quinta-feira, 13 de novembro de 2008

AVE QUE SE TORNOU FAMOSA NO BIG BROTHER BRASIL 2 APARECE NA FONTE LUMINOSA CONDE SILVIO ALVARES PENTEADO, NA PRAÇA BARÃO DE ARARAS



Desde já, afirmo que não sou fã de reality shows - aliás, detesto -, e se neste ensaio faço alusaõ ao Big Brother Brasil da Rede Globo, é apenasmente para comentar a ave em questão.

No começo da década de 1990, eu tinha num jornal local uma coluna que versava sobre as aves que vivem na zona urbana de Araras. De todas as aves que identifiquei neste meu levantamento, uma das que não fizeram parte da lista foi a ave conhecida como lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), espécie de porte médio, da mesma família do bem-te-vi comum, que ainda não ocorria na zona urbana e mesmo no Lago Municipal. Calculo que deva haver cerca de 300 espécies ou mais de aves na zona central da cidade. Só para se ter uma idéia, nas “selvas de concreto” da cidade de São Paulo há 273 espécies identificadas!


Em junho de 2003, passando pela praça Barão, sempre observando as aves que ali existem, vi pela primeira vez, na borda da fonte luminosa Conde Silvio Álvares Penteado, uma lavadeira caçando insetos, isto sem nenhuma preocupação com as pessoas que passavam. Neste mesmo mês, reencontrei outra lavadeira, ou a mesma, já formando um casal, com um ninho edificado no alto de um pequeno pinheiro no jardim em frente a fonte, de onde veio à luz um único filhote. Um ninho semelhante no mesmo pinheiro, um pouco abaixo do citado, foi encontrado, talvez um indicio de que o ano passado ela já nidificara ali.


Mas que motivos levaram uma ave que normalmente vive em ambientes aquáticos a passar a freqüentar a zona urbana? A lavadeira-mascarada, pelo que se conclui, está entre as espécies de pássaros que tem tendência à sinantropia, ou seja, é uma ave que conseguem se adaptar sem grandes dificuldades ao ambiente alterado das cidades. Etimologicamente falando, sinantropia significa amigo do homem. A "relativa" semelhança da fonte luminosa com o habitat natural da ave, mais os fatores disponibilidade de alimento e arborização favorável, tornaram possível sua adaptação à esse “arremedo” de seu ambiente natural, mas ocorre que ela está freqüentado praças e outros locais onde não há água disponível como em seu habitat natural. . A ocorrência de determinadas aves paludícolas e de ambientes abertos na zona urbana, tem sido associada à “desertificação antrópica”, isto é, a destruição do seu habitat natural pelo homem. A tendência moderna de se promover a arborização de jardins e vias públicas com espécies de importância biológica, bem como imitar habitat selvagens é um fator relevante que facilita sobremaneira o adensamento populacional e fixação de algumas espécies de nossa fauna nos ambientes urbanos.



A distribuição desta ave é curiosa, pois existem duas populações muito distantes: é tida como originalmente ocorrente no nordeste do Brasil (forma nominal), bem como oeste do Equador e noroeste do Peru (F. n. atripennis). A população brasileira, antigamente restrita a açudes e rios no sertão e agreste da região nordeste, vem se expandindo. A Mata Atlântica, que aparentemente representava uma barreira natural para esta espécie, foi perdendo espaço para pastagens e culturas que se assemelham mais ao semi-árido do que à Floresta Umbrófila, possibilitando assim a expansão desta espécie. Outras explicações envolvem o aumento no número de rios represados no sudeste e mudanças climáticas. O fato é que esta simpática ave está sendo registrada cada dia mais ao sul. Na década de 1990 foram feitos os primeiros registros da espécie no interior de São Paulo, e atualmente já são registradas aves se reproduzindo em Santa Catarina. No Rio de Janeiro a lavadeira-mascarada começou a aparecer na zona urbana por volta de 1959 e no Estado de São Paulo em 1980. Mas o que venho comentar nesta matéria, não é sobre esse seu avanço para o Sul do país, e sim a sua ocorrência em zonas urbanas. Segundo o professor Francisco Manoel de Souza Braga da Unesp/Rio Claro, o ornitólogo norte-americano Edwin Willis, professor da mesma universidade (que tem estudos sobre expansão geográfica de aves de zonas abertas com a “desertificação” antrópica em São Paulo), comentou e registrou a ocorrência dessa espécie no lago do Horto Florestal de Rio Claro (SP) e áreas de entorno em 1991. Agora, 13 anos após Rio Claro, chegou a vez de Araras ser contemplada com a presença da lavadeira, mas com notável ocorrência e distribuição por toda a zona urbana da cidade.



O autor observou, em setembro de 2008 (Araras, SP), uma casal com um ninho num pé de mamão entrelaçado com uma roseira, instalado a cerca de 2 metros de altura, numa rua urbana em frente à uma praça bem arborizada, mas esta rua distava cerca de 300 metros de um curso d’água. Acima, foto do ninho, e, ao lado, um filhote no mesmo local, em janeiro de 2007. No entanto, cita-se que a ausência de corpos d'água próximos aos ninhos não é um fator determinate para a nidificação da espécie.



Mas, o que me levou também a escrever esta reportagem? Ocorre que um exemplar desta ave se tornou popular entre os brasileiros em 2002 após ganhar notoriedade no programa Big Brother Brasil 2. Uma das participantes deste reality show, a comissária de bordo Cida (foto ao final do texto), tornou a lavadeira-mascarada famosa ao se “relacionar” com ela, nas vezes em que a ave costumava aparecer para caçar insetos na piscina da mansão. Cida – uma versão feminina de Santo Francisco de Assis, o santo que conversava com as aves – dizia se comunicar mentalmente com a ave e, através dos “conselhos” dela decidia quem iria ou não para o paredão... Toda vez que Cida trocava confidências com a ave, outra participante, a jogadora Tina, surtava. Soa estranho o nome com que ela batizou a ave, “são jorge”, uma vez que a lavadeira também é conhecida por lavandeira-de-nossa-senhora no Norte e no Nordeste (Cida é carioca), mas será que o nome de santo se deva ao time Corinthians, que tem em seu uniforme as mesmas cores da lavadeira, preto e branco, time cujo padroeiro é São Jorge?

Brincadeiras à parte, a lavadeira-mascarada é ave protegida, inclusive por caçadores de pássaros, pois lhe é atribuída a lavagem das roupas de Nossa Senhora, daí este seu outro batismo; assim, quem a mata ofende Nossa Senhora. Reza o folclore que “Quem mata lavadeira tem cinco anos de atraso”... Olegário Mariano recolheu estas quadrinhas:


“Lavandeira, lavandeirinha,

Nos dias quentes de calor,

Lava nas águas do riacho

A roupa de Nosso Senhor

Lavandeirinha de asa preta,

Contigo eu vou lavar também

O vestido de chita pobre

Daquela a que eu quero bem.”


O folclorista Getúlio César recolheu no município de Leopoldina, Alagoas, junto de Sertãozinho, Pernambuco, a seguinte “incelença”:


“Uma lavandeira,

Um beja-fulô,

Lavava os paninhos

De Nosso Sinhô,

Quanto mais lavava Mais sangue corria,

Nossa Sinhora chorava

E o judeu sorria.”


O seu seguimento é “Uma lavandeira, dois beja-fulô...”, e assim vai até “Uma lavandeira doze beja-fulô.”


Eu seu excepcional livro, Canto de Muro, Câmara Cascudo trouxe um belíssimo texto, onde fala das intimidades da Lavadeira, da sua amizade com o bem-te-vi, além de revelar profundas minudências sobre essa curiosa ave. Vale a pena transcrevê-lo.


“Uma parenta amiga íntima do Bem-te-vi é a Lavadeira, Lavandeira como gostosamente o povo diz. Trata-se, gravemente, de um Tiranídeo, Fluvicola climasura, Vieill. Peque­nina, asas negras, as listas heráldicas da família prolongando-lhe os olhos, é a mobilidade, a volubilidade, a graça leve, fina, alada, graciosa sempre, familiar e doméstica, enchendo de agitação, de elegância natural, o silencio do canto do muro nas horas do dia.

Faz um ninho baixo, empregando materiais disparatados mas num arranjo pobre e simples que resulta emocional. Caça com uma técnica de minueto, correndo como se fosse atender a uma volta de pavana ao som dos violinos de Lully. Está por perto do tanque, banhando-se muitas vezes, um banho tão sumário, rápido e fidalgo que dá vontade perguntar a exata finalidade do ato, vaidade de exibição ou exigência de higiene em ritmo de segundos musicais.

Sempre perto do Bem-te-vi corre, volteia, sobe e desce a Lavadeira habitual. Como deglute insetos microscópicos e os faz num súbito arranco em linha reta, tem-se a impressão que está caçando raios de sol porque neles encontra, como em suspensão, a vida dos mínimos de que se alimenta. Exceto nas horas ardentes de verão quando faz a sesta como uma doce sinhá moça tropical na varanda da casa-grande, trabalha dia inteiro. Mas sua tarefa é um bailado com todos os jogos de elevação, piruetas e batidas que arrastam aplausos das samambaias e dos tinhorões hierárquicos. Não é possível que a Agilidade possua outra imagem e a Sedução melhor modelo.

Burla as exigências do equilíbrio e as leis da gravidade nos vôos espiralados, freados com as. asas abertas nas descidas imprevistas, as perpendiculares e os círculos descritos no ar como se não tivesse peso e apenas o atravessasse como uma luz e um perfume.

Nos jorros luminosos que descem através da folhagem a Lavadeira baila como se o rei Herodes Ãntipas a assistisse. Exigirá apenas alguns insetos que a luminosidade revelou aos seus dois olhos negros.

Em 1728, Nuno Marques Pereira já elogiava sua glória de bailarina:


Saiu de ponto a dançar

A Lavadeira, e mostrou

Era tão destra na dança

Que pés na terra não pôs.


Tem seu repertório melódico. Três ou quatro números de efeito. Gosto muito de um deles em que ela canta com as asas abertas, erguendo-se na cadência do garganteado incessante e oscilando o corpinho como se orasse numa mesquita oriental. É um duelo. Outra lavadeira está por diante, acompanhando a virtuosidade da execução, contracantando e repetindo o compasso da idêntica movimentação envolvedora.

É neste canto que a sua cauda negra e graciosa plagia a técnica das lavadeiras nos rios. Dai o nome que lhe deram os franceses e nós recebemos. A tradição afirma que ela lavou a roupa do Menino Deus.

Em certa distância o primo Bem-te-vi aprecia o quadro. Agora que o crepúsculo pinta de ouro e sangue a tarde vagarosa, as duas lavadeiras cantam, alternadas e uníssonas, numa claridade votiva, a despedida do dia e de suas tarefas que amanhã voltarão.

Do canto do muro, no alto, a cabeça triangular emergindo dos cachos ornamentais, Vênia muito naturalmente concordava com os aplauso...”

Em outro texto seu, Aves e pássaros no folclore brasileiro, publicado na Revista do Livro, nº19, Câmara Cascudo, se referindo à uma outra espécie de lavadeira, a Arundinicola leucocephala , mais conhecida como freirinha, escreveu o seguinte:

“Surpresa é dizer-se que a lavandeira, Arundinicola leucocephala, a tiranida vista em toda a parte, está no Index. Apesar de seus hábitos simples, de sua familiaridade, de suas visitas às calçada e cozinhas, de seus saltos e reviravoltas, a lavandeira não é boa peça. Se lavou a roupa de Nosso Senhor foi gesto único de bondade. Dá azar. Para anular seu inconsciente prestígio maléfico quando lhe derem de comer, especialmente se fiapos de carne-verde, não lhe dêem de beber. E vice-versa.”


Enfim, se a nossa lavadeira da fonte luminosa vai se tornar conselheira e atender as súplicas de alguém (os corintianos, por exemplo...) eu não posso garantir, mas convido o povo ararense a ir conhecer pessoalmente essa bela, pacífica e atrativa ave lá na praça Barão e conferir como a manutenção adequada de uma área verde dotada de ambientes aquáticos pode colaborar na atração e fixação de novas espécies de pássaros e outros animais no meio urbano, ainda que a nossa praça Barão esteja meio longe disso...




BIBLIOGRAFIA:

Contatar autor.


.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

NOVAS FRASES DE HUMOR DO V-NEWTON


RELATIVIDADE

O alfaiate está para o barbeiro, assim como o estilista está para o cabeleireiro.

#

PINGOS NOS IS

A Carolina Ferraz que me desculpe, mas seio pequeno não agrada nem bebê em fase de amamentação.

#

DUPLA IGNORÂNCIA

TÍpico do analfabeto funcional é não saber o que significa analfabeto funcional. E também que ele o é...

#

DICAS

– Amigo, tome leite longa vida de gato, que é bem melhor.

– Como assim?!

– Oras, gatos não têem sete vidas?...

#

SUTIS DIFERENÇAS

Digerir com cólica, não é o mesmo que dirigir em coma alcoólica.

#

NÃO CONFUNDA

Não confunda a titica de galo com o lago de Titicaca.

#

PARA ENTENDIDOS

– Nava, não há navalha que valha!

– Então, amigo, eu levo o revolver...

#

REFESTELANDO-SE...

Feliz é o dono da Elma Chips, que pode se dar ao luxo de dizer ao seu fornecedor: “Tome este dinheiro é vá plantar batatas!”

#

COISA DE LOUCO

O óleo de fígado de bacalhau é feito de óleo de baleia... mas acontece que eu o tomei, e fiquei forte como uma sardinha!... que é alimento de baleia!...

#

SÍNDROME DE ALMIR ROGÉRIO

Não é motoqueiro, é motociclista! Não é perueiro, é condutor escolar! Não é pular de pára-quedas, é saltar de pára-quedas! Não é boiadeiro, é criador de gado! Não é mendigo, é trecheiro! Não é puxador de escolas de samba, é intérprete! “Metaleiro” é metalúrgico (o Lula...) ou “fazedor de panela”! O correto é rockeiro, ou headbanger... ... “Eu não sou marinheiro, sou capitão, sou capitão!...” Caramba, haja saco! Precisa-se de uma cartilha para entender essas tribos!!

#

FRASES QUE, HOJE, VOCÊ NÃO VAI OUVIR POR AÍ

Assim, Pero Vaz, caminha a humanidade!
#

CHACRETES

Rita Cadillac disse que levará até o fim a sua idéia de ser velada de bruços, com o precioso bum-bum para cima. Bem... mas até lá ela vai virar Rita Ford Bigode!...

#

TEMPOS MODERNOS

“Etanóis!” – expressão que a caipirada plantadora de cana grita em promissores tempos de biocombustíveis.

#

FALANDO SÉRIO

Quem tem piercing na língua, não pode reclamar de pino de platina na perna.

#

OUVIU O GALO CANTAR E NÃO SABE AONDE...

Os Florais de Bach eu não conheço, mas a “Primavera” de Vivaldi é o máximo!

#

SIMILA CURANTUR SIMILA

O rato do esgoto dissemina as doenças. O de laboratório ajuda a encontrar a cura.

#

OPINIÃES...

É clítoris ou clitóris, r(é)cord ou record, n(ó)bel ou nobel, (Ó)scar ou Oscar? É como diria o Guimarães Rosa: “Pão ou pães, questão de opiniães.”

#

sábado, 25 de outubro de 2008

A FILOSOFIA MOLEQUE, DO MESTRE GONZAGUINHA

Esta postagem - capítulo de um livro meu com textos extraídos de criações minhas no Orkut -, é dedicado a minha querida Duda Souza, amiguinha que, em nossas brincadeiras, me faz sentir criança de novo. É na agradabilíssima "tarefa" de brincar com essa querida pessoinha que consigo reviver e enxergar melhor o menino que ontem fui, bem como entender o que é o fascinante mundo das crianças.

Houve gente que após ler o prefácio do primeiro livro, em que meu biógrafo se referiu à mim como “moleque”, e pensou que ele estava usando esta palavra no sentido literal, e me colocou como um adulto que não cresceu, sujeito ingênuo e até mesmo irresponsável!... kkkkkk... Nos textos que se seguem, vou dar algumas explicações e desfazer alguns falsas interpretações aos equivocados que vêem a coisa por este viés caduco. O “moleque” a que ele se referiu, é, sem pretensões de minha parte, o moleque que viveu e vive dentro dos artistas e personalidades como, p. ex., o Ziraldo, Mozart, Ronald Golias, Einstein, Picasso, Spielberg, Gonzaguinha, etc. Na foto inserida aqui, há a letra de uma música do Gonzaguinha, “Por aí” (disco “Moleque”), que é um mote existencial dele, e um lema para mim: o teor deste verso é uma alegoria e tem a ver com a sua postura artística (e guerreira) em meio aos “anos de chumbo”, em que batia de frente com a Ditadura. Junto das fotos seguintes há outros textos sobre a “psicologia” Moleque.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Em um número especial da extinta revista Música dedicado ao Gonzaguinha, lia-se: “Este homem simples – e ao mesmo tempo complexo, na sua simplicidade –, que se auto-define como um moleque é mais que nunca um 'homem que tem o topete de cutucar qualquer vespeiro, que desafia tudo o que é imposto' e que encara a vida como uma coisa real, 'dura e difícil', mas que crê 'nos valores da pessoa humana’”. Ele próprio se define: “Moleque eu fui. Moleque eu sou. Moleque serei...” E ser moleque, para ele, “é estar sempre à vontade, em qualquer lugar, bem descontraído. Aprontar um monte de coisas, algumas delas sem pensar e outras bem maquinadas. Ser moleque é criar e viver todos os momentos da vida e estar à vontade em todos os lugares. (...) Minha infância foi passada no Estácio, onde eu pegava rabeira de caminhão, subia em muro e roubava fruta no pomar do vizinho. Com essa infância, o quê que poderia me tornar?”. Na ilustração, o selo da editora musical “Moleque” criado por ele.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Cita-se q/ o escritor Fernando Pessoa era como uma criança q/ não cresceu. O escritor Otto Lara Resende disse: “Há em mim um velho que não sou.” Pablo Picasso afirmou: “É preciso muito tempo para se tornar jovem.” Já o filósofo dinamarquês Soren Kierkgaard era da opinião que “A verdadeira maturidade é atingir a seriedade de uma criança brincando”, opinião semelhante à de Nietzche: “Ser maduro é reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar”. Richard Steele, escritor irlandês, sentenciou: “Jamais envelhece quem guarda a criança dentro de si.” Voltando no tempo, cito Arquimedes: “Brincar é condição fundamental para ser sério”. Fernando Sabino, em seu livro “O Menino no Espelho”, usou a seguinte epígrafe: “Quando eu era menino, os adultos perguntavam: – 'Que é que você quer ser quando crescer?' Hoje não me perguntam mais. Se perguntassem, eu responderia: 'Quero ser menino'.”

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Agora, leiam, do mesmo Fernando Sabino, esta pérola sobre o assunto: “Para conquistar a condição de adulto, o ser humano tem que trocar a inocência da criança pela experiência do homem feito. A partir desse momento, todo o seu empenho deve se voltar para desaprender o que aprendeu e recuperar a inocência perdida e tornar a olhar o mundo com os olhos lavados de pureza, de quem vê a vida pela primeira vez, como os da criança que ele foi. Como quem renasce a cada manhã. Os santos, os loucos, os mendigos, os perseguidos, os humilhados e ofendidos chegam lá mais depressa.” Já o poeta José Paulo Paes, escreveu: “Para ser poeta é preciso ver o mundo como a criança o vê: com os olhos de novidade.” Outro poeta, o Mário Quintana, ao ser perguntado sobre o fato de “ser sempre uma criança”, respondeu que “é preciso nunca perder a criança que se tem dentro de si.”

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Quanto à mim, sou moleque por que eu não traí a criança que ontem fui – em tudo o que acreditava antes eu ainda acredito e não perdi o espírito de aventura, e me acompanha uma vontade natural de esbanjar dinamismo e energia. Não se pode abrir mão do que é bom e saudável, como subir em árvores, telhados, muros e montanhas, correr, nadar em rios, andar de bicicleta, atirar de estilingue, bater uma bola na rua, soltar papagaio, acampar, curtir a natureza, uma fogueira, um luau, em suma, não perder a capacidade infantil de se divertir e se maravilhar. Oras, e o futebol, não é uma brincadeira infantil elevada à categoria de esporte, ou seja, 22 marmanjos correndo atrás de uma bola de capotão?!... Qualquer esporte tem suas raízes na infância, carregando consigo parte daquela ingenuidade de “ser melhor que o outro”, “ser mais forte”, “correr mais rápido”, etc. Mas uma das coisas mais estúpidas q/ se vê são esses torcedores fanáticos que brigam e até matam seus “rivais”, e por quê? Simples: perderam o espírito infantil da brincadeira saudável que é o esporte.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Enfant terrible, pero sin perder la ternura: na foto, V-Newton em seus tenros anos: de japona gola alta, topete com brilhantina, e, dá um close na pose de "pancudo", o olhar destemido, o dedinho colocado malandramente no bolso.. o sapato bicolor!... kkkkkk... - aos 5 anos, e como diria o Gonzaguinha, já “tendo o topete de qualquer barra encarar”!... Ser “moleque”, é fazer parte também da filosofia da comunidade do Orkut “Aproveito a vida prá caralho” ou a “Carpe Dien”; ser “moleque”, é ser um malandro sem sê-lo, como ensinava o velho Kid Morengueira - o rei do samba-de-breque; ser “moleque”, é ser um autêntico italiano, para quem o casamento só deve vir depois do 50, ou seja, extrair todo o sumo da juventude!... Em se falando de mulheres, a bela Marylin Monroe, por exemplo, era considerada uma “moleca” pela crítica porque dizia-se que ela conservou a chamada “emotividade poética” após a adolescência. Enfim, “ser moleque” é “seja moderno (ou pareça ser) ou pereça”. Um trecho de uma música do finado Jessé diz tudo: “Brinca com o tempo/ Tem o tempo na mão”...

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Quem se sente jovem, não tem a necessidade de resgatar a juventude. Comigo não tem essa de “no meu tempo...”, mas sim, meu tempo é aqui e agora, e sempre, melhor dizendo, “infinito enquanto dure”. Aqui, o desabafo do personagem Kevin Arnold (foto), da série “Anos Incríveis”, que foi citado no episódio “Coda”: “Quando somos crianças, somos um pouco de cada coisa. Artista, cientista, atleta, erudito. Às vezes parece que crescer é desistir destas coisas, uma a uma. Todos nos arrependemos por coisas das quais desistimos. Algo de que sentimos falta. De que desistimos por sermos muito preguiçosos, ou por não conseguirmos nos sobressair, ou por termos medo.” Steven Spielberg, cineasta, em 1996 disse no Estadão: “Sofro de síndrome de Peter Pan – não quero crescer. Eu não acho que é um valor negativo se sentir jovem e querer fazer filmes que fazem as pessoas se sentirem jovens.” Outro televisivo, o humorista mexicano Chaves (Roberto Bolaños), revelou o seu ideal de vida: “Envelhecer sem nunca perder a juventude.” Já o Vinícius de Moraes disse certa vez que “o jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.” Coisas de poeta...

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Este depoimento é de Pedro Bandeira (foto), o autor de Literatura Juvenil mais vendido no Brasil, em entrevista para o estadinho de 30 de junho de 2007:
– “Como é a criação do seus personagens? Algum deles foi inspirado nos filhos e netos?”
– “Os personagens nasceram da observação, de todas as crianças e, principalmente, da criança que eu fui e que ainda mora em mim. Eu tenho 65 anos, mas eu tenho 2 anos, 3 anos, 5 anos, tudo que eu fui eu ainda sou.”

O maior leitor e maior bibliófilo do Brasil, o grande José Mindlin, 93 anos, ao ser interrogado por uma criança de 6 anos no Caderno 2 do Estadão, em 4 de outubro de 2007:
– “Porquê você resolveu conversar com crianças?”
Ele respondeu:
– “Eu ainda tenho muito de criança dentro de mim, de modo que gosto de ouvir o que outras crianças têm a dizer. Conversar com você me dá muito prazer.”

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Em 1-7-2007, o Estadão entrevistou alguns motoqueiros, ops, motociclistas. O tom da reportagem era provocativo: “o que esses tiozões fazem agindo como adolescentes?” Um deles, o Vicente, disse: “Idade não é número. (...) Eu tenho espírito jovem, gosto de rock, acampamento, me sinto bem e tenho pique para isso.” Velho p/ ele é seu filho de 19 anos. “Ele estuda Direito, só anda de terno e ouve música clássica. Parece que tem 60 anos.” Sobre a música q/ ouvem, perguntou-se: “Mas, vem cá... não enjoa não: Mais de 20, 30 anos ouvindo as mesmas músicas? Outro, o Pateta, foi incisivo: “Que nada. Tem música que não dá para esquecer.” Trovão, 50 anos, lembrou q/ por mais jovem q/ seja, o mundo real exige seriedade e caretice às vezes, leia-se emprego e casamento. Mas do alto do seu meio século de existência, e mesmo realista, ele ñ entregou os pontos:“Já fui moleque, adolescente, jovem. Mas nunca abandonei meu lado motociclista.” E a reportagem fechava-se assim: “Afinal, com a maioridade, vem a maturidade.”

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Aqui, outras celebridades dão seu parecer sobre o assunto: “Meu corpo é velho, mas minha mente não acompanha. Quando eu tiver setenta anos, então vai acabar esta minha adolescência.” (Paulo Leminski, poeta paranaense, poesia sua ao lado). Leo Rosten, em Captain Newman. M. D., escreveu: “Compreendemos melhor as pessoas se as olharmos – por mais idosas ou imponentes ou importantes que sejam – como se fossem crianças. Pois a maioria dos homens nunca amadurece: apenas cresce.”. Simone de Beuvoir (1908-1986) dizia algo semelhante: “O que é um adulto? Uma criança de idade.” E esta, antiqüíssima, de Marcial (40-102), poeta e aforista hispanolatino: “Um homem bom é sempre um homem iniciante”. Para fechar este bloco, mais esta, do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007): “Toda a minha criatividade provém de minha infância”(...) A razão por que apreciam o que faço é que sou uma criança e assim me dirijo à platéia.”

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Alguns acham que têm um lado negativo isso de ser “adulto-criança”. Veja este texto, extraído da revista “Viva Melhor – Como você recebe uma crítica”: “O modo como cada um reage tem a ver com coisas muito antigas. Ana Verônica afirma que são resquícios pré-verbais, ligados ao processo de socialização: há pessoas que não suportam a idéia de perder os privilégios da infância. Já adultas, essas pessoas não conseguem lidar com as dificuldades, e todos os obstáculos geram muita raiva. É como se alguém quisesse lhes roubar o direito de viver em paz, sem problemas, como na infância...” Fecho esta série com uma bonita frase, porém, infelizmente, ela é de autoria de uma pessoa no mínimo suspeita: Mark David Chapman, nada mais nada menos que o assassino de John Lennon: “Quando uma criança se torna adulta, ela vira um impostor em nove em cada dez casos. Eu nunca virei um adulto”...

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

E, para finalizar, transcrevo aqui uma passagem muito especial da Bíblia, extraída de S. Mateus 18,1-5.10, que tem como tem a criança com tema: “Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos Céus?’ Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: ‘Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe. Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus vêem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus’.” Na foto, eu e a minha querida Dudinha, em nossas intermináveis brincadeiras noite afora no jardim Maria Lúcia, tirando o sono dos vizinhos...
Fecho estes escritos com uma frase do grande poeta e escritor inglês, Percy Shelley (1792-1822): “Os meninos se alegram de parecerem homens; e os homens choram porque deixaram de ser meninos.”
.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O POLIVALENTE ARTISTA SÉRGIO RICARDO

“Não é uma pena que existam
tantos eus para tão pouco vocês?”
(Orson Welles, cineasta e ator)
(...) a sensação é que mal raspei a
superfície de sua complexidade.

(Daniel Piza, colunista do Estadão, em
ensaio sobre a obra de Dorival Caymmi)


Artista nada simples de apresentar num texto, a sumidade que é este polivalente artista, o multimidiático Sérgio Ricardo. Adianto que, por ser grande admirador seu, suspeito sou para fazer uma apresentação. Procurar ser sinceramente objetivo e justo, como um juiz consciencioso e imparcial é difícil, pois sendo – como todo grande fã – sujeito a simpatias e admiração, posso ter meu julgamento influenciado por isso; assim, é complicado ter distanciamento crítico para fazer este tipo de análise – ninguém está incólume à certos deslizes da idiossincrasia quando se arvora em crítico.

Enfim, o difícil mesmo é não ceder à tentação de tirar conclusões definitivas sobre sua obra, mas afirmo convicto de que não se fala no legendário Sérgio Ricardo sem falar em diversidade cultural e pluralidade artística. Também queria deixar claro que não sou crítico de cinema e de música ou qualquer coisa que seja – apenas um músico e discípulo.


Um dia destes, lendo uma biografia de Olavo Bilac, vim a conhecer um personagem que imediatamente me lembrou o multidisciplinar Sérgio Ricardo – o gaulês Emilio Rouéde – o “judeu errante dos ofícios”, como o chamou Bilac –, pois este sujeito multifacetário era escritor, compositor, fotógrafo, regente de orquestra, pintor, dramaturgo, pianista, tipógrafo, industrial, etc., logo, uma enorme coincidência com o nosso ilustre Sérgio. Logo, são tantas as qualidades artísticas do Sérgio que temo não fazer uma descrição à altura da envergadura do seu talento, mas, enfim, mãos à obra.

SÉRGIO RICARDO, SINÔNIMO DE POLIVALÊNCIA

A presença de Sérgio no cenário artístico do país é mais do que vital, ainda que a mídia em sua miopia pouco o assedie e ele continue território pouco explorado pela massa e as novas gerações, presente apenas na “lembranceira” de fãs e um público especializado em artistas injustiçados. Nestes 50 anos de atividades, construiu uma reputação sólida que o tornou uma notoriedade, mas apesar de toda a bagagem de sua multiplicidade artística, não criou um renome que chegou a torná-lo uma popularidade que atravessou as últimas décadas. Em meio a este mercado inflacionado de músicas descartáveis e efêmeras, a presença artística de Sérgio Ricardo é um refúgio num oásis de cultura. Sérgio passa ao largo das mazelas musicais que infestam sem trégua nossos ouvidos, isto, lamentavelmente, com o aval da mídia imediatista e ditatorial.

País paradoxal, este o nosso – terra onde antropólogos franceses mexeram com a sensibilidade de índios do rio Orenoco em 1948 colocando Mozart para eles ouvirem, e agora, em pleno século 21, a massa, vítima do emburrecimento coletivo, se deslumbra ao som de músicas de conteúdo infantilóide e até mesmo cretinizantes – músicas sem vida própria compostas apenas para entreter o baixo ventre. Lamentavelmente as grandes gravadoras – hoje agonizantes – colocaram o gosto e a qualidade musical como item derradeiro na lista de suas prioridades, além de abrirem mão do compromisso com a educação musical do ouvinte. Pelo que notamos, no Brasil, Sérgio está muito aquém do que os ouvidos moucos à musica sofisticada costumam ouvir.

UM ARTISTA À FRENTE DE SEU TEMPO

Sérgio Ricardo, em sua integridade, em momento algum, fez concessão ao sucesso, como confessou certa vez à Guarabira. É um artista idôneo como poucos, sem jamais ter recorrido à atitudes extremas ou estratégias publicitárias apelativas para chamar atenção para a genialidade de sua obra. Não que isto fosse necessário – ele não faz marketing próprio, mas ao contrário do introvertido João Gilberto, é implacável – sempre fez declarações polêmicas e coerentes tanto em suas obras quanto na mídia.

Sérgio nunca, aos modos de certos artistas undergrounds estrangeiros, pensou em defenestrar pianos do alto de edifícios como forma de contestação ou posicionamento artístico. Apesar do vozeirão, não chegou a causar pane em estações de rádio pela potência de sua voz, como aconteceu – segundo reza a lenda –, ao seu também estentórico “irmão de voz”, o cantor José Tobias na Rádio Borborema de Campina Grande, décadas atrás. Sequer Sérgio quebrou seu violão, numa forma de rebeldia e atitude contracultural como fez o músico Jimi Hendrix (foto) naquele jogo de cena em que colocou fogo e estilhaçou sua guitarra no Festival International Monterey Pop em 1967, por sinal, o mesmo ano em que Sérgio quebrou seu violão no festival da Record (coincidência incrível, em se falando dos principais movimentos musicais do planeta na época!). Sérgio simplesmente protestou contra a alienação cultural de uma platéia insensata que não tinha noção do que fazia – vaiava por vaiar... Este pequeno texto de autoria de Augusto Buonicore, Historiador, mestre em ciência política pela Unicamp, extraído de www.contee.org.br/noticias/artigos/art168.asp, esclarece definitivamente o que aconteceu naquele dia:

"
O clima no auditório estava extremamente tenso. As vaias, organizadas pelos fãs-clube, haviam entrado em moda naquela temporada. Elas, muitas vezes, atraiam mais atenções que as composições ali apresentadas. Poucos se davam ao luxo de escapar dos apupos e apitos ensurdecedores. (...) A parada era duríssima. Entre as finalistas estavam as antológicas 'Ponteio', 'Roda Viva', 'Alegria Alegria' e 'Domingo no Parque'. O circo já estava montado quando Sérgio Ricardo, acompanhado por um coral de operários da Willys e pelo Quarteto Novo, entrou no palco. Antes que soltasse os primeiros versos da bela - e incompreendida – 'Beto bom de bola' ouviram-se novamente as vaias."
Não só Sérgio fora vítima deste protesto convencional e populista – Caetano, Cinara e Cybele e Nana Caymmi também amargaram o mesmo. Porém, como Hendrix, a atitude lhe rendeu o maior ibope e ganhou as páginas dos noticiários internacionais, o que, ao contrário do afamado guitarrista, não o impediu de ser relegado a um relativo esquecimento. Vale lembrar que, nessa mesma época, outro arauto da canção de protesto, o norte-americano Bob Dylan, incomodado com a título de “cantor de protesto”, inexplicavelmente sumiu do cenário por dois anos, só retornando em 1969. Por outro lado, se diz que um dos motivos do trabalho musical de Sérgio ser pouco conhecido da massa, é que grande parte de sua obra foi voltada para o cinema, em filmes também não populares.

A “noite da violada” não foi um maldição que selou se destino artístico, colocando-o na lista negra dos candidatos à esterilização midiática – Sérgio, esse dínamo criativo da canção engajada – mesmo que no lusco-fusco de um relativa discrição, está aí ainda hoje criando como sempre, sem se deixar jamais apanhar pela armadilha da acomodação – é como disse o crítico Tinhorão: um rio subterrâneo que às vezes aflora à superfície. Nada foi premeditado naquela polêmica noite, ao contrário do que afirmou o sensacionalista apresentador Flávio Cavalcante (foto). Curiosamente: um livro sobre rock lançado na segunda metade da década de 1990, encarou esta revolta de Sérgio como uma das primeiras atitudes punk no cenário musical brasileiro!

Basta ouvir os temas do filme de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (isto em 1964) e notar que muito antes do advento do rock brasileiro, a "violência" entrou no cenário musical brasileiro pelo violão e pela voz de Sérgio Ricardo (“Perseguição” é uma paulada, reconheça-se).

Se não cometo um engano aqui, um grande jornal publicou no início desta década que surgiram bandas de rock compondo ao estilo das trilhas sonoras de Sérgio para os filmes de Gláuber Rocha. Por outro lado, lembremos que a cosmopolita bossa nova é, hoje em dia, inspiração para grupos de música pop ou híbrida em todo o planeta – gente como Sean Lennon, filho de John, e a neobossanovista Bebel Gilberto, além dos veteranos Marcos Valle e Joyce vem atestar este fato. Antes disso, a neobossa, na década de 1980 na Inglaterra, já reinava pelas mãos de grupos como Matt Bianco, Everything But a Girl e Style Council, o que arrancou comentários humorados de Tom Jobim.

MÚSICA SUI GENERIS

O colunista do Estadão, Daniel Piza, 24-8-2008, em matéria sobre o falecimento do grande ídolo do nosso contemplado, o não menor Dorival Caymmi, escreveu algo que pode ser estendido ao próprio Sérgio:

"(...) é difícil de imaginar música ainda tão longe de ser compreendida em sua grandeza. Acho que isso acontece porque ela ainda é vítima de (...) apreensões: as do que não percebem a sofisticação de sua arte (...). Mas como água, sua música escorre pela brecha entre o rural e o urbano, o sociológico e o colonizado, o autóctone e o globalizado."

A meu ver, é difícil classificar a música do Sérgio – uma música que fala tanto ao intelecto quanto à sensibilidade –, mas ensaiando uma possível definição, creio que ela só poderia mesmo ser rotulada por meio de superlativos: “gigante”, p. ex. Sim, “música gigante” – é assim que a vejo, é assim que ouço essa música “viril”, saída da verve de um artista de sensibilidade e criatividade impar – uma música impositiva e forte na exteriorização de idéias e sentimentos. Impossível não se deslumbrar ouvindo pérolas como “Ponto de Partida”– uma canção que merecia, sem dúvida, estar ao lado da “música do século” – a eterna “Águas de Março” de Tom. Ali, uma letra de poesia tocante e inteligente; o violão – a um tempo sutil e vigoroso; a voz – possante, mas doce e maviosa como poucas; a melodia, ora emotiva, ora sutilmente agressiva, enfim, uma obra prima em todos os sentidos! Que dizer da beleza, da serenidade e do finesse de “Toada de Ternura”, “Do Lago a Cachoeira” e “O Nosso Olhar”, três das coisas mais ternas que você jamais ouvirá neste estilo e que não fariam feio num songbook de standards norte-americanos. O que dizer, então, das rudes e “extravagantes” “Deus de Barro”, “Antonio das Mortes” e “Zé do Cão”; as cinematográficas “Juliana, Rainha do Mar”, “Beira do Cais” e “Tocaia”; as contestadoras “Calabouço” e “Canção do Amor Armado”?

Parodiando Sivuca ao ouvir pela primeira vez a genialidade de Hermeto Paschoal, pode-se dizer: “Sérgio, sua arte é maior do que este país!”. Desnecessário aqui, comentar obras seminais como a trilha sonora de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (foto) em parceria com Gláuber, bem como a incrível trilha “A Noite do Espantalho” – provavelmente seu melhor trabalho –, que, segundo Sérgio disse anos atrás, continua praticamente inédito tanto o filme quanto a trilha.

UM POETA: UM SENHOR LETRISTA

Tal como Cole Porter, Sérgio não raro compõe músicas song lists – canções com letras longas, minuciosas e ricas em detalhes, além de possuir uma poética tocante. Também, nota-se em muitas de suas certas letras a constante da temática regional, e tanto que parecem ter saído dos livros de Jorge Amado, Mário Palmério ou Afonso Arinos. Algumas, pelo teor descritivo da letra, podem mesmo ser enxergadas, característica, com certeza, que remete ao seu viés cinematográfico e televisivo. Diria também, para usar uma expressão do já citado Daniel Pizza, que suas letras são pictóricas - e não nos esqueçamos que o Sérgio também é pintor, e dos bons - outro talento seu que não analisei neste texto.

Há uma curiosidade em algumas de suas letras: tal como um modesto Guimarães Rosa da canção, Sérgio furtou-se, às vezes, a alterar as normas da língua e criar para suas letras e poemas alguns neologismos, atitude que, de certo modo, fez escola no Novo Regionalismo – p. ex.: “lembranceira” (Mundo Velho); “revivência” e “verdece” (Semente); “marmarejar” (Canção do Amor Armado), "Luandaluar" (título de música), etc. Esse procedimento lingüístico se difundiu de maneira muito sutil tanto na MPB de alto escalão quanto nos compositores que participam dos festivais de música regional que acontecem anualmente em todo no país. Alguns exemplos: ver Cláudio Nucci em “acontecência”; Gonzaguinha com “desparecença”, “maravida”, “pelaí”, “imbalança”; Milton Nascimento e Lô Borges com “aluar”; Edu Lobo com “borandá”, etc.

De posse disso tudo, Sérgio está entre os poucos autores brasileiros que criaram aquilo que se poderia chamar de “bossa rural”, estilo que Renato Teixeira em seus primórdios, Nara Leão, Theo de Barros, Dori Caymmi e o próprio Tom Jobim pouco depois, andaram desenvolvendo: uma música sofisticada e com temática regional.

O MAIS NORDESTINO DOS PAULISTAS

Notável também é a intimidade de Sérgio com a música nordestina – o disco “ A Noite do Espantalho” é uma obra prima recheado de excelentes músicas neste estilo – Luiz Gonzaga talvez dissesse: “Sérgio Ricardo é o mais nordestino dos paulistas”. Convém lembrar também que Sérgio, junto com Vandré, foram os porta-vozes da “canção-de-protesto”, seguidos por Nara Leão, Chico Buarque, Edu Lobo, Ruy Guerra, João do Vale, Zé Keti, (foto) etc.

A canção-de-protesto é um dos pontos altos da autêntica musica popular do país, uma vez que foi ela a responsável por tentar impedir a americanização da MPB, que veio à luz com o impasse político resultante da renúncia de Jânio Quadros e do desgoverno de João Goulart. Sérgio junto com Vandré, a partir do Centro Popular de Cultura, tentaram colocar a música brasileira como “uma forma de participação mais efetiva no cenário político”, e Sérgio – além de ser um do principais militantes musicais do país –, foi também, acredito eu, o principal responsável pelo já citado “Novo Regionalismo”, movimento musical que deu uma nova injeção de brasilidade na MPB na segunda metade da década de 1960 e daí por diante, e isto, antes mesmo que o consagrado grupo Quarteto Novo entrasse em cena com seus arranjos elaborados e Nara Leão lançasse seu primeiro disco – obra em que gravou coisas regionalistas.

Ainda que poucos reconheçam isto, Sérgio está para o Novo Regionalismo assim como João Gilberto está para a Bossa Nova e Luis Gonzaga para o Baião. Apesar de não ter sido pragmático como o Tropicalismo, é o Novo Regionalismo um movimento tão injustiçado pela crítica quanto o é o Clube da Esquina e o esquecido MAU que lançou Gonzaguinha, Ivan Lins, Aldir Blanc, Ruy Maurity e César Costa Filho.

É simples constatar que o estilo predominante atualmente nos festivais regionais de todo o Brasil é o Novo Regionalismo, não digo os últimos festivais das TVs, que foram verdadeiros fiascos, mas festivais como p. ex., o moderno Viola de Todos os Cantos, e outros do interior paulista, como os que acontecem em Avaré, Tatuí, São José do Rio Pardo, etc., que nos revelaram talentos como Fernanda Guimarães, Chico César, Zeca Baleiro, Renato Motha entre outros.

O VIOLONISTA SÉRGIO RICARDO: FAZENDO ESCOLA

Sérgio é um cantor tão excelente quanto o é violonista e pianista – um músico de competência musical incontestável. O escritor Carlos Heitor Cony citou: “No violão, não fica atrás de Baden Powell”, e ele, em termos, não estava longe da verdade; basta, p. ex., analisar a técnica de fingerpicking country em “Calabouço”. Esta, o “hino da resistência” que era cantada pelos jovens no “Circuito Universitário” (cria de Sérgio também, isso em plena época do AI-5 e da feroz Ditadura.) Analisemos o jogo de bordões e a harmonia ora agressiva ora sutil do esplêndido violão de “Ponto de Partida”. O que dizer do violão com balanço pianístico de “Emília”, do disco do “Sítio do Pica-pau Amarelo” – técnica para Joyce, Badi Assad e João Bosco nenhum botar defeito? E os violões vigorosos – com um certo acento ‘rock’–, usando intervalos de 4ª e 5ª, nas músicas dos filmes de Gláuber Rocha (Deus e o Diabo na Terra do Sol. p. ex.)? Vide “Antônio das Mortes”, “O Sertão vai virar Mar” e “Perseguição (Corisco)” – uma inovação em trilhas sonoras. Vemos ecos deste estilo violonístico em, p. ex., “Geléia Geral”, do Gilberto Gil, (Tropicália); o violão de Marcelo Melo do Quinteto Violado em “Sarabanda” e “Vem, vem” de Geraldo Vandré (Das Terras de Benvirá), “Acauã” (1º LP do Quinteto), “Mundão de Deus” (do 4º LP do Quinteto). Vide as excelentes versões do Quinteto para “Briga de Faca” e “Corisco” (Antologia do Baião). Também em músicas do Geraldo Azevedo: “Caravana” (Saramandaia); e o estilo dos arranjos nos primeiros discos de Alceu Valença.

Segundo o web designer Pastor Didi, da Equipe FX, o violão da música “Adriana”, gravada em 1973 pelo Sérgio, é um “samba cuja batida feita ao violão vai aparecer em 1974 na canção ‘Incompatibilidade de Gênios’ de João Bosco. E é essa 'pegada' que vai consagrar o estilo violonístico de João Bosco. Provavelmente do encontro dos dois violonistas em 1972, durante a gravação de 'Agnus Sei', apareceu esse jeito de tocar samba no violão, que vai marcar a MPB nos anos 70 e 80. Infelizmente só ouviremos novamente essa batida na mão do seu criador em 1979, quando Sérgio Ricardo grava a canção‘Lá Vem Pedra’”. Sérgio também é um grande arranjador e chegou a fazer trabalhos incríveis, nada convencionais, como podemos ouvir, p. ex., na trilha sonora de “A Noite do Espantalho” (foto).

SÉRGIO AO PIANO

Quanto ao piano de Sérgio não estou gabaritado para comentá-lo, mas vale lembrar que em plena década de 1950, assim como o genial maestro Moacir Santos e Luiz Carlos Vinhas, Sérgio já fazia hard bossa – termo que o crítico francês Robert Celerier do jornal Correio da Manhã cunhou, fazendo uma alusão ao hard bop de Nova York –, e que designava a música instrumental “adulta” que se fazia no célebre “Beco das Garrafas” – berço da bossa nova.

Sérgio em 1962 no EUA tocou por um certo tempo com o grupo de jazz do conceituado jazzista Herbie Mann, fato que vem dispensar maiores comentários quanto aos seus dotes como pianista. A música "Zelão" foi transformada em samba-jazz pelo grupo Bossa Três de Luiz Carlos Vinhas, gravada no LP homônimo pelo selo Audio Fidelity, e foi sucesso nos meios jazzísticos dos EUA em 1962, isto, antes mesmo que “The Composer of Desafinado”, com Jobim, e “Getz/Gilberto”, com Stan Getz e João Gilberto fossem gravados e explodissem no exterior.

O “VOZEIRÃO”...

Como cantor, Sérgio não vem da escola whispering de João Gilberto, nem da de seresteiros Orlando Silva, Francisco Alves ou Nelson Gonçalves, mas sim da linhagem de barítonos como Dorival Caymmi – seu ídolo maior –, Dick Farney, Lúcio Alves, Mário Reis e seu contemporâneo Dori Caymmi, ao qual mais se assemelha, inclusive na proposta musical.

O microfone dinâmico, lançado por volta de 1955, talvez não fizesse falta à sua possante voz de peito – uma voz de timbre grave, porém num estilo isento de qualquer impostação vocal afetada de ópera européia ou de “verborragia melodolorosa do abolerado ninguém-me-ama/ninguém me quer” de que falava o maestro Júlio Medaglia.

Sérgio, na minha opinião, possui a voz grave mais doce e o vibrato mais puro, natural e perfeito de toda a MPB. Ele próprio disse que poderia ter sido “um Frank Sinatra de segunda”, caso tivesse seguido carreira nos EUA – colocação que muitos brasileiros concordam. Sabe-se que jazzistas norte americanos se simpatizaram tanto com a sua música que o convidaram para gravar por lá, o que infelizmente não aconteceu.

Queimando o incenso que ele merece, atrevo-me a colocá-lo no mesmo panteão que o próprio Sinatra, Tony Bennett, Dean Martin, Sammy Davis e Bing Crosby – bem, se Ruy Castro, não contaminado pelo velho complexo de inferioridade e fracassomania da crítica brasileira, já se atreveu a proclamar que Orlando Silva de 1935 a 1942 foi o maior cantor popular do mundo – melhor até mesmo que Bing Crosby –, por que não fazer este jus ao nosso grande Sérgio?

“VOCÊS (SÉRGIO E GLÁUBER) VÃO SER OS ÚNICOS BRASILEIROS OUVIDOS DAQUI A CEM ANOS”...

Disse o mestre, numa entrevista tempos atrás, que seu dualismo o ferrou, mas dualismo é uma palavra muito singular para designar o pau-para-toda-obra que ele é. Sérgio é um criador por excelência, um “sábio discreto” – como diria Drummond se referindo ao falecido ornitólogo Helmut Sick –, sempre trabalhando e produzindo em surdina –, avesso às correntes musicais vigentes.

Totalmente ciente de suas coordenadas culturais, em momento algum cedeu Sérgio um milímetro em suas desígnios estéticos. Sua fidelidade à sua arte, sua postura íntegra em relação à própria obra – jamais oportunista, como queria a crítica derrotista –, fizeram dele talvez o mais maldito entre os malditos, o mais marginal entre os marginais dentre os artistas brasileiros que arcaram com o ônus de tais rótulos, o que o relegou à um relativo limbo artístico em relação à outros artistas contemporâneos seus. Felizmente, o fato jamais o impediu de continuar edificando o seu legado cultural – que é vasto. Em suma, Sérgio em momento algum vendeu-se ao sistema e submeteu sua arte ao make up do comercialismo – no que se tornou o avesso do maior oportunista da MPB – me refiro a Caetano Veloso...

Veja esta curiosidade dita pelo cartunista Ziraldo na revista Bundas (set. 1999), à respeito do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”:

“Vocês (Sérgio e Gláuber) vão ser os únicos brasileiros ouvidos daqui a cem anos. Uns seis anos depois do filme, um americano maluco enterrou as grandes obras de arte do século XX pra resistirem à guerra atômica, e a única coisa que entrou da América do Sul foi “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

É um truísmo: Sérgio Ricardo é vanguarda sempre e, pelo jeito, como um contemporâneo do futuro, não pensa em parar tão cedo de entoar o seu tradicional bordão: “Vou renovar!”.

O CINEASTA

Tão “independente” quanto Antonio Adolfo e Ozualdo Candeias, tão maldito quanto Jorge Mautner ou Zé do Caixão, Sérgio desfilou com sua obra à margem das gravadoras e distribuidoras de filmes. Infelizmente não teve a mesma sina de Quentin Tarantino – um cineasta independente que conseguiu a popularidade. Ganhou, porém, inúmeros prêmios com seus filmes mas, ainda assim, todos foram poucos divulgados e vistos.

Desnecessário dizer que algumas de suas obras devem ser obrigatoriamente citadas em qualquer obra sobre cinema nacional que se preze. “A Noite do Espantalho” – por sua vasta coleção de prêmios no exterior –, está, junto com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, entre as obras senão cosmopolitas, entre as mais respeitadas e conhecidas no exterior.

Também não estou gabaritado para fazer uma análise da dramaturgia e do discurso cultural e ideológico de sua cinematografia, mas transcrevo aqui algo que talvez não fuja a verdade, citado pelo lendário produtor cinematográfico Antonio Polo Galante:

“Você não pode falar sobre cinema brasileiro indo para a frente sem pensar nesse pessoal que construiu a base”.

NOVAMENTE, O POLIVALENTE SÉRGIO...

Penso que não seria exagero colocar Sérgio – no tocante à pluralidade e ao legado cultural –, ao lado de gente da estirpe de Cornélio Pires, Monteiro Lobato e Mário de Andrade – esses homens polivalentes que “faziam de tudo”.

Sergio também, por sua obra impar com várias contribuições definitivas à arte cinematográfica e musical, cativou intelectuais de peso como Antonio Houaiss, Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony, Haroldo de Campos e Carlos Drummond de Andrade. Também foi endeusado por artistas de quilate como Tom Jobim, Gonzaguinha, Chico Buarque, Alceu Valença, Quinteto Violado, entre outros não menores.

Sérgio, como bem colocou numa análise o já citado Pastor Didi, é um daqueles artistas que só se encontrava na época da Renascença. Vem a calhar tal colocação, já que “estamos atravessando o maior período de criação legal de riqueza desde a época da Renascença” como se constatou na conferência “Internet & Society 2000” – um encontro entre os papas da Internet mundial.

Enfim, temos que acordar para o truísmo berrante e garrafal de que artistas da linhagem de Sérgio Ricardo dificilmente surgirão novamente neste país ingrato e desmemoriado. Da parte que me cabe, esta é a minha pequena contribuição para um maior reconhecimento deste notável e incansável guerreiro – uma parte do universo artístico de Sérgio Ricardo – um sonho que venho acalentando à anos, motivado principalmente por minha séria preocupação em diminuir a distância entre ele e seus fãs (e os que o desconhecem). Temos todos nós, seus admiradores, de ajudar a quitar a dívida enorme que este país tem para com ele: a de entronizá-lo no panteão supremo da arte brasileira em que ele merece estar. Urge que se resgatemos desse limbo este grande artista, ao qual foi negado o reconhecimento crítico na proporção condizente com a altura de seu talento, colocando-o na ordem do dia – que Sérgio ainda está à espera de uma ruminação justa e profunda de sua obra pelos críticos. Então, fãs de Sérgio Ricardo, puxemos juntos a orelha dessa crítica de ensaístas e intelectuais que, como diria o poeta Mário Chamie, apenas "fazem a celebração seletiva de um nicho de escolhidos"!

Seria de vital importância também que sua obra fosse analisada a nível acadêmico, e que pesquisadores da área a analisassem pela perspectiva da Estética da Recepção, teoria literária revolucionária da década de 1960 que disseca obras de arte com valor estético. Um artista já submetido à ela foi justamente um dos principais ídolos de Sérgio, o grande Dorival Caymmi. Essa analise, dentre outras coisas, procurou compreender o “lugar” de Caymmi na música popular brasileira, e não há dúvida de que Sérgio, por sua obra partcularíssima, carece da mesma colocação.

Que estes que "não sabem o que estão perdendo", e que não ficaram incólumes à fatalidade de não poder ouvir e ver aquilo que Sérgio Ricardo esteve nos propondo estes anos todos, possam descobrir agora em sua homepage a obra deste "senhor talento" e, assim seguir as suas pegadas, de preferência tendo como divisa este verso infalível que define com precisão sua profissão de fé: "Tenho improviso no passo e caminho para todo lado".

A benção, Sérgio Ricardo, tu que não és um só, és tantos!

Wenilton Luís Daltro,
Araras, 2001

* Aramis Milarch (1943-1992) - "um dos mais importantes jornalistas e críticos de música e cinema" - escreveu em 13/10/1974, no jornal O Estado do Paraná:

"Há muito achamos que a obra de Sérgio Ricardo - musical e cinematográfica, está a merecer um longo ensaio, cujo ante-projeto já tentamos e publicamos (Revista "Quatro Estações", verão de 1971), mas para cuja elaboração haveria necessidade de uma pesquisa de maior profundidade e um indispensável longo/pessoal depoimento do próprio autor."

Enfim, espero que, de alguma forma, esta minha análise venha trazer alguma contribuição ao sonho acalentado por Milharch.

MAIS SOBRE SÉRGIO RICARDO:

SITE OFICIAL:
www.sergioricardo.com

MYSPACE:
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=335739987

COMUNIDADE NO ORKUT:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=162005

Site CONTEE - A Volta de Sérgio Ricardo:
http://www.contee.org.br/noticias/artigos/art168.asp

Blog POUCO DE TUDO - Sérgio Ricardo e Beto Bom de Bola no festival da TV: http://dan-poucodetudo.blogspot.com/2007/08/sergio-ricardo-e-beto-bom-de-bola.html

Blog PROSÁPIA - Festival de 1967 - Sérgio Ricardo (Beto bom debola): http://prosapia.blogspot.com/2008/02/festival-de-1967-srgio-ricardo-beto-bom.html

Blog de PEDRO ALEXANDRE SANCHES - Sérgio Ricardo:
http://pedroalexandresanches.blogspot.com/

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) -A música de Sérgio Ricardo, um operário - artista em construção:
http://www.millarch.org/artigo/musica-de-sergio-ricardo-um-operario-artista-em-construcao

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) - Sérgio Ricardo, agora pintor, quer mostrar suas telas aqui:
http://www.millarch.org/artigo/sergio-ricardo-agora-pintor-quer-mostrar-suas-telas-aqui

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) - Um senhor talento:
http://www.millarch.org/artigo/um-senhor-talento

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) - Um cordel de Drummond com a música de Sérgio sobre o João e a Joana (1):
http://www.millarch.org/artigo/um-cordel-de-dummond-com-musica-de-sergio-sobre-o-joao-joana

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) - Um cordel de Drummond com a música de Sérgio sobre o João e a Joana (2):
http://www.millarch.org/artigo/um-cordel-de-drummond-com-musica-de-sergio-sobre-o-joao-joana-0

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) - O Som da Copa:
http://www.millarch.org/artigo/o-som-da-copa

Blog TABLÓIDE DIGITAL (Aramis Millarch) - Fábula de Sérgio sobre um elefante dorminhoco:
http://www.millarch.org/artigo/fabula-de-sergio-sobre-um-elefante-dorminhoco
.