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terça-feira, 19 de junho de 2012

PRECOCES DEMONSTRAÇÕES DE UMA GRANDE AMIZADE!



O meu grande amiguinho Yan Matheus, por volta dos 2 anos de vida ou pouco mais, tinha a agradável mania de me contar tudo o que ele via ou aprendia na escola Dentinho de Leite. Todo final de tarde era a mesma coisa: mal ele me via, vinha todo feliz me falar das novidades daquele dia. Eram esses um dos momentos mais agradáveis do dia, que era um verdadeiro prazer ouvi-lo nestas horas contando todo empolgado as novidades trazidas da escolinha!

Um certo dia, estando eu, como sempre, com minha máquina fotográfica - e fotografar o Yan era a minha grande alegria -, ele fez questão de me mostrar um gesto que aprendera naquela tarde: ele pegou minha mão e me fez abaixar à altura dele. Depois, como se fosse me contar a coisa mais legal do mundo, se ajoelhou sobre uma só perna, inclinou sua cabecinha para o lado e se deixou fotografar! E eu fiquei ali, intrigado, tentando decifrar o que significava para ele aquela pose e o que ele queria me passar. Era um gesto inocente, mas incomum numa criança de sua idade, e isto mexeu comigo a tal ponto, que eu tentei, de alguma maneira, saber como ele havia aprendido aquilo, quem lhe havia ensinado, ou se ele viu alguém ajoelhar-se daquele modo, gostou da pose e o imitou, mas, por mais eu que tentasse, ele nada conseguiu me dizer. Era compreensível, pois, com a idade que tinha, o Yan ainda não sabia se expressar com clareza.

 O ajoelhar-se, desnecessário dizer, é um gesto corriqueiro entre os religiosos no mundo inteiro, mas não creio que o Yan aprendera o gesto quando, talvez, lhe ensinaram a orar na escolinha, pois não é comum neste ato alguém se ajoelhar sobre uma só perna, mas sim com as duas. E a expressão de seu rostinho não era de um tom de súplica, de alguém que, contrito, pede algo em silêncio, mas atitude de discreta alegria. Além disso, ele não juntou as mãos em prece e inclinou a cabeça para baixo, mas o fez todo satisfeito, dizendo: "Veja, tio, que legal!"

Fiquei por anos à fio com essa imagem na cabeça, sem saber o que o meu amiguinho quis me passar com esse gesto aquele dia, mas, depois que vi na TV essa mesma pose feito por um ator, é que fui me dar conta daquilo o pequeno Yan talvez houvesse visto e imitado: era um gesto teatral, o típico gesto de reverência, comum nos filmes antigos, em que um cavaleiro se ajoelha diante de um súdito, retira seu chapéu colocando-o no peito, e o reverencia. Muito provavelmente, o Yan deve ter visto um vídeo ou uma encenação teatral na escolinha e achou interessante o gesto de agachar-se sobre uma só perna.


No começo deste ano, um jogador da NFL, a liga profissional de futebol americano, o quarterback Tim Tebow foi considerado a grande sensação da temporada por seu gesto de ajoelhar-se desse mesmo modo após cada jogo, embora o fizesse como se estivesse orando. O ato virou mania nos meios esportivos e, desde então, tem sido repetido em diferentes circunstâncias. E o ibope foi tanto que surgiu um blog no portal Tumblr, o Tebowing, que coleciona imagens feitas pelos internautas. Em menos de uma semana, após o gesto de Tim na quadra de esportes, o site tinha recebido mais de 120 mil vistas. Surpreendentemente, o "tebowing", como passou a ser chamado seu gesto, tem influenciado religiosos e ateus no mundo inteiro, e já foi um dos assuntos mais populares no twitter dos EUA na ocasião.

Quanto ao gesto do pequeno Yan, vou atravessar a existência com essa doce imagem gravada em meu coração, mesmo sem saber ao certo o que aquilo significou para ele e o que ele queria me passar. Para mim, mesmo sem saber do que se tratava realmente, o gesto significou muito, e eu já vou dizer o porquê. Obviamente, não era uma repetição do tebowing, embora o Yan saíra da escola aquele dia com uma satisfação igual à de um jogador que vencera uma grande partida; aliás, o tebowing aconteceu anos depois de o Yan me mostrar esse gesto. Tampouco, repito, se tratava do tradicional gesto religioso. Vale dizer que, hoje, embora há tempos eu não o veja, eu considero o Yan o meu melhor amigo, e desconfio que a recíproca é verdadeira. Nem quero comentar da imensa saudade que sinto dele, de sua companhia cativante. Enfim, como se diz, sonhar não custa nada, e, às vezes, eu me ponho a imaginar que se aquele dia o Yan, estando com seu bonezinho na cabeça (que ele aprendeu a usar comigo), que lindo seria ele me mostrando esse gesto secular, se ajoelhando diante de mim e levando o boné ao peito, reverenciando aquele que talvez seja o seu melhor amigo, e que tanto gostava de brincar com ele e fotografá-lo em todas as ocasiões!...
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