quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
O FOLCLORE DA BANANEIRA NAS MORTES DOS BARÕES DE ARARY E GRÃO-MOGOL
sábado, 17 de junho de 2023
HÁ MAIS DE 80 ANOS, UMA LETAL ENDEMIA DE FEBRE MACULOSA ACONTECIA NO “CARRAPATAL DO LORETO”, EM ARARAS-SP
Há uma curiosa e tristíssima história recolhida pelo professor Alcyr Mathiesen, que aconteceu em Araras (SP), entre os anos de 1939 e1940. No bairro ruraldo Loreto, onde uma endemia desta febre grassou no lugar e muitos moradores faleceram por causa da doença infecsiosa.
O pessoal do serviço de saúde chegou à conclusão que a febre era o “tifo exantemático” (antigo nome da febre maculosa), mal transmitido pela picada do carrapato-estrela, conhecido como "rodoleiro" pelos antigos, inseto que prasitava os animais do lugar, como, p. ex., capivaras, cavalos, cães e gatos. No entanto, os profissionais de então tinham conhecimento precário do histórico da patologia e seu mecanismo de infecção, e, como resultado, acreditou-se que apenas os cães erm vetores, e todos foram mortos naquele distrito.
Tão famosa quanto temida se tornara aquela praagem que o luga recebeu o batismo de “carrapatar do Loreto”, e todos evitavam passar por ali.
Na cidade, a funerária do senhor Antonio Severino aumentou consideravelmente a demanda de caixões vendidos tal era quantidade de mortos, e todo dia no mínimo um caixão era despachado para o lugar. A frase que mais se ouvia neste estabelecimento nestes dias era a que o Severino dizia para o seu funcionário: – “Tonho... caixão pro Loreto!”. Inclusive, ironia do destino, disse o professor que o agente funerário tinha um papagaio falante que tantas vezes ouviu a tal frase, que mal um cliente adentrava a funerária, o pássaro alardeava: – “Tonho... caixão pro Loreto, caixão pro loreto!”...
Infelizmente, o professor não divulgou estatísticas de quantas pessoas morreram no período, mas deve ter sido muitas, quiçá chegando à centenas.
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terça-feira, 20 de outubro de 2020
O PRIMEIRO FILME REALIZADO EM ARARAS: "LUAR DO SERTÃO", EM 1949
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Isaura Garcia, no filme |
Lydda Sanders![]() |
Curiosos observam as filmagens |
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Walter Foster |
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Jornal "A Noite", 26-3-1949 |
segunda-feira, 5 de novembro de 2018
1918-2018: OS 110 ANOS DA EPIDEMIA DE GRIPE ESPANHOLA EM ARARAS.
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Hospital de campanha nos EUA durante a pandemia de gripe de 1918 |
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Rodrigues Alves |

Relatos da época dão conta de que os corpos ficavam tão arroxeados que era difícil distinguir um cadáver de um branco do de um negro. Sabendo-se hoje da ligação com o vírus da gripe, não deixa de ser curioso o que este site relatou:
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Dr. Narciso Gomes |
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Prefeito André Ulson Junior. |
Pelo que se depreende ─ certamente para evitar contágios ─, nenhum dos doentes foi transferido para a Santa Casa da Misericórdia, que na época se situava num prédio na então praça Mário Tavares, entre a igreja Matriz e a atual Casa da Cultura.
A Santa Casa da Misericórdia, exatos 10 anos antes da febre amarela.
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A rua e a capela de Santa Cruz, exatas três décadas após o surto de febre amarela
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No início de novembro do ano seguinte, Araras tinha suas primeiras vítimas de febre amarela: o jornal Tribuna do Povo noticiava no dia 3 que houve uma vítima na rua Santa Cruz, no “prédio no 17”; no dia 10, na casa de no 29, era notificada mais uma vítima; na no 55, duas vítimas, e na de no 89 outras duas. Nesta mesma data iniciava-se a distribuição de mantimentos às vítimas pobres. Para 60 pessoas necessitadas que não podiam trabalhar devido à doença, foram distribuídos: café, chá, açúcar, leite, pão, biscoitos, arroz, feijão, fubá, farinha de mandioca, maisena, sal, toucinho, sabão e querosene, sendo que na rua Santa Cruz, foram contempladas três pessoas da casa no 14, e duas pessoas da casa no 17. Em 24 de novembro surgiam novos casos na mesma rua: duas vítimas na casa no 5; um na casa no 13; uma na no 23; dois na no 55 e uma na no 57. No dia 8 do mês seguinte, mais quatro surgiam na casa no 6. No dia 15, outra em prédio não citado, e no dia 29, nova outra vítima na casa no 38. Como os dados foram colhidos pelo citado jornal e inexistem os exemplares do mês janeiro, não se soube o que ocorreu neste mês, mas no início de fevereiro não mais se noticiava o surto. No final, computou-se que morreram 31 pessoas na cidade.
No sopé, a rua Sta Cruz, o casario e quintais, e a várzea do ribeirão das Furnas. Déc. 1940 |
A semelhança existente entre o vírus da gripe espanhola e o atual vírus causador da gripe das aves na Europa e da Ásia é impressionante, e sugere que foram necessárias mutações relativamente pequenas para que um vírus aviário como o de 1918 passasse a infectar humanos. Assim, a mutação do vírus da gripe comum de 1918 é semelhante à que surgiu nos casos da gripe aviária (H5N1) ou gripe suína (H1N1). Nestes casos, como não era fácil identificar o organismo que estava causando a doença, não era possível encontrar um tratamento eficaz, tornando a doença fatal na maior parte dos casos.
Sobre a pequena Araras desse ano crítico, o senhor Luiz Rubini, nascido em 1909, comentou em entrevista ao Opinião Jornal em fevereiro de 2003:
domingo, 19 de novembro de 2017
VELHO ESCRAVO DA FAZENDA SANTO ANTONIO (Araras-SP) INSPIRA FAMOSO QUADRO DO PINTOR MODERNISTA LASAR SEGALL!
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Lasar Segall |
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Como o título induz-nos a pensar, o negro Olegário é apenas parte da densa vegetação, pois, como na vida, nunca fora visto como pessoa, mas como parte disso ou daquilo, subordinado ao trabalho, mandado por seus donos.
A figura de Olegário, vista a partir do longo pescoço para cima, traz profundos sulcos na testa, que denotam não apenas preocupação, mas também marcas do tempo e do trabalho servil. Seus olhos são pequenos e verdes como o verde das folhas do bananeiral. O nariz anguloso e achatado mostra enormes narinas abertas. A boca grande e grossa, mesmo fechada, expõe os lábios carnudos. Dois profundos sulcos cercam-na, partindo das narinas, e indo até os cantos esquerdo e direito.
O cabelo curto e emaranhado da cabeça de Olegário encontra-se com a barba crespa, como se fizessem uma moldura em torno do rosto do ex-escravo. Seu olhar é ao mesmo tempo duro, desesperançado e sofrido."
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GoffredoTelles Junior. |
sexta-feira, 8 de julho de 2016
ARARAS: "CIDADE DAS ÁRVORES" OU "CIDADE DOS CANAVIAIS"?...
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Livro sobre a festa lançado pelo autor, em 7 de junho de 2002. |
É surpreendente que Araras tendo realizado no distante 7 de junho de 1902 aquele que pode ser considerado o primeiro movimento conservacionista dedicado às árvores na América do Sul, ninguém nesta cidade se dá conta de sua importância para a história deste país!
Turisticamente falando, o nosso maior ativo é, incontestavelmente, a Festa das Árvores. Temos, na região, diversas cidades, todas com seus ativos em dia: Holambra com a “Festa das Flores”, Jundiaí com a “Festa da Uva”, Barretos com a “Festa do Peão de Boiadeiro”, Valinhos com a “Festa do Figo”, Limeira com a “Festa da Laranja” etc., mas, estranhamente, Araras não se interessa pelo seu feito histórico que, por seu pioneirismo e importância, deveria ter um renome continental, e, assim, não segue o exemplo das cidades vizinhas que tem em suas festas tradicionais motivos para atrair turistas e dividendos, bem como tornar famosa sua realização em todo o país e até na América do Sul.
Enfim, eis a cidade da amnésia endêmica e sua "memória de incinerador", aquela que esquece com facilidade seus feitos gloriosos que deveriam ser eternizados, aquela que não sabe que, em sua história tem um gigante adormecido!
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Festa das Árvores em 1902 - quadro Emílio Wolff |
Como se pode depreender, em Araras foi a paisagem canavieira ganhou estatuto de municipalidade e não a árvore, cujo nome, como se sabe, é o motivo de seu duvidoso (para não dizer hipócrita) lema. E este lema, o de “Cidade das Árvores” ― que deveria se ponto de expressão privilegiada de todas as representações municipais ―, não passa de balela e conversa mole para boi dormir! Entra ano e sai ano, e o gigante continua adormecido!...
Ah, em pensar nas quantas cidades brasileiras não gostariam de ter realizado pioneiramente este evento e, assim, fazendo jus a ele, tê-lo relembrado pela eternidade afora e festas e mais festas, mas, como se vê, esta cidade infeliz que é Araras não é, definitivamente, digna de ser chamada de “Cidade das Árvores”. Oremos!...
Foto do satélite Landsat 7, de 2001. A as áreas em azul são solo ou cidade;
áreas em preto são rios e cursos d’água; áreas em vermelho são canaviais.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
MARCHA DE SOLDADOS À LUZ DO LUAR DO SERTÃO...
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Wenilton, o atirador nº 138 |
Eu, particularmente, estava para lá de eufórico com esta marcha, pois além de ela ser realizada à noite, seria numa noite de lua, e lua cheia! Além do mais, o percurso se daria em zona rural, numa região então muito linda e preservada da zona sudeste de Araras!
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Porteira da faz. Sta Terezinha. Á direita o campo de futebol. Final déc. de 1970. |
A marcha se iniciou nas imediações das obras do então futuro Clube dos Bancários, no Jardim Fátima, mas a caminhada “para valer” teve início mesmo na “parte selvagem” do trajeto, quando adentramos a a atual avenida Augusta Viola da Costa, uma estrada de terra ainda, a mesma que levaria até a aleia de bambuais que havia junto ao sítio Santa Terezinha, a parte mais notável de todo o trajeto.
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Ao fundo, a bifurcação das avenidas Loreto e Augusta Viola da Costa, julho 1982. Ao centro, na bifurcação uma das três capelinhas de santa Cruz que aí haviam. |
O portão de entrada do lado norte da faz. Santo Antonio. Final década de 1970. |
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Início da déc. de 1990, o "Via Carola", o bambual do lado sul da faz. Sto Antonio |
Portanto, a marcha de 14 quilômetros do dia 31 de maio, coincidentemente se sincronizava com a fase de lua cheia (de dois dias). Infelizmente, a caminhada seguinte, a de 24 quilômetros não fora realizada, e o motivo deve ter sido por algum problema de agenda, como veremos a seguir. Inclusive, por eu ter toda a certeza de ter ocorrido lua cheia na noite da primeira caminhada, é muito provável que a marcha tenha se dado dois dias antes, na quinta-feira do dia 29. E quem sabe o sargento não escolhera este dia devido à ser o primeiro dia da lua cheia, uma vez que ela seria uma ótima iluminação facilitando o deslocamento da tropa, já que normalmente nesta fase ela ilumina consideravelmente os caminhos. Quiçá o nosso instrutor não gostava também destas coisas tão comuns à campistas e mochileiros: lua cheia, bambuais e... café com chocolate, por exemplo, como vimos na postagem anterior... Como disse, houve mesmo um remanejamento na agenda de eventos: por exemplo, o concurso de tiro que era para ser realizado em Limeira em 26 de junho, fora adiantado para o dia 16 do mesmo mês, assim como o treinamento para juramento à Bandeira mudara do dia 28 de junho para o dia 17 anterior.
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Mapa aéreo de 1978 da extinta empresa Terrafoto. Em laranja o percurso inicial da marcha, e, em verde, o campo de futebol da fazenda Santa Terezinha. |
No início da estrada onde começava o bambual, havia uma porteira de madeira, porteira esta situada numa encruzilhada, até a porteira de metal (foto acima) da entrada das terras da fazenda Santo Antônio, mais 1,30 quilômetros. Aí também se situava o citado campo de futebol. Desta porteira, que também ficava numa encruzilhada, até a colônia da fazenda, que tinha 120 metros de extensão, havia mais um retão de cerca de 1,38 quilômetros, sendo que o caminho era ladeado de árvores comuns e frutíferas.
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A apostila dos atiradores |
Segundo o professor Toninho Innocente, no final do século 19, este trecho de bambual deu origem à histórias de assombrações de escravos acorrentados que por aí vagavam às desoras!...
Já escritor José Carlos Victorello, numa longa reportagem no Tribuna do Povo em 6 de agosto de 1978, onde fez seus comentários particulares sobre tipo popular Dito Flautista, escreveu que:
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Bambual ilustrativo, semelhante ao do lado norte da fazenda Santo Antonio. |
Longos minutos depois chegamos à porteira da Santo Antônio e o percurso a partir daí foi feito à sombra de velhas árvores, como eucaliptos, nespereiras e jaqueiras, onde, num determinado trecho, abaixo da estrada jazia mais uma outra velha santa cruz que, também, anos depois, fotografei pensando num futuro trabalho histórico.
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Capelinha de Santa Cruz na fazenda Santo Antônio, setembro 1986. Não se sabe a história do que aconteceu para que ela fosse erigida. |
Mais alguns longos minutos chegaríamos à colônia da fazenda, a mesma onde entre as décadas de 1920 e 30 o meu avô paterno, o velho Francisco Rocha, se empregou como administrador. Quiçá não tenha ele, entre um trabalho e outro, entabulado uma conversa qualquer com algum membro do grupo dos modernistas, assunto do qual trato mais adiante. Taí coisa que ele nunca disse à ninguém, uma vez que, infelizmente, não era de falar muito nem contador de histórias, como o era sua esposa, a minha mestra Ana Rocha. Seu filho, porém, meu tio Antonio, disse que, por ocasião da Revolução de 32, quando as tropas vindas de Mogi Guaçú para Araras guerreavam com seus canhões, o meu avô colocava ele, criancinha ainda, no pescoço e ambos fugiam e se escondiam no meio do mato.
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Mapa aéreo de 1978 da extinta empresa Terrafoto . Em laranja o percurso mediano da marcha, e, em verde a represa da fazenda Santo Antonio, em azul. |
E já que falamos de lua, vale lembrar que nesta secular fazenda foi rodado o hoje totalmente esquecido filme “Luar do Sertão”, isto no distante 1947, filme este do qual participara uma nova dupla caipira — que viria a se tornar a mais famosa dentre todas do gênero —, nada mais nada menos que Tonico e Tinoco, que, por sinal, estavam estreando na película.
Outro fato importante ligado à história desta fazenda — mas fato para se checar a veracidade —, é que há na cidade quem diga que o famoso tema sinfônico do maestro Villa-Lobos, o popular “Trenzinho Caipira” foi composto numa das inúmeras viagens de trem que o compositor fazia regularmente à fazenda.
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Lygia Fagundes, faz. Sto. Antônio, 1956 |
Vale lembrar também que foi nesta belíssima fazenda, na década de 1950, que a escritora Lygia Fagundes Telles escreveu parte do seu primeiro romance, o famoso e premiado “Ciranda de Pedra”, que inclusive virou novela de TV. Lygia era casada com o jurista e ensaísta Goffredo da Silva Telles Jr., seu ex-professor de Direito e proprietário da fazenda na época.
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Dona Olívia Guedes Penteado, Blaise Cendrars, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade Filho (Nonê) e Oswald de Andrade na fonte da fazenda Santo Antônio. |
Dizia-se no começo dos anos 1980, que as casas do Nosso Teto I tiveram suas cercas e ranchos erguidos à custa deste bambual. Segundo o casal Antonio “Nicola” Fuzzaro (in memorian) e dona Beatriz, que tem sua chácara ao lado desta estrada, me contaram que em 1981, quando se deu a construção do “Teto”, iniciou-se a depredação deste bambual e com o surgimento do Nosso Teto II, ele foi extinto por completo. Ambos contam que a retirada se dava à noite, quando se podia ouvir nos fundos da chácara as pessoas cortando furtivamente os bambus.
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O bairro popular Nosso Teto I, no ano de 1981. Notar uma das cercas feitas com bambus extraídos dos bambuais da fazenda Santa Terezinha. |
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A imponente fazenda Santo Antonio, em foto atual. |
Como se vê, o lugar para a caminhada noturna do TG foi muito bem escolhido, mas hoje este mesmo roteiro não teria o mesmo encanto, uma vez que o bambual por onde passamos foi totalmente destruído, além de o acesso à fazenda ser totalmente vetado.
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Villa-Lobos e um dos seus papagaios |
Enfim, meus caros, o que eu sei dizer é que esta frígida noite de inverno em marcha sob a luz do luar foi realmente uma noite feliz, engraçada, nostálgica e, acima de tudo, inesquecível, e é por este e outros motivos que até hoje eu digo à todos os jovens em idade de serviço militar: Amigos, vale mais que a pena prestar Tiro de Guerra! É uma oportunidade única na vida! E, para fazer valer o que digo, conto-lhes velhas e instigantes histórias, como por exemplo, a do Tiro de Guerra 02-053 visitando o Quartel General dos Modernistas de 22 numa manhã de luar!...