sábado, 11 de abril de 2009

CHEIRO ELETIVO – ENTENDA ALGUNS INSUSPEITOS MOTIVOS DO PORQUE DE MUITOS CASAIS NÃO COMBINAREM



"A infância, a adolescência, a mocidade, a saúde e
a beleza sempre cheiram bem. A aca, o bodum, a
catinga, o xexéu, a inhaca, o chulé e o fartum são os
fedores corrompidos da maturidade, da velhice, do
desgaste, da doença, dos pré-cadáveres. O cheiro do
corpo normal é parte do halo sexual das criaturas. O
corpo humano, na sua ssabe-seuperfície e cavidades acessíveis
é tão profundo e complexo como a alma que dizem que o
habita como sopro de vida ou divino. Ambos são difíceis
de explorar; mas o primeiro tem de sê-lo com todos os
sentidos: tacto, vista, gosto, ouvido, olfato. Os cheiros
do macho ou da fêmea são viceversamente afrodisíacos."
(Galo das Trevas. Pedro Nava. 1981)


“Coisa que sempre gostei foi cheirar bem, estar de banho
tomado. Sou mulher limpa. No entanto, me pediu na carta:
não se esfregue desse jeito, deixe o cheiro natural, é o teu
cheiro que quero sentir, porque ele me deixa louco, pau duro.”
(Obscenidades para uma dona de
casa. Ignácio de Loyola Brandão. 1983)

"Cavalo na marcha incessante, lembrou-se do aniversário 
em que resolver dar a ela um presente caro. Foi à cidade e pediu 
à moça da loja que lhe mostrasse o perfume que as madames 
mais usavam. Comprou um, vindo da estranja, de preço estarrecedor. 
Quando Rosa o recebeu, em vez de se alegrar, emburrou.
– Perfume pra quê? Não está gostando do meu cheiro? Tem muito 
homem aí que, se eu deixasse, bem que enfiava o nariz no meu 
cangote ou embaixo da minha saia pra sentir o cheiro que eu tenho." 
(Olhos de jaguatirica. Roberto Wagner 
de Almeida. Globo Rural, nº 65, mar. 1991)

No final da década de 1980, comprei uma revista de Psicologia – da qual hoje só me resta uma xerox, onde havia uma curiosa matéria denominada Eros versus Tanatos, de autoria de tal de U. R. Num de seus tópicos, o articulista comentava sobre a teoria da afinidade eletiva (eletiva: de eleição, de escolha, de aceitação), afirmando que ela é de origem psicológica: gostamos de estar na companhia de quem gosta de estar conosco, gostamos de conversar com quem tem gostos e ideias semelhantes às nossas. Esta atração pode ser de dois tipos: circunstancial ou essencial. Exemplo de afinidade circunstancial: a que se estabelece entre dois futebolistas, poetas, dois bêbados. Ela decorre do interesse por questões de auto-satisfação: servimo-nos da companhia de alguém em busca de bem-estar, para se completar e sentir o prazer da convivência. Já a afinidade essencial é mais rara: ela extravasa do psiquismo para se radicar na pessoa em toda a sua plenitude – ela não é apenas psíquica, mas psicofísica, uma vez que nossas emoções têm bases químicas. 

A matéria comentava também a teoria do “cheiro eletivo”, cujo autor é o sexólogo alemão Fritz Kahn (1888-1968, foto), que escreveu o clássico livro “Nossa Vida Sexual” (1939). De acordo com este conceito, um casal deve, antes de iniciar qualquer relação, “cheirar-se um ao outro”. Segundo ele, há moças lindas que permanecem solteiras porque o seu “cheiro” a ninguém agrada e em ninguém encontra correspondência. Por outro lado, quando há afinidades no cheiro de ambos, essa química entre homem e mulher poderá mantê-los em união permanente, mesmo que haja ausência de afinidades psicológicas. Quando a união se complementa positivamente com esse último ingrediente, tem-se o chamado “casamento de eleição”. 

No entanto, acho que o Fritz Khan afirmar que há moças lindas que permanecem solteiras porque o seu “cheiro” a ninguém agrada, é colocação indevida. O correto seria ter escrito “pessoas” e não “moças lindas”, já que o cheiro independe do sexo e da beleza da pessoa. 

Como se vê, essa teoria guarda relações com a supracitada teoria da “afinidade eletiva”, a mesma que batizou uma obra do escritor, poeta e filósofo Johann Wolfgang Goethe (1749-1832, gravura), o famoso livro “As Afinidades Eletivas” (1809).


NOVIDADES

Recentemente, numa matéria publicada pela revista Veja, em maio de 2008, intitulada "A genética da paixão - A ciência começa a desvendar um dos mistérios do comportamento humano: a escolha do parceiro amoroso", voltei a ter novidades sobre o assunto. A articulista da revista, a certa altura, perguntava:

“Por que nos apaixonamos por determinadas pessoas e não por outras? Quais os mecanismos que deflagram a atração por alguém?”

Na matéria, eram apresentadas “novidades” científicas que provavam que por trás da beleza da pessoa desejada, há outras coisas que pesam muito na escolha de uma companhia ideal, inda que a maioria não se dê conta disso, ou, pelo menos, não lhes dê a devida atenção. Acontece que algumas destas “outras coisas” já eram conhecidas dos antigos, e foram estudadas há muito tempo atrás, como os estudos do sexólogo Fritz Kahn. As citadas pesquisas recentes revelaram que a atração romântica e sexual é despertada não só pelos quesitos beleza física, charme pessoal e inteligência, mas também por mecanismos mais complexos. São processos que, além de envolver os cinco sentidos, incluem também o sistema hormonal e, principalmente, a predisposição genética peculiar de cada ser humano. Sobre questões hormonais, encontrei um pequeno texto publicado na revista Saúde é Vital! (mai. 1991) — na verdade, uma carta à redação —, aliás, carta enviada por algum conterrâneo meu de Araras, e trazia o seguinte:

 “Minha transpiração tem cheiro desagradável, tanto que troco lençóis a cada dois dias. O problema estaria ligado à alimentação? D. F. Araras, SP. 
O problema deve ter outras causas: hipertireoidismo — distúrbio da tireoide que provoca transpiração excessiva, stress, ansiedade. Também a predisposição genética pode ser responsável. Saiba, porém, que o suor é inodoro. O que aciona o cheiro são bactérias que habitam na pele.” 

Essas características só são descobertas e analisadas depois que um homem e uma mulher ultrapassam o estágio crucial da descoberta da atração mútua. Sabe-se que o ser humano separou-se de outros animais ao comunicar-se de forma verbal, emitindo conceitos, raciocinando por analogia, e isto resultou na diminuição de diversos sentidos seus – ele possui olfato, visão e audição pouco sensíveis, sendo que o olfato é o menos apurado. A antropóloga Gláucia Silva, da Universidade Federal Fluminense, afirmou que “Os seres humanos não tem instinto sexual”, e “A relação de nossa atividade sexual é 100% cultural”. Este seria, a grosso modo, o motivo de a maioria das pessoas não levarem seus cheiros e sabores em conta na hora de se elegerem como parceiros.

A mesma matéria publicada na Veja, citada anteriormente, entrou fundo nestas questões endócrinas e comportamentais. Eis o trecho publicado com o assunto que nos interessa:

“Prosaico como possa parecer, o cheiro – não o dos perfumes, mas aquele que o corpo exala naturalmente – também serve como um filtro na escolha do parceiro ideal. Entre os muitos genes que influenciam o funcionamento do sistema imunológico está o chamado complexo de histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês). Esse grupo de genes, presente em todas as espécies de mamífero, codifica as proteínas que agem no sistema imunológico. Quando essas proteínas são secretadas via suor, deixam um odor característico. No caso de o MHC dos pais ser muito parecido, há risco de a gravidez ser interrompida. Pesquisas com ratos provaram que, ao cheirarem a urina uns dos outros, eles evitam copular com os que têm MHC semelhante. Um estudo da Universidade de Lausanne, na Suíça, mostrou que o mesmo ocorre com humanos. Os autores do trabalho pediram a um grupo de mulheres que cheirasse camisetas usadas por homens durante duas noites, sem a influência de desodorantes ou perfumes, e apontasse qual odor mais lhe agradava. As mulheres preferiram o cheiro de homens com o conjunto de genes ligado ao sistema imunológico diferente do seu. O MHC está presente também na saliva. Em conseqüência disso, os beijos trocados entre homens e mulheres, sem que eles saibam, podem atuar como um teste para verificar se o MHC de cada um é adequado a um relacionamento que inclua a constituição de uma prole. 'E como se a evolução direcionasse as espécies a formar casais capazes de gerar descendentes imunologicamente mais aptos', explica a geneticista Maria da Graça Bicalho, coordenadora do Laboratório de Imunogenética da Universidade Federal do Paraná. Aos poucos, o estudo dos genes mostra como nos movemos para eleger o parceiro ideal.” 

OLFATRÔNICA, UMA CIÊNCIA ESQUECIDA?

Num exemplar de 9 de janeiro de 1969 da revista Fatos e Fotos, encontrei uma reportagem com assuntos envolvendo olfato e odores. À título de curiosidade, vou comentar os trechos pertinentes ao tema.

Dizia ela, embasada em pesquisas levada à cabo por uma nova ciência, a Olfatrônica, que o homem emite cerca de 100 substâncias sob a forma de vapores, e que as pessoas sempre deixam uma parte de seu cheiro nos lugares em que passam ou frequentam, e desses 100 vapores, 30 a 50 são comuns a todos nós.

As pesquisas foram empreendidas pelo Dr. Andrew Dravnieks (1912-1986), então chefe do Departamento de Olfatrônica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, e um dos pioneiros em diversos campos de estudos relativos a olfato e odores. Segundo ele, “o retrato olfatrônico de uma pessoa é formado pelo desenho ou pelo padrão das substâncias específicas dela emanadas.” 

 Dizia ainda a reportagem que

Como todos os odores humanos resultam de processos biológicos, as alterações nas assinaturas olfatrônicas poderão alertar os médicos para determinados distúrbios, prevenindo doenças, muitas delas de alta gravidade. Já se sabe que os centros médicos mais avançados usam o olfato no preparo de diagnósticos e que cerca de 50 condições patológicas estão associadas a odores.”

       Dizia ainda que “um dos fatores que mais alteram o retrato olfatrônico é a dieta alimentar”, e que “os perfumes não abalam o registro olfatrônico.”


A HIPERSENSIBILIDADE OLFATIVA 
COMENTADA NUM TEXTO LITERÁRIO

    O escritor Luís Jardim (1911-1987, gravura), numa das curiosas passagens de seu ótimo livro de memórias, "O meu pequeno mundo" (1976), descreve com minúcias as complicações que teve desde a infância com seus problemas de hipersensibilidade olfativa, destacando-se o fato de o quanto o distúrbio complicou-lhe a vida social e afetiva:

“Às vezes admito, em vagos instantes de bom devaneio, que lhe sinto o cheiro resinoso que vem de longe. Vem do distante onde mora a impossível saudade – a saudade que se misturou com as coisas mortas.
O cheiro travoso do meu querido Cajueiro... Em relaçäo a cheiro fico cheio de curiosidade. Indeciso mesmo, reavivando lembranças do meu passado infantil, estranho, triste e atrapalhado, porque entre as minhas esquisitices avultaram os cheiros. Era, e ainda é hoje, e bastante, como se eu tivesse um instinto meio canino. Realmente, näo era pelos olhos que eu orientava as minhas paixöes – simpatia e antipatia, de modo particular. Digo a verdade: era pelo olfato. O julgamento que no meu íntimo eu fizesse de quem quer que fosse, dependeria do cheiro que eu sentisse. Como me afastava de pessoas que recendessem forte ou das que, pior ainda, tresandavam cheiros acres! O vinagre me causava repugnância, assim como o cheiro de sola, razão por que jamais me acerquei da tendinha onde Dona Sapateira trabalhava. Suor antigo, embebido em camisa de menino ou homem, em blusas de menina ou mulher, obrigava-me a que eu tivesse de quem as vestia uma impressão restritiva: mau gosto, porcalhões, faltos de inteligência, provocadores das narinas alheias. Para lavar essa primeira impressão, desprimorosa, era preciso tempo, certeza de que água e muita água enxaguara os panos de mau cheiro.
A partir de oito ou nove anos, época dos primeiros namoros inconsequentes, jamais me engracei de nenhuma menina sem antes me aproximar dela para sentir-lhe o odor. Muita paixão se derreteu, uma me deixou longa lembrança, mas por infelicidade a graciosa menina encheu-se de perebas, e o enxofre foi o remédio que lhe aplicaram. O odor sulfúrico incompatibilizou-me de tal maneira com essa menina, que passei a detestá-la, como se a garota fosse um diabinho de saia com o mau cheiro infernal das lendas.
Nenhuma força ou autoridade me obrigaria a pegar em candeeiros de querosene. Certa vez, não sei como, sujei as mãos de gás, como se chamava querosene. A consequência foi a presença imediata de Joca, o farmacêutico irmã de Seu Veloso, meu tio afim, para me dar remédio forte que estancasse os meus vômitos incoercíveis. De tanto vomitar, acabei tendo uma sincope.
De onde me veio essa repugnância olfativa, essa idiossincrasia, se nenhum ascendente meu em tempo algum demonstrou sinais de ojeriza mórbida? Nasci assim, talvez, com a vida complicada como previra a minha Nanã. Poderia também ser antecipação da asma, que já se manifestava, obrigando-me a roncar como um gato. A asma passou – eu já com uns dez anos – e qualquer que tenha sido a causa dessa estranha anomalia, dela ficaram fortes resquícios que até hoje me indispõem, física e moralmente, contra certos cheiros.
Reluto ainda agora, fiel às minhas esquisitices de criança, com a ideia de que o bonito possa cheirar mal, assim como conservo a noção antiga de que beleza tem relação ou é forma objetiva de bondade.
(É preciso esclarecer desde já que as palavras, digamos adultas, que emprego hoje e tentam exprimir os meus sentimentos, as minhas impressões e reações de menino, correspondem – é compreensível – ao estranho que já pairou, vagueou no íntimo do garoto complicado que fui. Paradoxalmente, sofro ainda hoje, já velho e a finar-me, a herança de mim mesmo, representada por esquisitices e atitudes que não me facilitaram, ao contrário me atrapalharam bastante a vida. Não sei se diga bem, mas sinto que a minha sombra escura de menino não larga o adulto que sou. Nasci predestinado a tarja quase permanente.”)
O cheiro do corpo humano também é dependente da histocompatibilidade do sistema imunológico e que desempenha papel importante na escolha da parceira sexual. (...)  Existem evidências de que Ah estou compatibilidade influencia não apenas a escolha da parceira, mas até a seleção que a mãe faz do embrião depois de concebido. (...) Esses neurônios receptores de sinais olfativos presentes na mucosa nasal enviam terminações que convergem para uma estrutura situada mais internamente, chamada bulbo olfatório. Os estímulos que chegam ao bulbo são organizados e conduzidos a diversos centros cerebrais, entre os quais se encontra o sistema límbico, uma das áreas mais importantes no processamento das emoções, da sexualidade e do desejo. Essa conexão entre o bulbo olfatório e o sistema límbico constitui uma via mais rápida de transmissão do estímulo do que a percorrida pelas informações visuais ou auditivas. As conexões diretas entre esses receptores e os centros que integram impulsos emocionais exercem profunda influência nos relacionamentos humanos, desde que os bebês encontram pela primeira vez ou mamilo materno através do cheiro. Como diz Susan Schiffman, da Universidade Duke: ‘Um casal pode sobreviver a toda sorte de diferenças, mas, quando um deixa de gostar do cheiro do outro, o relacionamento está arruinado’.” “Helen Keller (1801-1968) cega e surda desde criança, desenvolveu o sentido do olfato de tal modo que identificavam os amigos por seu cheiro pessoal.”


CASOS HISTÓRICOS

Sabe-se que o imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821, gravura ao lado), quando estava voltando de alguma campanha no exterior, mandava avisar com antecedência sua bela esposa Josefina de Beauharnais (1763-1814, gravura abaixo), que estava chegando a cidade e que era para ela não tomar banho até ele voltar. O libidinoso general queria que ela assim procedesse de modo a recebê-lo com seu cheiro natural de mulher...


Há quem veja nisto um pouco de exagero e excentricidade do imperador, mas é uma realidade para para certas pessoas. Cá no Novo Mundo, curiosamente, a história nos diz que, na época do descobrimento, era uma situação assaz desagradável para os nossos índios (que normalmente tomam banho diariamente), receberem os portugueses mal-cheirosos, com toneladas de roupa ensebadas, sem tomar banho há meses em suas caravelas!


VIVÊNCIAS PESSOAIS

Tomando-me como exemplo dessa questão de afinidade de cheiros, lembro-me que, na virada das décadas de 80/90, larguei de uma namorada, pois o cheiro natural dela, de certo modo não me agradava, e não estou dizendo que ela cheirava mal – era questão de compatibilidade química, mesmo. E mais, nem o sabor do beijo dela me agradava, e repito, não era questão de higiene bucal nem má conservação de dentes.

       Lembro-me de um amigo que me disse, certa vez, que dois tios seus que moravam na roça, gostavam do cheiro natural um do outro, e, por isso, dispensavam o uso de sabonete e perfumes: a mulher, dizia que o marido cheirava à goiaba, e ele, dizia que a mulher também tinha aroma de fruta, mas eu não me recordo qual. Lembro-me que tive namoradas que tinham um cheiro natural delicioso, e era muito bom ficar abraçado à elas, cheirando-as...

Certa vez, eu disse à um cunhado meu que, estando eu com os olhos vendados, reconheceria (e reconheço mesmo) uma namorada em meio à dezenas de outras mulheres só pelo cheiro. Ele riu de mim e disse que isso era impossível. Eu respondi: – “Então, acho que você não deve conhecer muito bem a sua esposa...”

A má higiene, do mesmo modo que os perfumes, pode “esconder” o cheiro natural de uma pessoa – obviamente, uma pessoa má asseada, com o corpo contaminado por resíduos estranhos, tem seu cheiro natural alterado de modo a não ser possível, às vezes, reconhecer seu cheiro, diríamos, original. A alimentação também conta muito no cheiro corporal. Eu mesmo, certa vez, tomei cápsulas naturais de óleo de alho, bem como cápsulas de complexo B, com a finalidade de espantar insetos, pois ia acampar, e, na época, meu pai me disse que eu estava com um cecê danado – problema que jamais tive. Foram as benditas cápsulas!...

Quando trabalhei em São José dos Campos, conheci uma menina lindíssima e me apaixonei por ela – trabalhávamos lado a lado, até que chegou o Verão... A garota suava às bicas, deixava marcas de suor em sua camiseta branca, e o cheiro era forte, e não era por questões de higiene – era condição natural de si mesma. Final das contas: desisti da garota. Por outro lado, a vi namorando dois sujeitos pelo menos, no tempo em que morei em São José. Numa empresa em minha cidade, Araras/SP, trabalhei com um chefe cujo suor cheirava à urina e, repito, não era falta de higiene, além disso, ele namorava uma garota da mesma empresa. Fica pergunta: Será que, em ambos casos, eles não sentiam este cheiro “anormal” de seu parceiro, ou o cheiro não os incomodava? A genética talvez responda este mistério. 

Mas lembremos que existem pessoas com olfato (ou o paladar) tão privilegiado e sensível, que essa qualidade pode virar uma rentosa profissão se elas souberem aproveitá-la. Assim, essas pessoas podem vir a se tornar requisitados profissionais como provadores de perfumes, cafés, queijos e vinhos. Eu mesmo, tenho um olfato tremendo, e talvez seja essa minha “qualidade” que me faz sentir cheiros que talvez poucos sintam... 


CONCLUSÕES E DICAS

Curioso e surpreendente, não é, amigos? Então, daqui para a frente, para o meu, o seu e o nosso próprio bem, manda a conveniência que, honrando nossos instintos ancestrais, lancemos mão dessas propriedades organolépticas “adormecidas” que normalmente passam despercebidas de nós, como o olfato e o paladar.

Então, cheiremos previamente a pessoa que desejamos ter como companheira para o resto de nossos dias, bem como a beijemos com mais atenção, atentando para as sutilezas que ambos os atos implicam, fazendo-o como quem cheira e prova um vinho finíssimo.

Recomendo também, para quem já namora, que preste mais atenção ao cheiro de sua companhia depois de um banho de ducha, rio ou mar, isto, sem que ele tenha o seu cheiro natural embotado por sabonetes, protetores solares, repelentes e outros artifícios. Assim, amigos, o verdadeiro cheiro da pessoa que você elegeu para sua companhia poderá ser sentido em toda a sua plenitude. 

EPÍLOGO

Para finalizar este artigo, transcrevo aqui um curioso trecho do livro Borboletas da Alma (2008), do médico brasileiro Drauzio Varella, onde ele diz o seguinte:

Dos cinco sentidos de que o animal dispões para identificar diferenças no parceiro ou na parceira sexual, o mais importante é o olfato. Seu papel é tão fundamental que muitos consideram o nariz como órgão sexual acessório. Ou, na imagem de Hans Witzel, diretor do Instituto Karolinska, de Estocolmo: ‘Temos a capacidade de cheirar genes alheios.” "O cheiro do corpo humano também é dependente da histocompatibilidade do sistema imunológico e que desempenha papel importante na escolha da parceira sexual. (...)  Existem evidências de que Ah estou compatibilidade influencia não apenas a escolha da parceira, mas até a seleção que a mãe faz do embrião depois de concebido. (...) Esses neurônios receptores de sinais olfativos presentes na mucosa nasal enviam terminações que convergem para uma estrutura situada mais internamente, chamada bulbo olfatório. Os estímulos que chegam ao bulbo são organizados e conduzidos a diversos centros cerebrais, entre os quais se encontra o sistema límbico, uma das áreas mais importantes no processamento das emoções, da sexualidade e do desejo. Essa conexão entre o bulbo olfatório e o sistema límbico constitui uma via mais rápida de transmissão do estímulo do que a percorrida pelas informações visuais ou auditivas. As conexões diretas entre esses receptores e os centros que integram impulsos emocionais exercem profunda influência nos relacionamentos humanos, desde que os bebês encontram pela primeira vez ou mamilo materno através do cheiro. Como diz Susan Schiffman, da Universidade Duke: ‘Um casal pode sobreviver a toda sorte de diferenças, mas, quando um deixa de gostar do cheiro do outro, o relacionamento está arruinado’.”

Drauzio complementou:

"O cheiro do corpo humano também é dependente da histocompatibilidade do sistema imunológico e que desempenha papel importante na escolha da parceira sexual. (...)  Existem evidências de que Ah estou compatibilidade influencia não apenas a escolha da parceira, mas até a seleção que a mãe faz do embrião depois de concebido. (...) Esses neurônios receptores de sinais olfativos presentes na mucosa nasal enviam terminações que convergem para uma estrutura situada mais internamente, chamada bulbo olfatório. Os estímulos que chegam ao bulbo são organizados e conduzidos a diversos centros cerebrais, entre os quais se encontra o sistema límbico, uma das áreas mais importantes no processamento das emoções, da sexualidade e do desejo. Essa conexão entre o bulbo olfatório e o sistema límbico constitui uma via mais rápida de transmissão do estímulo do que a percorrida pelas informações visuais ou auditivas. As conexões diretas entre esses receptores e os centros que integram impulsos emocionais exercem profunda influência nos relacionamentos humanos, desde que os bebês encontram pela primeira vez ou mamilo materno através do cheiro. Como diz Susan Schiffman, da Universidade Duke: ‘Um casal pode sobreviver a toda sorte de diferenças, mas, quando um deixa de gostar do cheiro do outro, o relacionamento está arruinado’.” “Helen Keller (1801-1968) cega e surda desde criança, desenvolveu o sentido do olfato de tal modo que identificavam os amigos por seu cheiro pessoal.”

Finalmente, quero lembrar aqui de uma pessoa notável e famosa pela excepcional superação de suas dificuldades. O cientista Isaac Asimov, em seu “ O livro dos fatos” (2006), citou-a:

“Helen Keller (1801-1968) cega e surda desde criança, desenvolveu o sentido do olfato de tal modo que identificava os amigos por seu cheiro pessoal.”


Fontes (11):

Contatar o autor.
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segunda-feira, 30 de março de 2009

ANDANÇAS DO POETA FAGUNDES VARELLA E ACONTECIMENTOS MARCANTES EM SUA VIDA

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Como venho escrevendo um romance biográfico sobre o poeta Fagundes Varella (1841-1875), para facilitar o meu trabalho, precisei fazer um roteiro que resumisse todos os acontecimentos marcantes em seu vida. Achei uma boa idéia disponibilizá-lo na Internet, para o usufruto de quem interessar possa. É provável que ele contenha erros, e se alguém descobrir algo, me avise.

Adianto que livro algum lançado sobre o Varella contém uma cronologia como essa, que vai a fundo em sua vida. A pesquisa foi feita em nove livros biográficos seus. Creio que ela será muito útil aos pesquisadores de sua vida, bem como fãs e curiosos.

À propósito, sobre o meu livro, ele se chama "O Romeiro da Maldição - As reinações do poeta Fagundes Varella", e pretendo, melhor, tenho que lançá-lo até o começo do ano que vem, no máximo até abril, para coincidir com o centenário do penúltimo e fenomenal aparecimento do cometa Halley, que é um dos assuntos do livro, que, à esta altura, já está ultrapassando 600 páginas.
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ANO
CRONOLOGIA BIOGRÁFICA DO POETA FAGUNDES VARELLA
1812
- Nascimento, à 27/11, do pai de Fagundes Varella, o doutor Emiliano Fagundes Varella.
1830
- 20-11, assassinato, em São Paulo, de Libero Badaró, que é socorrido pelo doutor Emiliano.
1841
- Rio Claro/RJ – Nascimento de Fagundes Varella em 17-8- 1841.
1851
- Viagem à Catalão-GO, com o pai, aos dez anos, onde conhece o escritor Bernardo Guimarães, então juiz municipal.
1853
- Em Angra dos Reis, Fagundes Varella inicia seus estudos primários com o professor Souza Lima.
1854
- O pai vai trabalhar Petrópolis/J, onde Fagundes estuda com Jacinto Augusto de Matos e José Cândido de Deus e Silva. Mora primeiro na baía de Ilha Grande, e depois na baía de Guanabara, onde, cita-se, residiu por dois anos.
- Em 30/4 é inaugurada a primeira estrada de ferro do Brasil que ia o porto de Mauá até Fragoso, perto de Raiz da Serra/RJ.
1855
- A família muda-se para Niterói/RJ.
- Fagundes prega uma peça em seu professor, o Dr. José Cândido – que lhe disse que nunca seria bom poeta –, quando se faz passar por Camões e o engana.
1859
- Desembarque em Santos-SP em 5/7 pelo vapor Piraí, de onde se dirige à São Paulo a fim de terminar os preparatórios para ingressar na Faculdade de Direito.
- Estréia como poeta no jornalzinho “Associação Recreio Instrutivo”, onde publica “O Vagalume” e “Vem!...,” esta endereçada à Ritinha Sorocabana.
- Falece o avô, Cel José Luís de Andrade, no 2º semestre.
1860
Em 27/5 publica seu primeiro artigo, “Drama Moderno”, na “Revista Dramática”, e artigos na “Revista da Associação Recreio Instrutivo”.
- Depois de um ano em São Paulo, visita o distrito de S. J. Príncipe, em Rio Claro, no Rio de Janeiro.
1861
Volta à São Paulo em janeiro.
- Publica em setembro uma ode à Independência denominada “7 de Setembro”.
- Neste mesmo mês publica “Palavras de um Louco” no “Associação Recreio Instrutivo”.
- Publicação dos folhetins “As Ruínas da Glória” e “A Guarida de Pedra”, e de poemas em homenagem aos atores Furtado Coelho, Eugênia Câmara e João Caetano, no jornal “Correio Paulistano”.
- Publica a poesia “Eugênia atriz Eugênia Câmara”, e, no dia 28, “Oração a Eugênia Infante Câmara.”
- Em outubro, o “Correio Paulistano” publica uma série de contos e poesias de Varella.
- Em 11/11 é anunciado em São Paulo a chegada do Circo Eqüestre e Ginástico Cia. Luande, do pai de Alice Luande, artista pela qual se apaixona.
- Em 12 /11 é lançado seu primeiro livro, “Noturnas”.
1862
- Matrícula na Faculdade de Direito de São Paulo.
- Vai para Rio Claro/RJ, para pedir permissão ao pai para se casar com Alice Luande.
- Em 15/4 desembarca em Santos com o vapor Pedro II na companhia de Alice.
- Vai para São Paulo e, passando por Cotia e São Roque, vai para Sorocaba, onde se apresentava o Circo Luande.
- Em 7 de maio o pai escreve a Varella advertindo-o dos perigos de um casamento precipitado.
- Em Sorocaba, em 28/6/1862, casa-se com Alice.
- As famosas feiras de muares de Sorocaba ocorriam de meados de abril até meados de junho, mas este ano fora um fiasco devido à peste dos cafezais que fez com que os mercadores não aparecessem à cidade.
- Varella segue com pelo interior de São Paulo como atração do circo do circo Luande, onde declamava suas poesias, se apresentando em Santa Rita, Itu, Porto Feliz, Tietê e Rio Claro.
- Em outubro o circo volta para São Paulo, onde, no dia 12, morre a mãe de Alice.
1863
- No começo do ano é processado por injúria.
- Em maio é despejado de sua casa numa chácara no Brás/SP, situada atrás da igreja Senhor Bom Jesus.
- Livro “Vozes da América” lançado em 13 de setembro.
- 4/9 nasce seu primeiro filho, Emiliano.
- Em 18/10 é processado, e refugia-se longe da mulher em repúblicas de amigos. É preso por dívidas comerciais em 21/10/1963 em São Paulo.
- 11/12 morre Emiliano, e Varella compõe a célebre poesia elegíaca “Cântico do Calvário” dedicada ao filho morto.
- Dezembro: mês em que se creditou a Varella o famoso acróstico “O bobo do Rei faz anos”, uma “homenagem” ao aniversário de Dom Pedro II. Parte com Alice para Rio Claro/RJ, em férias de verão.
1864
- Em 14/3 desembarca com Alice em Santos pelo vapor Santa Maria.
- Em 6/9 é lançado “Vozes da América” (com “Cântico do Calvário”), mesmo mês em que é apresentada sua desaparecida peça de teatro “39 Pontos”, pelo ator Lopes Cardoso no teatro São José.
- Serviços avulsos de escrevente de cartório.
- Em dezembro, não presta os exames da Faculdade e retorna com Alice para a fazenda Santa Rita em Rio Claro/RJ.
- Alice dá os primeiros sinais da doença, e Varella diz que vai estudar o 3º ano em Recife.
1865
- Parte no vapor Béarn do Rio de Janeiro para Recife em 24/2 para cursar o 3o ano em Olinda/Pernambuco.
- O navio encalha na Ponta dos Castelhanos em 27/2. Tripulantes chegam em Salvador em 3 de março, enquanto Varella fica em Valença,. Depois, parte a pé para Salvador, onde vem a conhecer o poeta Castro Alves, que era primeiroanista .
- Junto de Castro Alves, chega a Recife em 18 de março pelo vapor Oiapock.
- 30/6 morre sua avó e Alice Luande (dia ?).
- Em 18/8 e Castro Alves declamam no teatro Santa Isabel.
- Lança “Cantos e Fantasias” em 10/11.
- Em dezembro, no vapor Víper, parte da Bahia indo para o Rio de Janeiro na companhia de Castro Alves, onde chega no dia 24.
- Neste ano, Varella é considerado o maior poeta do país.
- Visita Rio Claro/ RJ.
1866
- Chega à Santos em 7/3 com o vapor São José, indo para São Paulo para cursar,em março, o 4° ano de Direito.
- Quando pode, viaja pelas cidades vizinhas em busca de novidades e entretenimentos.
- Em junho, perde o ano por faltas.
- Em 27/6 ainda se encontrava em São Paulo.
- Em 26 de agosto, dá início à uma coluna jornalística com as crônicas intituladas “Em falta de melhor”, depois “Folhetins”, no “Correio Paulistano”, sob o pseudônimo de Smarra.
- Parte para Rio Claro/RJ, onde volta a viver, e se desentende com seus conterrâneos, aos quais ataca com poesias ferinas.
- Vive uma período de grande ociosidade sem nada fazer, considerado um período de reintegração à natureza, fase que dura até 1870.
- Não conclui o 4 º ano.
1867
- Em 10/3 casa-se com Maria Belizária, sua prima, a mesma a quem, em sua juventude, dedicara a poesia “Iná”.
- Inicia sua fase nômade de andarilho, e caminha por Angra dos Reis, Mangaratiba, Parati, Bananal, Barra Mansa, Niterói, Santos e São Paulo, de onde parte em junho.
- Em 15/12, publica seus últimos artigos no “Correio Paulistano” sob o pseudônimo de Smarra.
1868
- Fevereiro: publica “Cantos do Ermos e da Cidade”. A atriz Eugênia Câmara desembarca no Rio de Janeiro na companhia de Castro Alves. Em 12/3, Castro Alves chega a São Paulo com Eugênia.
- Eugênia apresenta uma peça de Varella sem mencionar o autor.
- 11/11: Castro Alves se fere dando um tiro no próprio pé numa região do Brás, em São Paulo.
1869
- Publica “Cantos Meridionais”.
- Em 4/1 vai para Paraíba do Sul, onde, no jornal local, publica um artigo em louvor ao pintor e desenhista Vicente José Micolta.
- O pai de Varella vende a fazenda em Rio Claro/RJ.
- Em 7/9 compra a fazenda São Carlos em São João Príncipe, que tem aos fundos o ribeirão das Araras.
1870
- Varella caminha em pelo interior em Barra Mansa e Angra dos Reis, e também em Santos/SP. Em Angra dos Reis passa dois meses, onde publica artigos no “O Artista”. Em Santos escreve o poema “Canção”.
- Nasce sua filha Ruth em 21/5.
- Dá início à confecção de “Anchieta ou o Evangelho nas Selvas”, compondo-o na fazenda do primo Nuno Eulálio em Rio Claro, em Niterói e Paraíba do Sul e outros lugares por onde andou.
1871
- O pai vai morar em Niterói/RJ, onde reside até 1875.
- Varella e esposa moram de favores em casa de parentes.
- Recebe aí o apelido de “Bode”.
- Ajuda esporadicamente o pai em trabalhos jurídicos.
- 27/6: falece o poeta e amigo Paulo Eiró.
- 6/7: falece Castro Alves.
- Caminhadas pela Serra da Bocaina.
1872
- Nasce sua segunda filha, Lélia, em 18/6.
1874
- Nasce seu segundo filho, Emiliano, em Niterói em princípios de novembro, falecendo em 1/12.
1875
- Termina o livro “Anchieta ou o Evangelho nas Selvas”.
- Falece de um ataque de apoplexia, aos 33 anos, em Niterói, RJ, na manhã de 17/2/1875.
- Deixa inédito “Diário de Lázaro” e “Cantos Religiosos”.
1876
- A irmã mais velha, Maria Rita Andrade, falece em 16/4.
- Em 27/5 (ou 5/6?) falece sua mãe, D. Emília.
- O pai muda-se para Mangaratiba, onde reside com o filho Carlos Alberto.
1882
- Carlos Alberto falece.
1891
- O doutor Emiliano falece em 25/3, quando residia no Rio de Janeiro.
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sexta-feira, 27 de março de 2009

ALGUNS RELIGIOSOS E SUAS ESTREITAS RELAÇÕES COM OS PÁSSAROS

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Conhecemos muitas histórias clássicas de religiosos se relacionando com pássaros, bem como, desnecessário dizer, que a conversa entre eles foi exclusivamente unilateral... Quero dizer que nestas "conversas" não se usaram palavras, ficando a relação, quando não no plano mental, limitada ao religioso se expressando por meio de palavras e a ave, se não ficara muda, vocalizou algo lá na sua linguagem animal, inenteligível para nós humanos. Hoje trago aqui algumas destas curiosas histórias que marcaram a história da humanidade.

Noé e a pomba mensageira

Uma dessas mais antigas conversas foi a que se deu entre Noé e a pomba enviada para localizar terra firme após o dilúvio. Palavras não foram ditas, contudo uma mensagem foi entregue pela pomba a Noé. Foi quando ela voltou à arca trazendo um ramo de oliveira no bico, o que significava que o dilúvio havia cessado. De acordo com uma antiga lenda, a pomba voltou para a arca novamente e, desta vez, trazia marcas de barro vermelho nos pés, o que mostrava que realmente “as águas tinham minguado de sobre a terra” (Gênesis 8:11). De acordo com essa lenda, Noé pediu a Deus que os pés das pombas ficassem vermelhos até o final dos tempos. Hoje, todas as pombas e pombos têm os pés vermelhos como forma de sinalizar este acontecimento que salvou o mundo.

John Bastwick

O pesquisador Thomas Keith, em seu livro O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1988), citou o caso de um mártir puritano que fora saudado por pássaros ao desembarcar numa ilha para onde fora degredado. Thomas disse que esse religioso inglês, conhecido como John Bastwick (1593-1654), fora banido para as ilhas Scilly, em 1637, e ao chegar ali

“‘vários milhares de tordos de papo-roxo’ se reuniram para saúda-lo (‘nenhum desses pássaros fora visto naquelas ilhas antes disso’)”.

Cita-se que,a Europa, o tordo de papo-roxo é uma ave silvestre que se tornara mascote honorário sem ser capturada, o que é um caso particular, mas o mesmo Thomas Keith afirmou que o aprisionamento de um tordo da papo-roxo numa gaiola deixou o poeta William Blake furioso.

Provavelmente, esse pássaro, seja o Black-Throated Thrush (Turdus ruficollis atrogularis), uma ave da família dos turdídeos, um representante dos nossos conhecidos sabiás no velho Mundo.

Padre José de Anchieta

Simão de Vasconcelos, em sua Vida do Venerável Padre José de Anchieta, publicada pela primeira vez em 1672, obra baseada em trabalhos anteriores de outros biógrafos jesuítas, cita uma passagem lendária envolvendo o padre Anchieta (1533-1597) que, segundo esse relato, era um beato que tinha o dom de falar com os animais, e, dentre outras notáveis proezas, também dominava os elementos naturais.

A mais célebre passagem de sua vida envolvendo pássaros, foi aquela que, viajando ele em seu incansável trabalho de catequese, invocou um bando de atraentes aves vermelhas para proteger os irmãos do sol causticante. Assim, todos da canoa foram protegidos pela sombra das aves que, a uma ordem sua, puseram-se a voar numa formação fechado sobre a sua cabeça. A ave em questão é o guará (Eudocimus ruber, foto).

Raimundo de Menezes, em Aconteceu na velha São Paulo..., transcrevendo texto do padre Carlos Manoel da Nóbrega, cita outra famosa passagem vivida por Anchieta, aquela em que escrevera poemas na areia de uma praia:

“Foi depoimento comum dos índios - informa-nos Simão de Vasconcelos - que viram por vezes nesta praia uma avezinha graciosamente pintada, que com um brando vôo andava como fazendo festa, enquanto José ia compondo e escrevendo, e lhe, saltava brincando, ora nos ombros, ora nas mãos, ora na cabeça, ou para mostrar a José o cuidado que o céu tinha deles, ou para mostrar aos índios o com que haviam de respeitá-lo.”

Como se pode constatar, impossível, com os dados fornecidos, saber de que espécie é a ave citada.

“Anchieta escrevendo na areia”, óleo de Benedito Calixto.

Outra passagem envolvendo o padre Anchieta, recolheu Carlos Teschauer, que a ouviu de Batista Pereira:

“Contam que longe de Reritiba, sozinho na solidão, como São Francisco Xavier, morreu o Apóstolo do Brasil. Chegaram então duas andorinhas, colocando-se nos ombros do corpo, para vigiá-lo. E quando o levaram em banguê para o cemitério, juntaram-se-lhes mais duas andorinhas, que voaram em frente do préstito fúnebre. Ao enterrarem o corpo, formaram as andorinhas uma cruz acima da sepultura.”

São Francisco de Assis

Certo dia, São Francisco (1181-1226) saiu para pregar num região campestre situada entre Cannara e Bevagna, local onde havia um pequeno descampado rodeado por árvores de variadas espécies. Em dado momento, o santo teve sua atenção despertada para um bando de pássaros, uns pousados nas fronde das árvores, outros voando em revoadas ou espalhados pelo chão no descampado, e todas cantavam com tal alarido que pareciam estar se confraternizando (na ilustração, óleo de J. Segrelles). Para a surpresa de todos, o santo falou a seus discípulos:

“Esperem um momento, vou pregar às nossas irmãzinhas aves!”

Francisco entrou no campo e foi ao encontro das aves pousadas no chão. Mal começou a pregação, as que estavam nas árvores se reuniram às que estavam no chão. Nenhuma se mexia, embora andando ele passasse perto e mesmo chegasse a roçar nelas com a extremidade de sua veste! E dizia às ela:

“Minhas irmãzinhas aves, vocês devem muito a Deus, o Criador, e por isso, em todo lugar que estiverem devem louvá-Lo, porque Ele lhes permitiu que voassem para onde quisessem, livremente, da mesma forma que devem agradecer o alimento que Ele lhes dá, sem que para isso tenham que trabalhar; agradeçam ainda a bela voz que o Senhor lhes proporciona, que lhes permitem realizar lindas entonações! Vejam, minhas queridas irmãzinhas, vocês não semeiam e não ceifam. É Deus quem lhes apascenta, quem lhes dá os rios e as fontes, para saciar a sede; quem lhes dá os montes e os vales, para o seu refúgio e lazer, assim como lhes dá as árvores altas, para fazerem os ninhos. Embora não saibam fiar e nem coser, Deus lhes concede admiráveis vestimentas para todas vocês e seus filhos, porque Ele lhes ama muito e quer o bem estar de vocês. Por isso, minhas irmãzinhas, não sejam ingratas, procurem sempre se esforçarem em louvar a Deus.”

Ao final destas palavras, todas as aves, num gesto quase uniforme, começaram a abrir os bicos e esticar os pescoços, ao mesmo tempo em que cantavam e abriam as asas inclinando a cabeça em direção ao chão, como que a reverenciar o pregador e demonstrar assim que ele lhes havia proporcionado uma grande satisfação.

Ao final, São Francisco benzeu-os com o sinal da cruz e deu-lhes permissão para que se retirassem. Então, as aves levantaram vôo e se espalharam pelo céu fazendo evoluções e cantorias com grande animação. Depois, o bando se dividiu em vários grupos e partiu desaparecendo por trás das matas e colinas.

Uma outra passagem

Conta-se que, dias depois, o Santo foi em companhia de Frei Massau a um lugarejo situado entre Orte e Orvieto, conhecido como Alviano. Ali, pararam na praça do Mercado e como sempre, cantaram uma melodia com versos que convidavam à conversão do coração, com a finalidade de reunir o povo do lugar. Ao final do canto. o santo começou sua pregação. Era ao entardecer, momento em que as andorinhas – as mesmas aves que ainda hoje fazem ninho nos altos muros e nas torres das construções do lugar –, voavam de um lado para outro em evoluções contínuas, cantando alto e de modo quase uníssono. Os habitantes do lugarejo que se comprimiam ao redor do santo para ouvir sua pregação, não estavam conseguindo entender quase nada tal era o barulho que as aves faziam. Então, São Francisco, com a maior tranqüilidade, olhou para elas e com muita doçura lhes disse:

“Irmãs andorinhas, parece-me que agora é minha vez de falar. Já cantaram e falaram bastante! Escutem, pois, a palavra de Deus e fiquem silenciosas enquanto eu falo!”

No mesmo instante, para a surpresa de todos, as andorinhas cessaram sua algazarra e fizeram um grande silêncio, e assim se mantiveram por todo o tempo em que o santo falou.

A morte de São Francisco de Assis

Os últimos anos da vida de Francisco são de uma radiosa beleza. Pressentido São Francisco que estava próximo da morte, pediu aos frades que o levassem para a sua pequena cela na Porciúncula. Era o sábado, dia 3 de outubro de 1226, e o santo vivia os seus últimos momentos. Para resumir a impressão daqueles que o viram na ocasião: Tomás de Celano, um dos seus primeiros biógrafos, diz que o santo foi ao encontro da morte cantando. Ao cair da tarde, estando rodeado pelos frades que choravam e não queriam abandoná-lo, o santo começou a cantar o Salmo 141 de David. Conforme os minutos passavam, o som de sua voz foi perdendo a intensidade, até que, em certo momento, emudeceu por completo. Em seguida, seus lábios fecharam para sempre, e, foi assim que, cantando, São Francisco de Assis adentrou a eternidade. Porém Deus, em sua infinita bondade, ainda permitiu uma última saudação em homenagem ao humilde santo que venerava a Si e aos “irmãos” animais: no mesmo instante, vindo de todos os cantos do horizonte, uma nuvem de cotovias desceu sobre a Porciúncula e ocupou todo o teto da cela de Francisco, espalhando pela redondeza os seus trinados imprevista cantoria – eram as suas amigas que ali chegavam, e em profusão e admirável alarido, vinham dar-lhe o último adeus.

Jesus

As duas histórias envolvendo Jesus e pássaros no período de Sua infância de que se tem notícia, são de natureza diversa e não constam das versões canônicas. Existem inúmeros textos apócrifos que falam desse período, como as que constam da série de livros denominada “Apócrifos - Os Proscritos da Bíblia”, lançado pela Editora Mercuryo, com histórias com textos compiladas e traduzidas por Maria Helena de Oliveira Tricca e Júlia Bárány, e em outro livro, “O outro Jesus segundo os evangelhos apócrifos” (2002), de Antonio Piñero, editora Paulus. Há histórias interessantes nesse gênero, como aquela em que Ele fazia pequenos pássaros de barro, dentre outros animais, e lhes insuflava vida soprando em suas narinas. Há uma outra curiosa passagem – que inclusive consta de um filme que todo ano passa na Páscoa –, em que Ele toma um passarinho morto à pedradas por uma outra criança, e, visivelmente triste e transtornado, sob os olhos surpresos de Maria, o ressuscita fazendo-o voar de suas mãos.

Bem, amigos, isto é tudo o que descolei de histórias do gênero, e se eu descobrir mais alguma, ou se os leitores souberem de outras, me dêem um toque que eu as disponibilizarei neste espaço.

BIBLIOGRAFIA
22 fontes.
Consultar o autor
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segunda-feira, 16 de março de 2009

OUTRAS FRASES DE HUMOR DE MINHA AUTORIA

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ATINAÇÕES

Quem dá aos macacos, empresta à Darwin.

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EM RESPOSTA À UMA MÚSICA DA IVETE SANGALO

Nego, se tu soubesse

O valor que o branco tem

Tu tomava banho de lua

E ficava branco também

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MÁS NOVAS

O Vando lançou um disco, o "Uivando de Paixão". Agora falta o Latino lançar o seu: "Latino pra Lua".

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QUADRINHAS DO CIVILICO

É triste a vida de pobre

Não nasce rei nem rainha

Pobre só vai pro trono

Quando o trono é o do Chacrinha

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O paraíso do rico

É só de brincadeirinha

Rico só vai pro céu

Quando pula amarelinha

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NÃO CONFUNDA

Não confunda o jogo do Coríntians no estádio do Maracanã com o estado dos coríntios no jogo do mar de Canaã.

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MONDO BIZARRE

O problema não reside na Justiça ser cega, mas no advogado não advogar em Braïlle.

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FACULDADES I

Um dia, eu disse ao meu pai que queria estudar agronomia. O primeiro conselho que ele me deu: - Isso mesmo: vai plantar batatas!

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FACULDADES II

Desista de tentar conseguir uma bolsa de estudos aqui no Brasil. Vá para a Austrália - lá, até canguru tem bolsa.

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ATINAÇÕES

Façanha mesmo é avestruz chupando prego para virar tachinha.

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NÃO CONFUNDA

Não confunda o osso buco da perna com o moço de Pernambuco.

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SUTIS DIFERENÇAS

Voyeurismo é calcinha no vão da perna. Fetichismo é calcinha no varal.

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NÃO CONFUNDA

Não confunda a homogenia da coleta seletiva com a hegemonia da seleta coletiva.

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TERRA BRASILIS

Meia idade no Brasil é o período da vida em que se está velho demais para que alguma empresa o admita, e novo demais para que a Previdência Social o aposente.

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