sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

LEÃO DO NORTE - "Bebida amarga da raça, que adoça o meu coração"


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Leão do Norte, acreditem, ao contrário da onipresente Coca & Cola é uma bebida impossível de se imitar, e digo mesmo de se  chegar à um sabor próximo ao que ela possui. Há inúmeras no mercado (Boite Show, Cangaceiro do Norte, San Martin,Trago Forte, etc.), mas nenhuma se equipara à ela.

A Pepsi conseguiu a façanha de parear com a Coca, mas a danada da Leão do Norte, ah, nunquinha, essa ninguém falsifica!

Quem a conhece, como eu conheço - e digo isto de "carteirinha" -,  identifica-a de olhos fechados - só pelo aroma -, e ninguém presisa ser um organoléptico para decifrá-la - uma simples provada em seu aroma, dentre todas as outras jurubebas colocadas à prova numa bateria de testes, basta para identificá-la imediatamente. O sabor também, é inimitável - amargor sui generis ao paladar.


Assim como o  Campari, ela é uma  bebida de sabor amargo, mas, convenhanos, o giló é o chimarrão seriam tão gostosos se não tivessem o amargor característico? Pois é, é no seu amargor peculiar que está o seu segredo, o seu charme...


A Leão do Norte é uma  bebida clássica, de tradição, "resultado da feliz combinação de vinho Tinto de mesa rio-grandense da melhor procedência (70%), macerado de frutas de jurubeba, associados a extratos alcoólicos de plantas aromáticas, decotos de plantas amargas, xarope de açúcar de cana e álcool etílico potável", segundo reza o rótulo no verso da garrafa. As propriedades medicinais das plantas que a compõem, vale dizer, são incontestáveis e afamadas - possuem qualidades hepáticas, digestivas, tonificantes e até  mesmo afrodisíacas!

Para finalizar, aproveito para elogiar esse "néctar dos deuses", citando o grande e saudoso  escritor, poeta e  folclorista dos pampas do Rio Grande do Sul, José Simões  Lopes Neto:

"Bebida amarga da raça, que adoça o meu coração."


HISTÓRICO SOBRE A BEBIDA

A empresa foi fundada em 1920, na cidade de Feira de Santana. Em 1932, mudou-se para Salvador a fim de melhor atender ao desenvolvimento das vendas e da área de consumo do seu produto JURUBEBA LEÃO DO NORTE.
Sua sede definitiva, edificada no Centro Industrial de Aratu em terreno de 125.000m2 e 12.000m2. Maquinário e equipamentos atualizados permitiram à indústria alcançar um alto índice de automação e produtividade.
O produto fabricado, em cuja composição, de acordo com a lei, entram 70% de vinho do Rio Grande do Sul da melhor procedência, é armazenado em dornas uniformes com capacidade para três milhões e meio de litros. Todos os componentes são analisados em laboratório de análises enológicas e bacteriológicas da própria fábrica, que dispõe de cromatógrafo computadorizado.
A fórmula e os processos de fabricação estabelecidos pelo fundador Paulo da Costa Lima, são obedecidos rigorosamente, o que justifica o conceito e a crescente aceitação do legítimo JURUBEBA LEÃO DO NORTE em todo território nacional, bem assim com as honrarias que lhe foram conferidas, desde os primeiros anos:
  • Diploma de honra do instituto Agrícola Brasileiro - antigo Ministério da Agricultura (1927);
  • Medalha do Ministério da Justiça e negócios internos, na Exposição do Centenário da Independência (1922);
  • Grande Diploma de Honra dessa mesma entidade (1936);
  • Medalha na Exposição Feira Mundial de New York (1936), entre outras.



A PRIMEIRA INDÚSTRIA DE FEIRA (do texto "A Feira Antiga", blog de Antônio do Lajedinho)

Não sei exatamente a data da fundação da Fábrica Leão do Norte, mas lembro-me dela em 1930 situada entre os fundos da Prefeitura e o ABC (hoje, avenida Sampaio). Era a única construção em meio a um grande matagal. Ocupava uma área de uns 20.000 m², incluindo a chácara com a residência do seu fundador e proprietário, Paulo Costa Lima, o químico que criou a famosa Jurubeba Leão do Norte.

A fábrica tinha uma grande área construída dividida em escritório, salão das dornas onde ficavam umas 15 delas de 2 a 4 mil litros, salão de engarrafamento, rotulagem e acabamento, sala de carpintaria e embalagem, galpão de moagem com as primeiras máquinas a motor, sala de produção onde se faziam as bebidas, sala de tanoaria, sala de lavagem de garrafas, além de vários depósitos para carroças, dependências para operários e um sem número deles.

Durante todos os dias da semana havia muito movimento de carroças transportando caixas e barris de bebida para a Estação Ferroviária e para o comércio local. Nos dias de segunda-feira, dia da feira local, a fábrica ficava tomada de animais de carga que vinham de toda parte comprar bebidas e vinagre.

É díficil de se acreditar que uma cidade até então tão pequena tivesse uma fábrica daquele porte, mas era tão grande e boa que Feira ficou pequena para ela e o Paulo Costa Lima levou-a para a capital onde mais se desenvolveu e ainda hoje tem nome no Brasil e no exterior - a Jurubeba Leão do Norte, nascida em Feira de Santana.  

A minha permanência na Marinha durante a Segunda Grande Guerra e posterior residência em fazenda no sertão, me afastou da família de Paulo Costa Lima, mas como bom feirense não esqueço de D. Senhora nem dos seus filhos, especialmente Vivaldo, que era dos mais novos senão o mais novo. E já que falei em bom feirense, que tal se os senhores vereadores, nascidos ou residentes aqui, que também são feirenses, trocassem um desses nomes de rua como Los Angeles, Buenos Aires, Ayrton Senna etc. pelo nome do respeitável Paulo Costa Lima numa justa homenagem ao primeiro industrial de Feira de Santana, ao homem íntegro, ao pai que deu filhos ilustres a Feira de Santana, como foram todos os seus filhos. Vamos ser menos ingratos com os antepassados que conduziram Feira ao alto do progresso. Esquecer ou negar o nome de homens que fizeram a história da cidade não é só ignorância e ingratidão: é uma covardia.


Jurubeba Leão do Norte: foi o marketing que lhe deu vida (do site Memórias da Bahia)

Em 1920 Paulo da Costa Lima, tio me parece (não tenho certeza) do saudoso Epaminondas Costa Lima, criou a organização Jurubeba Leão do Norte, uma indústria de bebidas com base no extrato da árvore do mesmo nome, amarga de verdade. Na infusão com a cachaça e outras ervas como a quina, na época prescrita para a febre amarela e mais o popular e rasteiro fedegoso, ganhava um gosto menos carregado do cheiro original da casca.

Quase cem anos já se passaram e o produto continua a ser fabricado e tem grande aceitação ainda no interior do Estado e no Nordeste. Antes sugerido como digestivo e estimulante hoje é degustado na esperança de aumentar a potência sexual e nos bares é consumido como cachaça mesmo, uma dose atrás da outra. Foi o marketing que deu longa vida a este produto, uma das marcas de maior recall entre as indústrias de bebidas regionais.

Já nos anos 20 publicavam-se anúncios nas revistas como o deste post com um apelo medicinal. Não era propaganda mentirosa, mas um modismo da época de tratar os vinhos de folha como estimulantes com efeitos terapêuticos e recomendavam-se doses mínimas. Produtos similares como o Elixir de Nogueira, ou o Licor de Tayuyá seguiam a mesma linha discursiva na sua propaganda.

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