"CASO COM O OCASO" ou A NATUREZA E A SENSIBILIDADE HUMANA
Não são poucos os que acham que sabem curtir a natureza e tem sensibilidade suficiente para tal. No meu entender, a pessoa que mantém estreitas ligações com a natureza, é aquela que é capaz de sentir o seu chamado, e, pelo menos, uma vez por semana vai ao seu encontro, ou melhor, tem verdadeira necessidade de ir ao seu encontro. Modéstia à parte, sou um destes – sujeito totalmente telúrico, e que semanalmente tem que “recarregar suas baterias” no reencontro com a terra, e é capaz de desfrutar o raro sentimento de que faz parte de um ecossistema, e sem ele não vive.
Dicas: se vocês quiserem conhecer outros escritores que tem sensibilidade semelhante, e também escreveram belos romances e poemas, leiam, por exemplo, as obras completas do poeta Fagundes Varella, do qual estou escrevendo um romance biográfico; leiam "Inocência" e "Céus e Terras do Brasil" do Visconde de Taunay; as poesias de Olavo Bilac; o livro "O Feijão e o Sonho", do Orígenes Lessa, e vocês irão conhecer o notável Campos Lara, um sujeito hiper-sensível e telúrico, talqualzinho o do poema do Paulo Setúbal.
Prometo que, em breve, irei inserir neste blog algumas produções destes grandes escritores.
Me recordo que desde os 11 anos de idade, quando ganhei o meu melhor presente de Natal: uma luneta, eu tenho um "caso com o ocaso": sempre quando a tarde começa a cair, principalmente se for um final de tarde belíssimo, eu fico impaciente e sinto algo aqui dentro de mim, uma força danada que me chama para um lugar qualquer, distante e desabitado, e eu, religiosamente, atendo à esse pedido, e ali, solitário, nessas "horas magas do ocaso" (como diria o poeta), sinto e vivencio tudo aquilo que me é difícil descrever e expressar em palavras. Já quiz sim escrever sobre isto, até que, um dia, descobri um antigo poema que me demoveu desta idéia, que ninguém faria melhor que seu autor. Me refiro ao poeta e escritor Paulo Setúbal, autor de inúmeros romances históricos de sucesso na primeira metade do século 20.
Então, amigo, leia a poesia abaixo, e você poderá entender o que eu quero (ou queria...) expressar. Ela foi extraída do livro “Alma Cabocla”, lançado no distante 1920. Se você se identificar com o seu conteúdo, e conseguir “medir o alcance de seus sentimentos” (como diria o Bilac), parabéns, você é um dos nossos!
A SOMBRA DAS ARVORESA Alfredo Egídio de S. Aranha.
Aqui, na solidão destes pinheiros graves,
Eu venho, muita vez, a sós, pela noitinha,
Ouvir a natureza incompreendida, a minha
Amada, a minha amiga, a minha confidente!
Ouvir a natureza! Esse gemer plangente,
Essa apagada voz de surdinas estranhas,
Que vem dos ribeirões, que sobe das montanhas,
E acorda, dentro dalma, em nossa soledade,
Um místico pungir de mágoa e de saudade.
Ah! cada árvore tem uma intima linguagem!
Ah! cada árvore tem, fremindo na ramagem,
Uma alma como nós, que nós não vislumbramos,
Mas que vibra no ar e palpita nos ramos...
Já repararam quando as brisas vespertinas
Sopram, como, a gemer, sofrem as casuarinas?
E choram os chorões? soluçam os pinheiros?
Murmuram os ipês e cantam os coqueiros
Quando o vento, a passar balouça-os palma a palma?
- Homens, reparai bem que as árvores têm alma!
Reparai que à noitinha, à luz do lusco-fusco,
O ruído, os sons, a vida, estacam-se de brusco,
E cada árvore fica imersa num cismar
De quem compreende e sente a dor crepuscular.
Oh! vós que respirais a poeira da cidade,
Vós nunca entendereis a doce suavidade,
A música dorida, a estranha nostalgia,
Que vem da solidão quando desmaia o dia!
Vós nunca entendereis essa rude grandeza,
Essa infinita paz, essa imensa tristeza,
Que sai do coração da mata bruta, quando
Resplandecem no céu os astros palpitando.
É preciso viver longe da turba humana,
Longe do mundo vão, longe da vida insana,
para sentir, amar, ouvir essa tristeza,
Que exala, ao pôr-do-sol, a maga natureza!
Ai! Quanta vez eu fico a sós pela noitinha
Ouvindo a natureza, a inspiradora minha!
Ouvindo o pinheiral com seu gemer infindo,
Ouvindo a noite, ouvindo as árvores, ouvindo
Os ventos, e na volta exígua duma curva,
Ouvindo o ribeirão de correnteza turva,
Que vai, soturno, ouvindo o estrépito das águas,
Consigo rebramando incompreendidas mágoas...
E assim, no ermo da tarde, escutando, enlevado,
Esse vago murmúrio, esse rumor sagrado,
Eu quedo-me a cismar num êxtase de crente,
Conto se eu estivesse a ouvir, confusamente,
A própria voz de Deus ecoar na solidão.
Povoar a natureza e encher meu coração...
Aqui, na solidão destes pinheiros graves,
Eu venho, muita vez, a sós, pela noitinha,
Ouvir a natureza incompreendida, a minha
Amada, a minha amiga, a minha confidente!
Ouvir a natureza! Esse gemer plangente,
Essa apagada voz de surdinas estranhas,
Que vem dos ribeirões, que sobe das montanhas,
E acorda, dentro dalma, em nossa soledade,
Um místico pungir de mágoa e de saudade.
Ah! cada árvore tem uma intima linguagem!
Ah! cada árvore tem, fremindo na ramagem,
Uma alma como nós, que nós não vislumbramos,
Mas que vibra no ar e palpita nos ramos...
Já repararam quando as brisas vespertinas
Sopram, como, a gemer, sofrem as casuarinas?
E choram os chorões? soluçam os pinheiros?
Murmuram os ipês e cantam os coqueiros
Quando o vento, a passar balouça-os palma a palma?
- Homens, reparai bem que as árvores têm alma!
Reparai que à noitinha, à luz do lusco-fusco,
O ruído, os sons, a vida, estacam-se de brusco,
E cada árvore fica imersa num cismar
De quem compreende e sente a dor crepuscular.
Oh! vós que respirais a poeira da cidade,
Vós nunca entendereis a doce suavidade,
A música dorida, a estranha nostalgia,
Que vem da solidão quando desmaia o dia!
Vós nunca entendereis essa rude grandeza,
Essa infinita paz, essa imensa tristeza,
Que sai do coração da mata bruta, quando
Resplandecem no céu os astros palpitando.
É preciso viver longe da turba humana,
Longe do mundo vão, longe da vida insana,
para sentir, amar, ouvir essa tristeza,
Que exala, ao pôr-do-sol, a maga natureza!
Ai! Quanta vez eu fico a sós pela noitinha
Ouvindo a natureza, a inspiradora minha!
Ouvindo o pinheiral com seu gemer infindo,
Ouvindo a noite, ouvindo as árvores, ouvindo
Os ventos, e na volta exígua duma curva,
Ouvindo o ribeirão de correnteza turva,
Que vai, soturno, ouvindo o estrépito das águas,
Consigo rebramando incompreendidas mágoas...
E assim, no ermo da tarde, escutando, enlevado,
Esse vago murmúrio, esse rumor sagrado,
Eu quedo-me a cismar num êxtase de crente,
Conto se eu estivesse a ouvir, confusamente,
A própria voz de Deus ecoar na solidão.
Povoar a natureza e encher meu coração...
Dicas: se vocês quiserem conhecer outros escritores que tem sensibilidade semelhante, e também escreveram belos romances e poemas, leiam, por exemplo, as obras completas do poeta Fagundes Varella, do qual estou escrevendo um romance biográfico; leiam "Inocência" e "Céus e Terras do Brasil" do Visconde de Taunay; as poesias de Olavo Bilac; o livro "O Feijão e o Sonho", do Orígenes Lessa, e vocês irão conhecer o notável Campos Lara, um sujeito hiper-sensível e telúrico, talqualzinho o do poema do Paulo Setúbal.
Prometo que, em breve, irei inserir neste blog algumas produções destes grandes escritores.