segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O VOCALISTA PERCY E O MADE IN BRASIL: ARQUIVOS

CLUB ROCK: - (...) como entrou para o Made in Brazil? PERCY: - Em 1975 Cornelius saiu do Made e o percussionista Fenilli, que estudava com meu irmão, sugeriu o meu nome...

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PERCY NO MADE, PRESTES A GRAVAR O SEGUNDO LP

Geração POP. Vem aí o 2º LP do Made. Hit Pop. Editora Abril. Nº 39. São Paulo, jan. 1976, pág. 3.

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O CÉLEBRE DISCO, COM O DEBOUT DE PERCY, E A PRIMEIRA CRÍTICA NA REVISTA POP, NO LANÇAMENTO, EM JULHO DE 1976

Jack, o Estripador – Made In Brazil (RCA) O Made In Brazil, como todo bom grupo de rock, faz tudo para não complicar muito as coisas — e consegue. Sabe que o rock foi feito para dançar e despender energia. Desse modo, numa época em que os grupos brasileiros andam com mania de imitar o Yes, o Made lança um LP que é pura alegria e descontração: rock básico e direto, pra ninguém ficar sentado. Este é o segundo LP do Made onde eles eliminam todos os grilos de produção que existiam no primeiro.

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O ALEGRE MASSACRE DO MADE IN BRAZIL

por Angela Dust

Made In Brazil é um daqueles grupos de rock que não podem ser julgados pelos padrões normais da critica musical. Eles não são grandes músicos, não produzem grandes obras e não têm a menor pretensão de passar à história ou figurar em enciclopédias.

A grande vantagem do Made sobre as demais bandas de rock nativo, no entanto, é a sua cristalina consciência de que o rock é um gênero musical de consumo imediato, a esbaldante despretensão com que realizam sua fissão de clichês pop. Em Massacre, o novo espetáculo de Oswaldo Vecchione & Cia., mais uma vez fica provado que o Made, apesar da aparente inabilidade instrumental, esta dez mil anos à frente de qualquer Mutantes da vida. O Made tem um público específico, um público que não se contenta em ficar sentado nas poltronas e assistir passivamente à verdadeira explosão sonora detonada por eles. O Made não consegue ver ninguém para­do. A registrar ainda, em Massacre, a extraordinária performance do vocalista Percy Weiss, que a cada dia melhora sua expressão corporal. Massacre, com o Made in Brazil, melhor grupo brasileiro de punk rock, está prestes a excursionar por várias capitais brasileiras. Fique de olho, quando eles passarem por sua cidade, e não deixe de assistir a um espetáculo típico do tempo em que vivemos.

* Foto: Ary Brand.

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MADE IN BRAZIL - TEATRO BANDEIRANTES, ABRIL DE 1977

Durante os três dias em que o som aconteceu, no Teatro Bandeirantes, pude­mos constatar uma coisa: quem gosta de fazer música, seja qual for seu gênero, sempre vai encontrar público. Estes jovens que andam pelas ruas vestindo jeans e camisetas coloridas, gostam de reunir-se, em festivos happenings, e comemorar ruidosamente a desbotada e pálida Era de Aquarius.

O Bandeirantes já se consagrou co­mo Palácio do Rock, com seus inúmeros concertos pop passados; agora, com a primeira data natalícia de seu programa Balanço’, reuniu 19 grupos para duas apresentações, em evidente sinal de que o rock está dando lucros. Tanto para a Bandeirantes como para a Globo e a Cultura, que também mantêm programas com filmes enlatados de superstars anglo-americanos.

Nomes estranhos, como bem convém, não faltaram: Casa das Máquinas, Flying Banana, Baggas Guru, Joelho de Porco, Made in Brazil, Bendegó, Som Nosso de Cada Dia, etc. Vários intérpretes, no entanto, tiveram oportunidade de mostrar trabalho, alguns, inclusive, incursionando pela primeira vez nos campos do underground: Edu Viola, Jorge Mello, Tony Osanah, Eduardo Araújo e Silvinha, Jorge Mautner, Grupo de Marilene Silva, etc. Dessa forma, foram servidos todos os gêneros musicais aos convidados, que não foram poucos. Mas, diga-se a bem da verdade, a alegria sempre reinou.

Os grupos Humauaca, Flying Banana, Bendegó, Papa Poluição e mais os intérpretes Edu Viola, Jorge Mello, Tony Osanah e Jorge Mautner, encarregaram-se de dar ao espetáculo as cores da nossa América Latina. Desde baião até acordes melodiosos de índios bolivianos eles fizeram, com muita maestria em alguns casos. Tony Osanah foi, como sempre, um dos melhores; cônscio dos nossos problemas e anseios, soube extrair de sua guitarra e gaita sons multicolores, em belíssimos arranjos, premiados, muito a propósito, com aplausos durante vários mi­nutos. As músicas do Piauí e Maranhão foram representadas pelo grupo Cavaleiros do Apocalipse e Jorge Mello, devida­mente vestidos, todos eles, de sacerdotes da Idade Média.

Tudo isto regado a repetitivos clichês de parafernálias visuais. Confetes vindos do teto, gelo seco, spots coloridos, explosões e muita agitação capilar são as tônicas encontradas em grupos de rock patropi desde a vinda de Alice Cooper (espero que o Gênesis apresente-se com novos e diversificados efeitos, incluindo uma ‘mise-en-scêne’ nova e diversificada, para dar novo alento às jovens mentes nativas. Espera-se até, com a curiosidade de cientista, a apresentação de raios laser em efeitos visuais).

O rock pesado ou pauleira, ficou a cargo dos grupos Made in Brazil, Joelho de Porco, Baggas Guru, Som Nosso, Casa das Máquinas, Sindicato e Raza lndia. Todos vestidos tipicamente e, cada uma seu modo levando o público a verdadeiros momentos de histeria e êxtase. Joelho de Porco provou ser um dos melhores grupos Tupiniquins de rock pesado, ou punk-rock. Vestidos como papa-defuntos deliciosos, fizeram a vez de anfitriões na festa. Letras bem-humoradas confundiram-se com inteligentes trocadilhos agitando os corpos ágeis da nossa geração. Made in Brazil, como sempre, preocupava-se exclusivamente em levar a fila da frente a uma frenética dança, para contagiar as demais e o fundão do teatro, O resto não merecia maiores destaques, pois eram promissores grupos que desprezam a imaginação e limitam-se, simplesmente, a continuar, muito mal, o trabalho de grupos como Pink Floyd, Yes, Led Zep e Who.

O público, contudo, era uma verdadeira festa. Ver todo aquele povo dançando, cantando, gritando, correndo, agitando, aplaudindo, refletia uma bem-vinda atitude.

Enfim, foi muito bem comemorado este aniversário do programa Balanço. Embora não contando com grupos consagrados – Mutantes, Novos Baianos, Rita Lee, Terço e Raul Seixas, a Bandeirantes fez uma festa digna para o rock patropi. Esperamos mais reuniões como esta para este ano, que foi e está sendo muito bem servido neste gênero musical. Votos de louvor aos promotores e organizadores. Esperamos vê-los de novo em ação, brevemente. (RVJ)

MÚSICA. Show. Editora Imprima Comunicação e Editoração. Nº 12. São Paulo, mai. 1978, pág. 11.

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MADE: GAROTOS-PROPAGANDA DA ELLUS JEANS, EM PLENA NA ONDA PUNK

O Made e a moda punk: a Ellus Jeans - a la Malcolm McLaren...

Charles Paulinho Boca de Cantor (Novos Baianos), Simbas (Casa das Máquinas), Percy e Oswaldo - festa da Ellus Jeans de lançamento de moda punk, out. 1977

Percy e o Made no show de lançamento da moda punk da Ellus Jeans

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MADE IN BRAZIL, ELEITA A MELHOR BANDA NACIONAL DE ROCK DE 1977

· Na foto, à esquerda, carregando o manequim, o grande Wander Taffo, recentemente falecido.

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A VOLTA DE PERCY AO MADE IN BRAZIL

* Clique na foto para ampliar

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APÓS A VOLTA DE PERCY AO MADE, DUAS BELAS VOCALISTAS SÃO CONTRATADAS LUCINHA DO VALLE, ESPOSA DE OSWALDO, E JUJU NOGUEIRA, FILHA DO VIOLONISTA PAULINHO NOGUEIRA.

A formação que gravou o LP Paulicéia Desvairada.

Paolito na bateria, Lucinha, Percy, Oswaldo, Juju e Nana na guitarra.

OUTROS LINKS INTERESSANTES SOBRE PERCY E O MADE

http://www.rocknheavybrasil.xpg.com.br/bandasderocknroll/historias/madeinbrazil.html

http://www.clubrock.com.br/news/percy.htm

http://www.dissonancia.com/2006/39-06.htm

http://www.percysband.hpgvip.com.br/

FONTE:

Contatar autor.

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sábado, 2 de agosto de 2008

JIMI HENDRIX: SUAS TÉCNICAS E SUA GENIALIDADE

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Aqui, galera, mais uma escavação na ARCA DO COBRA: uma reportagem extraída da extinta revista Música, de setembro de 1976, de autoria do músico Egídio Conde, que tocou com o Moto Perpétuo e o Som Nosso de Cada Dia, um grande guitarrista - foi considerado "Melhor Guitarrista" por duas vezes pela revista "Rolling Stone" no Brasil. Na reportagem, Egídio disseca as técnicas e a aparelhagem usada por Jimi Hendrix, fazendo altas revelações. A reportagem, continua atualíssima! Bom proveito!

JIMI HENDRIX – FENDRIX

PARA GUITARRISTAS

Muita coisa foi escrita a respeito de Jimi, mas grande parte de sua técnica instrumental é um tabu para instrumentistas que admiram seu trabalho. Este artigo é dedicado a dois amigos inseparáveis, Hendrix e a Fender Stratocaster.

AS GUITARRAS

Por volta de seu 11o ou 13o aniversário, Jimi recebeu seu primeiro instrumento, uma guitarra acústica barata, em troca da vassoura que empunhava, como presente de seu pai. Este primeiro instrumento foi logo depois substituído por uma elétrica e, aos quinze anos, por uma Epiphone. Pouco mais tarde, Jimi e a Fender Stratocaster uniram-se. Embora a Fender produzisse modelos especiais para canhotos, Jimi comprava o modelo normal porque preferia os controles em cima, reencordoando e trocando o capotraste de modo a acomodar os diferentes diâmetros das cordas. Os braços de suas Stratos, durante 67 e 68, eram usualmente Rosewood (escala escura), com poucas exceções, pois, nesta época, estes braços tendiam a ser ligeiramente mais leves e precisos no dedilhado que os modelos Mapleneck, modelo em que o braço e escala são construídos de uma só peça de madeira clara.

Jimi fazia seus próprios ajustes, na ponte, nos captadores e na alavanca. Possuía inumeráveis Stratocasters, carregando consigo, em excursões longas e shows mais importantes, cerca de treze ou mais de cada vez. De todo seu equipamento, somente pouco mais de meia dúzia de instrumentos podem ser identificados como autênticos, instrumentos esses hoje em posse do Sr. Hendrix e de Buddy Miles. O valor para colecionadores é incalculável.

Hendrix usou, esporadicamente, Gibson Les Paul, Hofner, tendo possuído também pelo menos três raras Gibson Flying V. Destas, somente uma permanece identificável, uma preta V com captadores dourados, guardada hoje como um tesouro por Eric Barret, técnico do equipamento de Jimi, de 1967 a 1970. Uma outra Fender estava sempre à mão, uma Telecaster, embora Jimi raramente a usasse, e somente em estúdios. Certa ocasião, apresentou-se com uma Strato com braço Telecaster. (Foto maior à esquerda) Red House, do álbum “Are vou experienced”, foi gravado com uma Hofner sólida. Quando Jimi começou a ganhar o suficiente para comprar o que bem entendesse, seu acúmulo de instrumentos começou.

Em Nova York, na 156 W 48th Street, fica a loja Manny's, que forneceu a Jimi a maior parte do equipamento, de 1969 até sua morte em 1970. Henry Goldrich, filho do velho “Manny”, lembra-se de ter vendido a Hendrix tudo, de uma Gibson 330 a saxofones. Entre os vários instrumentos adquiridos, podemos citar: uma Guild 12 cordas acústica, uma Gibson Stereo, uma Acoustic Black Widom (em poder de Mr. Hendrix), dois baixos Hagstrom de 8 cordas (Jimi tocou-se em Spanish Castle Magic, do elepê Axis Bold as love), três Rickenbackers, um baixo, uma de seis cordas, uma de 12 cordas, uma Gibson Dove acústica, uma Martin comprada nova. Eric Barret recorda que Jimi possuía mais de um de cada instrumento que adquiria. Modificações visuais nos instrumentos eram mínimos, como a pintura em sua “Flying V” e na Strato queimada no festival de Monterey em 1967. Os trastes também não eram substituídos, pois as guitarras de Jimi não duravam tanto: eram dadas de presente aos guris que ele encontrava e gostava, roubadas ou quebradas nos shows. As partes que então sobravam eram reunidas em novas Stratos. Na foto, Hendrix, Mitch Mitchell e um percussionista (Juma Edwards). Neste foto Hendrix usa uma Gibson SG branca, Custom.

Fender Stratocaster Sunburst, com braço Maple neck, e as principais modificações feitas por Jimi Hendrix. -A- Chave de três posições sem a mola de trava para permitir a ligação conjunta dos captadores 1-2 3 2-3. -B – Potenciômetros especiais Alan Bradley. -C- Capotrastes invertidos para acomodar a inversão das cordas.

Não se possuem dados sobre eventuais enrolamentos de captadores e modificações de grande monta. Em sua maioria, os efeitos criados residiam em sua criatividade e no conhecimento de Jimi de seu instrumento. Andy Mills, ex-técnico de som de Alice Cooper e Rita Lee, conta-nos que Hendrix usava potenciômetros especiais, Allan Bradley, de ação mais dura, hermeticamente fechados, não permitindo a entrada de poeira nos contatos, nas Stratocasters. As cordas preferidas por Hendrix eram Fender Rock'n RolI Light Gauge (010, 013, 015, 026, 032, 038). Numa entrevista à revista Disc, Hendrix diz: “Eu toco em uma Fender Stratocaster usando um E (1ª mi) regular como B (2 si) e, às vezes, um A (lá) tenor como E. Para obter meu tipo de som, coloco as cordas um pouco altas, para que elas possam soar mais tempo”. As palhetas eram do tipo medium de qualquer marca, e o Experience em suas excursões levava caixas de palhetas e várias correias, estas de cores e desenhos diferentes para combinar com as roupas.

AMPLIFICADORES

Nos seus dias iniciais, Jimi usava um Fender Twin Reverb, que posteriormente passou a usar só em estúdio e sua preferência, na maioria das vezes, era para o equipamento Marshall. Amplificadores Orange foram usados em 1967 no show de Pink Floyd “Christmas on earth”, mas Jimi não conseguiu o som que desejava deles. Em 1967, Hendrix e a Sunn solidificaram um contrato de cinco anos (durou quatorze meses) após o festival de Monterey.Na foto, Jimi e uma Gibson Flying V. A Sunn equipou todo o Experience com tudo o que desejassem, em troca da pesquisa e dos desejos técnicos de Hendrix. O equipamento, embora trabalhando bem para Noel Redding, não satisfez Jimi, que reclamava do ruído excessivo quando colocava o máximo volume nos cabeçotes. Do equipamento dessa época constavam 5 cabeçotes Coliseum PA, alterados para guitarra, com 120 w cada um, com 10 caixas acústicas, cada um com dois JBL D-130 F, logo depois mudados para quatro de 12' e cada caixa.

Depois de muitos problemas, Jimi voltou a usar Marshall. No começo, Eric Barrett lembra-se de Jimi usando um cabeçote Marshall 100 w com duas caixas 4 x 12”, microfonado através do PA. Logo o equipamento duplicou, com Jimi usando dois cabeçotes 100 w, quatro caixas e Noel o mesmo, e Mitch Mitchell um kit completo de bateria. À medida que as apresentações prosseguiam, Jimi e Noel Redding foram acrescentando equipamento até chegar ao ponto de Hendrix estar usando seis Marshall 100 w mais um escravo, ao lado de Mitch como monitor. Foto: Hendrix deixava a microfonia invadir as cordas soltas, e com o uso de alavanca modulava os sons obtidos.

Se Jimi possuía seis, Noel também usava seis enormes Sunn, com cabeçotes de 100-200w, com mais um do outro lado para a monitoração de Jim. Nesta altura do campeonato, Noel Redding berrava que não se ouvia a bateria. Providenciou-se então o equipamento para Mitch, com quatro grandes caixas Altec A-7, que se costumam usar para PA, colocadas bem atrás de sua cabeça. Mesmo assim, ele continuou dizendo que não havia suficiente volume, que precisava de mais, Os amplificadores Marshall ganhavam ainda mais potência que a linha de fábrica, nas mãos de Tony Frank, de Long lsland, que os reconstruía e regulava, chegando um cabeçote normal de 100 w, atingir 137 w. Quando a Marshall começou a saber quem Jimi era, começou a dar manutenção ao seu equipamento, fornecendo válvulas mais fortes e ressoldando todas as ligações para evitar quebra nas viagens. As válvulas eram trocadas com freqüência, para evitar perda de ganho com o uso. Esta massiva parede de amplificação era responsável pela dimensão física que o som de Hendrix e o Experience adquiria em suas apresentações. O volume de ar deslocado pelos alto-falantes era tão forte que se podia sentir cada palhetada, cada nota, cada corda, nos ossos. O ouvido era quase substituído pelo tato.

OS PEDAIS DE EFEITO

Entre os principais pedais de efeitos usados por Jimi, estão incluídos o Dallas-Arbiter Fuzz Face (foto), Univox Univibe e pedais Wah-Wah Vox. Na primeira excursão do Experience, foram levados dois ou três Fuzz Faces, contrastando com as duas dúzias de unidades que começaram a fazer parte do equipamento pouco mais tarde, Igualmente, uma dúzia de Univibe ( Leslie eletrônica) estavam sempre à mão, mais duas dúzias de pedais Wah-Wah. Eric Barret explica o porquê: Jimi não colocava o seu pé sobre os pedais, colocava todo o seu peso e os mecanismos e eixos não duravam muito. O Wah Wah apareceu no mercado ao fim de sua primeira excursão, sendo imediatamente incorporado ao equipamento. Outros pedais especiais foram construídos por Roger Mayer, e possuíam somente uma pequena etiqueta para identificação. O mais freqüentemente usado era o “Octavia” (Pepeu, dos Novos Baianos, possui um original), que modificava a oitava do instrumento. Muitos outros aparelhos e efeitos, feitos em casa, eram dados de presente por diversas pessoas, e, em sua maioria, somente eram usados em estúdio. Jimi comprava todo o tipo de pedal que encontrasse, querendo ser sempre o primeiro a usá-los.

Quando Jimi subia ao palco, de seu equipamento constavam um Univibe, um Fuzz Face e um Vox Wah Wah, em série, plugados em seus Marshalls. Ao seu lado, em estantes, podia-se contar pelo menos cinco Stratocasters, uma Les Paul e uma Flying V.

Parte do equipamento do Experience. À esquerda, a caixa para Sunn para guitarra, e, ao lado de Jimi, a caixa para monitoração do baixo de Noel Redding.

SUA TÉCNICA

A técnica instrumental de Hendrix, não era nada formal, e ele usava tudo o que tinha e o que não tinha para arrancar som de sua Strato. Todos os cinco dedos da mão direita, os dentes, a língua e o pedestal do microfone. Jimi possuía 1 ,84 m de altura e suas mãos, muito grandes, poderiam estar em alguém mais alto. Seus acordes e solos eram executados com firmeza, os vibratos e “puxadas” eram exatos e precisos, e Jimi em toda a sua carreira não cometeu mais que um ou dois enganos. A criatividade de Hendrix era a sua mola mestra. Ele não só tocava sua Strato, como usava sua voz, seu corpo, o amplificador. Sua sensualidade tornava a música um ato de amor, microfonia do amplificador era controlada e transformada em música.

Na Stratocaster, o botão que seleciona cada um dos três captadores pode, retirando-se a mola da trava, proporcionar a ligação de dois captadores ao mesmo tempo o 1 e 2 ou 2 e 3, coisa que normalmente não é possível realizar na Stratocaster. O som produzido pode ser ouvido em Little Wing do álbum “Axis Bold as Love”, uma tonalidade com coloração diferente. Na mesma faixa, Hendrix use uma caixa Leslie de alto-falantes rotativos. Após a introdução, pode-se sentir a mudança de rotação dos falantes, pela intensificação do vibrato.

Não há referência a respeito de Hendrix usando câmaras de eco como são concebidas hoje, Echoplex, Echorec, e, nos álbuns, os efeitos foram obtidos pelo uso de gravadores, para eco e “Flanging” (efeitos de fase). Eddie Kramer, engenheiro de Hendrix de 1967 a 1970, fez à imprensa poucas declarações sobre as técnicas utilizadas nos álbuns de Hendrix. Sabe-se somente que “Are You Experienced” e “Axis Bold as Love” foram ambos gravados em uma mesa especial, com uma máquina de quatro canais a 15 polegadas por segundo, no Olímpic Studios, em Londres.

Em todos os álbuns produzidos por Hendrix, pode-se sentir seu toque pessoal, sendo “Electric Ladyland” e “Axis Bold as Love” considerados até hoje obras primas de técnica musical, aliadas à mais fantástica mixagem talvez já obtida, onde os efeitos de pan (efeito obtido nos discos estéreo, onde os sons de solos e efeitos são transportados de um canal para outro, dando idéia de mobilidade) são absolutamente esmagadores.

* Clique na imagem para vê-la ampliada.

Entre seus acordes favoritos, Hendrix utilizava muito um tipo de acorde, com a terça no baixo (fig. 1) onde Noel Redding dava a fundamental e Hendrix, através de variações, transformava esses acordes simples em deliciosas combinações com 4as, 9as e 6as. Veja, por exemplo, o começo de The Wind Cries Mary (fig. 2) e ouça também Spanish Castle Magic, Castles Are Made of Sand. Todas possuem variações destes acordes, e estes são fundamentais para a compreensão do estilo de Hendrix.

Jimi, ao efetuar o acompanhamento de suas músicas, talvez tenha sido o melhor guitarrista de ritmo que já existiu. Sua noção de tempo e referência tonal são absolutamente incríveis, e, nos shows ao vivo muitas vezes superava as interpretações obtidas em estúdio. No álbum “Band of Gipsys”, Power of soul, Changes, Message to love possuem tal diálogo com o vocal de Hendrix que é inacreditável a sua independência vocal e instrumental. No álbum “Hendrix in The West”, Little Wing (executada ao vivo) supera longe a interpretação obtida em estúdio. Em seus solos, pode-se sentir toda a influência do blues negro e as características de seu estilo pessoal, utilizando em muitos solos variações da escala menor da figura 4 e suas relativas maiores.

Através da interpretação dada às suas vocalizações, suas músicas possuem um toque que seria totalmente perdido nas vozes de outras pessoas, embora Hendrix não possuísse voz, All Along the Watchtower possui uma interpretação dramática da música de Dylan, e suas próprias composições possuem um lirismo, uma fantasia, aliadas a uma visão pessoal dos sentimentos humanos e o mundo: “Veja um barco alado e dourado, está passando pelo meu caminho, e ele não deve parar, deve continuar, e então castelos feitos de areia desmancham-se nos oceanos, eventualmente...” (Castles Are Made of Sand).

Em outra passagem, em Crosstown Traffic, “Eu não sou a única alma acusada de atropelar e correr, pelas marcas de pneus nas suas costas eu posso ver que você andou-se divertindo”.

Em Woodstock (foto), Hendrix se apresentou às 8.30 hs da manhã de segunda-feira, para um público de 30.000 pessoas, dos 500.000 nas noites anteriores, e humildemente diz: “Vocês podem ir se quiserem, nós estamos fazendo uma ‘jam’; é tudo”. E após incríveis interpretações de Purple Haze e do Hino Nacional Americano, StarSspangled Banner, onde com seu instrumento Hendrix traça um retrato alucinante da América, finaliza com talvez o mais lírico de seus solos, Instrumental Solo, do elepê Woodstock é uma jóia de criatividade e sentimento.

Em Voodoo Child, Jimi canta “Se eu não encontrá-lo mais neste mundo, eu o farei no próximo. Não se demore”... É uma pena que ele esteja morto, Hendrix Fender, Fendrix, Fenix. Que ele renasça um pouco nas músicas e nos sonhos de todos vocês.

Fonte: Contatar autor.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A ASCENSÃO METEÓRICA DA BANDA SECOS & MOLHADOS

Galera, direto da ARCA DO COBRA, mais duas reportagens e fotos inéditas da banda Secos e Molhados, que mostram sua vertiginosa ascensão, todas extraídas da extinta revista POP. A primeira, de maio de 1973, traz o grupo com pouco mais de um ano de carreira, prestes a lançar o primeiro LP. A segunda, em janeiro do ano seguinte, com o LP lançado e 100 mil cópias vendidas já na primeira semana do lançamento!

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SHOW

Paradão por algum tempo, o rock volta agora a pintar violento todas as tardes de domingo, no grande auditório do Museu de Arte de São Paulo. Entre muitos grupos novos, três da pesada e de São Paulo mesmo estão atacando com tremendos banhos de som. Secos e Molhados, Alpha Centauri e Grupo capote.

SECOS E MOLHADOS

Fazendo misérias no palco, com o vocalista Ney Matogrosso muito louco, batom vermelho, turbante colorido, brincos e um imenso xale vermelho cheio de franjas enrolado no corpo, o Secos e Molhados conseguiu de cara deixar a platéia toda elétrica, numa ligação que foi aumentando de número por número. Com mais de um ano de carreira, o grupo já conseguiu deixar sua marca e agora termina a gravação do primeiro LP, que em junho deverá estar pintando, mostrando um trabalho totalmente novo dentro do rock brasileiro: a musicalização de versos e poemas da literatura brasileira, com uma interpretação cheia de força e violência. Pondo música em Prece Cósmica e As Andorinhas, de Cassiano Ricardo, A Rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes, Mulher Barriguda e Tem Gente com Fome, de Solano Trindade, e também em algumas letras suas (O Patrão Nosso de Cada Dia, O Vira e Preto Velho). João Ricardo (violão acústico e harmônica de boca), um dos integrantes do grupo, consegue efeitos incríveis, e junto com Willie Verdager (baixo), Marcelo Frias (bateria) e Gerson Conrad (violão), mais os vocais de Ney, o som se trans­forma numa pauleira das mais sensacionais. Antes do lança­mento do LP, o Secos e Molha­dos parte para o primeiro show fora de São Paulo, ainda este mês, no Teatro da Paz, no Rio.

PS: atentem para a música Tem Gente com Fome, do Solano Trindade, que nunca foi gravada pela banda, mas pelo Ney tempos depois.

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SECOS & MOLHADOS

Eles estão revolucionando o som pop brasileiro

Com roupas louquíssimas, muita maquilagem e um som da pesada, eles são um sucesso incrível: 100 000 discos vendidos em poucos dias.







Para eles, cada show é um ritual Ney Matogrosso pinta o rosto alongando a linha dos olhos a a testa. João Ricardo cobre com tinta branca a cara toda, e Gérson desenha um coração ao lado do nariz. Já está tudo pronto: mais uma vez os Secos & Molhados vão cantar para uma casa lotada de gente que vibra com o grupo que Caetano Veloso definiu como “uma das coisas mais importantes que já aconteceram na música brasileira”. E a crítica também tem elogiado muito o trabalho musical que eles fizeram em cima de poemas de Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo. Mas quem é quem no Secos & Molhados? Os compositores João Ricardo (harmônica de boca) e Gérson Conrad (violão) acompanham as incríveis vocalizações de Ney Matogrosso, além de mais quatro caras que fazem um som da pesada: Marcelo Frias (bateria), Sérgio Rosadas (flauta transversal e ocarina), John Prado (guitarra) e Willy Verdaguer (contrabaixo). Em 1971 eles fizeram a música para a peça Corpo a Corpo, de Antunes Filho. Mas foi depois da primeira apresentação em público, na Casa de Badalação e Tédio (São Paulo), que o grupo estourou. O primeiro LP já vendeu 100 000 cópias e continua nas paradas (Sangue Latino, Rosa de Hiroshima e Vira são as faixas de maior sucesso). E. renovando-se a cada apresentação, eles parecem dar vida às palavras de Ney Matogrosso: “Sem regras estabelecidas é bem melhor a gente viver”.

Eles misturam música e poesia. E a receita deu certo


PS: reparem que as pinturas ainda não eram aquelas pelas quais eles viriam a ser reconhecidos.


Propaganda da gravadora Continental


FONTE:
Contatar autor.
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O RETORNO DA ONÇA-PARDA À ARARAS E REGIÃO

Numa certa data de 1990, Araras foi pega de surpresa com uma surpreendente notícia. Naquele dia, os colunáveis, esportistas e políticos tiveram que se conformar ao se ver seu brilho ofuscado pela sombra de um insuspeito animal: com 60 quilos de puro músculo, garras cortantes e instinto matador, uma onça-parda (Felis concolor) fora morta às margens do rio Mogi Guaçu, no sítio de Geraldo Jesus Ramos, pescador que, acidentalmente, a caçou numa armadilha de capivaras. Infelizmente, Geraldo cometeu o desatino de matá-la com a intenção de aproveitar o seu couro. Denunciado, foi autuado e processado por crime ambiental.

Um guarda florestal da unidade local, o que me passou as informações acima, citou que, em 2006, em certa estrada da cidade de Iracemápolis, foram atropeladas, no mesmo local e em circunstâncias diferentes, três onças da mesma espécie. Em 1997, um exemplar adulto foi atropelado na rodovia que liga Pirassununga à Analândia (foto). Ela foi encontrada morta às margens da estrada e foi trazida para Araras pelo amigo Joemilson Ramos para que eu a fotografasse. Na década de 1980, dizia-se que uma outra fora morta nas matas da fazenda Mata Negra. No final da década de 1990, José “Zéca” Daltro, ao descer o Morro da Corredeira, nas Cascata, viu um exemplar em pleno dia atravessando a pista que leva aos ranchos de pesca. Um outro amigo contou-me que na curva da estrada que dá acesso à fazenda Riachuelo, uma onça-preta, também conhecida como jaguaretê – forma negra mielínica da onça-pintada – foi atropelada por um caminhão em 2004. Um colega seu, caçando na fazenda Santa Cruz certa vez, foi perseguido por uma onça-parda. Ela fugiu quando ele disparou um tiro em sua direção.

A DELICADA SITUAÇÃO DA ONÇA-PARDA

Apesar de fazer parte da lista oficial de animais em extinção do IBAMA, a população de onças pardas vem aumentando em muitas regiões do país onde há muitas décadas não eram vistas. Apesar de estar incluída na lista brasileira de animais em extinção, seu numero vem aumentando visivelmente. Uma reportagem da revista Veja de setembro de 2005, cita que, no Brasil, as onças suçuaranas, como também conhecidas, estão se tornando freqüentes em torno das cidades e áreas rurais. “Recebemos de dez a vinte chamadas por ano para retirar onças-pardas dos sítios, ruas e até das casas das pessoas, e esse número cresce ano a ano”, diz Rogério de Paula, coordenador do programa de conflitos entre predadores e populações humanas do Centro Nacional de Predadores do Ibama. Elas têm sido observadas, inclusive em áreas urbanas ou de grande densidade populacional, como a Serra da Cantareira, no entorno de São Paulo, Ribeirão Preto, Peruíbe, Sorocaba, Uberlândia e Brasília, etc. Nos dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, em Campinas, elas são vistas em plena luz do dia cruzando estradas vicinais e trilhas de matas. Em Minas Gerais, ela é o novo freqüentador do colégio de Caraça depois do lobo-guará, que começo a aparecer por ali a partir do inverno de 1982. O pessoal orienta as pessoas a não se assustarem com as suçuaranas, “pois elas não costumam atacar as pessoas. (...) ela come bezerros, cabritos e até cachorros, mas não vê a gente como presa". Em Araxá, começaram a registrar a ocorrência de mortes em rebanhos bovinos causadas por suçuaranas. Na fazenda Santa Lúcia, cujo rebanho atinge 5.500 cabeças, num ano foram mortos 400 animais. Hoje a fazenda tem cinco cães de caça da raça maremano e os ataques são mínimos, “só ocorrem quando os cães não estão perto”. “Uma onça parida, com dois filhotes, pode matar 70 bezerros num ano”, afirma o presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira. Na reserva florestal das Indústrias Klabin de Papel e Celulose, no Paraná, ao se realizar um censo para verificar a quantidade de animais silvestres existentes, os pesquisadores tiveram uma surpresa: eles verificaram que aumentou o número de suçuaranas na reserva. Já existem cerca de cem exemplares naquela área, composta por 100 mil alqueires de floresta plantada e 85 mil alqueires de mata natural.

As suçuaranas se encontram em risco permanente por vários motivos: a especulação imobiliária em áreas rurais, o perigo de atropelamento nas estradas, os caçadores clandestinos, a degradação das áreas verdes, a falta dos chamados corredores ecológicos. Para complicar, para elas perambularem, caçarem, abrigarem-se e procriarem, necessitam de territórios relativamente amplos (40 a 50 km2, ou cerca de 5 mil campos de futebol). O fato de elas estarem sendo vistas nos “sertões” ararenses, é um claro sinal de que, aqui, elas estão encontrando relativas condições de sobrevivência, mas isso não indica que elas estejam vivenciando um boom populacional – para uma espécie “vingar” em uma determinada área requer-se pelo menos 2 mil indivíduos. Segundo o maior especialista em felinos do país, o zoólogo Peter Crawshaw, do Ibama, “A população de pardas gira entre 30.000 e 50.000 e está caindo”.

DISTRIBUIÇÃO, HABITAT, ALIMENTAÇÃO E MANIFESTAÇÕES

A onça-parda era o felino de mais ampla distribuição do Continente, e podia ser encontrada desde o Canadá até o Estreito de Magalhães. Por estar no topo da cadeia alimentar, ela está entre os primeiros animais a serem prejudicados pelos danos ambientais. Pode atingir 1,30m e pesar de 30 a 90 kg, dependendo da região que freqüenta A reprodução ocorre a cada dois anos aproximadamente, com ninhada de 2 a 4 filhotes, e seu período de vida é de aproximadamente 15 anos. É um animal solitário e caça sempre ao entardecer. De alimentação bem vasta, também persegue cervos, alces, ratos, lebres entre outros, atacam cavalos, gados e galinheiros de fazendeiros. A polícia florestal local , até o momento, não registrou ataques de onças à animais domésticos, tampouco à criações, o que indica haver fartura de presas selvagens, como, p. ex., o coelho tapiti, que vive em capoeiras e canaviais, e do qual a onça-parda pode caçar diversos exemplares numa só noite.

Quem ouvir pelos matos sons semelhantes ao gato doméstico, porém mais altos, pode se tratar de uma onça-parda. Ela costuma vagar por matas, campos, pastagens e capoeiras, e, às vezes, é obrigada a atravessar estradas e, também, o caminho do mais temível de todos os predadores, o Homo sapiens.

ONÇAS NA ARARAS ANTIGA E REGIÃO

Numa matéria publicada na Tribuna do Povo em 1935, dentre os animais proibidos de se caçar em todo o território nacional pelo Serviço de Caça e Pesca, as onças não estavam na lista. Curiosamente, se lia:

“Quando ocorrem em zonas de plantações ou de criação, mediante requisição ao Serviço de Proteção e Pesca, poderão ser caçados os seguintes animais: onças, gatos do mato, raposa do campo, jacaré, aves granívoras (papagaios, periquitos, pombas, sanhassos e melros).”

Em agosto do mesmo ano, novamente a Tribuna publica outra matéria sobre o tema:

“Conforme edital que vem sendo publicado no ‘Diário Oficial’ e de acordo com o art. 119 do Código de Caça e Pesca, encerrar-se-á a 31 do corrente a atual estação de caça neste Estado.
Até de abril do ano próximo, o exercício de caça estará proibido e as estrada de ferro e outras vias de transporte não poderão receber para despacho quaisquer animais selvagens, vivos ou mortos, de pelo ou não, salvo ordem especial do Departamento de Indústria Animal.”

A foto ao lado, é de uma caçada realizada próximo à Porto Ferreira em 1939, em que o autor do livro disse ser a última onça capturada na região. O exemplar é uma onça-pintada (Panthera onça), ao que se sabe, extinta na região, mas se é verdade que se atropelou aquela onça-preta, é provável que a pintada exista na região.

Martinho Prado Júnior, proprietário da fazenda Campo Alto em Araras, recordando-se do antigo dono de sua fazenda – a Guatapará – em Ribeirão Preto, comprada em 1895, escreveu:

“Todas essas glebas que estava percorrendo tinham pertencido ao já falecido,na época, tenente Antonio de Souza Diniz, grande sertanejo que chegou a possuir 68 mil alqueires e ainda queria adquirir maior área porque “os filhos e filhas estava aumentando e a caça estava ficando rara”. Os descendentes desse terrível caçador de onças herdaram a sua paixão. Um deles, o Capitão Gabriel Junqueira, médico, advogado, juiz, árbitro popularíssimo, tinha no seu ativo 86 onças pintadas. Até hoje, depois de quase um século, os Junqueiras ainda conservam o prestigio da família e a mesma paixão pela caça”.

O caçador e pescador Francisco de Barros Júnior, em seu livro Caçando e Pescando por todo o Brasil (3ª série), em cena passada provavelmente na década de 1930, traz a história de um pescador que se deparou com uma onça às margens do rio Mogi Guaçu:

“Contou-me velho caçador, que, certa vez, no Mogi Guaçu, estava nos galhos de uma grande árvore tombada sobre o rio mas ainda presa ao barranco pelas raízes, à espera de uma anta que os cães haviam levantado, e dos quais não tinha notícias havia mais de uma hora.
Com a arma carregada a bala, atravessada sobre as coxas, ocupava-se em picar fumo para um cigarro. De onde estava, até o barranco, haveria uns oito ou dez metros, e sua posição o colocava de costas para ele. Perdido em pensamentos por um negócio que o preocupava, nem se lembrava da corrida, quando sentiu estremecer de leve o galho em que estava sentado. Olhou meio desinteressado por cima do ombro direito, e viu uma enorme pintada já sobre o tronco, encolhida como para saltar. ‘Fiquei frio e angustiado, disse-me ele; pensava em como poderia defender-me apenas armado daquela faquinha de ponta, cujo comprimento não chegava a um palmo!... E assim nos encarando, ficamos por alguns segundos, que para mim duraram uma eternidade. Por fim, talvez como válvula de escape para a tensão em que estavam meus nervos, larguei num berro de pavor, ao mesmo tempo em que estendi para a frente, como ameaça, o braço armado com a faca. Saaai Diaaabo! A fera assustando-se, deu um salto, embrenhou-se na mata. Só então é que me lembrei da espingarda...’
Isso por certo, foi o que aconteceu àquele nosso saudoso amigo...”

MORTES POR ATAQUE DE ONÇA

A única morte por ataque de onça registrada no Brasil foi a de uma criança, nas cercanias da cidade de Carajás, Pará, em 1992. No EUA, entre 1890 e 1990, elas mataram seis cidadãos, afirmou o biólogo Paul Beier, da Universidade da Califórnia. “Mas de lá para cá, um período bem menor, já pegaram outros quatro”, alertou. Apesar de a suçuarana ser um animal arredio, é bom não facilitar e procurar não ir sozinho para os campos, matas e rios e, mantendo-se constantemente vigilante, se colocando num lugar seguro e bem iluminado de onde se possa avistar toda a redondeza e, assim, procurar evitar um provável ataque traiçoeiro. Suas garras são bastante fortes, o que os tornam ótimos trepadores de árvores, além disso são capazes de grandes saltos, podendo chegar a seis metros de extensão quando está caçando, ou saltar muros de cinco metros e mesmo saltar de lugares com quinze metros de altura.

Com as novas leis ambientais coibindo a caça, e a proibição do uso particular de armas, a tendência agora é que sua população aumente e creio que não será difícil aos que freqüentam as regiões isoladas de Araras se depararem com uma. É conveniente não ir sozinho para os campos, matas e rios e, mantendo-se constantemente vigilante, procurar se colocar num lugar seguro, de onde se possa avistar toda a redondeza e, assim, procurar evitar um provável ataque traiçoeiro.

Os cientistas são da opinião que é possível conviver pacificamente com esse felino, desde que eles não fiquem sem comida. O maior caçador de onças no país, o Tonho da Onça, de Rondonópolis – 600 onças mortas no currículo e hoje convertido ao conservacionismo –, concluindo que ela não tem culpa nos incidentes em que está envolvida, sentenciou numa breve frase o real problema da onça-parda no Brasil: “Aquilo é fome”.

Tem gente que acha que elas não tem nenhum papel de importância na natureza, mas cientistas afirmam que os carnívoros influenciam a composição vegetal de um ecossistema e o processamento da energia solar na Terra, ou seja, o modo como o predador age afeta o quão verde pode ser o ambiente – é como se o tipo de vegetação predominante estivesse ligado ao modo como as onças fazem as caçadas – vagando em buscas de presas ou ficando parados para fazer emboscadas. Mas o que isso tem de bom ou ruim? A perda dos mais altos predadores da cadeia, no qual as onças se incluem, pode afetar o resto das espécies, seja na sua abundância, seja na sua diversidade. Em última análise, a presença ou não de onças numa região serve como indicador de qualidade ambiental: quanto mais onças numa mata, maior a biodiversidade geral da vida que existe nela. Infelizmente, existe quem, mesmo sabendo dos riscos pelos quais ela passa, defenda a idéia de que as elas devem ser invariavelmente mortas. À estes recomendo uma célebre frase do escritor Bernard Shaw: “Quando um homem quer matar um tigre, diz que é esporte; quando um tigre quer matá-lo, diz que é ferocidade”...

FILHOTES DE JAGUATIRICA SÃO ENCONTRADOS EM CANAVIAL DE ARARAS

Uma outra espécie de felino que também pode ser encontrado na cidade é a jaguatirica (Pantera pardalis): em 11 de março de 2008, três filhotes foram achados por cortadores de cana num canavial do município. Os três – duas fêmeas e um macho – foram abandonados pela mãe, que provavelmente sentiu a presença do homem nas proximidades do ninho e fugiu, largando para trás a cria. Os animais, com cerca de uma semana de vida, foram levados inicialmente para uma clínica veterinária em Pirassununga, a 213 km da capital, onde foram alimentados com leite de vaca, creme de leite, ovo e vitamina.

COMO AGIR SE VOCÊ SE DEPARAR COM UMA ONÇA:

- Tente parecer maior do que é. Levante os braços e fique nas pontas dos pés;
- Não se deite nem finja de morto. Ela ataca na hora. Se você se agachar, ela pode pensar que você é um quadrúpede. Só vai fazê-la lamber os beiços...;
- Grite, jogue coisas, ameace partir para a luta. Acredite: ela tem mais medo de você do que você dela;
- O mais importante: não fuja. Sair correndo de um predador assim é quase como pendurar no pescoço um aviso "sou uma presa". E ela é mais rápida...


BIBLIOGRAFIA

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terça-feira, 29 de julho de 2008

O DEBOUT DO MADE IN BRAZIL NA PRIMEIRA GRANDE REVISTA BRASILEIRA DE ROCK

Atenção, galera, diretamente da ARCA DO COBRA, outra entrevista inédita (na internet), sobre o debout da banda de rock Made in Brazil, publicada na revista POP, no distante abril de 1975!

MADE IN BRAZIL - A VIOLÊNCIA DO ROCK

No meio da enxurrada de grupos de rock que apareceram no ano passado,

o Made in Brazil voltou aos palcos, com muita androginia e violência.


É um grupo que não esconde suas intenções. Nos cartazes de shows, nos textos que manda para a imprensa, em tudo o que faz, o Made in Brazil deixa sempre clara sua marca: a violência do rock. Quando toca, o grupo promove um verdadeiro ritual de agressividade, usando clichês de androginia, decadência e deboche, onde a maior preocupação é chocar o público e levá-lo a dançar. É assim que os caras do Made garantem que chegarão à posição que pertencem há muito tempo – e de maior conjunto de rock do Brasil. De 1969 até agora, mais de trinta músicos já tocaram no grupo. A formação atual é: Osvaldo (baixo e vocal), Celso (guitarra), Maurício (teclados), Júnior (bateria) e Fenilli (percussão). À frente desses cinco, encarnando as curtições mais debochadas possíveis, aparece Cornelius Lúcifer, o vocalista andrógino, de voz grossa e agressiva, que usa uma crista de galo na testa.

No palco, Cornelius Lúcifer é a encarnação do demônio. Cospe no público, faz mirias com o microfone e corre de um lado para o outro como um doido. Rebola, pula, dança e grita: “Sou o rei do rock do Brasil”.


* A formação do MADE na foto é, da esquerda para a direita: Onisvaldo: teclado; Oswaldo Vecchione: baixo; Cornelius Lúcifer: vocal; Rolando Castelo Júnior: bateria; Celso Vecchione: guitarra-solo; e Fenili: percussão.

FONTE:
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