segunda-feira, 14 de julho de 2008

ENTREVISTA INÉDITA: JOÃO RICARDO EXPLICA O FIM DOS SECOS E MOLHADOS!

Atenção, galera, diretamente da ARCA DO COBRA, uma entrevista inédita (na internet), sobre o polêmico fim da célebre banda Secos e Molhados. A entrevista foi publicada no jornal Hit Pop, encarte da revista POP, no distante setembro de 1974.

HIT POP ENTREVISTA JOÃO RICARDO: “OS SECOS E MOLHADOS JÁ EXISTIAM ANTES DO NEY E DO GERSON. POR QUE NÃO PODEM CONTINUAR SEM ELES?”

Entrevista a Carlos Eduardo Caramez



Com a saída de Ney Matogrosso e Gérson Conrad, os Secos e Molhados ficaram reduzidos a um só: João Ricardo. É o fim do conjunto? Não, diz o esperançoso João Ricardo. E afirma que o grupo pode sobreviver à deserção de sua maior estrela.

POP - Queremos que você conte, desde o início, como foi a separação dos Secos e Molhados. A sua versão oficial.

João - Eu prefiro que você me faça perguntas a eu contar uma história qual­quer. Não quero responder ao que vem saindo na imprensa, porque achei algumas matérias parciais e não acredito que o Ney tenha dito certas coisas que saí­ram nos jornais.

POP - Seus desentendimentos com o Gérson foram o resultado de uma disputa entre os dois?

João - Não. Nunca houve esse tipo de problema entre nós.

POP - Então por que a música Trem Noturno, de Gérson, não entrou neste último LP?

João - Porque não estava de acordo com a filosofia dos Secos e Molhados, musicalmente falando, inclusive.

POP - E qual era a filosofia dos Secos e Molhados? Era você que estabelecia as coisas ou tudo era feito mesmo de comum acordo?

João - Bem, nós éramos um grupo em que cada um tinha sua função especifica. A minha, mesmo antes dos Secos e Molhados, era compor. Eu componho desde os 15 anos de idade. Então, normalmente, as músicas todas eram minhas. O Gérson começou a compor a partir dos Secos e Molhados, do primeiro disco. Eu sugeri que ele compusesse. Era uma vontade que ele tinha, mas nunca tinha traduzido de forma definitiva.

POP - Havia um líder no grupo? Quem era, se havia?

João - Havia. Era eu.

POP - Até que ponto sua liderança influenciava o trabalho artístico do conjunto?

João - Eu tinha traçado métodos específicos para o grupo. E quando convidei Gérson e Ney para fazerem parte deste grupo, disse o que pretendia com ele. E já tinha até as músicas do primeiro disco. As músicas foram aceitas normalmente, nesse caso, ai que deu uma sorte dana­da: estourou em primeiro lugar, e o resto já se sabe...

POP - Em termos do conjunto, o que você mais lamenta?

João - Eu lamento na medida em que o Ney é um belíssimo intérprete e tem uma voz fantástica, ótima para o trabalho que eu estava desenvolvendo. Quando ele apareceu foi maravilhoso. E ia continuar sendo... Mas isso não elimina nada.

POP - Não havia um jeitinho para o conjunto continuar?

João - Veja bem: eu nunca quis forçar nada, com eles. Muito menos forçá-los a ficar comigo – isso era bobagem. Foram decisões puramente pessoais, em que eu não tinha que interferir.

POP - E qual foi o motivo mais fone para a separação?

João - Não houve uma razão especifica. Foi bom... Nós precisávamos dar uma parada, mesmo para uma renovação nossa. Independente de eles terem saído, era importante a gente parar para ver o que podia acontecer...

POP - Então, se tivesse ocorrido essa parada, poderiam voltar os três juntos e o grupo não acabava, não é?

João - Sim, mas aí o Ney desistiu, disse que não queria, que estava a fim de curtir uma outra...

POP - E você diz que mesmo saindo o Ney e o Gérson, es Secos e Molhados continuam?

João - Continuam, claro que continuam.

POP - Engraçado, isso. Você garante que um trio sobrevive sem sua grande vedete e sem o outro músico!

João - Claro, claro! É bom que todos saibam o seguinte: os Secos e Molha­dos já existiam antes do Gérson e do Ney. Acontece que houve um sucesso estrondoso com a segunda formação do conjunto, e a saída deles não implica em que eu interrompa meu trabalho. Entre sempre houve a possibilidade de cada um sair para o seu lado e fazer o seu trabalho.

POP - Os caras que eram do conjunto, antes, saíram ou você mandou embora?

João - Aí foi o contrário. Fui eu que dei o toque. Chegamos a fazer algumas apresentações e tal... Mas ai achei que era outra coisa o que eu queria, e fui tentar. Então convidei o Gérson, depois descobri o Ney, e estouramos. Agora, o que é importante é que o conjunto não terminou. Apenas saíram dois integrantes, que serão substituídos ainda não sei por quem.

POP - O que parece claro é que houve algumas disputas de liderança entre o Ney e você, e também problemas com relação a você boicotar as músicas do Gérson.

João - Não é nada disso, ninguém brigou com ninguém. O Ney chegou e me disse: “Olha, João, eu estou confuso e vou dar uma parada”. E parou mesmo. Quanto ao Gérson. não me falou nada. Eu fiquei sabendo que ele também tinha saído do conjunto quando li a notícia nos jornais.

POP - Tudo bem. Você insiste em negar as acusações do Ney e do Gérson, que os jornais publicaram. O que a gente quer saber então é: você não vai procurar o Ney e o Gérson para passar as coisas a limpo?

João - Não, em absoluto. Eu não vou procurar... Me acusam de um monte de coisas, e eu vou ter que levantar e ir à procura das pessoas? Eu também pode­ria pegar os jornais e falar um monte de coisas, mas aí já estaríamos entrando no nível da fofoca. E eu acho que não pode haver fofoca e gozação com uma coisa que foi muito bonita até agora, que é o Secos e Molhados. Uma coisa que foi feita realmente por todo mundo, pelo Ney, pelo Gérson, por mim – todo mundo deu o que tinha que dar, e foi belíssimo. E chegou a um nível muito alto. Por isso, nem acredito nas declarações do Ney que os jornais publicaram. Nada daquilo que os jornais publicaram é verdade. Eu tenho provas concretas disso.

POP - E o Gérson? Diz que você boicotou o trabalho dele.

João - A única coisa que eu posso dizer é que ele nunca reclamou disso, nunca houve esse tipo de problema. Eu tenho milhares de composições, desde os 1 5 anos de idade. É só fazer uma análise entre as minhas e as composições dele...

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MORACY: “A GANÂNCIA ESTRAGOU TUDO!

Moracy do Val, ex-empresário dos Secos e Molhados, estava na porta do circo onde está apresentando Godspell, no Rio, quando chegou Gérson Conrad com um jornal na mão: “Olha, o conjunto acabou. Vim pra te comunicar pessoalmente”. E não falou mais nada. Mas Moracy abriu o jogo.

POP - Você, que foi acusado de má administração, como é que está se sentindo agora?

Moracy - Moralmente restabelecido, embora um pouco triste. Enquanto es­tive à frente do grupo, o faturamento era excelente e ninguém chiava por causa de dinheiro.

POP - Então que vem a ser a sua má administração?

Moracy - Foi a forma mau-caráter que pai (João Apolinário) e filho (João Ricardo) inventaram para meter a mão no tutu do grupo.

POP - Quem foi o responsável pela sua saída?

Moracy - A ganância de João Ricardo. Ele transformou os Secos e Molhados numa máquina de ganhar dinheiro em seu próprio beneficio.

POP - Como assim?

Moracy - Em princípio, não reconhecia o talento de Gérson como compositor. Até aí parece que é só vaidade. Mas não é. O grilo está nos direitos autorais, que rendem dinheiro.

POP - E por que o Gérson só chiou agora?

Moracy - Antes ele já chiava, sim, mas só de leve.

POP - E como era que o Ney reagia?

Moracy - Ele é uma figura humana sensacional e um excelente profissional. Ele calou muitas vezes para não precipitar os acontecimentos. Mas ficava muito triste e magoado.

FONTE:

Contatar autor.

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terça-feira, 8 de julho de 2008

AS INSCRIÇÕES FEITAS NAS CASCAS DAS ÁRVORES VÃO PARA CIMA ENQUANTO ELAS CRESCEM?

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“Lendo-os, a gente repassava um dos
mais interessantes capítulos da história
da fazenda. Quem não gosta de um lugar
não deixa espontaneamente nele,
como um pouco de si, o seu nome.”
(...e os Campos de Jordão foram Pindamo-
nhanguaba. Balthazar de Godoy Moreira. 1969)


“Ai! coqueiro do mato! Ai! Coqueiro do mato!
Em vão tentas os céus escalar na investida...”
(Juca Mulato. Menotti del Picchia. 1917)



Não são poucas as pessoas que acreditam que uma inscrição feita na casca de uma árvore vá aos poucos subindo para o alto, imaginando que o tronco cresça para cima. Nada mais equivocado, no entanto esta é uma lógica oriunda mais do universo infantil do que do de adultos, embora entre estes existam crentes nesta falácia. Eu próprio, nos meus tempos de adolescente, fiz uma poesia falando algo semelhante. O assunto dá ibope: em 1998 foi tema de uma questão no vestibular de Biologia da Unesp de Rio Claro, São Paulo.

A crença é antiga e oriunda da poesia bucólica latina. Virgílio (71-19aC) faz menção ao fato em sua obra Bucólicas (X, 52-54); Ovídio (43aC-17dC) cita-o em seu livro Heróides (23), bem como Petrônio (14aC-66aC), que escreveu sobre uma árvore que cresceu e um ramo encobriu as inscrições: Crescit arbor, gliscit ardor, ramus implet litteras. O engano passou da antiguidade à literatura moderna. Vou citar dois exemplos. O primeiro, do poeta brasileiro Fagundes Varella (1841-1875), na poesia "As Letras":

“Na tênue casca de verde arbusto
Gravei teu nome, depois parti;
Foram-se os anos, foram-se os meses,
Foram-se os dias, acho-me aqui.
Mas ai! o arbusto se fez tão alto,
Teu nome erguendo, que mais não vi!
E nessas letras que aos céus subiam
Meus belos sonhos de amor perdi”

O segundo, "Versos de circunstância", é de Jean Cocteau (1889-1963), poeta, dramaturgo, romancista e desenhista francês:

“Em vez de gravá-lo em mármore,
Guarde teu nome numa árvore,
Que ela crescendo, há de ver
Teu nome também crescer”

A título de curiosidade, transcrevo aqui a estrofe de minha infeliz poesia:


“Num gomo de velha palmeira
Gravei meu romance a punhal
No tronco que no céu mergulha
Lá onde não pisa o mortal.”


Desde as primeiras expedições dos catalães e portugueses, tinham os navegantes o costume de gravar os seus nomes em árvores, destacando as espécies baobá (Adansônia digitata) e a dracena (Dracaena draco), que, obviamente, não é o conhecido arbusto ornamental. Nem sempre o faziam por veleidade ou vão desejo de glória; muitas vezes a inscrição era para eles uma espécie de marco, algo como um símbolo de posse, um meio de assegurar à sua pátria os direitos de primeiro colonizador. Os navegantes portugueses escolheram, com frequência, para este fim, a bela divisa do infante D. Henrique, duque de Vizeu: Talent de bien faire

Essas árvores, por seus troncos largos e robustos, era um prato cheio àqueles que gostavam de praticar tais hábitos. A descrição mais antiga de que se tem notícia do baobá data do ano de 1454; é a do veneziano Luís Cadamosto, cujo verdadeiro nome era Alviso ele Ca-da-Mosto. Encontrou ele, na desembocadura do Senegal, onde se juntou a António Usodimare, troncos cujo circuito avaliou em 17 toesas ou seja, aproximadamente, 33 metros. Pôde compará-los com as dracenas que de antes tinha visto. Perrottet, na sua Flora de Senegâmbia, diz ter achado baobás que mediam 10 metros de diâmetro por 23 ou 26 apenas de altura. O botânico Michel Adanson (1727-1806) indicou dimensões iguais na descrição de sua viagem feita em 1748. Os maiores troncos de baobás, que viu com os próprios olhos em 1749, uns nas ilhotas Madalenas, próximo de Cabo Verde, outros na desembocadura do Senegal, tinham de 8 a 9 metros de diâmetro e 23 de altura, com uma coroa de 55 de largura. Adanson acrescenta, porém, que outros viajantes encontraram troncos que chegavam a ter 10 metros de espessura. Navegantes holandeses e franceses tinham gravado os seus nomes nas cascas em letras de 16 centímetros de comprimento. Uma destas inscrições era do século XV, e não do XIV, como, por equívoco, Adanson afirma em sua obra Famílias das plantas, publicada em 1763. Outras não datavam de mais além do século XVI. Adanson calculou a idade das árvores, pela profundidade das incisões que tinham sido cobertas por novas camadas de madeira, e também comparando a sua espessura com a dos troncos das árvores da mesma espécie cuja idade era sabida. Para um diâmetro de 10 metros, Adanson achou uma idade de 5.150 anos.



Quanto ao fato de se crer que uma inscrição numa casa de árvore vá para o alto com o suposto crescimento do tronco e, por isso mesmo, não ser mais visível do chão, há certas espécies que possuem tal capacidade de regeneração que os talhos feitos em sua casca desaparecem por completo com o passar dos anos – uma explicação simples para o sumiço ou a “invisibilidade” de uma inscrição.

O viajante português Augusto Emílio Zaluar, em sua obra Peregrinação pela província de São Paulo – 1860-1861, cita um caso clássico envolvendo D. Pedro I: certa feita, o imperador passando por Guaratinguetá, deixou suas iniciais numa figueira monumental que se situava na entrada da cidade. Zaluar escreveu:

"Aí pernoitou esse dia, e foi por ocasião que entalhou a sua inicial no tronco da figueira. A árvore hoje tem crescido a ponto que as letras P. I., que então ficavam na altura do braço de um cavaleiro, agora tem a elevação de mais de três homens".

Agora, o biólogo e desenhista de botânica Wenilton vai falar: na verdade, o desenvolvimento de uma árvore ocorre de duas maneiras: a primeira pelas extremidades de todos os ramos, nos quais há um grupo de células que se dividem, fazendo-os alongar; a segunda, pelo câmbio, que é uma camada de células que recobre a parte do lenho da árvore. Quando as células do câmbio se dividem, o tronco, os galhos, os ramos e as raízes tornam-se mais grossos. (Na foto, inscrição minha em coqueiro em frente a casa onde eu morava na Usina Palmeiras; ela está na mesma altura de quando foi feita, quando tinha uns 10 anos. Saudades...)

Enfim, o fato de uma inscrição numa árvore ir para cima não passa de mera crendice popular – uma mentira pra lá de cabeluda! Verdade mesmo, só o daquele causo estrelado por um famoso contador de histórias ararense – o velho Civilico que, certa vez, esqueceu seu relógio dependurado numa pequena árvore quando foi pescar e, anos depois, retornando ao local, viu o mesmo lá em cima, num galho da árvore já crescida, e, pasmem, funcionando.. É que um raminho de cipó dava corda no bichinho enquanto crescia!... Êta fumico forte!


BIBLIOGRAFIA (9 fontes):
Contatar o autor.
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O CORUCÃO, UM CURIANGO AMANTE DAS LUZES DA CIDADE

Nas noites de inverno ararenses, quem tem o hábito de olhar para cima, seja para ver a lua, o céu estrelado ou as nuvens, não raro se depara com algumas aves brancas fazendo evoluções sobre as luzes da cidade. Trata-se da ave conhecida popularmente como corucão (Podager nacunda), um tipo de curiango, ave pertencente à família Caprimulgidade. É espécie corpulenta, notável pelo porte, tendo 29,5 cm de comprimento e 71 cm de envergadura.

Chama a atenção pelo branco intenso do ventre, cor esta também encontrada no pescoço anterior, na extremidade da pequena cauda (macho) e nas extremidades medianas das asas (remiges primárias), sob a forma de uma larga faixa. O alto da cabeça é de cor marrom-escuro, o dorso também, porém salpica­do de manchas pretas e amareladas. Os sinais brancos, mais desenvolvidos no macho, se destacam vivamente nas horas do crepúsculo, e na barriga são tão reluzentes que podem passar à cor-de-rosa quando expostos à luz do sol poente – esses sinais podem fazer com que a ave se assemelhe à um quero-quero (Vanellus chilensis), com o qual divide o mesmo habitat, ou a mocinha-branca (Xolmis coronata). Sua plumagem desarmônica e policrômica o camufla perfeitamente no ambiente em que vive, e só nos damos conta de sua presença no momento em que, espantados por nós, alça vôo subitamente dentre as moitas de capim rasteiro. Caso isto aconteça, o bando poderá facilmente ser localizado, bastando para isso olhar atentamente os arredores. O autor localizou um bando nos capinzais recém-cortados e queimados do jardim Rosana, e só deu conta dele quando alguns exemplares levantaram vôo, pois estavam perfeitamente camuflados entre as cinzas e carvões da queimada recente de capinzais, sendo mesmo quase impossível localizá-los (foto acima). O bico é provido de cerdas (vibrissas) tal corno os pelos sensoriais dos gatos, atribuindo-se à eles diversas funções. Os pés são pequenos, sendo que a unha do dedo médio possui também pequenas cerdas, dando-lhe o formato de um pente (unha pectinada). Este motivo, os distingue dos quero-queros, pois o corucão fica o tempo todo repousando com o ventre colado ao chão, enquanto os quero-queros caçam insetos caminhando entre a vegetação.

Sua silhueta de vôo (desenho), muito bonita quando vista de frente, é semelhante ao mocho-dos-banhados (Asio flammeus). Muito hábil no voar, é um verdadeiro acrobata aéreo – para perseguir os insetos em seu vôo irregular, faz manobras rápidas e ágeis, dá mergulhos fulminantes, freadas inesperadas em vôo reto, faz curvas abruptas para qualquer lado e ângulo. Chega até a librar no ar como os beija-flores, combinando o vôo rasante dos andorinhões (Apodidade sp.) com o voar ondulado dos quero-queros, tudo em movimentos silenciosos devido à maciez de suas penas.

Costuma sair do repouso cerca de meia hora depois do pôr-do-sol, não levantando vôo juntos. Caça em bandos, à procura de insetos, voando alto por cima das águas e dos campos, quando patrulha seguidamente uma área e faz mudanças bruscas de direção.. Chega a voar durante o dia, caso as nuvens obscureçam o sol. Pousa em estacas, e chega, à noite, a pousar próximo dos refletores das praças, fato observado pelo autor na praça “Calçadão”. Nas horas de caça, são facilmente visíveis no céu com seus vultos brancos destacando-se sobre à iluminação urbana refletida no céu. Nos eventos noturnos no Parque Ecológico, na época de inverno, chamam a atenção por caçarem voando alto por sobre as luzes do recinto. Em regiões selvagens, se avistam queimadas, lá se vai o bando a caçar os insetos expulsos pelo fogo, e chegam a voar tão baixo e de modo arriscado, que podem ser vistos à luz das labaredas. O fato de o corucão caçar sobre as luzes das cidades, talvez seja uma modificação desse hábito primitivo. Durante o período das secas, que vai de abril à setembro, são vistos mais facilmente à noite caçando insetos à grande altura sobre a luz laranja dos refletores de vapor de sódio (lâmpada Lucalox): essa luz com cor alaranjada semelhante à dos crepúsculos, o corucão tem por ela uma predileção especial. Ao que parece, junho é o mês que o corucão começa a freqüentar a zona urbana em busca de insetos. Aliás, desde que a administração municipal começou a trocar as luzes de vapor de mercúrio das ruas e avenidas (que desde meados da década de 1960 davam uma luminosidade azulada à cidade) pelas econômicas lâmpadas de vapor de sódio, os corucões começaram a caçar de modo disperso na zona urbana, ao contrário do que acontecia no início da década de 1990, quando poucos edifícios usavam esta última luz, como, p. ex., p. ex.. a Torque, a Civemasa e a igreja Matriz. Esta adaptação às luzes urbanas, é provável que possa levar o corucão à sinantropia, ou seja, à buscar gramados para repouso diurno dentro da zona urbana, fato que se deu há muito tempo com o quero-quero, que começou a freqüentar os campos de futebol.

Em setembro de 1970, a Enciclopédia Bloch fez uma previsão que levou cerca de 25 anos para se cumprir: “Dentro de pouco tempo, as cidades serão mais belas à noite. É que suas avenidas, ruas e praças estarão iluminadas pela lâmpada Lucalox – criada e desenvolvida por engenheiros norte-americanos. A Lucalox, utilizando o vapor de sódio metálico em altas temperaturas e pressões, apresenta uma eficiência de quase o dobro das grandes lâmpadas a vapor de mercúrio. E isto, além de proporcionar um índice de iluminação jamais atingido, significa uma sensível redução de postes e luminárias dos tempos atuais. (...) Trata-se da maior fonte de luz artificial jamais conseguida pelo homem, que utiliza o vapor de sódio metálico em altas temperaturas. Montadas em postes de 9 metros, espaçados de 26 metros, apresentam uma eficácia de mais de 100 lúmens por watt, quase o dobro das grandes lâmpadas de vapor de mercúrio. Em futuro próximo, segundo a previsão dos cientistas, as cidades, praças, ruas, aeroportos e todas as grandes áreas que necessitem de grande iluminação poderão manter excelente luminosidade com muito menos luminárias e postes, graças à Lucalox, considerada a luz do futuro.”

O corucão não tem um canto atrativo como os curiangos comuns. Costuma, como a maioria, cantar com mais freqüência nas horas crepusculares e em noites de luar. Voz: “pro-pro-pro...”, “trro ttt-rro” ou “prrr-du” (canto conto um sapo, seqüências prolongadas).

Ouça no link abaixo algumas vocalizações do corucão:

http://www.xeno-canto.org/sounds/uploaded/BEYMZHZHIB/Podager_nacunda.mp3

http://www.xeno-canto.org/sounds/uploaded/AOPMSCIDIA/Podager_nacunda_SC.mp3

http://www.xeno-canto.org/sounds/uploaded/BEYMZHZHIB/Podager_nacunda_III.mp3


O corucão não faz ninhos, pondo diretamente sobre a terra, areia ou pedras. Em geral, põe dois ovos elípticos, com os pólos iguais. São muito miméticos, fortemente salpicados.

Além dos locais citados, o corucão pode ser encontrado em paisagens abertas, pastos, campos limpos próximos dos curso d’água e cerrados. Um lugar da cidade onde ele pode ser encontrado durante o dia é nos gramados do aeroclube.



Veja alguns vídeos do corucão nos links abaixo:

http://ibc.hbw.com/ibc/phtml/votacio.phtml?idVideo=4759&Podager_nacunda

http://ibc.hbw.com/ibc/phtml/votacio.phtml?idVideo=4758&Podager_nacunda

* Fotos e desenhos do autor.

FONTE:

Contatar autor.
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segunda-feira, 7 de julho de 2008

AS CRIANÇAS FRENTE AO AQUECIMENTO GLOBAL: OS CIENTISTAS DO AMANHÃ

V-Newton Daltro - biólogo e escritor


Você, amigo, um dia, já parou para pensar qual a influência que os noticiários diários sobre o aquecimento global causam na cabeça das crianças? Quem poderia calcular qual o impacto que todo esse enchurrada de informações catastróficas têm numa mente jovem e ainda em formação?

Sabe-se que muitas das informações que uma criança absorve nesse período da vida em que o espírito é livre, curioso e despreocupado, ficam mais facilmente gravadas em sua memória receptiva, deixando assim uma recordação mais vívida, sentida e duradoura, não importa se se coisas felizes ou não. Este fato, há muito foi confirmado pelo antigo alienista espanhol Juan Luis Vives, que concluiu que o quê vemos ou ouvimos nos primeiros anos de nossa juventude, relembramos com mais facilidade e precisão quando adultos, por que nessa época “contemplamos tudo como novidade e observamos cuidadosamente o que nos produz admiração e assim é nossa alma”. E esses assuntos ecológicos, por seu próprio tom alarmista, faz com que algo mude dentro das crianças, mas algo que os impregna de alguma espécie de emoção isenta de qualquer convenção normativa – nestas cabecinhas tão temerárias quanto mal-formadas, não há ainda o domínio simbólico para processar tudo o que ouvem.

Para usar a mim mesmo como exemplo, lembro-me que, quando menininho, ouvi dizer que “o Rock ia acabar” – e realmente se dizia isso àquela época! – e eu fiquei realmente preocupado e, inocentemente, perguntei a mim mesmo quando isso poderia acontecer!... Noutra, eu brincava com a bolinha de borracha (uma "perereca") de um amigo com muito mais idade que eu, e ele me pedia que, a cada arremessada, eu batesse com a bola cada vez mais forte no chão; e assim o fiz, e, a cada vez, a bola ia mais alto para cima. À certa altura, bati a bola com tanta força no chão que ele gritou: – “Não bate tão forte assim, que a bolinha vai entrar em órbita!” Eu arregalei os olhos e, em minha ingenuidade, fiquei apavorado!... Estávamos em plena era fascinante das conquistas espaciais e o assunto da moda era “o homem em órbita em volta da Terra”, “o homem em órbita da Lua”, e eu estava começando a ser seduzido pelo assunto, portanto, justificava-se minha reação sobre a tal da bolinha entrar em órbita... Tem outra: com certeza, o milésimo gol do Pelé foi uma verdadeira paulada na minha cabeça, mas o milésimo do Romário... ah, foi uma piada – particularmente, é um feito, mas só se pisa uma primeira vez na Lua...

E as reações de muitas crianças, após ouvirem falar dos prováveis cataclismas que nos aguardam, têm sinais de comportamento compulsivo – medo e pavor são as palavras recorrentes. Ansiedade e mesmo pânico são relatados por pais e educadores. Normalmente, as crianças não tem a mesma capacidade de discernimento dos adultos, e costumam amplificar e superestimar os efeitos daquilo que ouvem – para usar uma expressão que vem a calhar, “criam tempestades em copos d’água”. As reações de algumas crianças chegam a ser hilárias, misturando realidade e fantasia: uma delas, citada num jornal, disse que ia haver “uma infecção global” que ia acabar com o mundo quando ela crescesse! Outra, acreditava que a água ia acabar mesmo, fato, aliás, que os próprios adultos acreditam, mas, o nível de água existente no planeta não se altera nunca – o que acontecerá é que as formas de se obtê-la é que tornarão mais difíceis – a quantidade de água que se perde no espaço é irrisória, e cometas e hidrometeoros, de tempos em tempos, injetam certa quantidade d’água no planeta ao adentrar a atmosfera. Uma criança foi mais realista: “A água de beber vai acabar, mas a água do mar vai aumentar, e invadir as cidades da praia.” As crianças cariocas imaginam mesmo que a cidade será invadida pelo mar, debaixo de uma violenta tempestade de água, ventos e raios. O caso mais engraçado é o de uma criança que, ao ver sua mãe acender um incenso, pediu a ela que o apagasse, para não “por em risco” a camada de ozônio!...

É uma pena que, à maioria de nós, esses temas não causem o mesmo impacto e a preocupação que causam às crianças, e, ainda que rações pueris, não tenhamos as mesmas sensações e temores delas, o que, por um ponto de vista positivo, poderia exigir de nós medidas mais imediatas e eficazes.

Por outro lado, todo esse manancial de informações alarmantes, muitas vezes, vão ao encontro de suas inclinações inatas, inclinações estas, que dependendo da criança, convém frisar, são mais de cunho existencial do que meras curiosidades de criança aprendiz. E isso tem um lado bom: em geral, quando adultas, terão elas uma consciência sobre estes problemas de maneira mais profunda que nós, e muitas delas poderão vir a trabalhar em áreas científicas no futuro, fato que se deu, em termos, com este que vos escreve. A escritora adventista Ellen White, era da opinião que “Pelos pensamentos e sentimentos alimentados nos primeiros anos, determina cada jovem a história de sua vida”, e, assim, creio, serão esses os frutos gerados pelas preocupantes transformações ecológicas dos dias atuais: o surgimento de uma nova classe de cientistas que, trabalhados pelas dores próprias, transformarão suas vidas em instrumentos que determinarão uma nova era na história do planeta.

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PS: A ilustração, é recriação minha para a pintura “O Grito”, de Eduard Munch, em que inseri a célebre e infeliz criança atingida por uma bomba napalm na guerra do Vietnã. - ela é Kim Phuc, menina que viria a se tornar um símbolo da atrocidade inerente às guerras, ao ser registrada em deseperada fuga com outros meninos e meninas. Sua imagem revelaria a impotência das vítimas durante os sucessivos confrontos e seu desespero nas covardes desvastações. E tempo, recordemos que as guerras se incluem entre os principais agravadores do efeito estufa, e as crianças estão entre as suas maiores vítimas.


O GRANDE COMETA MCNAUGHT EM JANEIRO DE 2007: UMA BELA SURPRESA QUE POUQUÍSSIMOS FELIZARDOS VIRAM!...


Novamente, a humanidade pôde presenciar a chegada um novo e grande cometa brilhante cruzando o Sistema Solar, o MCNaught, descoberto em agosto de 2006.

A foto acima, do McNaught (com zoom de 12 vezes), foi feita por mim a partir dos capinzais do lado sudoeste do Jardim Rosana – um dos melhores pontos para a observação do lado leste da cidade. Infelizmente, havia muitas nuvens no céu, e não pude fazer uma tomada melhor, mostrando a cauda em sua totalidade.

Tão estranho quanto frustrante é se chegar à conclusão que, quanto mais retornamos no tempo, mais incríveis e impressionantes são os eventos astronômicos. Os cometas e chuvas de estrelas, fenômenos tão freqüentes e deslumbrantes no século XIX e nos anteriores, no seguinte deixaram a desejar, acontecendo raramente e, ainda assim, timidamente; e o nosso século, pelo que se constata, lamentavelmente, até o momento, ainda não soube repetir à altura um destes raros eventos astronômicos que encantaram e assombraram os nossos afortunados antepassados.

Só para ficar em alguns exemplos significativos, no século retrasado tivemos diversos cometas gigantes. Destacam-se: o primeiro, em 1811, o cometa Flaugergues, o maior objeto do Sistema Solar do ano, cuja cauda atingia 70° (metade do céu tem 90°), e foi visível por mais de um ano; o segundo, em 1843, também com 70° de cauda, que foi visto à olho nu e em pleno meio-dia. Depois, em 1858, tivemos o Donati, famoso por sua cauda tripla que atingia 50º; o Tebbutt, que teve seu apogeu de brilho entre setembro e outubro de 1861, e pode ser visto à olho nu durante 9 meses, com caudas gêmeas brilhantes, uma reta e uma curvada, e, por fim, o de 1864, o cometa Tempel.

No século seguinte tivemos , em 1910, a fenomenal aparição do Halley e a do Ikeya-Seki em 1965 (foto cima) – um cometa belíssimo! – e, desde então, lá se vão trinta anos que o mundo não vê a aparição de um cometa razoável – me refiro ao cometa West (foto abaixo), que aparecera em 1976.

Foi o astrônomo australiano Robert McNaught quem descobriu este novo cometa e o batizou com seu nome. Era um cometa pequeno e as previsões sobre sua performance não eram muito promissoras – como tem acontecido com muitos cometas recentemente, ele faria a sua costumeira trajetória em torno do Sol e não chamaria muito a atenção. Mas os cometas são astros imprevisíveis e nunca se sabe com precisão como eles vão reagir aos ventos solares que incidem em sua coma (a “cabeleira” do cometa) e a esfolam formando uma cauda. Mas, felizmente, o McNaught foi uma grande surpresa para a comunidade astronômica: mal começou a se aproximar do Sol e ficou cem vezes mais brilhante que o Halley em 1986, e seis vezes mais que o Halle-Bop em 1997. O McNaught pôde ser visto a olho nu, e o seu comprimento equivaleu à 1 grau no céu, ou seja, o diâmetro de duas luas cheias. Ele podia ser visto após cerca de meia hora acima do lugar onde o Sol se punha, porém, ele era melhor visualizado um pouco mais tarde, à partir das 20h30, assim, o céu estaria um pouco mais escuro e era melhor o contraste entre sua luz e o fundo do céu.

Outra bela foto estrangeira do McNaught

O grande problema deste cometa foi que a mídia brasileira o noticiou tardiamente, e ele já estava se despedindo do Sistema Solar, sendo que o melhor dia para sua observação foi 15 de janeiro (chovia em Araras). No entanto, durante ainda uns dois ou três dias ele pôde ser visto com facilidade a olho nu, mas, como ele estava se afastando do Sol, por volta dia 20/01 foi necessário o uso de um binóculo ou telescópio.

Até o próximo grande cometa! Se Deus quiser...

Veja no link abaixo as belíssimas fotos do McNaught feitas em todo o mundo:

http://www.nightskyhunter.com/Comet%20Mc%20Naught%20Gallery.html

Aqui, uma belíssima foto do Mc Naught, por Stephane Guisard, Santiago de Chile, nos Andes, 13000 pés de altitude. Repare a lua nova à direita. A foto foi feita no dia do meu aniversário: 21 de janeiro de 2007 - presente melhor, impossível!...

Dica: clique na foto para vê-la maior; depois de aberta, clique F11 no teclado.