!!...

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"O guitarrista e roqueiro Led Zeppelin"...

Superinteressante esta notinha!... Aliás, é uma revista de "extremos"... Esta revista vai longe!...

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

JORNAL HIT POP, DE MARÇO DE 1973 PARA BAIXAR!

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Mai uma edição do Jornal HIT POP, esta de março de 1973:





























Principais matérias:

- Jackson Five;
- Billy Paul em São Paulo;
- Alice Cooper chega em abril;
- Cat Stevens

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Secos & Molhados no Maracãnazinho;
- Mick Taylor no Rio de Janeiro;
- Maria Alcina: 2º LP;
- e muito mais!


LINK para baixar:

http://uploaddearquivos.com.br/download/Jornal-HIT-POP.-Maro-1974.pdf

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domingo, 28 de novembro de 2010

AS FANTÁSTICAS "FILMAGENS" DO CÉU ESTRELADO NA TÉCNICA DE VÍDEOS TIME-LAPSE

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Vídeos em TIME-LAPSE

Time-lapse é uma técnica na qual se fotografa uma mesma cena em determinados intervalos, criando uma ilusão no tempo. Depois as fotos são montadas sequencialmente quadro a quadro para dar a ilusão de um filme.

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Céu estrelado do lado Sul, em vídeo time-lapse feito num local próximo à Coonabarabr, Austrália, em março de 2008. A "mancha" negra ao centro da Via Láctea, é o chamado "Saco de Carvão", situado junto ao Cruzeiro-do-Sul.
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Criar vídeos em TIME-LAPSE
A técnica é simples, mas requer-se paciência. Para registrar as imagens você pode usar uma webcam com tripé e o programa Yet Another WebCAM Software, uma opção gratuita para gravar as fotos automaticamente. Pode-se usar também uma câmera digital ou programa para celular que faça registros sequênciais, que permitem fazer registros com maior qualidade artística.

O intervalo entre as fotos depende do tamanho do filme que você quer fazer. Pode-se fazer um vídeo, p. ex., com fotos em intervalos de 10 minutos entre cada quadro. Para registrar eventos mais rápidos, o intervalo de 1 segundo pode ser suficiente. Depois é só juntar tudo em um filme. O softwares a ser usado pode ser o da Adobe, Premiere CS 3. Alguns sites sugerem o uso do Quicktime Pro, mas até o Windows Movie Maker faz esse serviço. É só importar as fotos no programa e aumentar a velocidade de exibição.

Há câmeras fotográficas da Cannon, que têm um hack nelas que permite criar até scripts em BASIC para tirar fotos em determinados tempos. Outras Câmeras possuem modo Burst.

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Vídeo time-lapse feito na Austrália, mostrando a rotação do céu estrelado em torno do eixo celeste Sul. Notar à esquerda uma "mancha" clara, a Grande Nuvem de Magalhães. A "mancha" negra que desce do alto do lado direito do vídeo é o já citado "Saco de Carvão", situado junto ao Cruzeiro-do-Sul.
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Vídeo time-lapse mostrando o nascimento da Via Láctea sobre Gold Coast of Queen. Notar os relâmpagos junto ao horizonte direito
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Vídeo time-lapse mostrando céu estrelado sobre Fort Davis, Texas, usando uma lente olho-de-peixe 15mm.
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Vídeo time-lapse mostrando o céu estrelado em alta rotação. Acima da casa a aurora aparece por um curto período de tempo. A filmagem está em rotação acelerada, e as luzes que passam rápidas pelos céu são aviões, satélites e meteoritos. Alguns pontos luminosos imóveis no céu são manchas na lente ou reflexo em vidraça.
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Curioso vídeo-time-lapse mostrando a Via Láctea e a estrela Alpha Centauri. As fotos foram feitas com lente olho-de-peixe. As duas "manchas" brancas abaixo da Via Láctea são a Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães.
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Belíssimo vídeo em técnica time-lapse, mostrando uma noite de verão e Lua Nova, com o nascimento da Via Láctea, feita com o telescópio de 1.8 metros do Observatório Spacewatch.
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Montagem com três vídeos em técnica time-lapse mostrando o céu noturno sobre a Namíbia, África meridional. No segundo vídeo, vê-se a constelação de Escorpião se elevando no céu. Sobre o horizonte oeste, vê-se o clarão difuso da Luz Zodiacal (aos 10 segundos). A terceira vista mostra a rotação aparente de céu em torno do Polo Sul celeste. Não há nenhuma estrela brilhante do polo no hemisfério do sul, mas se pode ver as Nuvens de Magalhães e galáxias vizinhas escondendo atrás das árvores. A constelação que passa acima do horizonte do lado direito é a Ursa Maior.
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Vídeo time-lapse mostrando o centro da Via Láctea, em fotos feitas no observatório A.S.I.G.N. A constelação que desce sobre a cúpula do observatório é a de Escorpião.
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Belíssimos vídeos time-lapse mostrando a Via Láctea, em fotos feitas com o telescópio do observatório Paranal, Chile. No segundo vídeo, vê-ses a Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães à esquerda da cúpula do observatório.
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Vídeos em técnica time-lapse mostrando a passagem da Via Láctea.
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Via Láctea e Luz Zodiacal sobre os vulcões Parinacota and Pomerape, Cordilheira dos Andes, Lauca National Park, na fronteira entre Bolívia e Chile.
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Vídeo na técnica time-lapse feito no observatório chileno de Paranal.
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Eclipse Total da Lua - 27 de outubro de 2004.
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O HABITANTE DA “CIDADE DAS ÁRVORES” E OS CAPINZAIS QUE O INCOMODAM...

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“O que é uma erva daninha? Uma planta cujas
virtudes
ainda esperam para ser descobertas.”
 (Ralph Waldo Emerson, 1803-1882, 
crítico e poeta norte-americano)

Anos atrás, num exemplar do Tribuna no Bairro, suplemento do jornal Tribuna do Povo, estampado em sua última página vinha uma matéria que muito me incomodou, e incomodou tanto quanto um capinzal pode atazanar alguém em plena zona urbana. Ali, em letras caixa-alta e negrito, lia-se a fatal sentença: “MATO ALTO INCOMODA” – o invariável e recorrente protesto contra as “pragas” que infestam os nossos mal-amados quintais, terrenos baldios e lavouras!

O reclamante da chamada “Cidade das Árvores” protestava: “O acúmulo de mato e animais, além de anti-higiênico, atrai muitos ladrões que se escondem no terreno”.

É oportuno recordar: poucos anos depois da inauguração do Parque Ecológico em nossa cidade, um outro jornal ararense trazia a seguinte reclamação: de um conhecido colunista “Alguém pode me dizer quando aquele matagal, que atende pelo nome de Parque Ecológico, vai ser cortado. Tenho a impressão que passar por lá a pé, é risco na certa de um assalto, uma picada de aranha e uma mordida de cobra.”

Antes de mais nada, manda a conveniência que eu pergunte: desde quando capim é “anti-higiênico”? Esquece-se o cidadão que, muitas vezes, os verdadeiros responsáveis pelo aumento de ratos, aranhas, sapos, cobras, pernilongos, e outros animais são as próprias pessoas que ali depositam sacos de lixo, entulho e outros quejandos. E se estes mesmos animais “indesejáveis” também são encontrados em plena zona urbana, os responsáveis diretos por isso somos nós mesmos, e o mato nem sempre tem a ver com esse problema. Oras, é óbvio que as cobras surgem na cidade devido à proliferação de ratos; o mesmo se dá com os insetos, que quanto maior a quantidade de lixo entulhos e esgotos,a céu aberto ou não tratados, maior é o seu número. E aranhas, assim como os sapos, não surgem nestes lugares em busca das baratas? Madeiras abandonadas em terrenos baldios, p. ex., podem se tornar um verdadeiro foco de cupins, que, por sua vez, podem infestar um bairro inteiro!

Quanto aos exóticos caramujos africanos (Achantina fulica) – que comprovadamente podem causar danos à saúde como diarréia, desidratação, perfuração e infecção intestinal –, de onde você acha que eles surgiram? Nada mais nada menos de criadores que, abandonando sua criação devido à perda de interesse comercial, acharam por bem soltá-los na natureza, onde, encontrando ambiente propício, se transformaram numa verdadeira praga. Esta espécie de caramujo é um animal oportunista, que prefere o ambiente urbano às matas, já que na cidade encontra alimento mais fácil. As pessoas jogam lixo nos terrenos e em locais inadequados, que são justamente o lugar onde ele vai se refugiar e alimentar. Além disso, ele também se alimenta de fezes de cães e gatos. Esse animal, que se tornou um grande problema em muitas cidades, foi “importado” para ser utilizado como alimento na criação de aves domésticas, e, acredite, na culinária humana, substituindo o tradicional “escargot” por apresentar vantagens no tempo de crescimento individual e resistência às condições ambientais.

Voltando ao problema dos terrenos baldios e os bandidos que se ocultam no meio dos capinzais, pretende o reclamante que acreditemos que os grupos de assaltantes, semanalmente, fazem ali secretas reuniões, desmanchem carros, escondam armamentos ou façam pontos de venda de droga? Convenhamos!... Isso é reclama-se por reclamar, fato que, no fundo, não passa de ódio vegetal, dendroclastia mesmo! Será, então, que a saída será dar cabo de todos os capinzais urbanos?

Me perdoem os discriminadores das espécies vegetais menos carismáticas e sem valores atrativos, mas o problema não é o capinzal, que o capinzal em si é natureza também. Convém esclarecer que a mamona, p. ex., – popularíssima invasora dos terrenos baldios – já foi planta de jardim no século XIX! E quantas plantas ornamentais modernas já não foram mato um dia? Quantas plantas medicinais há nestes terrenos, que são relegadas à condição de plantas invasoras, daninhas, mato enfim!...

Imaginem se os nosso índios, cada vez mais aculturados, começarem a raciocinar como os urbanos – que tem visão unilateral e míope da natureza: em breve irão reclamar à FUNAI de “matos sujos” por capinar, de pragas de mosquitos, cobras, baratas, ratos e escorpiões, e eis a natureza brasileira em sério perigo! Valei-me, São João Gualberto!

Os quintais e terrenos baldios são áreas vitais, uma vez que servem como local de absorção de chuvas, e os nossos “higiênicos” quintais concretados e azulejados são um dos responsáveis pelas enchentes. Neles, as águas pluviais não têm como penetrar no solo, a não ser pelo ralo que vai levar a água até os ribeirões, que nem sempre podem conter esta mesma água que poderia ser absorvida pela terra caso os quintais e ruas fossem permeáveis. Também ignora-se que os mal-amados brejais são habitats imprescindíveis para inúmeras espécies vegetais e animais, e desempenham papéis importantes, como filtrar a poluição e servir como áreas de contenção de enchentes, e não são lugares insalubres, como se pensava desde o século XIX? – me refiro à chamada “teoria miasmática”: aquela que afirmava que as doenças provocadas por “miasmas” ou emanações malignas provenientes do solo, da água ou do ar “estagnados”.

E os responsáveis pelos mares de espuma da cidade de Pirapora (foto), não somos nós mesmos, com todas as substâncias poluidoras que, dentro de nossa própria casa, botamos ralo abaixo todo santo dia? Uma pequena lista desse descarte monstruoso que ocorre diariamente: óleo e vinagre, farinhas diversas, sal e açúcar, gordura e banha, temperos , restos de inúmeras bebidas; creme dental e de barbear, anti-séptico bucal, gel capilar, sabonete, xampu, filtro solar e outros cosméticos; detergente, sapólio, fragmentos de esponja de aço, amaciante, cera, água sanitária, desinfetante, alvejante, odorizante; resíduos industriais como graxa, solvente, gasolina, álcool, querosene, etc. O irônico é notar que boa parte destas substâncias são usadas devido à nossa insensata vaidade...

De quantas coisas como estas, em prol de nós mesmos, poderíamos abrir mão sem deixar de viver melhor, e, assim, praticaríamos o mais nobre do deveres que é manter a natureza limpa e “higiênica”. No caso de Pirapora, a grande ironia é que a espuma que torna nossa casa, roupas e objetos mais limpos é a mesma que depois causa aquela verdadeira desgraça flutuante no rio!...

E olha que sequer mencionamos a “poluição da moda”!... Na verdade, ela existe há muito tempo, mas só há poucos anos foi estudada sistematicamente. Me refiro à chamada poluição hormonal. Esta, é um tipo de contaminação da água que se dá através da urina., uma vez que anticoncepcionais e medicamentos de reposição hormonal são eliminados nas águas através da micção. (clique na imagem para ver a pesquisa) Os problemas no meio ambiente decorrente desses resíduos são muitos e preocupantes. Esse fenômeno é causado tanto por hormônios naturalmente excretados pelas mulheres, quanto por pílulas anticoncepcionais, e também pelos chamados xenostrógenos, que são hormônios presentes em compostos industriais que têm efeitos semelhantes ao estrógeno, causando por exemplos, a femeninilização de peixes machos (Ecotoxicology an Enviromental Safety, 9 agosto 2011). O fenômeno vem acontecendo com o lambari-do-rabo-vermelho (Astyanax fasciatus) na hidréletríca de Furnas, em Minas Gerais. Segundo a bióloga Mércia Barcellos da Costa, da Universidade Federal do Espírito Santo, “Todas elas têm ação estrogênica e mesmo quando não são hormônios reais, agem no corpo de forma parecida”. Ainda segundo a pesquisadora, um desses compostos, o tributilestanho (TBT), provoca mudança de sexo de algumas espécies de animais. Em humanos, suspeita-se que o contato com a água com excesso de hormônios esteja antecipando a menstruação das meninas e a diminuição de espermatozóides nos homens, além de câncer. Pesquisadores constataram que resíduos de colesterol, hormônios sexuais, produtos industriais e uma infinidade de substâncias microscópicas não são eliminados nos sistemas de tratamento das cidades brasileiras, porém, até o momento, isto não significa que a água seja imprópria para o consumo. Segundo todos os padrões internacionais de potabilidade, a água que chega às torneiras dos brasileiros é limpa e está pronta para beber. O problema é que, até hoje, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não avaliou os riscos para a saúde desses resíduos. Quer entrar fundo neste assunto (e se assustar), lei a este artigo: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/437/artigo126067-1.htm

Quanto ao reclamante do Parque Ecológico, eu pergunto: será que o s matos, as cobras e aranhas não podem viver em paz nem mesmo num parque ecológico?! Ao menos se ele reconhecesse que o nosso Parque Ecológico de ecológico pouco ou nada tem... Festa do peão em parque ecológicos!, lagos artificiais, vegetação exótica! Só em Araras mesmo...

É óbvio que nenhum dos que reclamam dos capinzais, notam que eles também se prestam como áreas sinantrópicas, ou seja, lugares de atração e fixação da fauna nas zonas urbanas. Quanto aos animais indesejáveis já citados anteriormente, eles vêm para cidade com ou sem a existência de matagais e terrenos baldios, e que o diga o pernilongo da Dengue. Na última casa onde morei, havia um quintal ao lado , com muito mato, e que não era nenhum esconderijo de ladrões, mas sim um verdadeiro refúgio de pássaros, como rolinhas, avoantes, asas-brancas, pardais, anus, tizius, bicos-de-lacre (foto), sabiás, coleirinhos, bigodinhos, tico-ticos, bem-te-vis, sanhaços, etc.

Além disso, hoje se sabe, p. ex., que o popular mato (Croton glandulosus, foto), esse que cresce espontaneamente em terrenos baldios, não é mais considerado erva daninha – mesmo em plantações, onde é combatido com roçadeiras, enxadas e herbicidas, ele têm a função de atrair insetos que predam pragas das lavouras. Eis enfim a profecia de Ralph Waldo Emerson se concretizando, centenas de anos depois!

Peter Tompkinns e Christopher Bird, em seu livro A Vida Secreta das Plantas, lançado em 1974, trazem o seguinte texto, versando sobre a importância das chamadas “ervas Daninhas”:

“A opinião de Soloukin sobre a simbiose das plantas valida a de um professor de botânica e conservacionista americano,o Dr. Joseph Cocannouer, que, enquanto Sir Albert Howard trabalhava na Índia, dirigiu o Departamento de Solos e Horticultura da Universidade das Filipinas por uma década e estabeleceu na província de Cavite uma grande estação experimental. Em seu livro O mato , um guardião do solo, publicado há quase 25 anos, Cocannouer sustenta a tese de que, longe de serem nocivas, as plantas normalmente assim consideradas e rotular das de ‘daninhas’, como a tasna ou tasneira, o quenopódio ou anserina, a beldroega e a urtiga, bombeiam minerais do subsolo, especialmente os que se tornaram escassos na camada superior, e são excelentes indicadores das condições da terra. Como vegetação associada, elas ajudam as plantas domésticas a aprofundar suas raízes até fontes nutrientes que, de outro modo, ficaram fora do seu alcance.”

O verdadeiro problema desta mentalidade retrógrada é que fomos, aos poucos, nos distanciando das raízes de nosso passado rural, aceitando inconscientemente o grau de demência que a sociedade “civilizada” nos impôs, desruralizando as cidades e ficando cada vez mais apartados e alienados da natureza. É simples constatar que estamos tomando o mesmo rumo que o Rio de Janeiro, onde, como disse o Millôr, a área verde do habitante é um vaso de samambaia... Ironias à parte, me vem à mente uma pergunta que não quer calar: por que a maioria dos homens, que bem poderia preservar seus quintais de terra e árvores, não se preocupam com isto e não pensam duas vezes em abrir mão da parte que lhes cabe? Até quando teremos de conviver com a febre do chamado “quintal lajotado”, do quintal com edículas entulhadas de coisas inúteis, do quintal com piscina e churrasqueira que, passada a febre da inauguração, caem no esquecimento?

E – tenham certeza –, é também por se raciocinar assim – como no século XIX, reconheça-se –, que se pôs abaixo o bosque onde se deu a Festa das Árvores em 1902, extinto em 1947, e o Horto Florestal da Fepasa, desapropriado e colocado baixo em 23 de julho de 1981. A propósito, é só dar um pulinho até a vizinha cidade de Rio Claro – que não é nenhuma “Cidade das Árvores” –, e notar, já da rodovia Wilson Finardi, que seu horto está ali, integro e salvaguardado para as gerações futuras, enquanto nós, na hipócrita “Terra dos Canaviais”...

Enfim, espero estar vivo um dia para ver surgir uma nova lei que venha a proteger os capinzais pelos mesmos motivos que expus acima: lugares de atração e fixação da fauna, de absorção de águas das chuvas, e até de lazer, mas, ah!, eu já prevejo o meu irritado leitor querendo me perguntar: – Mas, Wenilton, você é radical demais, rapaz! Não se pode aceitar um quintal ou praça com mato como um lugar desfrutável! E eu lhe responderei: – Não sou tão radical assim, meu caro – apenas um marxista, tendência Burle...
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sábado, 13 de novembro de 2010

HISTÓRIAS CÔMICAS DA REVOLUÇÃO DE 1932

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Lendo um livro do grande escritor Cornélio Pires (1884-1958), encontrei estas engraçadas histórias. Nascido em Tietê, São Paulo, Cornélio foi escritor, compositor, conferencista, jornalista, contador de causos, folclorista e poeta.

As histórias são reais e constam do livro "Chorando e rindo", de 1933, onde relata episódios e histórias da Revolução de 1932, recolhidas por ele pessoalmente ou enviadas por contribuidores das regiões envolvidas no conflito.



EM BEBEDOURO

No dia seguinte ao da chegada, um soldado goiano, procura um lugar para lavar o rosto. Entra numa privada e exclama:

- Êta paulista besta! onde se viu botar uma bacia nesta artura?

Outro companheiro que estava no compartimento próximo responde:

- Camarada, faça corno eu, puxe o cordão, que a água sai em cascata, mas lave depressa porque a bacia é furada.


CHUMBO TROCADO...

Escreve-me uma tieteense, conterrânea minha:

Entraram em um restaurante, um paulista e um gaúcho; este sentando-se junto a uma mesinha disse ao garção:

- Traga-me depressa um Paulista! - O coitado do garção sentiu-se bastante embaraçado e viu-se na necessidade de pedir explicações.

- Não sabes o que é um paulista? - disse o gancho. - Será que você é tão burro assim que ainda não conhece o paulista? "paulista é canja" traga-me esse prato. Foi servido imediatamente o gaúcho.

O paulista que entrou na mesma ocasião, ouviu tudo sem dizer palavra. Logo que o seu companheiro de restaurante foi servido, chamou pelo garção e disse-lhe:

- Traga-me depressa um gaúcho !

Coitado do garção! Viu-se novamente em palpos de aranha!

- Não sabes o que gaúcho? - diz-lhe o freguês: - Gaúcho é um espeto muito comprido em cuja ponta traz um pedaço muito insignificante de carne seca e o resto tudo é farofa ...

Desta vez quem não gostou muito, foi o gaúcho.


BOM ATIRADOR

Surgira sobre uma cidade do interior um avião, antes dos ataques a cidades abertas que tanto enodoaram a civilização brasileira.

Era um desses aviões que jogavam boletins. Quando o aparelho passava alto sobre o sitio do Juvêncio, a poucos quilômetros da cidade, o caipira passou a mão na pica-pau, saiu no terreiro e lascou fogo no "bicho"! Mas na hora em que o caipira deu o tiro, o aviador soltou uma nuvem de boletins. E o roceiro, todo orgulho, gritou para dentro

- Eh! Muié ! Matá num matei, mais ranquei pena!


SIM-SENHOR!

Dentre as tropas adversárias que estiveram em Jaú, havia sertanejos do alto sertão do Pará, vindos via-Goiás.

Um deles comprou um pacotinho de amendoim torrado e deliciou-se com a novidade.

- Experimenta, Jusé! Esses pulista faiz cada docinho gostoso! Oia só?! Gente danada de pacencia! Veja só como eles embruiam tão bem esses docinho em papé de seda vermeio !!! E pôs-se a tirar a pelezinha do amendoim...

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CANÇÃO DIONÍSICA

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Esta poesia não é nova - tem mais de 20 anos, feita no final da década de 1980, quando eu ainda trabalhava em São José dos Campos. A inspiração para compô-la, veio do meu mestre maior na poesia, o poeta romântico fluminense Fagundes Varella (1841-1875), à qual ela é dedicada - a poesia em questão é "Amor e vinho", poesia esta que era declamada nas libações noturnas que o poeta fazia junto dos amigos boêmios.

O gênero da poesia - uma ode ao vinho repleta de citações - não é moderno: foi composta a moldes antigos, com estrofe do tipo oitava, versos em redondilha maior, rimas encadeadas tendo um estribilho que se repete em todos os finais das estrofes. Do mesmo modo que a poesia do Varella, ela é uma sátira, melhor, uma poesia humorística. Espero que gostem.


CANÇÃO DIONÍSICA
à Fagundes Varella

In vino veritas

Dissera o velho Pasteur
algo que ao vinho convida:
"O vinho é a mais higiênica
e saudável das bebidas"
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"O vinho é mais higiênica
e saudável das bebidas"!

Assim como Baudelaire
louvava a alma do vinho,
eu louvo “As Flores do Mal”
ao pé de um copo de vinho.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Eu louvo “As Flores do Mal”
ao pé de um copo de vinho!

Foi Paul Claudel quem escreveu,
se não me falha a memória:
"Uma garrafa de vinho
guarda mil anos de história".
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"Uma garrafa de vinho
guarda mil anos de história"!

Mas alguém pichou no Chile
bem melhor que estes franceses:
"Bem aventurados os bêbados,
verão à Deus duas vezes".
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"Bem aventurados os bêbados,
verão à Deus duas vezes"!

Goethe falou de uma jovem,
de um copo de vinho do porto:
"O que não bebe e não beija
está pior do que morto"!
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"O que não bebe e não beija
esta pior do que morto"!

O que falou Aristófanes
eu repito e lhes digo:
"Quando os homens bebem vinho
são ricos, felizes, amigos"
Brindemos: Tin tin, tin tin
Então nosso lema é assim:
"Quando os homens bebem vinho
são ricos, felizes, amigos"!

Saiba, são nossas amadas
Que nos levam a beber!
Que sorte, que alguns vão sozinhos
pelos bares a sofrer.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Saiba, são nossas amadas
que nos levam a beber!

Ao findar o nosso trabalho
vamos ao bar do beco,
sair das roupas suadas
e entrar num bom vinho seco!
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Sair das roupas suadas
e entrar num bom vinho seco!

E após o suado trampo,
a fome é quem nos governa,
e o que nos abre o apetite?
A chave de uma taberna...
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
O que nos abre o apetite?
A chave de uma taberna...

Compadre que hora voltamos
prá casa após a jornada?
Um pouco depois das dez ,
depois das dez talagadas...
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Um pouco depois das dez,
depois das dez talagadas!...

Tal como Dorothy Parker
ou George Jean Nathan,
eu bebo para tornar
os outros interessantes.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Eu bebo para tornar
os outros interessantes!

E quando estamos travados
é bom ninguém nos fitar,
pensamos que é nosso amigo
e o vamos importunar.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Quando estamos travados
É bom ninguém nos fitar.

Foi Robert Benchley quem deu
um toque à quem bebe à bessa
"A bebida mata aos poucos,
mas quem é que está com pressa?".
Brindemos: Tin tin, tin tin!­
Então nosso lema é assim:
"A bebida mata aos poucos,
mas quem é que esta com pressa?"!

O médico diz - "Abandona
o que lhes seja mais reles"
- As mulheres ou o vinho?
- "Depende da idade deles"...
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
- As mulheres ou o vinho?
Depende da idade deles!...

O abuso não impede o uso.
Pois que venha a repressão,
sabemos que a lei seca ,
incita a contravenção.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Sabemos que a lei seca,
incita a contravenção!

Lembrei-me de Garibaldi ,
neste momento oportuno:
"O deus Baco já afogou
mais humanos que Netuno"
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"O deus Baco já afogou
mais humanos que Netuno"!

Chamou Fernando Pessoa
o garçom e disse à esmo:
"Qualquer vinho, tanto faz
é prá vomitar mesmo"
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"Qualquer vinho, tanto faz,
é prá vomitar mesmo"!

Apos um porre daqueles,
Quem não sonha a panacéia
proposta por Paracelso
prá curar sua cefaléia?
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Após um porre daqueles
quem não sonha a panacéia?!

Vinícius via no uísque
um cachorro engarrafado;
eu vejo no vinho um gênio
numa garrafa encerrado.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Eu vejo no vinho um gênio
numa garrafa encerrado!

O uísque prá quem não sabe,
perto do vinho é novinho;
enquanto alguém ia co’o milho,
lá vinha a uva co’o vinho.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
Enquanto alguém ia co’o milho,
lá vinha a uva co’o vinho.!

Foi Noé quem descobriu
por acaso o nobre vinho;
o vinho é santa bebida,
tava lá no pergaminho.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
O vinho é santa bebida,
tava lá no pergaminho!

"Nenhum animal inventou
coisa pior do que o porre,
nem algo melhor que beber,"
assim Chesterton discorre.
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"Nenhum animal inventou
coisa pior do que o porre"!

Baseio-me no Eclesiastes,
beber não é transgressão:
"O bom vinho e a boa música
alegram o coração"
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema e assim:
Baseio-o me no Eclesiastes,
beber não é transgressão!

Disse o profeta Isaias
este conselho supremo:
"Vamos comer e beber
pois amanhã morreremos"
Brindemos: Tin tin, tin tin!
Então nosso lema é assim:
"Vamos comer e beber
pois amanhã morreremos"

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

NOVAS CRIAÇÕES HUMORÍSTICAS DO V-NEWTON

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TROCADALHOS DO CARILHO!
Ontem, por parível que encresça, na rodovia D. Pedro (sim, a do Imperial Constitucionador) eu milagrei escaposamente de um acidente num ônibus que explodiu numa tremenda combustânea expontão! Com a explosão, foi só vidrada quebraça que voou prá todo lado! Daí, eu tomei um relaxar musculante e as dores se foram. Depois, eu desci no terminário rodovial e fui direto pro restaurado Morgante comer uma torção de porresmo, mas como não tinha, decidi ir para um rio numa fazenda e lá comi um peixe cru com molho de limenta com pimão de um sujeito que estava pingando numa pesquela. E ainda teve o luxo de servir acompanhado de vergumes e leduras! Ah, não sei se vocês sabem que eu sou cidadeiro brasilão, mas em minha certimento de nascidão eu fui batizudo de Cabeçado? Tudo por causa de uma falsa advogada de um cartório clandestino, a Fera Vischer! Isso é propagosa engananda, minha gente! Nossa, eu fiquei extremaputo mente com aquela gabunda vagalinha!... Mas quanto ao acidente, o meu irmão soube na mesma hora, pois ele teve um pressentimento – acho que é o tal de transmimento de pensação. Ih, gente, tô falando tudo errado e bolando as trocas! Acho que foi aquela merda de pirodélico psiculito que me deram ontem!
#
SURUBA DE TRATORES
O Maxion do John Deer Ford o Müller, enquanto o Valmet o Fergunson no Komatsu.
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CHÁ DE COGUMELO
Algo de estranho aconteceu na sopa de letrinhas que ele tomava. Lia-se nos macarrõezinhos: “fio de cabelo”.
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ATRIBUIDO AO ÓVULO
“Muitos serão os chamados. Poucos serão os atendidos.”
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ATINAÇÕES
A estrada do inferno é pavimentada de boas intenções. E buracos negros...
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HIPOCRISIA
Às vezes, faltamos à consulta médica e nem nos damos ao cuidado de a desmarcamos ou pedir desculpas, mas quando o médico falta ou atrasa o horário de consulta, ficamos indignados.
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DO ALÉM I
"Galinha-de-angola
Que frita dourando co’alho na panela
Será que ela mexe co’alho
Ou o alho é que mexe com ela..."
(Clara Nunes psicografada)
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DO ALÉM II
"O Ernesto alguém enterrou
Num canto qualquer de La Paz
Nóis fomo e não encontremo o Tche
Nóis fiquemo cuma baita de uma réiva
A outra veiz, nóis num vai mais..."
(Adoniran Barbosa psicografado)
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DO ALÉM III
"Oê, muié rendeira
Olê, muié rendá
Tu me ensina imposto de renda
Que eu te ensino a sonegá..."
(Volta Seca psicografado)
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DO ALÉM IV
"Olha que hebréia bonita
Mais cheia de graça
É ela a menina que na praia passa
E feito Moisés vai abrindo o mar..."
(Tom Jobim psicografado)
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CISMAS
O cigarro contracena muitas vezes com vaga-lumes em piadas, mas porquê ele não contracena com cigarras?
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DO ALÉM V
“As formigas podem até não acabar com o Brasil, assim como o Brasil pode não acabar com as formigas, mas o Brasil acabar com os tamanduás é mera questão de tempo.” (Saint Hilaire psicografado)
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ATINAÇÕES
Árvore alguma faz sujeira – o que ela faz é cumprir seu ciclo biológico. Sujeira quem faz é o homem, principalmente quando corta as árvores desnecessariamente. ou põe fogo no mato.
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QUAL A DIFERENÇA DAS DUAS FRASES
Pela pirraça, vou deletá-la. Ela vai sobraçar em alguém depois que eu denotá-la.
Pela piçarra, vou delatá-la. Ela vai soçobrar em alguém depois que eu detoná-la.
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CONVERSINHAS BESTAS
– Não diga isso dele, jamais! Ele deve estar se revirando em seu túmulo por isso!
– Nossa, eu não sabia que ele sofria de catalepsia e era telepata!
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ATINAÇÕES
Até explicar para ele o porquê de o Genival Lacerda não poder andar de moto-taxi...
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REPARE
Todos os caminhos levam à Roma mas o papa vai de avião.
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FORMULA 1
A arte de voar a mil por hora e ainda assim exibir o logotipo do patrocinador.
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À MANEIRA DO CASSETA & PLANETA
O paparazzi trabalha só por amor ao dinheiro. Quem tem fetiches pela cena é o voyeurista.
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MUNDUS MULIERIBUS
Existem três tipos de mulher: a sincera, a que mente só por necessidade, e a falsa, que é esta que você está saindo.
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ATINAÇÕES
O Brasil está doido mesmo: crianças que se matam com revolveres verdadeiros, enquanto bandidos assaltam com armas de brinquedo!...
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CANNABIS LIBRE!
Quem fuma cigarro busca um cigarro de melhor qualidade, um cigarro light, fraco e com bom filtro. Já os adeptos da maconha dizem que quanto mais forte a maconha, melhor ela é. Oras, quem gosta da maconha mais forte, obviamente gosta da maconha que deixa mais louco, mais ligadão! Então, como liberar um produto cuja única função é deixar a pessoa muito louca, mais louca ainda?! Convenhamos!
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SUTIS DIFERENÇAS
Os povos da antiga Abissínia tinham a mania de apedrejar o Sol quando ele se punha. Os hippies cariocas do Posto 9 aplaudiam-no.
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CONVERSINHAS BESTAS
– O que aquele mudinho está querendo dizer, gesticulando as mãos daquele jeito?
– Que ele é quiromante.
– Quiromante! O que é isso?
– A pessoa que lê as mãos...
– !!!
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CONSELHO DE AMIGO
Se for beber por mim, não dirija. Se for se dirigir à mim, não beba.
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NÃO CONFUNDA...
Não confunda a lógica burguesa do Pato Donald com o hambúrguer patológico do McDonald.
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ATINAÇÕES
As três coisas que um homem mais precisa na vida, são duas: sexo.
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PRECAUÇÕES
Cuidado: quem está contigo, pode não estar do seu lado; e quem não está contigo, pode não estar contra você.
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CHÁ DE COGUMELO
Como diria o músico paranóico: "Esse cachorro do meu piano não sabe me ver sem balançar a cauda!"
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FRASES PARA O DIA A DIA
Mais feliz que gavião carijó em manhã de céu de brigadeiro.
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ATINAÇÕES
Extinga-se o cacau, o morango, a batata, o trigo, a uva, o milho, o lúpulo, a cevada, o café, a cana-de-açúcar, a coca, a maconha, a papoula, o tabaco e o petróleo, e o ser humano não terá mais razões para viver.
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NÃO CONFUNDA
Não confunda o talão remunerado do Cartola com o latão renumerado da Carlota.
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ATINAÇÕES
Xipófago: um neném que pode sugar um par de seios ao mesmo tempo.
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MONDO BIZARRE
Nunca tive dinheiro para comprar um bumerangue de primeira. A verba só dava para comprar um daqueles que iam mas não voltavam..
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ATINAÇÕES
Brasil: 25 milhões de deficientes que fariam de tudo para voltar a andar, e 36 milhões de carros de quem não anda a pé por nada neste mundo.
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CHÁ DE COGUMELO
Pegou fogo no Camelódromo carioca e faltou água! Tudo bem, aliás, camelo não precisa de tanta água assim.
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A ESPERTEZA DO CAIPIRA
– Gostei dessa calça. Quanto merréis custa?
– Três mil reais.
– Três mil reais... Mais óia, moça, a calça tem que tê quatro perna.
– Quatro pernas! Como assim?!
– É prá passá as quatro perna do burro que comprá essa calça aí...
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CONVERSINHAS BESTAS
– Você sabia que na composição do hambúrguer entra minhoca?
– Argh! É sério?
– Oras, mas então você nunca comeu minhocas?!
– Deus me livre!
– Comer minhoca é uma delícia, mas dá uma dor nas costas...
– Dor nas costas?! Como assim?
– É, ela é muito baixinha...
– Tava demorando!...
– E o pior é que é duro saber em qual lado é o rabo e em qual a cabeça!...
– !!!
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TONINHO MALVADEZA
– Aquele aluno ali não pode passar em porta giratória de banco.
– Oras, por quê?
– É o típico aluno CDF...
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CONVERSINHAS INFAMES
– ...toda vez que eu acabo de extrair um dente, eu corro tomar uma pinga..
– Nossa! E quantas pingas você calcula que já tomou até hoje?
– Sei lá... o que eu sei dizer é que estou banguela...
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TEMPO MODERNOS
– Ué, você não ficou puto por ele ter lhe assaltado com um revolver de brinquedo?!
– É claro que não – o dinheiro também era falso...
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ATINAÇÕES
Existem mais mistérios entre o Sétimo Céu e a Terra do Nunca do que supõe a nossa vã filosofia de botequim.
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SÁBIOS CONSELHOS
Não jogue fora as frutas que sobram. Leve-as para os presídios. Se os presos não as comerem, fique frio: elas irão apodrecer na cadeia...
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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CHEGADA DOS ANDORINHÕES E TESOURINHAS MIGRATÓRIOS NO FINAL DO INVERNO EM ARARAS E REGIÃO – 33 ANOS DE OBSERVAÇÕES E REGISTROS

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Tanto o andorinhão-do-temporal como tesourinhas são aves migratórias com chegada e partida em meses semelhantes. Invernam no Norte do País, na Amazônia e alguns países da América Central, e passam a Primavera e o Verão em quase todo o restante do Brasil e países limítrofes do sul do continente. Os meses de chegada à nossa região são sempre agosto ou setembro, preferencialmente nas últimas semanas de agosto e nas primeiras de setembro.

Ouvido treinado que tenho, as vocalizações de ambas as aves não me passam despercebidas quando de seu retorno à cidade, mas as datas, obviamente, podem não coincidir com o dia exato da chegada, uma vez que poderiam ter chegado em outros pontos da cidade onde eu não me encontrava, como a zona rural, por exemplo, ou mesmo eu não ter percebido sua presença na zona urbana ou rural, o que, modéstia às favas, é fato meio difícil para este naturalista que vos escreve...

Ambas são aves que não tem vocalizações muito atrativas, mas o tesourinha é popular devido ao desenho de sua cauda, e por um certo ritual que costuma fazer em bandos aos finais de tarde, de que falaremos adiante. O andorinhão, por sua vez, podem chamar a atenção quando se reúne em grandes bandos antes do pernoite, e sua família é considerada uma das mais dinâmicas do planeta, pois vivem em constante movimento. O ornitólogo Helmut Sick viu bandos de até 700 exemplares.


ANDORINHÃO-DO-TEMPORAL (Chaetura andrei) - Ashy-tailed Swif

Geralmente, o povo o confunde com andorinhas de tamanho mais avantajado, mas o andorinhão é da família dos apodídeos, enquanto as andorinhas pertencem à dos hirundinídeos. Sua silhueta lembra uma meia-lua, com asas longas e pontudas, dirigidas para trás como um arco. Cauda curta e redonda. Sua semelhança corporal com as andorinhas se deve à evolução convergente para caçarem insetos em voo. São parentes dos beija-flores e, como estes, possuem pés e pernas muito pequenos.

Quem quiser encontrar grandes concentrações de tesourinhas em Araras/SP, indico dois lugares: um, a chaminé abandonada da fazenda Santa Cruz (onde eles pernoitam ao retornarem das migrações) – aliás, por esse hábito, eles também são conhecidos como andorinhões-das-chaminés. O outro lugar é a várzea do jardim Sobradinho, próximo à entrada da casa de máquinas da represa “Iate” (Hermínio Ometto), por sinal, até hoje, por mais que me esforçasse, não consegui descobrir onde pernoitam naquele local. Eles se reúnem em bandos no final de tarde, e desaparecem quando começa a escurecer, nisto, estão entre as últimas aves a se recolherem para o pouso noturno. Nas cidades, numa adaptação que ocorreu à partir de 1945, os andorinhões costumam dormir nas chaminés residenciais, e é interessante observar que, por mais que se esforce para descobrir onde eles pousam para o pernoite, é quase impossível localizar, pois eles desaparecem num piscar de olhos.

Durante o voo, os chamados atraem a atenção, pois são agudos e repetidos com insistência. É comum à partir de sua chegada na cidade, vê-los fazendo elegantes voos circulares e à grande velocidade sobre as casas, de asas arqueadas e quase imóveis, piando constantemente ("tip-tip-tpi...") e chamando a atenção por voarem quase sempre em número de três indivíduos. Provavelmente, se trata de cenas de cortejos e disputas de dois machos e uma fêmea.

Ao contrário da tesourinha, o andorinhão jamais pousa no chão, num galho ou fio na horizontal. Helmut Sick afirma que eles voam até mesmo acima das nuvens, e há registros de um exemplar que se chocou com um avião! Helio Moro Mariante afirma que os andorinhões podem voar em meio à chuva grossa, sendo fustigados pelo vento sem receio. O voar alto ou baixo depende primeiramente da altura do voo de suas presas, que são os insetos. Estes, muitas vezes voam baixo, quando já está chovendo, ou, então, imediatamente antes (ou depois) da chuva. Também a enxameação de içás (cupins e formigas), quando saem da terra, geralmente se dá após uma chuva leve, atraindo dessa maneira as aves (porque são um petisco para elas) e fazendo com que essas voem mais baixo que o normal.

Sick informa que de março em diante é migratório, partindo para o norte da Amazônia. De março a julho, p. ex., são vistos nas praças da cidade de Belém do Pará.

Chegada do andorinhão em Araras entre 1991 e 2023:

22-8-2024 - Rio Claro
29-8-2023 - Rio Claro
2022- sem reistro.
17-8-2021 - Rio Claro
21-8-2021 - Rio Claro, mas tive a impressão de tê-los ouvido uns quatro ou cinco dias antes.
17-8-2020 - Rio Claro
21-8-2019 - Rio Claro
2018 - sem registro
24-9-2018 - Rio Claro
21-8-2017
16-9-2016
06-9-2015
04-9-2014
18-9-2013
23-8-2012
25-8-2011
22-9-2010

03-9-2009
13-9-2008
30-8-2007
28-8-2006
02-9-2005
27-9-2004
09-9-2003
05-9-2002
22-9-2001
18-8-2000
27-8-1999
1998 - sem registro
1997 - sem registro
04-9-1996
15-9-1995
22-8-1994
1993 - sem registro
30-8-1992
10-8-1991

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TESOURINHA (Tyrannus savana) - Fork-tailed Flycatcher

É ave da família dos tiranídeos, a mesma do bem-te-vi, e o que lhe chama a atenção é a cauda longa bifurcada, que chega a atingir 29 cm, característica que lhe valeu o batismo popular.

É ave comum não só na zona rural como também na zona urbana, onde, por sinal, procria. Anos atrás vi um casal procriando no alto de um Sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides) no jardim da Biblioteca Municipal. Outro casal, vi-o com três filhotes, num pé de Tipuana (Tipuana tipu), a mais ou menos 2,5 mts de altura, no estacionamento da rodoviária municipal de Araras/SP (foto abaixo), à beira da rua num lugar de tráfico intenso. Ao contrário do andorinhão, a tesourinha chega a pousar no solo para caçar. Um fato que chama a atenção no tesourinha é que ele sempre retorna das migrações ao mesmo local de nidificação.

Dalgas afirma que o tesourinha deixa nossa região em fins de fevereiro e volta em setembro. Desse modo, na primavera migra do norte do País, chegando ao sul onde se reproduz, retorna no início do Outono. Sick informa que

“Fora da época da reprodução associam-se em bandos, que mi­gram para longe, às vezes a grande altura, lembrando as andorinhas; confluem na Amazônia às centenas ou milhares (p. ex., Manaus, agosto). No sul de Minas Gerais, as maiores concentrações de migrantes ocorrem em outubro/novembro. No Rio Grande do Sul desapa­recem em março, voltam em setembro. A rota de ida e volta para as regiões de ‘invernagem’ parece não ser sempre a mesma. A existência de várias raças geográficas, caracterizadas pela forma das penas primárias externas, permite saber a procedência de certos indiví­duos que fazem parte da enorme congregação mista na Hiléia durante o inverno austral. Enquanto indivíduos masculinos adultos da raça meridional (M. tyrannus tyrannus, Argentina a Mato Grosso) têm três primárias entalhadas na ponta, as raças setentrionais (como Muscivora tyrannus monachus, México até o Solimões, Amazonas, e M. tyrannus circundatus, baixo Tapajós, Pará) têm apenas duas primárias transformadas. M. tyrannus tyrannus migra até o Equador, Colômbia, Guiana, Curaçao e Trinidad.”

Como já disse, há um interessante hábito cerimonial feito pelos tesourinhas. O ornitólogo Dalgas Frisch, de acordo com suas observações, comenta este cerimonial:

“Os tesoureiros são particularmente famosos pelo es­tranho hábito de se reunirem em pequenos grupos de seis a dez indivíduos, ao anoitecer, em certas épocas do ano. No céu, cada vez mais escuro, pode-se então vê-los, reunin­do-se um a um, ou aos pares, para a exibição aérea, única no gênero. Movendo, agitadamente, as longas penas da cau­da, que imitam o movimento de uma tesoura, elevam-se e descem, em rápidas e ousadas acrobacias, ao mesmo tempo em que se chamam uns aos outros, com gritos altos e jo­viais, num espetáculo fascinante.”


O naturalista W. H. Hudson registrou anos antes esse cerimonial (Le Naturaliste a La Plata, 10ª ed., Paris, 1930, p. 186), e o texto foi traduzido por Eurico Santos, que viu nele algo como a “celebração duma festa íntima (...), onde houve uma espécie de cerimônia dançante”. O texto, muito curioso por sinal, traz outras informações:

“As tesouras, que sempre vivem em casais, costumam, pela tarde, ao descambar do sol, fazer convites umas às outras, por meio de pios, para se reunirem. Há nestes convites algo de superexcitação.
Juntos alguns casais, logo a seguir elevam-se em voo a grandes alturas e, após terem rodopiado alguns instantes no ar, daí se precipitam com violência que assombra, aos ziguezagues, caindo em "folha morta", para usar a expressão dos aviadores em seus voos de fantasia.
Durante esse passatempo coreográfico ouve-se um ruído característico, como o ranger das ferragens daqueles relógios antigos aos quais se dava corda por manivela, tendo-se a impressão das pausas, após cada vira-volta da chave.
Terminada a dança aérea, pousam as aves, aos pares, sobre o cume das árvores, e cada casal se une, numa espécie de 'duo' formado de ruídos, que se repetem e soam como castanholas”

Helmut Sick, registrou as vozes nestes cerimoniais: “tzig” (chamada) e uma sequência apressada “tizg-tizig-zizizi... ag, ag, ag, ag” (canto), que emite pousado ou em voo, deixando-se cair numa espiral, com a cauda largamente aberta e a posição das asas lembrando um pára-quedas. Abaixo, em ilustração de Paul Barruel, o cerimonial.


Ouça suas vocalizações aqui:

http://www.xeno-canto.org/america/XCspeciesprofiles.php?species_nr2=2688.00

Chegada dos tesourinhas em Araras entre 1991 e 2023

12-8-2023 - Rio Claro.
07-9-2021 - Araras
02-9-2020 - Rio Claro
26-8-2019 - Rio Claro
24-9-2018 - Rio Claro
23-8-2017 - Rio Claro
26-8-2016
03-9-2015
04-9-2014
12-9-2013
10-9-2012
10-9-2011
30-8-2010
23-8-2009
20-8-2008
30-8-2007
25-8-2006
31-8-2005
27-9-2004
06-9-2003
06-9-2002
14-8-2001
24-8-2000
27-8-1999
12-9-1998
12-9-1997
25-8-1996
09-9-1995
04-9-1994
04-9-1993
29-8-1992
03-9-1991

BIBLIOGRAFIA (11 fontes; consultar o autor)
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