a beleza sempre cheiram bem. A aca, o bodum, a
catinga, o xexéu, a inhaca, o chulé e o fartum são os
fedores corrompidos da maturidade, da velhice, do
desgaste, da doença, dos pré-cadáveres. O cheiro do
corpo normal é parte do halo sexual das criaturas. O
corpo humano, na sua ssabe-seuperfície e cavidades acessíveis
é tão profundo e complexo como a alma que dizem que o
habita como sopro de vida ou divino. Ambos são difíceis
de explorar; mas o primeiro tem de sê-lo com todos os
sentidos: tacto, vista, gosto, ouvido, olfato. Os cheiros
do macho ou da fêmea são viceversamente afrodisíacos."
(Galo das Trevas. Pedro Nava. 1981)
A matéria comentava também a teoria do “cheiro eletivo”, cujo autor é o sexólogo alemão Fritz Kahn (1888-1968, foto), que escreveu o clássico livro “Nossa Vida Sexual” (1939). De acordo com este conceito, um casal deve, antes de iniciar qualquer relação, “cheirar-se um ao outro”. Segundo ele, há moças lindas que permanecem solteiras porque o seu “cheiro” a ninguém agrada e em ninguém encontra correspondência. Por outro lado, quando há afinidades no cheiro de ambos, essa química entre homem e mulher poderá mantê-los em união permanente, mesmo que haja ausência de afinidades psicológicas. Quando a união se complementa positivamente com esse último ingrediente, tem-se o chamado “casamento de eleição”.
No entanto, acho que o Fritz Khan afirmar que há moças lindas que permanecem solteiras porque o seu “cheiro” a ninguém agrada, é colocação indevida. O correto seria ter escrito “pessoas” e não “moças lindas”, já que o cheiro independe do sexo e da beleza da pessoa.
Como se vê, essa teoria guarda relações com a supracitada teoria da “afinidade eletiva”, a mesma que batizou uma obra do escritor, poeta e filósofo Johann Wolfgang Goethe (1749-1832, gravura), o famoso livro “As Afinidades Eletivas” (1809).
Dizia ela, embasada em pesquisas levada à cabo por uma nova ciência, a Olfatrônica, que o homem emite cerca de 100 substâncias sob a forma de vapores, e que as pessoas sempre deixam uma parte de seu cheiro nos lugares em que passam ou frequentam, e desses 100 vapores, 30 a 50 são comuns a todos nós.
As pesquisas foram empreendidas pelo Dr. Andrew Dravnieks (1912-1986), então chefe do Departamento de Olfatrônica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, e um dos pioneiros em diversos campos de estudos relativos a olfato e odores. Segundo ele, “o retrato olfatrônico de uma pessoa é formado pelo desenho ou pelo padrão das substâncias específicas dela emanadas.”
Dizia ainda a reportagem que
Dizia ainda que “um dos fatores que mais alteram o retrato olfatrônico é a dieta alimentar”, e que “os perfumes não abalam o registro olfatrônico.”
O cheiro travoso do meu querido Cajueiro... Em relaçäo a cheiro fico cheio de curiosidade. Indeciso mesmo, reavivando lembranças do meu passado infantil, estranho, triste e atrapalhado, porque entre as minhas esquisitices avultaram os cheiros. Era, e ainda é hoje, e bastante, como se eu tivesse um instinto meio canino. Realmente, näo era pelos olhos que eu orientava as minhas paixöes – simpatia e antipatia, de modo particular. Digo a verdade: era pelo olfato. O julgamento que no meu íntimo eu fizesse de quem quer que fosse, dependeria do cheiro que eu sentisse. Como me afastava de pessoas que recendessem forte ou das que, pior ainda, tresandavam cheiros acres! O vinagre me causava repugnância, assim como o cheiro de sola, razão por que jamais me acerquei da tendinha onde Dona Sapateira trabalhava. Suor antigo, embebido em camisa de menino ou homem, em blusas de menina ou mulher, obrigava-me a que eu tivesse de quem as vestia uma impressão restritiva: mau gosto, porcalhões, faltos de inteligência, provocadores das narinas alheias. Para lavar essa primeira impressão, desprimorosa, era preciso tempo, certeza de que água e muita água enxaguara os panos de mau cheiro.
A partir de oito ou nove anos, época dos primeiros namoros inconsequentes, jamais me engracei de nenhuma menina sem antes me aproximar dela para sentir-lhe o odor. Muita paixão se derreteu, uma me deixou longa lembrança, mas por infelicidade a graciosa menina encheu-se de perebas, e o enxofre foi o remédio que lhe aplicaram. O odor sulfúrico incompatibilizou-me de tal maneira com essa menina, que passei a detestá-la, como se a garota fosse um diabinho de saia com o mau cheiro infernal das lendas.
Reluto ainda agora, fiel às minhas esquisitices de criança, com a ideia de que o bonito possa cheirar mal, assim como conservo a noção antiga de que beleza tem relação ou é forma objetiva de bondade.
CASOS HISTÓRICOS
Há quem veja nisto um pouco de exagero e excentricidade do imperador, mas é uma realidade para para certas pessoas. Cá no Novo Mundo, curiosamente, a história nos diz que, na época do descobrimento, era uma situação assaz desagradável para os nossos índios (que normalmente tomam banho diariamente), receberem os portugueses mal-cheirosos, com toneladas de roupa ensebadas, sem tomar banho há meses em suas caravelas!
Lembro-me de um amigo que me disse, certa vez, que dois tios seus que moravam na roça, gostavam do cheiro natural um do outro, e, por isso, dispensavam o uso de sabonete e perfumes: a mulher, dizia que o marido cheirava à goiaba, e ele, dizia que a mulher também tinha aroma de fruta, mas eu não me recordo qual. Lembro-me que tive namoradas que tinham um cheiro natural delicioso, e era muito bom ficar abraçado à elas, cheirando-as...
A má higiene, do mesmo modo que os perfumes, pode “esconder” o cheiro natural de uma pessoa – obviamente, uma pessoa má asseada, com o corpo contaminado por resíduos estranhos, tem seu cheiro natural alterado de modo a não ser possível, às vezes, reconhecer seu cheiro, diríamos, original. A alimentação também conta muito no cheiro corporal. Eu mesmo, certa vez, tomei cápsulas naturais de óleo de alho, bem como cápsulas de complexo B, com a finalidade de espantar insetos, pois ia acampar, e, na época, meu pai me disse que eu estava com um cecê danado – problema que jamais tive. Foram as benditas cápsulas!...
Quando trabalhei em São José dos Campos, conheci uma menina lindíssima e me apaixonei por ela – trabalhávamos lado a lado, até que chegou o Verão... A garota suava às bicas, deixava marcas de suor em sua camiseta branca, e o cheiro era forte, e não era por questões de higiene – era condição natural de si mesma. Final das contas: desisti da garota. Por outro lado, a vi namorando dois sujeitos pelo menos, no tempo em que morei em São José. Numa empresa em minha cidade, Araras/SP, trabalhei com um chefe cujo suor cheirava à urina e, repito, não era falta de higiene, além disso, ele namorava uma garota da mesma empresa. Fica pergunta: Será que, em ambos casos, eles não sentiam este cheiro “anormal” de seu parceiro, ou o cheiro não os incomodava? A genética talvez responda este mistério.
Curioso e surpreendente, não é, amigos? Então, daqui para a frente, para o meu, o seu e o nosso próprio bem, manda a conveniência que, honrando nossos instintos ancestrais, lancemos mão dessas propriedades organolépticas “adormecidas” que normalmente passam despercebidas de nós, como o olfato e o paladar.
Então, cheiremos previamente a pessoa que desejamos ter como companheira para o resto de nossos dias, bem como a beijemos com mais atenção, atentando para as sutilezas que ambos os atos implicam, fazendo-o como quem cheira e prova um vinho finíssimo.
Recomendo também, para quem já namora, que preste mais atenção ao cheiro de sua companhia depois de um banho de ducha, rio ou mar, isto, sem que ele tenha o seu cheiro natural embotado por sabonetes, protetores solares, repelentes e outros artifícios. Assim, amigos, o verdadeiro cheiro da pessoa que você elegeu para sua companhia poderá ser sentido em toda a sua plenitude.
Fontes (11):
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