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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

HISTÓRIAS VERDADEIRAS, E NÃO PIADAS, SOBRE PAPAGAIOS...



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Quando alguém, numa roda de bate-papos, se aventura a contar algum fato curioso que diga respeito a uma de nossas principais aves de estimação – o papagaio – o assunto, invariavelmente, sempre acaba descambando para o anedotário, e muito raro é o se ouvir histórias verdadeiras sobre esta cômica ave. O que poucos sabem é que este danado é uma personagem literária que estrelando histórias do gênero desde a Idade Média.

Hoje, trago aqui doze destas raras histórias que compilei ao longo dos últimos anos. O interessante nelas, é que, apesar de sua veracidade, todas não estão isentas de um certo conteúdo cômico tão inerente à "biografia" desta afamada espécie de pássaro. A maioria são história antigas, centenárias, mas nenhuma indigna de nota, e tanto o são que sugiro lê-las acompanhadas de uma boa taça de Rum Montilla, sim, aquele rum do pirata com o papagaio no ombro...

Esta, foi recolhida pelo escritor Nelson Vainer, em seu livro No Reino das Aves:

“G. Birdwood conta que, em 1869, estando no Palácio de Cristal, viu no aviário um papagaio verde, tão murcho que fazia pena olhar para ele. Falou-lhe, chamou-o de Loiro, fez-lhe festinhas, mas o papagaio não se moveu.
Birdwood lembrou-se, então, que o papagaio poderia ser indiano e saudou-o com Ram-Ram! Falando-lhe em maiata (língua da Índia Central). No mesmo instante, o loiro saiu do marasmo em que estava, pôs-se a saltar e a gingar, respondeu trepando às grades até chegar-se à Birdwwod, e encostou a cabeça aos nós de seus dedos.
Daí em diante, todas as vezes que Birdwood ia visitá-lo, ficava o papagaio contentíssimo e corria para ele.”


Eurico Santos, cita uma história de dois papagaios recolhida por Alberto Faria, em Aérides:

“Conta-se que, de volta da batalha d’Ácio, Augusto ouvira de um papagaio:
“Eu te saúdo, César vencedor!”
E como o informassem de que o dono possuía outro exemplar falante, ordenou sua vinda.
Chegado que foi, pronunciou com grande escândalo:
“Eu te saúdo, Antônio Vencedor!”
Compreende-se: o mestre, na incerteza da sorte das armas, ensinara cada ave a felicitar um dos antagonistas no prélio.”


Sobre esse famoso papagaio de Nassau, o escritor Sergio Paulo Rouanet, em seu texto Do Homem-Máquina ao Homem-Genoma, trouxe uma curiosa história, onde se refere ao médico Julien Offray de La Mettrie (1709-1751) – que escreveu o líbelo anti-humanista O Homem-Máquina. Em certa passagem, esse médico aludia ao fato de que os animais pudessem um dia aprender a falar pela imitação dos homens.

“De resto, afirma La Mettrie, isso já aconteceu, segundo depoimento do príncipe Maurício de Nassau, que jurou ter mantido no Brasil uma conversa perfeitamente racional com um papagaio. Como a ave falava em tupi-guarani, é bastante provável que o príncipe tenha sido enganado pelos intérpretes e que, em vez de ser o autor de uma observação científica, Maurício de Nassau tenha sido o inventor involuntário da primeira anedota de papagaio de nossa história. O comentário não é meu, e sim de Afonso Arinos, que conhecia bem esse episódio. De qualquer modo, La Mettrie acreditava na veracidade da narrativa, e é o que importa.”

Um leitor da revista Nossa História, Aureliano Moura, do Rio de Janeiro, enviou a seção Almanaque uma curiosa história, mas de papagaio que, segunda a revista, “merecia, por seu patriotismo, pelo menos uma medalha”...

“No livro Siete años de aventuras en el Paraguay, Jorge Federico Masterman, um boticário inglês, descreve a desolação que tomou conta de Assunção, sob bombardeio brasileiro, no final da Guerra da Tríplice Aliança. Como a população se retirara, levando consigo seus cães, milhares de gatos famintos tomaram conta da capital uruguaia, atacando os galinheiros ainda existentes. Nove papagaios sobreviveram graças à proteção do ministro Washburn, chefe da legação norte-americana, que prontamente lhes concedeu asilo, acomodando-os num enorme poleiro e alimentando-os com cubinhos de mandioca. Certo dia um papagaio causou pânico entre os asilados que, como eles, estavam hospedados na legação. Esse louro, que era o mais falante e corajoso de todos, bradou de repente no mais puro português: “Viva d. Pedro II!” Todos corriam perigo. Uma demonstração de simpatia ao Brasil àquela altura podia ser vista pelos paraguaios como traição. “O que é isso, perguntou Washburn, atônito. Como resposta, o papagaio repetiu: “Viva d. Pedro II!”. “Torça-lhe o pescoço imediatamente,” ordenou o ministro, desesperado, a seu secretário, mr. Meinke. Não se sabe o destino do louro monarquista, pois Masterman, embora tenha testemunhado o fato, não registrou o fim da história.”

O livro O Homem e o Mundo Natural: Mudanças de Atitude dm Relação às Plantas e aos Animais, 1500-1800, de Keith Thomas, traz uma interessante história de papagaio, mas é inegável que ela resvala para a piada:

“John (?) ficou muito impressionado com os relatos sobre um papagaio falante que pertencera ao príncipe Maurício de Nassau. Havia uma história ainda mais conhecida de um papagaio de Henrique VIII, que caiu no Tâmisa e gritou: “Um barco, um barco! Vinte libras por um barco!”. Quando um barqueiro que passava recolheu a ave e a levou ao rei em busca de sua recompensa, ela mudou o refrão, disse: “Dê um tostão ao tratante.”


Aqui, três outras histórias colhidas na Internet, no blog Recanto das Palavras:

“Há uns dois anos, os jornais noticiaram a história de Ziggy, um papagaio que à época contava 8 anos de idade e dedurou a sua dona, que dava umas voltas no namorado com um tal de Gary. Ziggy, zeloso de suas atribuições parlantes, toda as vezes que ouvia o nome “Gary” vindo de um programa de televisão, danava a imitar beijinhos estaladinhos e, para jogar de vez as cinco letras que não cheiram bem no ventilador, quando o telefone celular da sapeca tocava, ele dizia languidamente… ‘Oh… Gary’. Está pensando que parou por aí? Nada disso! O dedo duro completou com a frase que incriminou de vez a cachorra: ‘Gary, eu te amo’, imitando a voz da dona, que ficou sem o namorado, agora sabedor de todas as chifradas que andou levando.
(...) Casanova, o maior de todos os amantes, certa vez comprou um papagaio e o ensinou a dizer ‘Miss Charpillon é tão puta quanto sua mãe’, tentando, assim, vingar-se de duas mulheres que tentaram passá-lo para trás.”

Jacob Penteado, em seu livro biográfico sobre poeta Martins Fontes (1884-1937), traz duas histórias de papagaio. Numa delas, cita uma conferência: “O que as aves e os pássaros nos dizem”, em que Fontes descreveu a história do inglês que contara à noiva que havia no Brasil um pássaro verde, amarelo, vermelho, bizarríssimo, que falava, mas falava! Ninguém acreditou e riram do que o inglês dissera. Mas o homem prometeu trazê-lo, na próxima viagem ao Amazonas. Ao chegar a Manaus, procurou logo um seu conhecido, um cearense viajado, que sustentava, havia anos, um papagaio velho, “mudo como um deputado pelo Piauí, inteiramente inútil, parasita”. Na verdade, ele se referia ao Senador Mal. Pires Ferreira, “que jamais abriu a boca, no Congresso”. “Está claro que o papagaio não ia falar nem em Londres. Ao retornar ao Brasil, o inglês procurou o cearense, exigindo explicações. – ‘É verdade, respondeu o matuto, mas pensa, pensa muito... Chama-se Pacheco’.”

Na segunda história, Fontes fala de um português que bateu à porta de uma casa e ouviu uma voz: – “Entre!” Ele foi entrando, foi entrando, até chegar à sala onde estava um papagaio, que lhe disse: – “Sente-se!” E o chegadinho da terra, de chapeirão braguês, calças de cano de espingarda, respeitosamente se curvou e disse: – “Tenha a bondade de me desculpar, pois não sabia que o senhor era um passarinho”.

Há uma outra curiosa história, recolhida pelo professor Alcyr Mathiesen (desenho), que aconteceu em minha cidade, Araras (SP), por volta de 1939/40. Num distrito da cidade, conhecido como Loreto, uma epidemia de febre grassou no lugar e muitos moradores começaram a morrer por causa desse mal. O pessoal do serviço de saúde chegou à conclusão que a febre era o tifo exantemático, transmitido pela picada de carrapatos que infestavam os animais do lugar, como os cachorros, p. ex. Como resultado, todos os cães foram mortos naquele distrito. Na cidade, a funerária do senhor Antonio Severino aumentou consideravelmente o números de caixões vendidos, tal era o número de mortos no Loreto, e todo dia um caixão era despachado para o lugar. Como resultado, a frase que mais se ouvia no estabelecimento era a que o “seu” Severino dizia para o seu funcionário: – “Tonho... caixão pro Loreto!”. Acontece que o proprietário da funerária tinha um papagaio, e tantas vezes esse pássaro ouviu a tal frase, que era bastava um cliente adentrar a funerária e o papagaio já ia dizendo: – “Tonho... caixão pro Loreto... currupaco, caixão pro loreto!”...

Em Denver, nos EUA, um papagaio de estimação de nome Willie (foto) foi responsável por salvar uma garotinha que havia se engasgado durante o café da manhã. Megan Howard, dona da ave, havia deixado o local em que estava a criança no momento do acidente. Ao perceber que a garotinha estava engasgando, Willie começou a agitar as asas e a repetir as palavras “mama” (“mamãe”) e “baby” (“bebê”). Alertada a tempo, Megan conseguiu ajudar a menina. Pelo gesto, Willie foi condecorado pela Cruz Vermelha e recebeu um prêmio especial para animais que salvam vidas.

Na cidade colombiana de Barranquilla, um papagaio foi “engaiolado” pela polícia depois de uma batida contra traficantes de drogas no dia 15 de setembro de 2010. Segundo autoridades ambientais, Lorenzo – este era o nome do papagaio (foto) – estava treinado para avisar os traficantes sobre a chegada da polícia. “O papagaio mandava alertas”, disse Hollman Oliveira, da Polícia Ambiental. “Podemos dizer que era uma espécie de ‘pássaro de guarda’.” Ele seria apenas um dentre os 1.700 papagaios treinados com esta finalidade pelos traficantes. Lorenzo fez sucesso ao ser apresentado aos jornalistas: chegou a exibir suas habilidades, gritando “Corre, corre, corre, que te coge el gato.” (“corre, senão te pegam”). Pelo menos quatro homens e dois outros pássaros também foram presos nas operações.

Mas, afinal, os papagaios realmente sabem o que estão falando? O livro O Império do Grotesco, de Muniz Sodré e Raquel Paiva (2002), traz o seguinte esclarecimento:

“Esse argumento não parecerá tão absurdo a alguns cientistas contemporâneos, como o etólogo Donald Griffi,, da Universidade de Harvard, para quem é possível conceber-se uma ‘consciência’ animal, inclusive com faculdades comunicativas, do tipo das dos macacos africanos Cercophythecus pygerithrus, cujos gritos de alarme ‘transmitem a identidade dos predadores específicos: cobras, águias ou leopardos.’ Garante Griffin: ‘Tenho a impressão de que, se os cientistas realmente se aplicassem a estudar esses problemas, como fazem com outros, não demorariam a perceber que existem muitos animais - como o papagaio cinzento africano de Irene Pepperberg - que, quando falam, falam sério.”


BIBLIOGRAFIA - 11 fontes
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