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quinta-feira, 30 de março de 2023

O ADVENTO DO "MR. CANETA AZUL…"!!!...

Vi a figurinha esta madrugada no programa do Gentili, e ele alegou ter mais de 21 mil músicas compostas!... Deu amostra de uma seis, e todas pareciam a mesma!... Desde às 17 anos quando ele começou a compor - ele está com 53 anos - daria uma média 1,6 músicas compostas por dia. Você acredita mesmo que ele compôs esta quantidade diariamente? É possível, mas só pela amostra das seis exibidas, não há mérito algum nisto, a não ser pela quantidade… Convenhamos: quantidade é uma coisa; qualidade, outra completamente diferente...

A cada “música” apresentada, era aquela gemeção, aquela voz pequenina e sofrida de retirante, aquela postura de calouro acuado por um Chacrinha e sua buzina prestes a soar...... Em suma, nada que lembre um artista verdadeiro. E a plateia - ah, a plateia! - delirando freneticamente como se os Beatles estivessem no palco!... 

Para um Nordeste que já nos deu Zé e Elba Ramalho, Alceu Valença, Hermeto Pascoal, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Fagner, Gilberto Gil, Dominguinhos, Raul Seixas, dentre outros gigantes da MPB, a região vai muito mal das pernas. Será que foi o petismo que desaculturou esse povo?

E mais: o cara diz que vai se apresentar nos EUA! Bem, para um País que já exportou gigantes como Tom Jobim - dos mais executados no mundo -, vamos começar a exportar lixo e queimar o filme com os gringos!... Oremos!.... 


terça-feira, 12 de agosto de 2008

30 ANOS DA "ESTRÉIA" DE ZÉ RAMALHO EM 1978

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Galera, diretamente do BAU DO COBRA, a primeira, ou uma das primeiras reportagens com a "estréia" de Zé Ramalho, dada para a extinta revista Música, após o lançamento do seu primeiro disco solo em 1978.

EM BUSCA DO GOSTO POPULAR

Ele veio da Paraíba, é fanático por violeiros e não tem pretensões de inovar nada. Mas já conseguiu, no seu disco de lançamento, juntar Sérgio Dias, Dominguinhos e Patrick Moraz.

Humberto Brigatto Jr e Ângela Cristina de S. Dias.

Em lugar dos bisturis, as cordas de uma viola, O receituário foi preterido pelas partituras ou pelo guardanapo de uma mesa de bar, sempre à mão para a inesperada inspiração. E em lugar do consultório, o palco. Felizmente para a música popular brasileira, isso aconteceu a José Ramalho Neto, que, entretanto, não deixou de lado as fortes e marcantes influências de sua pequena cidade natal na Paraíba, Brejo do Cruz, e de toda a região Nordeste. Junto a características tipicamente regionais – Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro –, estão também Roberto Carlos, Beatles, Rolling Stones e Caetano Veloso.

Morando com violeiros – Por sinal, os primeiros shows do ex-universitário a que João Pessoa e Recife assistiram desde 1971 até quase três anos mais tarde, deliciavam seus poucos espectadores com músicas de Caetano. A saída eram os bailes “para livrar uma nota”, como se defende Ramalho. “A primeira oportunidade concreta surgiu quando Alceu Valença me convidou para participar do Festival Abertura, no início de 75. Foi minha primeira experiência com o público sul, o que foi muito duro, pois achava as pessoas difíceis, bem como o sistema das gravadoras e das rádios.”

Nessa mesma época, empreendeu um trabalho ao lado de Tânia Quaresma para o filme “Cordel, Repente e Canção”, o que viria a despertar o interesse pela cultura dos violeiros, repentistas, emboladores e pela linguagem de cordel e os versos, ingredientes até então acomodados em suas origens.

As coisas começariam a melhorar logo em seguida, quando, ainda ao lado de Alceu, excursionou durante todo o ano pelo Brasil. E, é lógico, a região que mais mexeu com seu potencial criativo latente foi a Paraíba, Pernambuco, Ceará, as cidades de Juazeiro do Norte e Grato, onde conviveu com violeiros. “Cheguei a morar na casa deles, ouvindo e vendo o modo deles viverem, de exercerem sua profissão, seus sofrimentos.”

Com tudo isso, assimilava e reunia fatores para a elaboração de seu próprio trabalho, que começaria a ser estruturado depois de terminado o show, ao retornar à Paraíba.

Preguiça — Alguns teipes na bagagem, descia outra vez para o temido sul, escorado agora pelas lições dos violeiros. “Essa posição de artista do povo, que fica lá no meio de uma feira com um bocado de pessoas ao redor, é um exemplo de profissionalismo fantástico, porque eles vivem realmente só daquilo. Só sabem cantar e tocar, vivendo da maneira mais humilde e mais rica possível.”

De novo o Rio de Janeiro não o receberia de braços abertos, apesar de a crítica especializada chegar a apontá-lo, no final de 77, como a revelação do ano. “Fiz pequenas apresentações por uns dois anos em shows de entrevistas coletivas de artistas. Na batalha com as gravadoras, senti que havia preguiça por parte das primeiras, mesmo se gostassem do meu trabalho. Mas as pessoas já começavam a me conhecer.”

No entanto, a sorte estava para mudar. Através do produtor Carlos Alberto Sion, era contratado pela CBS para a realização do elepê “Zé Ramalho”. Nele conseguiu colocar, lado a lado, o ex-Mutantes Sérgio Dias, Paulo Moura, Altamiro Carrilho, Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Chico Batera e até mesmo Patrick Moraz, que contribuiu tocando sintetizador em “Avohai”, uma homenagem ao patriarca da família Ramalho. Dessa forma, unindo os mais variados representantes de diversos gêneros musicais, confirma sua definição para o elepê de estréia. “Há unidade no disco, mas não há estilo. Tem música instrumental, choro, elementos urbanos, de rock, rurais, linguagem de violeiros. Não vejo estilo nenhum nas músicas, mas vejo unidade, pois o som tem “n” formas de você tratá-lo, de você somar e agregar a outras formas.”

Despretensioso — O disco pode não ter um estilo definido, mas as pretensões de seu intérprete denotam uma busca de seu objetivo máximo: o povo. “Quem compra disco é o povo. Os intelectuais recebem de presente das gravadoras. Eu nEo sei se vou conseguir atingir a massa do povão com esse disco. Ele é muito meu interior, o meu espírito.

Mas eu já sinto uma necessidade de falar para o povo, que é uma coisa que cada dia está entrando mais em mim”, Tal preocupação inicia-se pela própria afinação de sua viola de 10 cordas, baseada na de Zé Limeira, cantador e violeiro paraibano, já falecido. “A viola de 10 cordas dá maiores condições para você combinar as notas em terças, inclusive afinar as cordas todas numa nota só. Zé Limeira fazia isso e também me colocou em contato com uma dimensão de linguagem de repentista, uma linguagem totalmente surreal. As pessoas diziam que suas coisas não tinham sentido. Talvez não tivessem um sentido poético, elegante, mas eu as acho um caleidoscópio.”

E onde se coloca Zé Ramalho na música popular brasileira? A resposta é direta e soa convincente na voz grave deste paraibano de 29 anos, que conseguiu superar as dificuldades iniciais e agora já pode mostrar seu trabalho em temporadas nos teatros Tereza Raquel, no Rio, e São Pedro, em São Paulo, e especiais para a televisão, fora os que gravou para a Cultura e Bandeirantes. “Não tenho pretensão nenhuma de me situar como inovador de nada. Estou fazendo meu trabalho da forma mais espontânea, corno eu gosto de fazer qualquer coisa, Só que ele é de uma realidade muito grande e eu nEo tenho dúvida nenhuma do que estou apresentando.

E não é fácil você se estabilizar com música, principalmente sendo estreante. Se a coisa fosse fácil, todo mundo era!”

A PRIMEIRA RESENHA DE SEU PRIMEIRO DISCO, NA EXTINTA E CONCEITUADA REVISTA SOM TRÊS

Zé Ramalho. Dito da Paraíba. Também estréia com atraso. É seu primeiro disco (CBS), além de um sound-group original e marcante, confirma que a técnica do spreech-song ( a spreechgesang de Schoenberg) já estava, há muito, na mastigação dos cantadores nordestinos.

(Maurício Kubrusly)

g. 65.

O ZÉ RAMALHO, ANTES DE PARTIR PARA A CARREIRA SOLO

Em fevereiro de 1975, no Festival Abertura da Rede Globo, onde se apresentou com Alceu Valença e Lula Cortes, com o hit "Vou Danado Pra Catende", inspirado em versos do poeta modernista pernambucano Ascenso Ferreira. Veja esta apresentação no You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=rnc84s-i3ew

A banda de Alceu, na revista Geração POP em novembro de 1975: Zé Ramalho (viola), Zé da Flauta, Paulo Rafael (guitarra), Alceu e Almir de Oliveira (baixo).

A banda, na revista Geração POP em março de 1976: Alceu, Zé da Flauta, Israel Semente Proibida (bateria), Paulo Rafael e Zé Ramalho.

FONTE:

Contatar autor.

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sexta-feira, 6 de junho de 2008

A CANTIGA DE CEGO, O ÚNICO ESTILO MUSICAL GENUINAMENTE BRASILEIRO

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Poucos sabem, mas existe no Brasil um estilo musical sem antecedente algum! Ao contrário do que se diz, o chorinho não é o mais brasileiro dos gêneros musicais. Quem pôs abaixo esse conceito equivocado foi o maestro José Siqueira, que, em 1950, divulgou em seu “Sistema Trimodal Brasileiro” que a música folclórica do Rio Grande do Norte apresentava “características próprias que a tornam a mais pura e bela do país”.

Como os pregões e aboios, as cantigas de cegos são manifestações legítimas do povo, geralmente catalogadas como cantigas de trabalho. É assim que Oneyda Alvarenga (foto) as considera em seu livro Música Popular Brasileira (1945), pela sua “destinação utilitária definida”. Eis os versos que ele recolheu de uma audiçãemem Natal:


“Se eu pudesse trabalhar,
Trabalhava e não pedia;
Cidadão me dê uma esmola
Pelo amor da Virge Maria”.

Consideradas monótonas, muitas vezes, as cantigas de cegos conservam, entretanto, as características inconfundíveis próprias da música folclórica nordestina – música de originalidade e riqueza que não tem símile em nenhuma outra região do país. É evidente que suas raízes são européias de caráter, – lembrava Oneyda Alvarenga –, mas a solfa que as distingue é contribuição genuinamente nordestina.

Para o maestro José Siqueira (foto), tanto no folclore vocal quanto no instrumental, ele observou a constância de três modus diferentes de quantos existem no universo. Esses modus ordem de tons e semitons na escala diatônica usados sistematicamente dão à melodia uma cor própria, alterando por inteiro o sistema harmônico, base da tonalidade moderna, em que se apóia a música erudita, desde o século XVII. Depois de demonstrar que o I Modus corresponde, por eufonia, ao Hipodório grego ao Mixolídio Eclesiásti­co, da mesma maneira que o II Modus corresponde ao Hipomixolídio grego ou lídio eclesiástico, ele acentua que o III Modus não tem correspondência histórica, devendo ser considerado, por isso, o Modus nacional por excelência. Ele não tem similaridade em nenhuma região do país, e, tanto no folclore vocal quanto no instrumental, observou a constância de três modus diferentes de quantos existem no universo.

O maestro indica dois caminhos para explicação dessa aproximação entre os Modus Eclesiásticos e os nordestinos: a influência da música jesuítica e a acústica da região na parte referente às vibrações dos corpos sonoros.

Os interessados em se aprofundar no tema, devem estudar o trabalho do maestro, que que é amplamente ilustrado. Pesquisadores afirmam que esta parece ser a primeira vez que um especialista e compositor do nível de José Siqueira apontou as características da música folclórica nordestina.

Veríssimo de Mello (foto) afirmou que no mercado público de Natal, em 1964, ouviu várias cantigas do cego Pinheiro, tendo gravado a que o Prof. Oswaldo de Souza passou para a pauta musical e , segundo ele, parecia uma amostra bastante expressiva desse gênero da música popular nordestina.

* * *

O jornal O Estado de São Paulo, em 1992, pediu ao cantor e compositor Tom Zé (foto) que comentasse artigo sobre o Tropicalismo que saíra no New York Times Magazine. O músico deu uma resposta à altura, e, se referindo à música nordestina, falou com muita propriedade sobre o assunto. Aqui, um trecho desta resposta. Nos EUA, disse Tom Zé:

“Eles falam como se Oswald de Souza, sua Antropofagia e o rock internacional já estivesse no âmago da tropicalidade, como a árvore na semente de Parmênides. Não estavam. Antes estava o Nordeste.

O Nordeste e os Gerais do Esta­do de Minas convivem com o efeito residual de oito séculos de dominação árabe na Península Ibérica, desde a Baixa Idade Média até a boca do Renascimento. Ou seja, enquanto os bisa­vós do Sr. Mazaropi eram educados pelos bárbaros cristãos, em todo o Velho Continente, a Península Ibérica (Portugal e Espanha) recebia uma sofisticada educação, com a cultura moçárabe. É que o povo árabe, naquele momento, era a sociedade mais culta do planeta.

E encontramos esses oito séculos de cultura no sertanejo analfabeto. Seus antepassados chegaram ao Brasil nos séculos 16 e 17. No Nordeste e nos Gerais, empobreceram, tornaram-se analfabetos, mas tanto amavam sua herança moçárabe dos avô que começa­ram a dançar cultura, cantar cultura, falar cultura. E a ler conceitos, metafísicos nos eventos do dia-a­dia; a fazer pentimento, sobrepondo à dura paisagem nordestina chaves de conhecimento esotérico; e uma humorada Weltanschauung que sobrevive à miséria, estabelecendo eixos filosóficos a sintaxe de uma língua têxtil.

Cultivaram musicalmente os mo­dos dórico e mixo­lídio, este, geral­mente, com a quarta aumentada (estudo de Heraldo do Monte), os mesmos mo­dos nos quais se compuseram as primeiras canções do pré e do Tropicalismo. Será que eu exagero quando digo ‘falar cultura’? Pois deixem hoje o capítulo da novela e leiam um capítulo de Guimarães Rosa. Valeu!”

* * *

Sobre esses estudos do violeiro e guitarrista Heraldo do Monte, citado na entrevista por Tom Zé, transcrevo aqui um trecho extraído de uma entrevista de Heraldo e o guitarrista Olmir Stocker, extraída da revista Cover Guitarra, em que Heraldo (foto) comenta o que estava ocorrendo com a música nordestina naquela época, no carnaval de 2000, quando uma “molecada” estava usando escalas hungaras e, por isso, descaracterizando a original música nordestina:

(...) Só existem três escalas sacramentadas na cultura nordestina: o mixolídio (Do/Fá/Mi/Fa/Sol/La/Si bemol), o mixolídio com a quarta aumentada (Do/Re/Mi/Fa#/La/Si Bemol) e o dórico (Do/Re/Mi bemol/Fa/Sol/La/ Si bemol), que seria a escala menor. O que esses caras estão usando é a escala húngara básica - Do/Re/Mi bemol/Fa#/Sol/La bemol/Si. Isso está se descaracterizando muito, sabe? Mas não são muitos...”

Clique aqui e saiba mais sobre este estilo musical:

http://www.jangadabrasil.com.br/dezembro52/of52120a.htm

http://www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/cantosdecegos.htm

www.sac.org.br/ 60_anos_123.htm



FONTE:

4 fontes de textos; 5 fontes de imagens - consultar autor.
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O GUITARRISTA JOHN MC LAUGHLIN EM MAUS LENÇÓIS NUM IMPROVISO COM O BRUXO HERMETO PASCHOAL.

c Quem assistiu na época, ou em reapresentações na TV, do Festival de jazz de São Paulo, ocorrido há trinta anos atrás (1978), se recorda da célebre noite em que o gênio da guitarra jazz rock John Mc Laughlin se viu em maus lençóis num improviso com o bruxo Hermeto Paschoal.

É que na hora em que Hermeto se concentrava para iniciar sua apresentação, disseram que o Mc Laughlin “começou a fazer barulho com o amplificador colocado no palco”. Hermeto não gostou nada do que ouviu, e quando chegou a vez do guitarrista tocar, mandou avisar que ia entrar no palco. Mc Laughlin ficou transtornado, principalmente quando o bruxo disse que ia tocar sintetizador, instrumento que jamais havia tocado antes...

Hermeto entrou e arrasou, deixando Mc Laughlin em apuros: este se machucou um pouco na hora de improvisar pois o bruxo inventou de tocar música nordestina... Essa estilo musical costuma explorar escalas não muito convencionais na música ocidental. E o improviso feito por Hermeto explorava o uso do intervalo de quarta aumentada, “acidente” que derruba mesmo – é a dominante da dominante que aparece em momento inesperado.

Veja na ilustração um exemplo de uma melodia que usa este intervalo.











FONTE:

Contatar autor.
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