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domingo, 13 de maio de 2018

ROCK, GAROA E QUEBRA-PAUS!


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São Paulo: "Terra da Garoa"

Apesar de todo o crescimento da capital São Paulo, apesar de todo o desmatamento geral, apesar de toda a poluição, apesar da severa alteração microclimática, apesar de todas as “ilhas de calor” da megalópole, e, enfim, apesar de toda a selva de concreto que se tornou a maior cidade da América Latina, o secular e famoso fenômeno paulistano cantado em mil versos de poetas e letras de compositores, a querida garoa de São Paulo ainda existe, ou subsiste! Meninos eu vi! Me encontrei com a ela por duas vezes em São Paulo.

O Monsters of Rock em 2 de setembro de 1995, estádio do Pacaembu

A primeira foi em 2 de setembro de 1995 ─ inverno, portanto, quando fui assistir ao Monster of Rock, no Estádio do Pacaembu, no que tive a oportunidade de ver meu grande ídolo Alice Cooper, retornando novamente ao país após 21 anos. Pagamos ─ até hoje eu não acredito ─, a bagatela de R$ 20,00 na arquibancada! Vale lembrar que havia um enorme receio de se fazer esse evento, pois, dias antes, as torcidas do São Paulo e do Palmeiras haviam promovido o maior quebra-pau no estádio. Desse modo, bebidas foram proibidas no show, e muita gente quis brigar devido à essa proibição!... Mas, deixemos de enrolação, e vamos à garoa, então. Lá pelo meio do show, do nada, surgiu um imenso borrifo de água do céu, um lençol de gotículas que 
desceu sobre nós lentamente ─ não era cerração nem chuvisco, mas um meio termo, algo incrível que surgiu e baixou discretamente sobre as 45 mil pessoas que curtiam esta excelente 
Alice Cooper no M onsters!

noitada rockeira! E o tal borrifo, que chegava a molhar a pele, era frio pacas. Falei para meu amigo: “Paulão, será que é a tal da famosa garoa de São Paulo?!”. Ele respondeu: “Mas, Cobra, isto ainda existe em São Paulo, apesar de tudo?!” O que eu sei dizer é que ficamos abestalhados, e, em meio àquela friagem úmida, surgiu um sujeito também do nada ─ como que caindo do céu também ─ a vender capas plásticas! Não pensamos duas vezes em comprar uma!... 
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O Cartaz do show.

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A lanchonete do sósia do Kajuru
A segunda vez foi recente ─ há uns três anos ─ quando fui trabalhar em São Paulo. Uma certa noite, estava eu a tomar cerveja parado na porta eu numa lanchonete em frente ao Centro Operacional do Metrô, na avenida Vergueiro, um lugar por onde passam muitos estudante de Direito. O engraçado é que ─ não deu para não notar ─ o dono do estabelecimento era a cara do  locutor esportivo Jorge Kajuru (o original ─ vejam só!: sujeito que nasceu um dia antes de mim...). E, eu ali, bebericando e me deleitando com aquele desfile de uma legião de belíssimas mulheres que só São Paulo tem, todas saindo das aulas e muitas parando nas lanchonetes que há ao longo da avenida. 

Vale lembrar novamente, que a cerveja que não pude beber no Monster ─ proibiram cerveja no show!... ─, descontei nesse dia nesta lanchonete!... Eis que, de repente, vem uma umidade com a brisa e eu estranhei aquilo; olhei para cima e lá estava a danada!


O locutor esportivo Jorge Kajuru
Mirando a luz do poste acima, pude ver novamente o tal borrifo, que feito uma água espargida por um spray, passava com um lençol esvoaçando com a brisa. Fui até o caixa e perguntei para o xará do famoso locutor esportivo:

“Ô, Kajuru, por acaso esta cerração que chegou agora é a tal da famosa garoa de São Paulo?” 

Ele riu do “Kajuru” e disse: 

“Até você me acha parecido com o maldito locutor?! Mas, sim, amigo, é a velha garoa mesmo ─ ela não desapareceu!”.

No primeiro caso, se houve, porém, um “demônio da garoa” naquela noite, esse cara não foi o monstro das trevas Ozzy Osbourne, mas o Alice Cooper, que tocou antes e fez o maior quebra-pau no palco durante a música “Street Fight”, mas, mesmo assim, a plateia não pegou fogo a contento, que faltou cerveja e sobrou garoa fria!... Quanto ao Kajuru da lanchonete, não sei se ele e ainda está lá, enquanto o da TV sumiu de vez, depois que um lutador de boxe quase lhe quebrou a cara na TV ao vivo; mas, e quanto à velha garoa que versejara o poeta Mário de Andrade, repito: meninos eu vi! E 45 mil rockeiros também!...
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

HÁ 100 ANOS, PRAGAS DE GAFANHOTOS EM ARARAS

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Houve um período em Araras, que a impressão que se tinha é que a cidade parecia viver sobre uma forte ameaça apocalíptica, como as que ainda ocorrem no Egito (foto, 17-11-2004), sendo “castigada” por uma trindade de pragas naturais, doenças endêmicas e fenômenos climáticos. O fato se deu entre os anos de 1906 a 1918, mas não foi apenas Araras quem padeceu dessa “maldição” – toda a região, bem como outros estados, esteve envolvida no processo. Primeiro foram as nuvens de gafanhotos, depois a “grande geada” e por fim a terrível “gripe espanhola”. Mas o que nos interessa aqui é somente as pragas de gafanhotos.

Os registros mais antigos sobre as pululações de acrídeos na cidade, ou seja, do aparecimento de grandes nuvens de gafanhotos, datam de um século atrás, em setembro, outubro e novembro de 1906, e, anos depois, em maio de 1909, em setembro de 1917, e outra em fevereiro de 1918. Nos princípios deste último ano, um tenente coronel, o senhor Fernando Silva, proprietário da fazenda Japuana, no Rio de Janeiro, comunicava à Sociedade Nacional de Agricultura que o pássaro anu era um excelente destruidor de saltões. Segundo uma reportagem do extinto jornal Cidade de Araras, de 21 de outubro de 1906, os ararenses estavam sentindo-se ofendidos, pois os tais insetos teimavam em não aparecer na cidade, ao contrário das cidades vizinhas: “Já estava doendo ao nosso amor próprio local a desatenção com que os gafanhotos, correndo por toda parte, ‘fazendo pouco bem e muito mal’, no dizer da canção, – esqueciam-se descortezmente de nós”. Em setembro, uma pessoa vinda da Capital, trouxe alguns exemplares, que ficaram expostos na redação do jornal, e a mesma afirmou que os gafanhotos “limitavam-se a interromper o trânsito dos bondes, o que não é pequena proeza para bicho tão pequenino”.

Finalmente, os visitantes tão esperados apareceram: “Ora afinal chegou a vez: estão entre nós os gafanhotos”. A seguir, nova decepção: “Não vieram em nuvens negras, de obscurecer os sol, conforme o gáudio dos telegramas”. As nuvens passaram voando alto e “Nem a binóculo!” foram vistas... Numa sexta-feira, porém, os insetos resolveram dar as caras: (...) vieram em número maior e desceram à terra, naquela desordem inestética de que falamos”. O povo foi ao delírio: “houve quem visse nuvens negras, galhos vergados, campos literalmente cobertos, caminhos entupidos e etc.”. Estranhamente, a reportagem dizia que não houve prejuízos nas lavouras, mas, do contrário, os gafanhotos teriam de arcar com as perdas: “Não nos conta que os amáveis hóspedes tenham feito estragos dignos das crônicas, mas se alguém se julgar prejudicado que lhes apresente a conta no mais breve prazo”.. Quem saiu ganhando foram os animais: “As aves de terreiro fartaram-se, rachando de cheias, e graves perus, muito sérios, assonsados, banzando como bobos, de asas largadas, a não poder mais”... Em novembro, o mesmo jornal distribuiu um folheto com orientações de como combatê-los, época em que os saltões principiavam a brotar da terra e os fazendeiros começaram a “guerreá-los com método”, e havia “fiscais exclusivamente encarregados de vigiar-lhes a explosão”.

Ironia do destino, uma semana depois, tudo levava a crer que os tais insetos haviam mesmo se simpatizado com a cidade e resolveram ficar... e não se fizeram de rogados:“Há cerca de dez dias tem feito permanência em nosso município grandes bandos de gafanhotos, em mais ou menos abundância”. No entanto, houve prejuízos relativos, com “campos, mais ou menos arrasados, árvores e até galhos de café danificados e pequenas roças novas de milho completamente e radicalmente destruídas”. Uma nova preocupação surgia, então: eram os ovos colocados no chão e o surgimento dos terríveis “saltões” – a fase jovem do gafanhoto. Era “época de plantações de milho, cujas roças deverão nascer pelo tempo em que os saltões a saírem dos ovos postos agora hão de estar em plena fase de atividade destruidora”. Em novembro o jornal falava da “formidável eclosão dos gafanhotos”, da “calamidade destruidora”, e, apesar do “grande empenho em destruir os ovos (...) surgiram da terra (...) nuvens e nuvens de gafanhotos”. De um fazendeiro que não se precaveu, escreveu-se sobre o cafezal novo e os replantes, que tiveram suas folhas e rebentos verdes destruídos pelos saltões:

“Vimos em um terreno, talvez excepcionalmente estranho a esses cuidados, tão densa, compacta e cerrada mancha de saltões a evoluírem, fazendo seus estragos, que não se pode medir o estrago que eles vão fatalmente causar antes de levantarem vôo.”

O mais engraçado é que neste período, além de uma “semana de crimes”, um vento forte e constante, vindo do Noroeste, castigou a cidade, que por esta época, tinha suas ruas de terra: “E quando se abria a boca para falar, ao descompasso de tantas hostilidades, vinha uma nuvem de pó dar a resposta(...)”...

Em outubro de 1909 a coisa piorou e os gafanhotos vieram em maior número. O Cidade de Araras citou que grande parte de Araras foi invadida por gafanhotos e “A invasão foi talvez maior que a que se deu há cerca de três anos.”

Segundo o historiador Ricardo Artigiani (Mogi Guaçu – Três séculos de história), após a “grande geada” ocorrida entre os dias 25 e 26 de junho de 1918 em nossa região – fenômeno que atingiu toda a lavoura cafeeira, com os termômetros registrando 4 graus abaixo de zero –, surgiram grandes nuvens de gafanhotos, que diziam ser oriundas do sul do País, mas hoje, sabe-se que é limitada a capacidade de deslocamento dos enxames, ao contrário do que se supunha anteriormente. Registros citam que uma nuvem imensa e compacta, com alguns quilômetros de largura, cortou o céu da Mogi durante horas, seguindo em direção de Minas Gerais.

Em setembro de 1917 e fevereiro de 1918, meses antes de acontecer essa geada, houve em Araras dois novos surtos. No R. G. do Sul (Panambi e Passo Fundo) já havia registros desde 1906 e 1907, em época de forte seca. Os relatos sulistas surpreendem: em setembro de 1917, desceu nas proximidades da Estação Bocca, em Santa Maria, uma nuvem com extensão aproximada de 2 quilômetros “que obscureceu completamente o sol”. Dizia ainda a reportagem sobre a incrível dimensão do fenômeno: “Uma nuvem que apareceu em Julio de Castilhos até Val da Serra, tomava uma extensão de 32 quilômetros, tudo devastando”. Pragas de gafanhotos apareceram também em Paraibuna e S. J. dos Campos, e eram tantos que os pés de milho nas plantações vergavam ao peso dos insetos. Outra passagem revela um cenário inimaginável: “os caminhos tomavam um aspecto estranho, tapizados pela espessa camada verde de gafanhotos. Na sua obra destruidora, a infinidade de insetos fazia um ruído semelhante ao trovão de longe”. A escritora Zica Bergami – a famosa compositora da canção “Lampião de gás” –, escreveu que, em 1918, passou sobre São Paulo, Capital, uma nuvem de gafanhotos. Em seu curioso relato, ela escreveu:

“Deu-se pela manhã quando chegou aos nossos ouvidos, um ruído muito estranho, vindo do alto. Olhamos assustados, para cima e avistamos uma enorme mancha negra de milhares desses insetos, voando, todos jun­tos, desesperadamente.

Perguntamos ao nosso tio, o que era aquilo. Mas, antes da resposta, começaram a cair gafanhotos mortos por todas as partes. Nos telhados, no chão, nas árvores, onde ficavam dependurados, nos peitoris das janelas e até dentro de casa.

Tivemos receio de que nos atacassem, mas, felizmente, depois daquele estardalhaço todo, zumbindo, zumbindo, os doidos foram-se distanciando, desaparecendo no infinito.”

Em Araras, além dos milharais, outras culturas que sofreram com a praga foram a de cana-de-açúcar e de arroz. As reportagens não descrevem qual era a espécie de gafanhoto, mas deve ser a Rhammatocerus schistocercoides. Estudos recentes sobre a bioecologia do gafanhoto concluíram que as pululações estão ligadas ao regime das chuvas, especialmente durante os meses de agosto, setembro e outubro, que é o período crítico no ciclo de vida do gafanhoto.

Uma descrição fiel do que é um ataque maciço de uma legião de gafanhotos, foi feita por E. Souza de Almeida, em seu livro O Homem e os Insetos (1946), mas o texto é sobre um ataque de “gafanhotos marroquinos” (Docitaurus maroccanus Th.), ocorrida no norte da África e sul da Europa.

“Em cada muda que sofrem param e sobem aos arbustos, prendem-se com as garras das patas posteriores e dependuram-se de cabeça para baixo. E nesta posição que se dão as metamorfoses.

Nas primeiras mudas não têm asas e denominam-se, em linguagem vulgar, saltões. Na 3a idade aparece nos gafanhotos marroquinos a cruz branca do tórax, bem característica da espécie e passam ao estado de ninfa, caracterizada pelos cotos das asas.

Depois da última muda atingem o estado de adulto. Ficam imóveis 2 a 8 dias há espera que os tegumentos endureçam. Passam depois alguns dias em ensaios de vôo. Nesta ocasião, a quem observa de longe, parece que a superfície do terreno está em ebulição e atirando com jatos para o ar. São os gafanhotos nos vôos de ensaio. Até que uma manhã, em geral quente, e com ligeira brisa, todo o bando, como a um sinal dado, levanta vôo e parte, seguindo em geral a direção do vento. Este primeiro vôo é pesado e curto, mas em cada dia mais adiantam e, normalmente, podem fazer 80 a 50 quilômetros diários. Tem-se registrado, porém, 400 a 100 quilômetros e mesmo mais. Os Açores têm sidos atingidos com vôos que partem da costa de África a mais de 2.000 quilômetros.

Tais vôos são impressionantes e levam a desolação e a fome às mais ricas regiões.

De repente, na linha do horizonte, desenha-se uma nuvem negra de contornos irregulares, simultaneamente ouve-se forte sussurro, que aumenta rapidamente e lembra a zoada que faz a aproximação de forte aguaceiro.

Em breve a nuvem cobre todo o horizonte e o Sol escurece. Começam a cair gafanhotos, como chuva viva, e não tarda que todo o solo, todas as árvores e todos os arbustos estejam cobertos.

Mal se vê, tão densa e negra, a nuvem dos acrídeos que continuam a passar. No solo formam uma massa movediça de muitos centímetros de altura. As árvores vergam ao peso dos corpos de milhares de insetos que sobre elas pousam Passam-se horas, e os gafanhotos continuam a cair como granizo. À meia tarde a nuvem adelgaça-se pouco a pouco até que desaparece; os gafanhotos pousaram. Então o Sol mostra-nos um espetáculo que jamais esquece. Quanto a vista alcança está coberto de gafanhotos entretidos a roer tudo quanto apanham. Durante a noite ouve-se perfeitamente o ruído que fazem milhares de mandíbulas. Encontram-se gafanhotos por toda a parte, nas casas penetram pelas janelas e portas mal fechadas, e precipitam-se às centenas pelas chaminés abaixo. Os depósitos e poços ficam atulhados. Nos cursos de água os corpos dos que morrem afogados formam montões e sobre eles passam os outros.

No dia seguinte, a uma certa hora da manhã, já com o Sol alto, todo o imenso bando levanta vôo e segue na mesma direção levando para mais longe a devastação e a fome.

Nada se pode comparar ao aspecto em que fica uma região devastada pelos gafanhotos. As searas desapareceram, das hortas nem vestígios, onde havia pomares e veigas verdejantes hoje só se vê o chão negro, como que queimado. E, no meio desta desolação, as árvores levantam os braços nus o descascados como que implorando socorro.

É a miséria, a mais negra fome, a conseqüência desta devastação formidável!

Há poucos anos, numa invasão que sofreu a nossa província de Angola, numa povoação perto de Luanda, os gafanhotos, depois de terem devorado toda a vegetação, viraram-se ao capim seco que cobria as palhotas dos pretos e deixaram-lhes somente a armação. Entraram pelo teto de um armazém e destruíram tudo quanto encontraram: os panos de ramagem que os negros tanto apreciam, o peixe defumado, as massas, e até uns presuntos que estavam dependurados e ficaram reduzidos aos ossos.

No fim de uma série de vôos os gafanhotos param e fazem as posturas.

Pouco depois da fecundação das fêmeas os machos morrem.

Após a postura os bandos, muito dizimados, iniciam os vôos de regresso, mas parece que alcança o ponto de partida; as epidemias e os inimigos em breve os destroçam por completo. Mas ficam ovos na terra que na primavera dão origem a nova invasão.”


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BIBLIOGRAFIA

Consultar autor
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A CHEGADA DA TELEVISÃO EM ARARAS, HÁ 60 ANOS...


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Em pleno advento
da era da TV digital no País, é oportuno saber como se deu a chegada da televisão em nossa cidade, data esta que seria as bodas de ouro no ano passado, mas como os jornais da cidade me fecharam as portas (e a data passou em branco para os três jornais!...), esta matéria não pode ser vista pelo povo ararense. Poucos se recordam deste cinqüentenário episódio, pois não houve uma inauguração oficial do serviço em Araras, uma vez que já no segundo trimestre de 1957, alguns cidadãos mais “apressados” já haviam comprado televisores em outras cidades e puderam sintonizar os canais por meio de antenas instaladas em Valinhos, e depois Limeira. Finalmente, na primeira semana de fevereiro do ano seguinte, com o funcionamento da antena local e o início da venda de televisores na cidade, Araras pode contar com sua própria transmissão de sinais. Na foto do autor, o atual parque de transmissões do Jardim Piratininga.
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No entanto, oito anos antes, em 18 de setembro de 1950, com muita improvisação, a televisão já havia sido inaugurada no Brasil, com o início das transmissões da PRF-3 TV Tupy-Difusora em São Paulo, emissora pertencente à rede dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, que foi a primeira emissora a operar na América Latina. Na inauguração, com o programa “TV na Taba,” estavam nada mais nada menos que Lima Duarte, Lolita Rodrigues e Mazzaropi. O visionário Chatô já era um velho conhecido de Araras, uma vez que, em 1942, viera inaugurar o nosso “Campo da Aviação”, fruto de outra iniciativa sua, a campanha “Asas para o Brasil”.
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Na figura, o primeiro logo da televisão brasileira – o “mascote” da Tupy – o popular indiozinho curumim, com seu indisfarçável jeitão de Gasparzinho, uma marca que o pessoal da época jamais esqueceu.
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Sobre a novidade, em março de 1957, o extinto Jornal de Araras trazia trouxe uma alvissareira notícia sobre a possibilidade da vinda da nova maravilha tecnológica à cidade: “Com a instalação de uma antena receptora e transmissora, no ponto mais alto da Valinhos, é bem provável que Araras venha a ser incluída entre as cidades que poderão assistir os programas de televisão apresentados pelas emissoras paulistanas. O fato é que dentro de pouco tempo, 35 cidades interioranas estarão ligadas por estações retransmissoras graças aos esforços de uma indÚstria paulista, que anonimamente vinha providenciando a aparelhagem.”
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Em outubro, uma nova notícia anunciava que, com a ultra-freqüência, Araras já podia assistir aos programas de televisão. A Tribuna do Povo, por sua vez, noticiava:“Muito possivelmente, até novembro próximo, os ararenses poderão também usufruir das transmissões televisionadas pelos três atuais canais de televisão da Capital Paulista”. Os compromissos seriam firmados entre três empresas, duas ararenses, dos pioneiros Alaor Kammer e Laerte Franzini, proprietários da Kammer Eletrolar e da A Iluminadora, respectivamente, em parceria com a Indústrias Elétricas Fixolux Ltda., da capital, que se encarregaria de instalar as torres de recepção em Araras. A reportagem findava sem entrar em detalhes, dizendo que a empreitada só se concluiria “caso se alcançasse um número de interessados pré-estabelecido.” Neste mesmo mês, o Jornal de Araras alertava: “Para efetivação dessa instalação basta que a cidade tenha 100 televisores com U. H. F. Naturalmente os primeiros subscritores terão a vantagem da instalação da antena que será feita pela firma fornecedora do aparelho U. H. F. gratuitamente”. A reportagem trazia uma lista com os primeiros subscritores.
Na foto, Orlandinho Zaniboni, durante a 1ª transmissão dos serviços de televisão em Araras, nos altos do Jardim Piratininga.
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Em de janeiro do ano seguinte era iniciada a construção dos retransmissores nos altos do popular “Morro do Cuba” – o atual Jardim Piratininga. Um técnico que já havia feito instalação semelhante em Santos foi contratado para o serviço. As transmissões chegavam no sistema UHF, depois convertidos para VHF. Dizia a Tribuna: "Dentro do prazo de 30 dias, em caráter experimental, o serviço acima estará montado, com um canal de TV em franco funcionamento; e dentro do prazo de 90 dias, e caráter definitivo, os três canais paulistas". Quanto aos televisores que desde março de 1957 vinham funcionando em Araras, recebendo sinais através da antena de Limeira instalada nos altos do Morro Azul, o senhor Laerte Franzini advertiu que eles não conseguiriam "sintonizar as transmissões da torre a ser instalada em Araras", devido ao sistema diferente de transmissão das antenas.
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Na primeira semana de fevereiro, a Tribuna anunciava que, finalmente, “o povo aderia a televisão”, chamando a atenção para o fato de que "de uns dias para cá muitas antenas foram erguidas pela cidade”. Dizia também que a venda de aparelhos duplicara na cidade, “ou talvez, chegou até a triplicar”.
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O primeiro anúncio de venda de televisões (ao lado) foi publicado na Tribuna no dia 6 de fevereiro de 1958. Curiosamente, esta loja era propriedade do pioneiro Laerte Franzini, um dois responsáveis pela construção da primeira torre de transmissão.

CURIOSIDADES 
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Segundo o escritor Alcyr Matthiesen, na cidade, o “primeiro aparelho de TV 16 x 9 foi adquirido pelo senhor Dante Rodini”. Fato curioso mesmo nesta época, foi um anúncio na Tribuna, em que uma loja local, a Rosenthal & Cia. – que se auto-intitulava “A Cidade dos Móveis” – alardeava que estavam à venda em sua loja televisores “com 100% de funcionamento”... É que todos os aparelhos de TV tinham de passar por uma pequena modificação antes de sua instalação, para que as “recepções fossem mais satisfatórias”. 

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 Orlando Fugagnolli, um dos pioneiros a montar, nos anos 1950, uma TV em Araras. Faleceu em 09-06-2013, aos 79 anos
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PERGUNTAS E RESPOSTAS...   
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E o advento da TV em 1958, já chegava causando furor na cidade com suas novidades: em julho, a ararense Ruth Marquezani Dezotti era contemplada com uma máquina de costura da marca Leonam, no pioneiro programa desse gênero ainda tão em voga, o famoso “Perguntas e respostas”, da Tupi-Difusora, canal l3, patrocinado pela Cera Verniz Fidalga, apresentado por Aurélio Campos, cuja principal atração fora a então famosa cantora Marlene.

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TRANSMISSÕES CLANDESTINAS, JÁ NAQUELA ÉPOCA!...
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CÁPSULA DO TEMPO 
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Se retornássemos em 1958, quais seriam os programas que poderíamos assistir? Alguns exemplos: o famoso “Almoço com as estrelas” com Lolita e Airton Rodrigues; o célebre “Um instante, maestro” com o polêmico Flávio Cavalcanti, ou o então saudoso “Discoteca do Chacrinha”. As crianças da época se deliciavam com o “Capitão 7” – o primeiro seriado de aventura, exibido entre 1954 e 1963 –, ou mesmo o velho “Sítio do pica-pau-amarelo”, no ar desde 1950. Novelas? Haviam sim, destacando-se as famosas “Sétimo Céu”, “A Muralha” e “O Direito de Nascer”. Como se vê, as coisas não mudaram muito...

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VÁLVULAS & TRANSISTORES x CHIPS & FIBRAS ÓTICAS
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Do antigo padrão hi fi (alta fidelidade) para o high definition (alta definição) houve sensíveis mudanças, mas uma pergunta que vem a calhar: se um moderno televisor LCD de 40 polegadas, tela de cristal líquido de alta definição e som surround é, em termos comparativos, mais caro que um televisor de 1950 de 12,5 polegadas, preto e branco com som mono? Surpresa: não! Um televisor GE, à venda na antiga loja Sears, em setembro de 1950, custava 12.950 cruzeiros, o que daria hoje, corrigido pelo IGP-DI, R$ 9,7 mil, enquanto que um televisor digital sai no máximo por R$ 8 mil (cotação do início de 2008).

Sabe-se que, na inauguração da TV em São Paulo havia cerca de 200 aparelhos em funcionamento. Em 1958, como se viu, Araras iniciou suas transmissões com 100 aparelhos, e hoje, sendo ele um eletrodoméstico acessível à todos, e também levando-se em conta os cerca de 110 mil habitantes ararenses, é possível que haja no mínimo 30 mil aparelhos na cidade. Quanto ao número de televisores digitais, com certeza, devem ser poucos ainda, isto, até que ele venha a se tornar algo tão comum quanto o celular. Por fim, lembremos que, em 1993, quando o celular era privilégio de cerca de duas mil pessoas no Rio de Janeiro, um modelo portátil da NEC custava em torno de US$ 3 mil, portanto...

 Hoje, o "Morro do Cuba" e suas torres

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BIBLIOGRAFIA: Consultar autor
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