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sábado, 17 de junho de 2023

HÁ MAIS DE 80 ANOS, UMA LETAL ENDEMIA DE FEBRE MACULOSA ACONTECIA NO “CARRAPATAL DO LORETO”, EM ARARAS-SP

Há uma curiosa e tristíssima história recolhida pelo professor Alcyr Mathiesen, que aconteceu em Araras (SP), entre os anos de 1939 e1940. No bairro ruraldo Loreto, onde uma endemia desta febre grassou no lugar e muitos moradores faleceram por causa da doença infecsiosa. 

O pessoal do serviço de saúde chegou à conclusão que a febre era o “tifo exantemático” (antigo nome da febre maculosa), mal transmitido pela picada do carrapato-estrela, conhecido como "rodoleiro" pelos antigos, inseto que prasitava os animais do lugar, como, p. ex., capivaras, cavalos, cães e gatos. No entanto, os profissionais de então tinham conhecimento precário do histórico da patologia e seu mecanismo de infecção, e, como resultado, acreditou-se que apenas os cães erm vetores, e todos foram mortos naquele distrito. 

Tão famosa quanto temida se tornara aquela praagem que o luga recebeu o batismo de “carrapatar do Loreto”, e todos evitavam passar por ali. 


Na cidade, a funerária do senhor Antonio Severino aumentou consideravelmente  a demanda de caixões vendidos tal era  quantidade de mortos, e todo dia no mínimo um caixão era despachado para o lugar. A frase que mais se ouvia neste estabelecimento nestes dias  era a que o Severino dizia para o seu funcionário: – “Tonho... caixão pro Loreto!”. Inclusive, ironia do destino, disse o professor que o agente funerário tinha um papagaio falante que tantas vezes ouviu a tal frase, que mal um cliente adentrava a funerária, o pássaro alardeava: – “Tonho... caixão pro Loreto, caixão pro loreto!”...

Infelizmente, o professor não divulgou estatísticas de quantas pessoas morreram no período, mas deve ter sido muitas, quiçá chegando à centenas.

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terça-feira, 20 de outubro de 2020

O PRIMEIRO FILME REALIZADO EM ARARAS: "LUAR DO SERTÃO", EM 1949

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"Luar do Sertão" é um drama rural do italiano Mário Civelli (1923-1993) e Tito Batini (?-?), lançado no final de abril de 1949, com duração de 85 minutos.  O filme foi rodado na fazenda Santo Antonio, e na Estação do Loreto, o que é citado no “Álbum de Araras 1862-1949”, livro, por sinal, lançado no mesmo ano. O título do filme se deve ao fato de a história ter sido inspirada na música "Luar do sertão", do poeta e compositor Catulo da Paixão Cearense. A fazenda, na época, era de propriedade da família Silva Telles, que poucas décadas antes foi ponto de encontro dos modernistas de 1922. Vale lembrar também que foi nela que a escritora Lygia Fagundes Telles escreveu seu famoso romance "Ciranda de Pedra", que depois virou novela pela Rede Globo em duas versões, 1981 e 2008. 


A fazenda Santo Antonio, em 1948

Foto feita no início das filmagens, em 1947

Isaura Garcia, no filme
O filme marca também a estreia da atriz negra Isaura Bruno, que depois ficou famosa  na TV ao interpretar Mamãe Dolores na  novela "Direito de nascer", exibida entre 1965 e 66, pela extinta  TV Tupi. Isaura teve um final de vida triste. Após diversos trabalhos na TV, ela foi morar com a filha adotiva Penha Maria em Campinas, e voltou a limpar casas para ajudar nas despesas. Trabalhou também como gari e vendendo doces na Praça da Sé. Em 02 de maio de 1977 faleceu na unidade para indigentes da Santa Casa de Campinas, com 60 anos de idade.

Lydda Sanders

Curiosos observam as filmagens


Do elenco constavam, o futuro galã de novelas Walter Foster (ator de rádio-novela na época), Lydda Sanders (muito elogiada por sua atuação), Fernando Baleroni, Machadinho, Nena Batista, Vicente de Paula Neto e Vicente Leporace.

Walter Foster
Certamente, o filme foi exibido pelo Cine-Teatro Santa Helena, inaugurado em 1930, mas os jornais da época, ao que parece, não documentaram o fato, ao contrário de "Sinhá Moça", que deu muito ibope não só nos locais bem como nos grandes jornais. 

Assim como "Sinhá Moça" (1953) - e este, por sua vez, ligado à estação do Elihu Root -, o valor de "Luar do sertão" para Araras reside do fato de as locações terem sido feitas na zona rural da cidade em duas importantes localidades, constituindo as filmagens, portanto, raras imagens de valor documental feitas há mais de 70 anos.

Abaixo, jornal carioca "A Noite" com propaganda do filme:


Outra edição do jorrnal elogiando a atuação da atriz Lydda Sanders.

Jornal "A Noite", 26-3-1949


FONTES:
Consultar autor

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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

1918-2018: OS 110 ANOS DA EPIDEMIA DE GRIPE ESPANHOLA EM ARARAS.

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Araras foi também uma das inúmeras cidades brasileiras que, em 1918, não passou incólume ao surto da terrível pandemia, a chamada gripe espanhola, ou vírus Influenza — “o grande mal do século XX”. Não se sabe ao certo a sua origem geográfica, mas a imprensa espanhola, durante a I Guerra, anunciava que civis estavam adoecendo e morrendo em números alarmantes; depois, em março de 1918, a doença foi observada nos EUA. Os primeiros casos conhecidos da gripe na Europa ocorreram durante a guerra, em abril, atacando tropas francesas, britânicas e americanas estacionadas em portos de embarque na França.

Hospital de campanha nos EUA durante a pandemia de gripe de 1918 

A epidemia matou muito mais que a própria Primeira Guerra Mundial, que terminou em novembro de 1918 com um saldo estimado em 16 milhões de vítimas. Segundo afirmara o Ministro da Saúde Britânico na época, essa epidemia ocupou "nada menos que o terceiro lugar, talvez o segundo, na escala das grandes pragas" de todas as registradas pela História, tendo como rivais a do Reinado de Justiniano e a “peste Negra” do século XIV. Esta gripe foi excepcional em termos de disseminação e gravidade, e acredita-se que até 5% da população mundial tenha sido infectada, falecendo em todo o planeta entre 20 e 40 milhões de pessoas; porém, outras estatísticas elevam o número a 100 milhões.

Rodrigues Alves
Depois do surto ocorrido na Europa, ele propagou-se pelo Brasil através dos navios de passageiros que aqui desembarcavam trazendo imigrantes. No Rio de Janeiro a gripe aportou em junho a bordo do navio Demerara, que teve a sua tripulação atingida pela epidemia em Dakar. No princípio, umas poucas mortes foram registradas, mas em outubro 300 pessoas pereciam por dia na cidade. Ocorreram no País 35 mil casos, entre eles o próprio Presidente eleito, o carioca Rodrigues Alves (1848-1919). No Estado de São Paulo, o número de vítimas chegou a cerca de 8 mil casos. Em Araras que, por sinal, tinha 8 mil habitantes na época, houve mais de uma centena de casos, registrados tanto na zona urbana quanto na rural. Nunca, em época alguma, o Dr. Narciso Gomes, o padre Alarico Zacharias e Luiz Tozzato, o zelador do Cemitério, se viram diante de tantos doentes e falecidos num espaço de tempo tão curto.

Os atacados pela gripe, geralmente eram jovens entre 20 e 40 anos, de modo que por nunca terem sido expostos à vírus semelhantes, não tinham nenhuma imunidade contra o da Influenza, no que sofriam bem mais que os atacados de uma gripe normal: os pulmões, congestionados e enrijecidos, tornavam o ato de respirar numa tarefa quase impossível. As infecções evoluíam rapidamente, e as pessoas morriam em poucos dias, às vezes, em questão de horas, logo depois do aparecimento dos primeiros sintomas, no que eram sufocadas pelos fluídos que tomavam conta dos pulmões. De cada seis ou sete casos, um degenerava em pneumonia tão grave que o paciente só teria duas possibilidades, em três, de escapar. O que tornou essa linhagem tão mortal era um mistério médico, até que, em 2006, cientistas norte-americanos desenvolveram técnicas que permitiram resgatar e ressuscitar os genes do vírus de 1918 de tecidos de uma vítima da época cujo corpo fora encontrado congelado em neve. Análises desses genes e de proteínas codificadas revelaram características do vírus que poderia suprimir as defesas do corpo e provocar uma reação imune violenta nas vítimas, levando à morte. Os cientistas concluíram que, embora o vírus da gripe espanhola tivesse de fato ‘nascido’ pouco antes de 1918, ele surgiu quando um vírus da gripe humana – que já naquela altura, circulava entre a raça humana entre dez a 15 anos – ‘capturou’ um gene de gripe aviária. Não foi um vírus das aves que ‘saltou’ inteirinho das aves para os humanos nem resultou de uma mistura com um vírus suíno.

Relatos da época dão conta de que os corpos ficavam tão arroxeados que era difícil distinguir um cadáver de um branco do de um negro. Sabendo-se hoje da ligação com o vírus da gripe, não deixa de ser curioso o que este site relatou:
                            
“Os médicos, também alarmados, não sabiam o que receitar e indicavam canja de galinha. O resultado foram saques aos armazéns atrás de frangos. Os jornais afirmavam que o tratamento deveria ser feito à base de pinga com limão ou uísque com gengibre.”

Em carta descoberta e publicada no

"desenvolvem rapidamente o tipo mais viscoso de pneumonia jamais visto. Duas horas após darem entrada [no hospital], têm manchas castanho-avermelhadas nas maçãs do rosto e algumas horas mais tarde pode-se começar a ver a cianose estendendo-se por toda a face a partir das orelhas, até que se torna difícil distinguir o homem negro do branco. A morte chega em poucas horas e acontece simplesmente como uma falta de ar, até que morrem sufocados. É horrível. Pode-se ficar olhando um, dois ou 20 homens morrerem, mas ver esses pobres-diabos sendo abatidos como moscas deixa qualquer um exasperado”.

Dr. Narciso Gomes
Foi um ano muito difícil para a população da região que parecia viver anos de pragas e maldições bíblicas. Primeiro, foram as pragas de gafanhotos que surgiram vindos do Sul. Registros feitos em Mogi-Guaçu citam que uma nuvem imensa e compacta, com alguns quilômetros de largura, cortou o céu da cidade durante horas, seguindo em direção de Minas Gerais. Em Araras houve uma passagem em setembro de 1917 e outra em fevereiro de 1918. No Rio Grande do Sul (Panambi e Passo Fundo) já havia registros em 1906 e 1907, em época de forte seca. Em Araras os registros mais antigos datam de setembro, outubro e novembro de 1906 e maio de 1909. Como não se bastasse, meses antes do surto da gripe e depois da praga dos gafanhotos, ocorrera a grande geada dos dias 25 e 26 de junho de 1918, quando os termômetros chegaram a registrar 4 graus negativos comprometendo toda a lavoura cafeeira, destruindo-se 4 milhões de pé de café.

O Prefeito Coronel André Ulson Júnior, junto do Doutor Luiz Narciso Gomes, então Presidente da Câmara e Inspetor de Higiene Municipal, tomaram medidas preventivas, dentre elas, destacam-se algumas curiosas recomendações profiláticas:

— “Todas as pessoas que tiverem sido afetadas de gripe, deverão conservar-se em suas casas. Não devem cuspir ou escarrar nas ruas e calçadas, devendo fazê-lo somente em escarradeiras ou vasos previamente munidos de uma solução de sublimado que a Prefeitura fornece gratuitamente.”
— “As pessoas ainda não afetadas devem evitar as que foram e que tenham ainda tosse; bem como enquanto durar a epidemia, banir o modo comum de saudação por aperto de mão.”
— “Devem respirar pelas narinas e não pela boca.”
— “Afim de preservar aquelas de possível contaminação, poderão untar a mucosa, por meio de um pequeno tampão de algodão, com a seguinte pomada: ácido bórico 2 gramas, vaselina 30 gramas, mentol 10 centigramas.”

Prefeito André Ulson Junior.
Foi também colocado um guarda em cada casa que tivesse um doente, de modo que se evitava assim

Pelo que se depreende ─ certamente para evitar contágios ─, nenhum dos doentes foi transferido para a Santa Casa da Misericórdia, que na época se situava num prédio na então praça Mário Tavares, entre a igreja Matriz e a atual Casa da Cultura.



A Santa Casa da Misericórdia, exatos 10 anos antes da febre amarela.


A Santa Cruz foi uma das ruas bastante afetadas pelo surto, na época, uma rua ainda de terra batida, com casas com esgoto à céu aberto e latrinas, bem como locais de criações de animais como porcos e aves, enfim, lugares propícios ao aparecimento de ratos e a famigerada peste bubônica, bem como de mosquitos, devido à sua proximidade com o ribeirão das Furnas e seus brejais adjacentes, mas não se sabe se estas condições colaboraram para o avanço da epidemia. De todo modo, já no ano anterior ao surto, havia em Araras um rigoroso serviço de inspeção de quintais. Em maio de 1917, foram inspecionados os quintais das 71 residências existentes ao longo desta rua. O fiscal municipal era o senhor José da Luz, que notificou os proprietários de cinco casas, e “foram intimados a fazer os serviços e limpezas necessárias, adotando certas medidas higiênicas, indispensáveis”.

A rua e a capela de Santa Cruz, exatas três décadas após o surto de febre amarela

No início de novembro do ano seguinte, Araras tinha suas primeiras vítimas de febre amarela: o jornal Tribuna do Povo noticiava no dia 3 que houve uma vítima na rua Santa Cruz, no “prédio no 17”; no dia 10, na casa de no 29, era notificada mais uma vítima; na no 55, duas vítimas, e na de no 89 outras duas. Nesta mesma data iniciava-se a distribuição de mantimentos às vítimas pobres. Para 60 pessoas necessitadas que não podiam trabalhar devido à doença, foram distribuídos: café, chá, açúcar, leite, pão, biscoitos, arroz, feijão, fubá, farinha de mandioca, maisena, sal, toucinho, sabão e querosene, sendo que na rua Santa Cruz, foram contempladas três pessoas da casa no 14, e duas pessoas da casa no 17. Em 24 de novembro surgiam novos casos na mesma rua: duas vítimas na casa no 5; um na casa no 13; uma na no 23; dois na no 55 e uma na no 57. No dia 8 do mês seguinte, mais quatro surgiam na casa no 6. No dia 15, outra em prédio não citado, e no dia 29, nova outra vítima na casa no 38. Como os dados foram colhidos pelo citado jornal e inexistem os exemplares do mês janeiro, não se soube o que ocorreu neste mês, mas no início de fevereiro não mais se noticiava o surto. No final, computou-se que morreram 31 pessoas na cidade.

No sopé, a rua Sta Cruz, o casario e quintais, e a várzea do ribeirão das Furnas. Déc. 1940

A semelhança existente entre o vírus da gripe espanhola e o atual vírus causador da gripe das aves na Europa e da Ásia é impressionante, e sugere que foram necessárias mutações relativamente pequenas para que um vírus aviário como o de 1918 passasse a infectar humanos. Assim, a mutação do vírus da gripe comum de 1918 é semelhante à que surgiu nos casos da gripe aviária (H5N1) ou gripe suína (H1N1). Nestes casos, como não era fácil identificar o organismo que estava causando a doença, não era possível encontrar um tratamento eficaz, tornando a doença fatal na maior parte dos casos.

Sobre a pequena Araras desse ano crítico, o senhor Luiz Rubini, nascido em 1909, comentou em entrevista ao Opinião Jornal em fevereiro de 2003:

“Viemos para a cidade em 1918. A cidade daquele tempo era muito ruim. Não tinha calçamento, rede de esgoto, privada patente. Quando a gente vinha pra escola o cheiro das fossas se espalhava pela cidade. Ela começou a melhorar quando o Zurita foi prefeito”
 

domingo, 19 de novembro de 2017

VELHO ESCRAVO DA FAZENDA SANTO ANTONIO (Araras-SP) INSPIRA FAMOSO QUADRO DO PINTOR MODERNISTA LASAR SEGALL!

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Lasar Segall
A famoso quadro "Bananal", do pintor Laser Segall (1891-1957), teve por base um estudo detalhado, a lápis-carvão, que ele fez de um senhor negro e idoso, chamado Olegário, que fora escravo dessa que é uma das mais antigas de Araras, surgida no distante 1831.
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Segundo LuDiasBH:
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"Segall mais uma vez, como fez em Menino com Lagartixas, destina a parte inferior da tela, reduzida aqui à metade, para colocar o único personagem da composição, preenchendo todo o resto com as folhas verdes das bananeiras.
Como o título induz-nos a pensar, o negro Olegário é apenas parte da densa vegetação, pois, como na vida, nunca fora visto como pessoa, mas como parte disso ou daquilo, subordinado ao trabalho, mandado por seus donos.
A figura de Olegário, vista a partir do longo pescoço para cima, traz profundos sulcos na testa, que denotam não apenas preocupação, mas também marcas do tempo e do trabalho servil. Seus olhos são pequenos e verdes como o verde das folhas do bananeiral. O nariz anguloso e achatado mostra enormes narinas abertas. A boca grande e grossa, mesmo fechada, expõe os lábios carnudos. Dois profundos sulcos cercam-na, partindo das narinas, e indo até os cantos esquerdo e direito.
O cabelo curto e emaranhado da cabeça de Olegário encontra-se com a barba crespa, como se fizessem uma moldura em torno do rosto do ex-escravo. Seu olhar é ao mesmo tempo duro, desesperançado e sofrido."
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GoffredoTelles Junior.
Quem se recorda dele servindo de modelo para o futuro quadro, era aquele que no futuro viria a se tornar um dos maiores juristas do país, o então menino Goffredo Telles Júnior (1915-2009), que passava os dias nesta fazenda de seus avós junto com o grupo de modernistas da Semana de 22 que aí frequentou durante a década de 1920:

"Lasar Segall, por exemplo, me fascinava. (...) Ele tinha um modo de olhar para as coisas do mundo como não vi em mais ninguém. Olhos muito abertos, infinitamente curiosos, numa fisionomia de extrema doçura... Extasiei-me ao vê-lo em plena criação, no terraço da fazenda, retratando, a carvão, na tela do seu cavalete, a cabeça do velho Olegário, antigo escravo de meus bisavós. Nenhum de nós podia imaginar que ali se estava produzindo o primeiro esboço do famoso quadro Bananal."
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sexta-feira, 8 de julho de 2016

ARARAS: "CIDADE DAS ÁRVORES" OU "CIDADE DOS CANAVIAIS"?...



Livro sobre a festa lançado pelo
autor, em 7 de junho de 2002.
No dia 7 do mês passado, completou-se 114 anos da Primeira Festa Das Árvores de Araras, mas, como sempre acontece, 99% não se deram conta disso. Após a efeméride, houve algumas exumações em algumas escolas, mas, passada a data, a festa foi enterrada novamente!...

É surpreendente que Araras tendo realizado no distante 7 de junho de 1902 aquele que pode ser considerado o primeiro movimento conservacionista dedicado às árvores na América do Sul, ninguém nesta cidade se dá conta de sua importância para a história deste país! 

Turisticamente falando, o nosso maior ativo é, incontestavelmente, a Festa das Árvores. Temos, na região, diversas cidades, todas com seus ativos em dia: Holambra com a “Festa das Flores”, Jundiaí com a “Festa da Uva”, Barretos com a “Festa do Peão de Boiadeiro”, Valinhos com a “Festa do Figo”, Limeira com a “Festa da Laranja” etc., mas, estranhamente, Araras não se interessa pelo seu feito histórico que, por seu pioneirismo e importância, deveria ter um renome continental, e, assim, não segue o exemplo das cidades vizinhas que tem em suas festas tradicionais motivos para atrair turistas e dividendos, bem como tornar famosa sua realização em todo o país e até na América do Sul.

Enfim, eis a cidade da amnésia endêmica e sua "memória de incinerador", aquela que esquece com facilidade seus feitos gloriosos que deveriam ser eternizados, aquela que não sabe que, em sua história tem um gigante adormecido!


Festa das Árvores em 1902 - quadro Emílio Wolff

Como se pode depreender, em Araras foi a paisagem canavieira ganhou estatuto de municipalidade e não a árvore, cujo nome, como se sabe, é o motivo de seu duvidoso (para não dizer hipócrita) lema. E este lema, o de “Cidade das Árvores” ― que deveria se ponto de expressão privilegiada de todas as representações municipais ―, não passa de balela e conversa mole para boi dormir! Entra ano e sai ano, e o gigante continua adormecido!... 

Ah, em pensar nas quantas cidades brasileiras não gostariam de ter realizado pioneiramente este evento e, assim, fazendo jus a ele, tê-lo relembrado pela eternidade afora e festas e mais festas, mas, como se vê, esta cidade infeliz que é Araras não é, definitivamente, digna de ser chamada de “Cidade das Árvores”. Oremos!...


Foto do satélite Landsat 7, de 2001. A as áreas em azul são solo ou cidade;
áreas em preto são rios e cursos d’água; áreas em vermelho são canaviais.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

MARCHA DE SOLDADOS À LUZ DO LUAR DO SERTÃO...

“Não há, oh gente, oh não,
Luar como este do sertão!”
(Luar do Sertão - Catulo
da Paixão cearense)

Wenilton, o
atirador nº 138
O calendário de atividades agendava a marcha noturna de 16 quilômetros da primeira turma de 1980 do Tiro de Guerra 02-053 para a noite do dia 31 de maio. No entanto, creio ela não fora realizada nesta data, como veremos adiante. 

Eu, particularmente, estava para lá de eufórico com esta marcha, pois além de ela ser realizada à noite, seria numa noite de lua, e lua cheia! Além do mais, o percurso se daria em zona rural, numa região então muito linda e preservada da zona sudeste de Araras!

Porteira da faz. Sta Terezinha. Á direita o campo de futebol. Final déc. de 1970.


O INÍCIO DA MARCHA

A marcha se iniciou nas imediações das obras do então futuro Clube dos Bancários, no Jardim Fátima, mas a caminhada “para valer” teve início mesmo na “parte selvagem” do trajeto, quando adentramos a a atual avenida Augusta Viola da Costa, uma estrada de terra ainda, a mesma que levaria até a aleia de bambuais que havia junto ao sítio Santa Terezinha, a parte mais notável de todo o trajeto.

Ao fundo, a bifurcação das avenidas Loreto e  Augusta Viola da Costa, julho 1982.
Ao centro, na bifurcação uma das três capelinhas de santa Cruz que aí haviam.


O portão de entrada do lado norte da faz. Santo Antonio. Final década de 1970.

À princípio, esta imensa aleia se estendia desde a Estação Ferroviária do Loreto, passando pelo sítio Santa Terezinha e fazenda Independência, indo até a porteira do lado norte da fazenda Santo Antônio. O percurso total era de quase 2 quilômetros. Não descobri se este trecho de bambuais também tinha um nome de batismo como a “Via Carola”, ou seja, a aleia de bambus situada do lado sul da fazenda Santo Antônio. Este era um bambual de espécie semelhante e, ao contrário do outro, ainda preservado. A espécie em questão é Phylostachys sp. (aurea?), conhecido popularmente como “bambu comum” ou “moso”.  Tem, porém este bambual um percurso de cerca de 1 quilômetro, constituindo ele uma belíssima estrada que se inicia na ponte sobre a rodovia que leva à Conchal e vai até a entrada da fazenda. 

Início da déc. de 1990, o "Via Carola", o bambual do lado sul da faz. Sto Antonio


MARCHA À LUZ DO LUAR

Portanto, a marcha de 14 quilômetros do dia 31 de maio, coincidentemente se sincronizava com a fase de lua cheia (de dois dias). Infelizmente, a caminhada seguinte, a de 24 quilômetros não fora realizada, e o motivo deve ter sido por algum problema de agenda, como veremos a seguir. Inclusive, por eu ter toda a certeza de ter ocorrido lua cheia na noite da primeira caminhada, é muito provável que a marcha tenha se dado dois dias antes, na quinta-feira do dia 29. E quem sabe o sargento não escolhera este dia devido à ser o primeiro dia da lua cheia, uma vez que ela seria uma ótima iluminação facilitando o deslocamento da tropa, já que normalmente nesta fase ela ilumina consideravelmente os caminhos. Quiçá o nosso instrutor não gostava também destas coisas tão comuns à campistas e mochileiros: lua cheia, bambuais e... café com chocolate, por exemplo, como vimos na postagem anterior... Como disse, houve mesmo um remanejamento na agenda de eventos: por exemplo, o concurso de tiro que era para ser realizado em Limeira em 26 de junho, fora adiantado para o dia 16 do mesmo mês, assim como o treinamento para juramento à Bandeira mudara do dia 28 de junho para o dia 17 anterior.

Mapa aéreo de 1978 da extinta empresa Terrafoto. Em laranja o percurso
inicial da marcha, e, em verde, o campo de futebol da fazenda Santa Terezinha.


O TRAJETO

Acompanhemos então o trajeto dessa marcha: das obras Clube dos Bancários — onde nos reunimos (por volta das 4 da manhã) e de onde partimos —, até o então campo de futebol do sítio Santa Terezinha — onde tomamos o rumo da fazenda seguinte, a Santo Antonio —, o percurso era de cerca de 2,4 quilômetros. Este trecho, metade era zona urbana — o bairro Jardim Fátima e o nascente Jardim Campestre, e metade estrada de terra com sítios ao longo do trajeto, incluindo três capelinhas de santa cruz que, por sinal, eu viria fotografar poucos anos depois. 

No início da estrada onde começava o bambual, havia uma porteira de madeira, porteira esta situada numa encruzilhada, até a porteira de metal (foto acima) da entrada das terras da fazenda Santo Antônio, mais 1,30 quilômetros. Aí também se situava o citado campo de futebol. Desta porteira, que também ficava numa encruzilhada,  até a colônia da fazenda, que tinha 120 metros de extensão, havia mais um retão de cerca de 1,38 quilômetros, sendo que o caminho era ladeado de árvores comuns e frutíferas.

A apostila dos atiradores
Segundo a Apostila da Instrução Militar Básica do Tiro de Guerra, a velocidade normal adotada em caminhadas noturnas em estrada é de 3 quilômetros por hora, mas marchamos muito mais rápido que isso. Lembrando que, ao amanhecer estávamos na lagoa da fazenda Santo Antonio, da partida até ela, onde chegamos por volta das 6 da manhã, levamos, num percurso de 5, 6 quilômetros, cerca de uma hora e meia, de onde se pode deduzir que todo o percurso, do clube ao cemitério, foi feito em cerca de 3 horas. Ainda segundo ela, havia quatro “percursos de marchas de treinamentos feitos pelo TG”: 8, 12, 16 e 24 quilômetros, sendo que a de 16 — a da história em questão — era noturna. Ao que eu me recorde, esta foi a única marcha que fizemos, infelizmente.


A BAGUNÇA...

Recordo-me que esta caminhada foi uma bagunça danada em certa parte da estrada, pois o cenário facilitava: em meio ao “túnel” de bambus que se curvavam e se uniam no meio do leito carroçável, havia a estrada iluminada pelos raios da lua que se coalhava entre os colmos e folhagens. Estava a lua, no início da caminhada, à cerca de 45º acima do poente, de modo que ainda iluminava suficientemente a paisagem. Então, os soldados que vinham atrás no pelotão em fila indiana, agarravam galhos de bambu e inclinando-os, batiam com eles na cabeça dos soldados que iam à frente... Felizmente,  o sargento, que ia à testa do pelotão junto do soldado balizador nada notava, de modo que o resto dos soldados, os bagunceiros do final do pelotão, se divertiam à valer... Vale dizer que eu estava entre esses soldados do final do pelotão, já que eu tinha o nome começando pela letra “W”!...

Segundo o professor Toninho Innocente, no final do século 19, este trecho de bambual deu origem à histórias de assombrações de escravos acorrentados que por aí vagavam às desoras!... 

Já escritor José Carlos Victorello, numa longa reportagem no Tribuna do Povo em 6 de agosto de 1978, onde fez seus comentários particulares sobre tipo popular Dito Flautista, escreveu que:

“No bambual que formava um túnel sobre a estrada da fazenda Santo Antônio, morava um bando de saci-pererê. Quando a bitatá (estrela cadente) riscava os céus na direção da fazenda, o Dito apertava o passo, rezava e pedia proteção à madrinha (Nossa Senhora do Patrocínio), que espantava as almas do outro mundo e deixava a estrada limpa.”


Bambual ilustrativo, semelhante ao do lado norte da fazenda Santo Antonio.

Longos minutos depois chegamos à porteira da Santo Antônio e o percurso a partir daí foi feito à sombra de velhas árvores, como eucaliptos, nespereiras e jaqueiras, onde, num determinado trecho, abaixo da estrada jazia mais uma outra velha santa cruz que, também, anos depois, fotografei pensando num futuro trabalho histórico. 

Capelinha de Santa Cruz na fazenda Santo Antônio, setembro 1986.
Não se sabe a história do que aconteceu para que ela fosse erigida.



A COLÔNIA

Colônia Grande - fazenda Santo Antonio, 1910

Mais alguns longos minutos chegaríamos à colônia da fazenda, a mesma onde entre as décadas de 1920 e 30 o meu avô paterno, o velho Francisco Rocha, se empregou como administrador. Quiçá não tenha ele, entre um trabalho e outro, entabulado uma conversa qualquer com algum membro do grupo dos modernistas, assunto do qual trato mais adiante. Taí coisa que ele nunca disse à ninguém, uma vez que, infelizmente, não era de falar muito nem contador de histórias, como o era sua esposa, a minha mestra Ana Rocha. Seu filho, porém, meu tio Antonio, disse que, por ocasião da Revolução de 32, quando as tropas vindas de Mogi Guaçú para Araras guerreavam com seus canhões, o meu avô colocava ele, criancinha ainda, no pescoço e ambos fugiam e se escondiam no meio do mato. 


O "LAGO BARTIRA", OU "TUPINAMBÁ"

Logo ao amanhecer adentramos à fazenda, e às margens do lendário “Lago Bartira” fizemos o chamado “alto horário”, ou seja, a pausa obrigatória do pelotão que é feita após 45 minutos de caminhada. Aí, sentados no gramado e observando a beleza da superfície das águas onde flutuavam fiapos de vaporosa cerração, fizemos um rápido café da manhã. Do outro lado do lago, bela como nunca, a lua se punha serena com uma fraca cor amarelada, cor de pastilha Supra-Sumo ou mesmo da cor daquelas pedras de enxofre que se colocava antigamente no cocho d’água dos galinheiros. 

Este lago, também conhecido como Açude Santo Antonio ou Lago Tupinambá, cita-se que é um dos mais antigos da cidade e foi construído na distante década de 1870, onde, na época, segundo o escritor e pintor Emílio Wolff, existiam jacarés-de-papo-amarelo.

Mapa aéreo de 1978 da extinta empresa Terrafoto . Em laranja o percurso
mediano da marcha, e, em verde a represa da fazenda Santo Antonio, em azul.


FAZENDA CENÁRIO DE FILME

A estação do Loreto, durante filmagem de "Luar do Sertão", rodado em 1947

E já que falamos de lua, vale lembrar que nesta secular fazenda foi rodado o hoje totalmente esquecido filme “Luar do Sertão”, isto no distante 1947, filme este do qual participara uma nova dupla caipira — que viria a se tornar a mais famosa dentre todas do gênero —, nada mais nada menos que Tonico e Tinoco, que, por sinal, estavam estreando na película.

Outro fato importante ligado à história desta fazenda — mas fato para se checar a veracidade —, é que há na cidade quem diga que o famoso tema sinfônico do maestro Villa-Lobos, o popular “Trenzinho Caipira” foi composto numa das inúmeras viagens de trem que o compositor fazia regularmente à fazenda.


A SANTO ANTÔNIO: O QG DOS MODERNISTAS DE 22

Lygia Fagundes, faz.
Sto. Antônio,  1956
Para quem não sabe da importância da fazenda dos Silva Telles para a história da cultura paulista, convém esclarecer que ela foi algo como que o QG dos intelectuais da Semana de Arte Moderna de 1922. Pela mesma aleia de bambuais e árvores onde fizemos nossa marcha, cerca de cinco décadas antes vindos de trem de São Paulo, passaram de charrete nomes de peso desse movimento cultural como o maestro Villa-Lobos, o escultor Victor Brecheret, as pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, os escritores Mário e Oswald de Andrade, etc. 

Vale lembrar também que foi nesta belíssima fazenda, na década de 1950, que a escritora Lygia Fagundes Telles escreveu parte do seu primeiro romance, o famoso e premiado “Ciranda de Pedra”, que inclusive virou novela de TV. Lygia era casada com o jurista e ensaísta Goffredo da Silva Telles Jr., seu ex-professor de Direito e proprietário da fazenda na época.
 
Dona Olívia Guedes Penteado, Blaise Cendrars, Tarsila do Amaral, Oswald
de Andrade Filho (Nonê) e Oswald de Andrade na fonte da fazenda Santo Antônio.


COMO SE DESTRÓI UM PATRIMÔNIO NATURAL

Dizia-se no começo dos anos 1980, que as casas do Nosso Teto I tiveram suas cercas e ranchos erguidos à custa deste bambual. Segundo o casal Antonio “Nicola” Fuzzaro (in memorian) e dona Beatriz, que tem sua chácara ao lado desta estrada, me contaram que em 1981, quando se deu a construção do “Teto”, iniciou-se a depredação deste bambual e com o surgimento do Nosso Teto II, ele foi extinto por completo. Ambos contam que a retirada se dava à noite, quando se podia ouvir nos fundos da chácara as pessoas cortando furtivamente os bambus.

O bairro popular Nosso Teto I, no ano de 1981. Notar uma das cercas
feitas com bambus extraídos dos bambuais da fazenda Santa Terezinha.


O FINAL DA MARCHA

A imponente fazenda Santo Antonio, em foto atual.

Voltando à marcha, à partir da comporta da lagoa, por estradas sinuosas e de terra também, ao lado de campos, capões de mato e canaviais, haviam mais cerca de 6,5 quilômetros até desembocar nas imediações do Cemitério Municipal, onde a marcha findou. Somando-se tudo, do clube ao cemitério, o percurso orçava pelos 12 quilômetros no total, não alcançando, portanto, os 16 propostos, infelizmente... 

Como se vê, o lugar para a caminhada noturna do TG foi muito bem escolhido, mas hoje este mesmo roteiro não teria o mesmo encanto, uma vez que o bambual por onde passamos foi totalmente destruído, além de o acesso à fazenda ser totalmente vetado. 

Villa-Lobos e um dos seus papagaios

Sim, amigos, por fim, não vimos os fantasmas dos antigos escravos pelo bambual; não passaram por nós carruagens levando os modernistas de 22; a Lygia não estava pelos arrabaldes com um caderninho à mão escrevendo seu romance, nem o Villa compondo suas peças ou fazendo seus gigantescos papagaios para a criançada; tampouco os depredadores do Nosso Teto não rondavam por ali à desoras na faina de arrumar bambu para a cerca de suas novas casas, mas, estes últimos, se o víssemos, ah, com certeza, iam ser escorraçados à botinadas!... Onde já se viu destruir uma maravilha daquelas! Mas a caminhada em si sob a luz do luar e o “piquenique” às margens da lagoa foi algo de sobrenatural e compensou tudo! 

Enfim, meus caros, o que eu sei dizer é que esta frígida noite de inverno em marcha sob a luz do luar foi realmente uma noite feliz, engraçada, nostálgica e, acima de tudo, inesquecível, e é por este e outros motivos que até hoje eu digo à todos os jovens em idade de serviço militar: Amigos, vale mais que a pena prestar Tiro de Guerra! É uma oportunidade única na vida! E, para fazer valer o que digo, conto-lhes velhas e instigantes histórias, como por exemplo, a do Tiro de Guerra 02-053 visitando o Quartel General  dos Modernistas de 22 numa manhã de luar!...

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