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segunda-feira, 13 de julho de 2009

UMA GRANDE REVISTA SETENTISTA, A “GERAÇÃO POP”

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Ler essa revista não é voltar ao passado,
mas sim reconhecer que o passado não é 
obrigatoriamente substituído pelo presente
apenas pelo frescor do seu tempo, mas sim
pelo frescor de sua criatividade.”
(Ludmilla Rossi, 2009)



É um consenso nos meios midiáticos de que a década de 1970 tornou-se um marco cultural do século XX, principalmente para os jovens – foi quando no Brasil surgiram as primeiras publicações destinadas aos rockeiros. Nesta época pré-internet, em se falando da mídia escrita, essas revistas específicas eram os únicos meios de os jovens de então obterem maiores informações sobre bandas e discos lançados. Na esteira dessa avalanche conhecida como “cultura pop”, em princípios dos anos 70, a Editora Abril lançou a revista Geração Pop, publicação que durou 82 edições – de novembro de 1972 (foto) a agosto de 1979 –, e influenciou uma geração não só de jovens, mas de artistas, jornalistas, editores, estilistas e outros setores envolvidos com a arte e cultura. Esta revista foi um marco editorial do período, pois não houve no Brasil uma publicação que retratasse tão bem e de maneira diversificada as tendências de uma década riquíssima culturalmente falando, década esta ainda hoje tão cultuada e imitada. 

Propaganda da Pop num exemplar de revista Veja de 6 de junho de 1973:


O internauta Márcio Baraldi, do blog Arca do Barata, escreveu sobre estes tempos “deficientes”:

“O difícil era que a gente tinha que esperar ao menos um mês a chegada da edição da revista na banca de jornais perto de casa para ficar sabendo dos lançamentos das nossas bandas prediletas... Lá fora, pois aqui também lançamentos de discos demoravam um ou mais anos para chegarem.”

Também conhecida apenas como Pop, já que o logotipo punha esta palavra em destaque, era basicamente um veículo de música pop. Hoje é considerada uma publicação antecessora da BIZZ no jornalismo musical da Editora Abril, revista semelhante extinta recentemente, em agosto de 2007. Comparadas, a tendência da Pop era mais comportamental, e não se prendia somente ao rock, mas a outros estilos populares da música jovem, como a soul music e a discoteque, o pop romântico, e também a MPB. Muitos outros assuntos de interesse dos jovens eram encontrados nesta revista, abordando temas como sexo, misticismo, moda, fotografia, cinema, aparelhos de som, sugestões de LPs, livros, hit parade, carros e motos, esporte radicais como o surf e o skate, e muito antes de qualquer publicação especializada, talvez a Pop tenha sido a primeira a abordar estes dois últimos esportes. Diversos nomes importantes do jornalismo passaram por ela, como Caco Barcelos, Ezequiel Neves, Júlio Barroso, Okky de Souza, Leon Cakoff, Pink Wainer (filha da Danuza Leão), o fotógrafo Mauricio Valadares, José Emilio Rondeau, Ana Maria Bahiana, Peninha Shimidt, o DJ Big Boy, o escritor e produtor Nelson Mota, etc.
Surpreendente notar na revista que, em matéria de visual de moda jovem e comportamento, há fotos, p. ex. de jovens em praias, surfistas e garotas “cocotas” de biquíni que parecem ter sido feitas hoje, embora haja coisas datadas. Veja estas fotos do ano 1976/77, portanto, há mais de 30 anos atrás e confira: ou os anos 70 estavam à frente de seu tempo ou o século 21 não evoluiu muito nesse quesito... Dúvida do que afirmo? Pois então, folheie uma revista da década de sessenta com cenas praianas, e você vai ter de rever suas opiniões...
Para provar que a revista ainda causa impacto, leia esse depoimento da blogueira Ludmilla Rossi:

“Voltando a revista Geração POP, minha mãe me trouxe essas revistas, sobre as quais eu jamais tinha ouvido falar. Sou de 82, a revista nasceu uma década antes de mim, em 1970 pela Editora Abril. Me emocionei ao abrir os exemplares e meus olhos encontrarem a estética que eu facilmente adotaria hoje para viver. Me senti mais confortável e ambientada com o mundo que eu encontrei na Geração POP do que o que eu encontro na NOVA.
(...) Depois de 36 anos, que mantiveram sacos plásticos e a rotina afastando as revistas dos meus olhos, a Geração POP não conseguiu acompanhar as tendências musicais atuais. Mas ela nunca precisou mesmo fazer isso. Ela encontrou seu nicho, chegou ao seu target com um atraso de quase quatro décadas. A maior parte dos artistas presentes em suas páginas não deveriam ser substituídos por tendências atuais. Ler essa revista hoje não é voltar ao passado, mas sim reconhecer que o passado não é obrigatoriamente substituído pelo presente apenas pelo frescor do seu tempo, mas sim pelo frescor de sua criatividade. Tomorrow may be even brighter than today.
(Eu disse, maybe).”


Sobre o desaparecimento da revista, curiosamente, o site Observatório afirmou que

“A decadência da revista se deu porque ela não conseguiu acompanhar as tendências musicais atuais. Sobre o punk rock, arriscou-se a fazer matéria fictícia, com dois meninos de rua, aparentando pivetes, que seriam integrantes de um inexistente grupo de punk rock. Foi sua sentença de morte.”



A princípio, achei que essa informação podia não ser verídica, já que a citada matéria não foi publicada no último exemplar lançado o de Nº 82, de agosto de 1979, mas o blog Lágrima Psicodélica trouxe o seguinte:

“Entre as curiosidades que volta e meia saíam na Pop, (...) uma reportagem com a primeira banda punk de São Paulo, Os Filhos da Crise. Filhos da Crise?
Segundo Antonio Bivar, o grupo nunca existiu: alguém da revista deve ter pego uma foto num arquivo qualquer e lançado o factóide. Haviam alguns punks no Brasil sim, mas eles ficariam na encolha até pelo menos 1982. E como não havia internet, as gangs de punks espalhadas pelo país não sabiam que não eram as únicas.”



Uma tese de pós graduação, de autoria de Cassiano Scherner, da PUCRS, intitulada “A questão da crítica musical nas revistas musicais brasileiras especializadas em rock” (2008), traz a seguinte justificativa para o desaparecimento da revista:

“Até o presente momento, das duas revistas analisadas (Rolling Stone e GeraçãoPOP), percebemos que as matérias sobre o rock brasileiro eram bastante inferiores em relação ao rock estrangeiro. Isto confirma uma tendência da época, que denominamos de “Pós Tropicalismo”, onde ainda era muito incipiente falar em rock brasileiro no sentido de buscar um caráter voltado para a indústria cultural, como era no estrangeiro. Pelo contrário, apesar de buscar focar no mercado jovem, este mercado não existia, fosse ligado pelo rock ou por outras formas de consumo. Eis, portanto, a razão que ambas as publicações não terem tido longa longevidade no mercado editorial voltado para a música jovem no Brasil dos anos 70. ‘Juventude nos anos 70 não dava ibope’, afirmou um jornalista (Okky de Souza)) que integrou a revista Geração Pop’. Ressaltamos que pelo fato da pesquisa ainda estar em andamento, outros resultados ainda irão surgir e que deverão ser incluídas em futuras avaliações.”

Enfim, esta é uma revista que deixou muitas saudades, e eu fui um desses garotos que não via a hora de, todo início de mês, ir buscar ansiosamente o meu exemplar nas bancas. Depois, era só ir à loja de discos e comprar os discos anunciados. Devo muito à Pop, pois muito do literato que hoje sou devo às suas leituras. Lembro-me que à ela fui apresentado por um primo meu, o Donizete Rocha – que andava com meus irmão mais velhos. Na casa dele vi pela primeira vez um quarto com as paredes recheadas de posters de bandas de rock, carros, motos, gatinhas, e eu pirei! O Doni a comprava mensalmente, e, em sua casa, folheando suas revistas passei a comprá-las também. Fiz besteiras imperdoáveis: além dos números que eu mesmo comprei, ganhei muitos exemplares antigos de outros amigos, e, quem sabe se hoje eu não tinha a coleção completa, mas ocorreram alguns problemas com “amigos” e perdi diversos números, infelizmente.

e, quem sabe, eu tinha a coleçnehi duas coleçbncasocha, que a comprava mensalmente e tinha seu quarto recheado de posters.
Vou postar aqui um presente para os leitores, um exemplar desta revista (nº 2, out. 1972, 106 páginas), que, trabalhosamente, eu escaneei e transformei em arquivo pdf para facilitar a leitura. Asseguro que folheá-la (e lê-la...) é uma agradabilíssima e nostálgica viagem no tempo. A propósito, os números remanescentes que possuo são estes: 2, 3, 7, 12, 13, 16, 17, 20, 28, 31, 33, 39, 41, 48, 53,58, 60, 62, 67, 68, 69, 74, 75, 77, 80 e 82. Esse 26 exemplares valem ouro e guardo-os como um tesouro! Além disso, tenho inúmeros exemplares do jornal Hit Pop que vieram encartados numa certa fase da revista, e que pretendo escanear também.
Aos poucos, sem compromisso, irei postar outros exemplares da Pop conforme for escaneando-os. Valer dizer que, apesar de trabalhoso, foi gratificante no final ver a revista pronta em pdf. Aliás, para uma preciosidade como essa, digitalizá-la é o mínimo que se pode fazer para sua preservação, além da importância de se divulgá-la às novas e as posteriores gerações que não tiveram a felicidade de viver essa época deslumbrante.

Link para baixar o exemplar nº 2, out. 1972, 106 páginas da revista POP:


Seria de grande valia se os leitores que possuem os números que não tenho, também fizessem o mesmo e disponibilizassem suas revistas escaneadas na internet. O programa usado no trabalho foi o PhotoPaint, com 220 dpi de resolução e recurso de "equalização automática" das imagens, além de passar o filtro "remoção de pontilhados" se necessário. Os interessados na empreitada, por favor me contatem.

Leia mais sobre a POP no Orkut:



Na Internet:

http://velhidade.blogspot.com/

Algumas imagens que marcaram:

















Rita Lee e O Terço

















Rick Wakeman e Pink Floyd















Nektar e Led Zeppelin

















Led Zeppelin

















Made in Brazil


* Clique nas imagens para melhor visualizá-las.
9 fontes - consultar autor
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