Atenção, galera, diretamente da ARCA DO COBRA, uma entrevista inédita (na internet), sobre o polêmico fim da célebre banda Secos e Molhados. A entrevista foi publicada no jornal Hit Pop, encarte da revista POP, no distante setembro de 1974.
HIT POP ENTREVISTA JOÃO RICARDO: “OS SECOS E MOLHADOS JÁ EXISTIAM ANTES DO NEY E DO GERSON. POR QUE NÃO PODEM CONTINUAR SEM ELES?”
Entrevista a Carlos Eduardo Caramez
Com a saída de Ney Matogrosso e Gérson Conrad, os Secos e Molhados ficaram reduzidos a um só: João Ricardo. É o fim do conjunto? Não, diz o esperançoso João Ricardo. E afirma que o grupo pode sobreviver à deserção de sua maior estrela.
POP - Queremos que você conte, desde o início, como foi a separação dos Secos e Molhados. A sua versão oficial.
João - Eu prefiro que você me faça perguntas a eu contar uma história qualquer. Não quero responder ao que vem saindo na imprensa, porque achei algumas matérias parciais e não acredito que o Ney tenha dito certas coisas que saíram nos jornais.
POP - Seus desentendimentos com o Gérson foram o resultado de uma disputa entre os dois?
João - Não. Nunca houve esse tipo de problema entre nós.
POP - Então por que a música Trem Noturno, de Gérson, não entrou neste último LP?
João - Porque não estava de acordo com a filosofia dos Secos e Molhados, musicalmente falando, inclusive.
POP - E qual era a filosofia dos Secos e Molhados? Era você que estabelecia as coisas ou tudo era feito mesmo de comum acordo?
João - Bem, nós éramos um grupo em que cada um tinha sua função especifica. A minha, mesmo antes dos Secos e Molhados, era compor. Eu componho desde os 15 anos de idade. Então, normalmente, as músicas todas eram minhas. O Gérson começou a compor a partir dos Secos e Molhados, do primeiro disco. Eu sugeri que ele compusesse. Era uma vontade que ele tinha, mas nunca tinha traduzido de forma definitiva.
POP - Havia um líder no grupo? Quem era, se havia?
João - Havia. Era eu.
POP - Até que ponto sua liderança influenciava o trabalho artístico do conjunto?
João - Eu tinha traçado métodos específicos para o grupo. E quando convidei Gérson e Ney para fazerem parte deste grupo, disse o que pretendia com ele. E já tinha até as músicas do primeiro disco. As músicas foram aceitas normalmente, nesse caso, ai que deu uma sorte danada: estourou em primeiro lugar, e o resto já se sabe...
POP - Em termos do conjunto, o que você mais lamenta?
João - Eu lamento na medida em que o Ney é um belíssimo intérprete e tem uma voz fantástica, ótima para o trabalho que eu estava desenvolvendo. Quando ele apareceu foi maravilhoso. E ia continuar sendo... Mas isso não elimina nada.
POP - Não havia um jeitinho para o conjunto continuar?
João - Veja bem: eu nunca quis forçar nada, com eles. Muito menos forçá-los a ficar comigo – isso era bobagem. Foram decisões puramente pessoais, em que eu não tinha que interferir.
POP - E qual foi o motivo mais fone para a separação?
João - Não houve uma razão especifica. Foi bom... Nós precisávamos dar uma parada, mesmo para uma renovação nossa. Independente de eles terem saído, era importante a gente parar para ver o que podia acontecer...
POP - Então, se tivesse ocorrido essa parada, poderiam voltar os três juntos e o grupo não acabava, não é?
João - Sim, mas aí o Ney desistiu, disse que não queria, que estava a fim de curtir uma outra...
POP - E você diz que mesmo saindo o Ney e o Gérson, es Secos e Molhados continuam?
João - Continuam, claro que continuam.
POP - Engraçado, isso. Você garante que um trio sobrevive sem sua grande vedete e sem o outro músico!
João - Claro, claro! É bom que todos saibam o seguinte: os Secos e Molhados já existiam antes do Gérson e do Ney. Acontece que houve um sucesso estrondoso com a segunda formação do conjunto, e a saída deles não implica em que eu interrompa meu trabalho. Entre sempre houve a possibilidade de cada um sair para o seu lado e fazer o seu trabalho.
POP - Os caras que eram do conjunto, antes, saíram ou você mandou embora?
João - Aí foi o contrário. Fui eu que dei o toque. Chegamos a fazer algumas apresentações e tal... Mas ai achei que era outra coisa o que eu queria, e fui tentar. Então convidei o Gérson, depois descobri o Ney, e estouramos. Agora, o que é importante é que o conjunto não terminou. Apenas saíram dois integrantes, que serão substituídos ainda não sei por quem.
POP - O que parece claro é que houve algumas disputas de liderança entre o Ney e você, e também problemas com relação a você boicotar as músicas do Gérson.
João - Não é nada disso, ninguém brigou com ninguém. O Ney chegou e me disse: “Olha, João, eu estou confuso e vou dar uma parada”. E parou mesmo. Quanto ao Gérson. não me falou nada. Eu fiquei sabendo que ele também tinha saído do conjunto quando li a notícia nos jornais.
POP - Tudo bem. Você insiste em negar as acusações do Ney e do Gérson, que os jornais publicaram. O que a gente quer saber então é: você não vai procurar o Ney e o Gérson para passar as coisas a limpo?
João - Não, em absoluto. Eu não vou procurar... Me acusam de um monte de coisas, e eu vou ter que levantar e ir à procura das pessoas? Eu também poderia pegar os jornais e falar um monte de coisas, mas aí já estaríamos entrando no nível da fofoca. E eu acho que não pode haver fofoca e gozação com uma coisa que foi muito bonita até agora, que é o Secos e Molhados. Uma coisa que foi feita realmente por todo mundo, pelo Ney, pelo Gérson, por mim – todo mundo deu o que tinha que dar, e foi belíssimo. E chegou a um nível muito alto. Por isso, nem acredito nas declarações do Ney que os jornais publicaram. Nada daquilo que os jornais publicaram é verdade. Eu tenho provas concretas disso.
POP - E o Gérson? Diz que você boicotou o trabalho dele.
João - A única coisa que eu posso dizer é que ele nunca reclamou disso, nunca houve esse tipo de problema. Eu tenho milhares de composições, desde os 1 5 anos de idade. É só fazer uma análise entre as minhas e as composições dele...
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MORACY: “A GANÂNCIA ESTRAGOU TUDO!”
Moracy do Val, ex-empresário dos Secos e Molhados, estava na porta do circo onde está apresentando Godspell, no Rio, quando chegou Gérson Conrad com um jornal na mão: “Olha, o conjunto acabou. Vim pra te comunicar pessoalmente”. E não falou mais nada. Mas Moracy abriu o jogo.
POP - Você, que foi acusado de má administração, como é que está se sentindo agora?
Moracy - Moralmente restabelecido, embora um pouco triste. Enquanto estive à frente do grupo, o faturamento era excelente e ninguém chiava por causa de dinheiro.
POP - Então que vem a ser a sua má administração?
Moracy - Foi a forma mau-caráter que pai (João Apolinário) e filho (João Ricardo) inventaram para meter a mão no tutu do grupo.
POP - Quem foi o responsável pela sua saída?
Moracy - A ganância de João Ricardo. Ele transformou os Secos e Molhados numa máquina de ganhar dinheiro em seu próprio beneficio.
POP - Como assim?
Moracy - Em princípio, não reconhecia o talento de Gérson como compositor. Até aí parece que é só vaidade. Mas não é. O grilo está nos direitos autorais, que rendem dinheiro.
POP - E por que o Gérson só chiou agora?
Moracy - Antes ele já chiava, sim, mas só de leve.
POP - E como era que o Ney reagia?
Moracy - Ele é uma figura humana sensacional e um excelente profissional. Ele calou muitas vezes para não precipitar os acontecimentos. Mas ficava muito triste e magoado.
FONTE:
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Muito legal tu resgatares essa entrevista histórica. Essa briga parece que nunca conhecerá seu fim.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Pablo Antunes.
Visite meu blog: http://jazzxxi.blogspot.com
Agora não sei quem tá com a razão. Se é o João Ricardo ou o Moracy do Val. Coisas que ficaram sem esclarecimentos no rompimento do Grupo Secos & Molhados.
ResponderExcluirIsso é típico de nós Brasileiros. Se temos uma equipe que rende lucros, logo queremos tudo, daí arrebenta. Sempre é assim.
ResponderExcluirTodos sabem que o culpado pelo fim foi João Ricardo. 40 anos depois, ele continua insistindo que "ele" é o Secos & Molhados. Se esquece, no entanto, que uma banda é uma soma dos talentos... talento que como se vê, Ney ainda tem até hoje, e sabia disso, tanto que quando viu que estavam sendo explorados, pulou fora na hora certa. Gérson ficou desapontado e abandonou um pouco a música, depois de ser duramente criticado pelo João, que nunca mais conseguiu fazer nada de interessante que não requentar o nome da banda a cada 10 anos.
ResponderExcluirComo na maioria das sociedades,quando o faturamento começa aumentar tem sempre um querendo ganhar mais que os outros;só que olho grande não entra na China.E aí acaba todos perdendo;pura burrice.
ResponderExcluirjoao ricardo é um Ze ninguem.
ResponderExcluirse passar na rua ninguem o conhece.
essa é a realidade
Pois é, não fosse a estupidez produzida pelo ego de João (a vaidade, a ganância, a falta de senso, etc), a banda teria continuado por muitos anos e todos estavam muito ricos.
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