CONDE SYLVIO ÁLVARES PENTEADO - UM PILOTO ARARENSE, “O HOMEM MAIS RÁPIDO DO BRASIL”
No início do século 20, no primeiro semestre de 1908, fervilhavam as manchetes sobre acontecimentos automobilísticos no Brasil, e o principal dentre os realizados na época ficou conhecido como “A Primeira Competição Automobilística na América do Sul”. Considerada a primeira corrida oficial do país, foi realizada pelo Automóvel Club de São Paulo no distante 26 de julho de 1908. Neste data, um domingo, um ararense mudaria a história do automobilismo no País ao vencer essa pioneira corrida. O autor da façanha foi o conde Sylvio Álvares Penteado, nada mais nada menos que neto mais velho do Barão de Araras. Nascido em Araras em 25 de julho de 1881, era muito jovem ainda no dia da competição: mal acabara de completar 27 anos, foi considerado “o homem mais rápido do Brasil”, na verdade, da América do Sul.
O Parque Antarctica foi o palco da largada e chegada, isto numa época em que as ruas de São Paulo eram tranqüilas e dominadas por modernos bondes elétricos, disputando espaço com carroças e outros veículos tracionados por animais. O itinerário seguia por uma estrada muito precária, que ficou conhecida como “Circuito de Itapecerica”. Era uma estrada ruim, de solo empoeirado e acidentado, e saía do Parque Antártica indo até Itapecerica, na Zona Oeste de São Paulo, num circuito em forma de laço, cujo percurso completo atingia 75 km. No Parque se reuniram 10 mil pessoas, com ingressos ao valor de 2 mil réis, e 400 mil saíram às ruas para ver a competição.
Sylvio competiu com um Fiat italiano de 40 cavalos. Para participarem, carros pagavam 100 mil réis e motos 50 mil réis. Eram 5 categorias e só poderiam conduzir condutores amadores, ou seja, que não fossem pilotos ou mecânicos assalariados. Inscreveram-se 16 carros e 3 motos nesta competição, que, na verdade, era mais um rallye do que efetivamente uma corrida, pois cada piloto largava individualmente, com 5 minutos de intervalo entre eles.
Às 13h16m, após a partida do primeiro piloto da categoria D – o carioca Gastão de Almeida – explodem as palmas e os gritos: é a platéia paulistana que aplaude de pé nas arquibancadas do Parque Antártica a partida do Fiat de Sylvio. Horas depois, às 14h46m05s, a multidão ouve o barulho de motor de um competidor que se aproxima do ponto de chegada. Todos esperam ver o carro Lorraine-Dietrich de Gastão... mas quem surge é o conde Sylvio...
Acontece que, em Santo Amaro, o mesmo Gastão, que levava 5 minutos de vantagem sobre Sylvio, perdeu o reservatório de óleo, que caiu a 6 quilômetros da chegada. Assim, Sylvio, que vinha logo atrás, o ultrapassou e conseguiu chegar em primeiro lugar, completando o trajeto em 1h30m55s.
Após a célebre corrida, da noite para o dia Sylvio se tornou uma figura popular e ídolo dos paulistanos. Nas semanas seguintes, ao vê-lo passar com seu carro indo para o trabalho, todos o reconheciam e diziam: “Lá vai o nosso herói!”.
Poderia usar aqui o chavão: “guardada as devidas proporções”, mas para referir ao conde Sylvio, convém colocá-lo no mesmo pódio que Ayrton Senna, uma vez que por sua façanha ele nada deve à Senna: Sylvio foi um dos primeiros pilotos de automobilismo no Brasil e vencedor da primeira corrida; logo, ele não tinha antecedentes neste então esporte nascente.
Esta corrida foi um evento fascinante de uma fase histórica do automobilismo brasileiro, e coube ao nosso ilustre conterrâneo estrelar esse que é um dos mais belos momentos do chamado automobilismo romântico brasileiro.
Sylvio faleceu aos 75 anos, em 1956, sendo considerado um dos líderes e grandes fomentadores da indústria brasileira.
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