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quinta-feira, 30 de março de 2023

O ADVENTO DO "MR. CANETA AZUL…"!!!...

Vi a figurinha esta madrugada no programa do Gentili, e ele alegou ter mais de 21 mil músicas compostas!... Deu amostra de uma seis, e todas pareciam a mesma!... Desde às 17 anos quando ele começou a compor - ele está com 53 anos - daria uma média 1,6 músicas compostas por dia. Você acredita mesmo que ele compôs esta quantidade diariamente? É possível, mas só pela amostra das seis exibidas, não há mérito algum nisto, a não ser pela quantidade… Convenhamos: quantidade é uma coisa; qualidade, outra completamente diferente...

A cada “música” apresentada, era aquela gemeção, aquela voz pequenina e sofrida de retirante, aquela postura de calouro acuado por um Chacrinha e sua buzina prestes a soar...... Em suma, nada que lembre um artista verdadeiro. E a plateia - ah, a plateia! - delirando freneticamente como se os Beatles estivessem no palco!... 

Para um Nordeste que já nos deu Zé e Elba Ramalho, Alceu Valença, Hermeto Pascoal, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Fagner, Gilberto Gil, Dominguinhos, Raul Seixas, dentre outros gigantes da MPB, a região vai muito mal das pernas. Será que foi o petismo que desaculturou esse povo?

E mais: o cara diz que vai se apresentar nos EUA! Bem, para um País que já exportou gigantes como Tom Jobim - dos mais executados no mundo -, vamos começar a exportar lixo e queimar o filme com os gringos!... Oremos!.... 


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

ENTREVISTA COM O CANTOR E COMPOSITOR CLÁUDIO NUCCI

V-Newton Daltro - Nov. 2008


Após exatas duas décadas, o cantor e compositor Cláudio Nucci retorna à Araras para mais um show. Desnecessário dizer, mas Cláudio foi integrante do famoso quarteto vocal Boca Livre, junto do qual gravou o 1º LP, que é considerado um “100 mais importantes produtos em vinil da indústria fonográfica brasileira de todos os tempos”, além do que é considerado também “o disco independente que mais exemplares vendeu até então”.

Há 20 anos, o show foi no extinto Bar Academia, do Nê Morandini, casa lotada, e me recordo que foi um show excelente. Particularmente, um senão neste dia é que os amigos que iriam ao show comigo deram mancada, e eu acabei comprando uma mesa sozinho, o que equivalia a pagar 4 ingressos... Guardei os 3 restantes, e um deles foi dado ao Cláudio como lembrança nesta sua volta a Araras.

O “show do retorno”, desta vez ocorreu no Aero Música Bar, que fica no Aeroclube de Araras, do amigo e músico Xandão – um dos maiores, senão o maior, produtor de eventos músicais de MPB em Araras. Aliás, não foi propriamente um show do Cláudio, mas sim em evento musical com diversos músicos locais, o 6º Encontro da MPB em Araras, que acontece todo ano em Araras, à cargo do batalhador incansável que é o Xandão. Este show foi no mesmo nível do Bar Academia, impecável, mas com novidades: foi um show muito humorado também. Aliás, Xandão, fez percussão para o Cláudio em algumas músicas.

Com todas as pessoas que conversei, a opinião era uma só: “Um grande show!” E quem não conhecia muito bem a carreira-solo do ex-integrante do Boca Livre, se surpreendeu e vibrou com as músicas, seu pique e seu carisma, além de muito seguro no violão e cantando melhor ainda, com aquela voz que o Daniel Piza, o renomado colunista do Estadão (Caderno 2, página 2) afirmou ser uma das mais belas vozes masculinas do Brasil, colocação a que a maioria dos críticos musicais fazem coro.

As perguntas abaixo foram elaboradas por mim, e o Cláudio respondeu a todas com clareza, relembrando muito detalhes e episódios de sua vida, bem como algumas passagens de sua trajetória musical que o fez um dos mais importantes artistas da história da Música Brasileira, criador de sucessos como “Sapato Velho”, “Toada”, “Quero Quero” “Acontecência”, “Amor Aventureiro”, “Pelo Sim, Pelo Não”, “Meu Silêncio”, dentre outras pérolas.

1- Cláudio, é a segunda vez que você se apresenta em Araras. A primeira, há 20 anos atrás, foi em 26 e 27 de agosto de 1987 (foto abaixo). Quais lembranças você guarda daquelas apresentações no hoje extinto Bar Academia do Nê Morandini?

R: Rapaz, você como coletor de dados, histórias, fatos e afins, deve ter muito mais memória que eu daquela época. Coisa de historiador... Já eu, não tenho assim esse banco de dados factual, mas tenho uma memória afetiva e aí, claro, tem coisas que ficam...o que sei é que o público ararense é muito acolhedor e gosta da música que faço. Fico muito feliz em retornar por aqui.

2- Você, apesar de ser um exímio compositor de, digamos assim, música MPB de alto escalão (e o primeiro disco está recheado de pérolas do gênero, como “Gosto de mim”, “Valsa dos casais” ,”Santo protetor” e a liríssima “Vontade de viver”), me parece que sua tendência ao estilo regional é mais acentuada. Você concorda com isto?

R: Eu tenho uma vivência muito rica em influências, porque nasci e me criei no interior paulista e ouvi muita moda de viola e um monte de outros tesouros da música regional, mas me mudei para o Rio de Janeiro ainda em 1971 e isso me impregnou das coisas que o litoral e a cidade grande têm pra oferecer. Portanto, nesse misto de acentos dessa coisa caipira-caiçara-rural-urbana, eu publiquei alguns discos bem diferentes entre si e tenho ainda muita coisa inédita. Mas no show que fiz aqui em Araras, devo confessar que foi inevitável minha atração pela proximidade com o ambiente da minha infância, daí eu ter enfocado mais meu lado regional, com as parcerias com Cacaso, Juca Filho e Murilo Antunes, por exemplo.

3- Você, o Chico Buarque e o Guinga, acredito eu, parecem ser dos raros compositores brasileiros que ainda compõem valsas. Você, p. ex. tem valsas belíssimas como “Quero-quero”, “Valsa dos casais”, “Nossos caminhos” e “Vontade de viver”. Você poderia comentar esta característica tua?

R: Tem muita gente boa no Brasil que compõe valsas...Eu tive o privilégio de ouvir muitas na infância, ou com meus avós tocando violino em dueto, ou com meu outro avô cantando pra mim coisas de Pixinguinha e compositores “valseiros”. Tenho ainda uma boa disse de lirismo e por isso aprecio o gênero, a valsa flui naturalmente pra mim.

4- Cláudio, você e o Juca Filho tem belíssimas canções em parceria, como, p. ex., “Acontecência” – clássica do estilo regional –, a já citada “Nosso Caminhos” e “Luz do dia”. O que é feito do grande compositor que é o Juca? Ambos ainda tem parcerias?

R: O Juca e eu compusemos uma música recentemente e temos ainda algumas coisas inéditas, que vão ser publicadas oportunamente. Ele continua escrevendo, mas roteiros, para a TV Globo. Já esteve em equipes de redação do “Sai de Baixo”, “A Grande Família” e agora, “Toma Lá, Dá Cá”.

5- Por que logo a belíssima “Quero-quero” – seu primeiro sucesso na carreira solo –, não entrou no primeiro disco?

R: Realmente, foi um erro. Eu deveria tê-la incluído. Na época, acho que a gravadora tinha até sugerido, mas eu bobeei, não coloquei no LP e assumo a falha.

6- Sou da opinião que “Meu silêncio” é uma música superior à “Canção da América” do Milton, tanto no teor da letra, na intenção, quanto harmonicamente. Sua gravação com a Nana Caymmi é clássica (veja o vídeo clicando aqui). De onde veio a inspiração pra você e o Luiz Fernando Gonçalves comporem uma música tão tocante e bela como esta?

R: Eu morava em Ipanema em 1976 e peguei um ônibus para o Leblon, a fim de gravar uma canção nova que tinha surgido, no gravador do Luiz Fernando (naquela época, eu nem telefonava pra ir lá, simplesmente aparecia). No caminho, veio outra melodia nova e, à medida em que eu chagava perto da casa do Luiz Fernando, ela ia ficando mais clara na minha cabeça. Luiz Fernando me atendeu com uma cara meio estranha e pediu para que eu deixasse gravado na sala, se recolheu pra dentro e não mais apareceu. Passei a música com acompanhamento para o violão, gravei essa melodia primeiro e depois a outra, aquela que já estava pronta e fui-me embora. Dois dias depois, ele me ligou, pedindo que fosse à sua casa. Chegando lá, ele me mostrou a letra de “Meu Silêncio” pronta, explicando que naquele dia, tinha reencontrado um amigo e que os dois falaram muito sobre um outro, inseparável (Luiz Antônio) aí ele ligou para ele, mas ele tinha morrido fazia uma semana. Daí ele ter ficado meio estranho naquele dia.

7- Você poderia comentar a hábil construção harmônica da música “Asas a voar”, que passa a impressão de que a empolgação vai crescendo a cada estrofe quando sobe o tom, bem como o curioso desfecho em que o trecho inicial de cada estrofe vai sendo somado.

R: Falar sobre música pra mim, é bem mais difícil que fazer...mas arquitetura dessa composição é bem interessante mesmo. Um baiãozinho leve que vai modulando sucessivamente, até desembocar numa situação harmônica meio “beco sem saída” e aí a solução veio naturalmente, pelo “puxar do fio” da idéia. Quando a gente presta atenção na música, ela ensina pra gente direitinho pra onde ir.

8- Duas perguntas numa: você trabalhou com excelente letristas de porte como Cacaso, Paulo César Pinheiro, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos, mas a parceria com teu sogro – o Luiz Fernando Gonçalves – parece ser a melhor pois rendeu belíssimas músicas. Seria uma afinidade eletiva? Frustrado, Cláudio, por não ter conseguido uma parceria com o poeta Mário Quintana?

R: Eu tenho o privilégio de compor com muitos excelentes parceiros letristas e músicos também: Além desses autores que você citou, também tem parceiros que impulsionaram minha carreira em momentos-chave como Juca Filho (“Acontecência”, “Toada”), Mauro Assumpção (“Quero Quero”) e Paulinho Tapajós (“Sapato Velho”), sem falar nos parceiros das melodias Zé Renato e Mu Carvalho, mas sem dúvida o parceiro que acendeu a chama de compositor, aquele que primeiro “vestiu” de palavras as minhas melodias e revelou o conteúdo lírico embutido nelas, é o Luiz Fernando Gonçalves. Somos parceiros desde 1976 e ele se tornou meu sogro apenas nesse século XXI, não se trata de “nepotismo” mas de justiça. Quanto ao Mário Quintana, eu fiz duas músicas pra poemas dele, ainda inéditas. “Canção da Primavera” e “Ciranda do Meio do Mundo”.

9- A flauta, me parece, nunca mais foi a mesma na MPB depois do surgimento do Boca Livre. Penso que ninguém a usou do mesmo modo que a banda, chegando mesmo até a parecer uma instrumento indispensável nos discos do grupo. Penso eu que, nos arranjos, ela tornou as músicas mais sutis, virginais – femininas, diria até –, e assim, a rústica música regional paulista, mineira e nordestina, também a folclórica, se tornaram mais sofisticada pelas mãos de vocês. Um ótimo exemplo é canção “Atravessando a cidade”, onde ela dá o tom predominante no arranjo reforçando o clima de sonho de amanhecer numa aldeia. Já “Casa de João de Rosa”, do Chico Buarque e do Edu Lobo, com aquelas flautas é também um arranjo típico Boca Livre.

R: Quando comecei profissionalmente em 76, Zé Luís Oliveira tocou flauta comigo. Depois em 77 fundamos a banda “Semente”, com o Zé Luís e mais um flautista “da pesada”, o Márcio Resende. Existiu na época outro grupo, o “Cantares”, com o excelente Marcelo Bernardes, na flauta. No LP de estréia do Boca Livre, tem uma faixa (“Diana”) com três solos de flautistas diferentes: Danilo Caymmi, Paulo Guimarães e Zé Carlos Bigorna. Como pode ver, a flauta é um fenômeno e virou “moda”. O Ritchie tocava flauta na “Barca do Sol”, o Tom Jobim tocava flauta nos seus discos e isso pegou em todos os segmentos da música.

10- O que é feito de canções tuas jamais gravadas por você e muito elogiadas por quem as ouviu como “Bailarinos de Porcelana”, com o Luiz Fernando Gonçalves; “Parceira”, com Juca Filho; “Dia do juízo”, com Cacaso; “Delírios de Orfeu”, com a Joyce; “Uns entre uns”, com Abel Silva; “Desafinada”, com Mário Adnet; “Caçada Humana”, com o Aldir Blanc; “Todas as palavras”, com Vander de Castro, etc. Todas não renderiam um novo e excelente disco?

R: Estão “hibernadas” ainda, mas eu tenho o dever de publicá-las. São composições muito importantes realmente, mas não estiveram em nenhum produto porque não criei projeto para que se contextualizassem. Fico devendo isso o mais rápido possível e talvez essa característica de “hibernadas” as possa colocar juntas sim!

11- E músicas como “Olhos de selva” e “Assovio” do Cantares, bem como “Um pequeno caminhão”, “Canoa branca” e “A voz dessa canção”, todas em parceria com Juca Filho e Zé Renato, além de duas outras gravadas pela nana Caymmi: “Você que me ouve” e “Asas nos olhos” – todas não são boas canções a ponto de merecerem também uma releitura sua? Há ainda outras duas canções belíssimas como o tema de “Helena” da TV Manchete e a terníssima “Boungavilles” de “O direito de amar” da TV Globo.

R: Sem dúvida, merecem releituras. Como disse, vou cuidar disso com carinho o mais breve possível. Como disse o Antônio Cícero em seu livro, uma obra na gaveta é uma obra que não existe, já uma obra bem guardada é uma obra publicada da melhor forma possível.

12- O trabalho da efêmera banda Zil que rendeu um disco. Porque uma guinada assim na carreira, já que esta banda foi considerada quase como uma banda instrumental misturava jazz e rock progressivo?

R: Com a Zil eu retomei caminhos instrumentais que havia abandonado na época do Semente. Não chegou a ser rock progressivo, mas uma “fusion” instru-vocal de muita qualidade. Foi efêmera sim, porque todos tinham muitos compromissos, além de dois morarem fora do Brasil.

13- Tem-se dificuldades em descolar partituras e cifras de tuas músicas. Há probabilidade de um songbook teu, ou, no mínimo, sua disponibilização em tua homepage?

R: Um songbook sim. A publicação no website ainda não está na prioridade, mas é uma possibilidade futura.

14- E a tua volta ao Boca Livre entre 1999 e 2004 – foi uma “recaída”?

R: Sim, uma “recaída” sim, mas não deixou de ser interessante...Fui convidado para “apagar um incêndio”, já que o quarteto estava numa baita crise de convivência e falta de perspectiva, quando reingressei nele, em final de 1999. Não conseguimos produzir nada por nós mesmos, apenas atender a projetos de outros, como o CD que gravamos com a Joyce para o Instituto Escola Brasil, o DVD “Nossos Cantos”, com vários artistas e o premiado CD de Ruben Blades, “Mundo”, que nos rendeu também uma excursão com shows pelos Estados Unidos.

15- Se assim posso dizer, o estilo vocal Cláudio Nucci e Zé Renato fez escola. O excelente cantor e compositor Renato Motha, bem como a cantora Lucila Novaes, p. ex., ao meu ver, são cria de vocês. Conhece-os? Poderia comentar isto?

R: Existem “Tribos” de cantores que se identificam entre si. O Brasil está cheio de talentos e todos somos cria da excelente qualidade da música brasileira. Assim como na genética, os produtos de várias influências são riquíssimos, quanto mais influências melhor e eu me sinto feliz por contribuir com alguma coisa, nesse mosaico cheio de matizes e traços tão distintos.

16- Quais os projetos futuros?

R: Bem, você já me deu uma boa idéia, que é compilar as “hibernadas”, tem também um outro projeto mais urbano e carioca, em cima das estéticas da bossa e do samba, terreno em que me sinto também à vontade. Um DVD é preciso hoje em dia, pra preencher a expectativa do público que procura cada vez mais o produto audiovisual.

17- Para findar a entrevista, Cláudio, você poderia me saciar uma curiosidade: o Beto Guedes colocou uma fruta de pequi num canto da capa de alguns discos seus – certamente, um ícone de mineiridade. Por que a goiaba cortada na capa do segundo disco? Goiaba é fruta onipresente no interior paulista, fruta de beira de estrada mesmo.

R: Exatamente! Meu avós paternos moraram há muito tempo na rua Prudente de Moraes 1500, em Jundiaí, e lá no quintal tinha uma goiabeira que eu considerava “minha”, vivia pendurado nela à toa, ou comendo suas deliciosas goiabas. O Jô Oliveira e o Locca Faria, que fizeram o projeto gráfico de “Volta e Vai”, sugeriram que eu colocasse uma fruta significativa como símbolo, na capa.

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FOTOS DO SHOW NO AERO BAR



















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Entrevistador e entrevistado

V-Newton e Cláudio Nucci,

Aero Bar, Araras, 29-11-2008








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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

UMA ENTREVISTA INÉDITA COM O MÚSICO TONINHO HORTA

ENTREVISTANDO TONINHO HORTA

por Wenilton Luís Daltro

10/09/1999

Toninho Horta, músico e compositor, um dos principais componentes do lendário “Clube da Esquina”, do qual faziam parte Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, dentre outros, esteve fazendo um show acústico, no Bar Academia no dia dez deste mês, aproveitando uma folga na agenda em sua passagem de férias pelo Brasil. A entrevista, realizada num sábado à tarde no saguão do Hotel Marques, foi uma conversa descontraída e agradável. Mais por inexperiência minha que por vontade de falar do entrevistado, o que estava previsto para ser um breve depoimento, acabou se transformando num longo bate-papo que chegou a durar quase uma hora. Toninho rasgou o verbo e respondeu as perguntas com grande riqueza de detalhes, com certeza, muita coisa inédita para os leitores e fãs. Apesar de ter se estendido a beça nas respostas, tão curiosas elas foram que sequer notamos o tempo passar, ao menos para mim, fã de carteirinha... Inúmeras foram as lembranças do início da sua carreira, muitos os fatos curiosos, dicas e particularidades sobre sua brilhante trajetória como músico, considerado o “Embaixador da MPB no planeta”. O eminente guitarrista de jazz, Pat Metheny citou num elogio único que “Toninho é o Herbie Hancock do violão bossa-novístico”. A conceituada revista norte-americana Guitar Player, em sua versão nacional, o coloca como um dos maiores guitarristas e violonistas do mundo.

O show no Bar Academia foi no formato unplugled, com o Toninho se apresentando sozinho com um único violão, um show quase intimista, não fosse o seu animado pique de fazer um espetáculo em que incitava a platéia a acompanhá-lo seja cantando, seja com palmas ou intimando uma pessoa de uma mesa próxima a fazer percussão com o que estivesse às mãos. Os que gostam de músicas instrumentais com riqueza harmônica e melodias sofisticadas, uma voz calma e aveludada, enfim, uma música sensível, particular e personalíssima, não tiveram o que reclamar. Resumindo: um grande show!

Aqui, o resumo dos melhores momentos da entrevista, das cerca de 30 perguntas que lhe foram feitas; boa parte delas fora suprimida devido ao seu conteúdo muito técnico e, obviamente, por falta de espaço no jornal onde seria publicada. Nela, Toninho Horta mostra como fez, de uma maneira bem natural, como ele diz, o mundo se curvar perante a sua sensível e sofisticada música.


1- Toninho, seus CDs estão sendo lançados no Brasil, finalmente?

R: É, eu estou num processo de colocar no mercado os meus últimos CDs lançados no exterior, que são: “De Tom para Tom”, com título em inglês: “From Tom to Tom”, que é um tributo à Tom Jobim, e esse título é de uma música que eu fiz para ele, logo após seu falecimento em 1994, e ela foi gravada com os vocais da Gal Costa, em inglês – uma das poucas vezes que ela cantou nesta língua em sua carreira. O outro CD é um trabalho em dueto com o flautista italiano de jazz e também músicas originais, tanto minhas como dele. Esse CD inaugura o catálogo do meu selo chamado Nicola Stilo, com standarts de jazz e também músicas originais, tanto minhas como dele. Esse CD inaugura o catálogo do meu selo chamado“Aqui, oh! Records”, que será lançado no Brasil, assim como os outros CDs que lancei para outras companhias, e que estou providenciando a licença para lançá-los aqui, tudo isto, para esse pessoal que segue nosso trabalho – gente que tem essa mesma visão que a gente tem musicalmente; logo, poderão adquiri-los sem ter que recorrer à importação. É um projeto de médio a longo prazo, e na medida do possível iremos lançá-los no país.

2- Toninho, em que pé está o song-book?

R: Não, não é um song-book meu. É um livro – o maior banco de dados em termos de partituras de MPB que já foi feito no país, um trabalho de melodias e cifragens – a bíblia do músico do novo milênio – eu acredito – pela variedade de canções não só importantes pelo ponto de vista histórico, mas também pela contribuição no enriquecimento do músico – músicas com melodias criativas, harmonias inventivas e ritmos interessantes. Todos esses parâmetros foram levados em conta para compor esse chamado “Livrão da Música Popular Brasileira” (título não definitivo), com cerca de 500 músicas, que está previsto para ser lançado em março do ano 2000.

3- Foi difícil para o do Bar Academia conseguir uma vaga na tua concorrida agenda, você que pouco para no país?

R: Mais ou menos, pois às vezes há desistências, e eu não esperava fazer este show aqui. Nesta brecha que eu tinha neste feriado eu ia estar com meu filhos o tempo todo, mas surgiu esta oportunidade, e sempre que eu posso eu faço shows, ainda mais no Brasil, onde eu estou querendo ressemear meu trabalho. Acho importante tocar meu violão, fazer uma primeira visita e depois voltar com uma produção mais requintada, e poder trazer uma banda para poder mostrar o meu trabalho como artista de uma forma mais completa, tocando guitarra com o suporte da banda. Foi muito interessante fazer esse show aqui em Araras.

4- É experiência nova?

R: Eu toquei muito em Campinas, onde há muitos músicos que tem uma ligação muito grande com minha música. Em Araras notei que minha música é nova para a maioria, e eu acho isso muito importante, porque assim podemos ampliar o círculo das pessoas que gostam de boa música e só assim a gente pode crescer.

5- Você tem música brotando em diversos galhos em sua árvore genealógica. Como isto influenciou em sua formação musical?

R: Meu avô, João Horta, era maestro de bandas no interior de Minas, onde fez várias missas para diversas igrejas. Tenho um projeto de pesquisa da obra dele e já estou recolhendo material com o pessoal da família, e preciso de tempo para visitar essas cidades por onde ele passou, como, p. ex., Diamantina, Mariana, Itaverava, entre outras, onde ele compunha músicas sacras registrando-as em papel de pão (risos). Isto vai dar trabalho também, e é um projeto de médio a longo prazo.

6- Aquele pequeno arranjo de banda marcial no final da música Diamond Land é uma homenagem ao seu avô?

R: De uma certa maneira sim. Minha mãe, desde que eu era criança, sempre falava nas bandas de música. Eu sempre tive uma admiração muito grande por este tipo de iniciativa musical que está aí, perdurando até hoje, e eu acho isto interessante para a formação dos jovens músicos, de uma forma assim – diferente quer dizer, a estrutura da música só com sopros e percussão, que dá uma sonoridade muito bonita, marcial, aquela coisa muito forte. Então, eu gosto demais disso e esta música não deixa de ser uma homenagem ao meu avô. Enfim, tudo isto tem a ver com minha formação e, completando essa influência musical da família, há meus pais que tocavam bandolim e violão e meus irmãos mais velhos que também tocavam e cantavam. Então, a música teve em mim uma influência hereditária muito natural. Eu sempre amei a música, desde que eu nasci. Minha mãe dizia que com um ano de idade eu pedia para ela tocar um tango famoso para mim ouvir. Com três anos eu chorei ouvindo Debussy, e com sete ou oito anos eu já ouvia Os grandes compositores clássicos, chorava e entrava debaixo da cama (risos). Era uma emoção muito forte, então, realmente, eu tinha que ser músico.

7- Que boas lembranças guarda de Elis Regina, você, que chegou a acompanhá-la?

R: Elis tinha uma personalidade muito forte, era muito brincalhona. Naquele tempo, eu tinha vinte e poucos anos, usava camisetas rasgadas e ela tinha a mania de ficar enfiando o dedo nos buracos da camiseta para fazer cócegas. Foi uma experiência muito boa tocar com ela. Ela gravava o que queria e para cada música tinha uma interpretação própria e ia a fundo, mesmo, no trabalho – um dos artistas mais geniais que o Brasil já teve, e foi uma honra eu tê-la acompanhado durante uma temporada, no ano de 1970, na época do disco “Ela” . Elis quase gravou uma composição minha, “Aqui, oh!”, mas ela dizia que minhas músicas eram muito avançadas.

8- Toninho, comente sua empatia musical com o Milton Nascimento.

R: Empatia total. Éramos da mesma região, mesmo estado. Milton foi para Belô com quase 20 anos; eu tinha 15 e nos conhecemos através do meu irmão Paulo Horta, que era amigo do Marilton (irmão de Lô Borges) que era líder da banda em que o Bituca era crooner e baixista. Meu irmão me apresentou à ele e, em pouco tempo, já estávamos fazendo músicas juntos, como, p. ex., “Segue em paz”, nunca gravada – isso, 5 anos anterior ao Clube da Esquina. Então, eu já tinha toda essa ligação, essa admiração mútua. Quando fomos classificados juntos no Festival da Canção no Rio em 1967, Milton já tinha “Travessia” e mais duas músicas, e eu era o segundo artista brasileiro, além do Bituca, que tinha mais de uma música no festival. Eu concorri com “Carnaval”, parceria com Milton Borges, que na época já era parceiro do Milton, e a música “Maria madrugada”, em parceria com minha prima Julia Horta. Então, chegamos com a bola toda. Todos perguntavam: – Quem são esses mineiros que tem mais de duas músicas no festival?! Na época, só o Vinícius de Moraes tinha. E o Milton, por sua voz e sua postura conseguira classificar Travessia em segundo lugar e foi aquela ovação, e, para a música do Brasil, foi uma renovação, e a abertura para todo o pessoal do Clube da Esquina. Então, nós temos muita amizade, eu toquei por anos na sua banda. Hoje, ambos com banda própria, nos encontramos às vezes nos aeroportos, e, em algumas ocasiões especiais, como festas e shows, sempre em contatos rápidos, mas um dia, quem sabe, possamos nos reunirmos novamente e fazermos um novo trabalho.

9- Você parece ser um compositor muito fecundo e chega a lançar vários CDs num mesmo ano. De onde brota tanta inspiração?

R: É, às vezes acumula material. De repente você fica dois anos sem gravar e aí pinta vários projetos, discos em parceria, faz uma reedição de um trabalho, uma regravação... ,então, teve um ano que eu lancei um disco gravado ao vivo na Rússia, outro em Nova Yorque, gravado pela Polydor do Japão e mais um, só com voz e violão, chamado “Durango Kid” etambém o relançamento do “Terra dos pássaros”, então, às vezes acumula vários trabalhos. Por exemplo, agora, no final deste ano, eu tenho três trabalhos para fazer – um, com músicas inéditas; outro com gravações romãnticas de outros autores nacionais, músicas não tão badaladas, que pretendo gravar com caráter mais acústico e percussão verdadeira, não eletrônica. Gravarei Beto Guedes, Lô Borges, Milton, Guilherme Arantes, Dori Caymmi, Edu Lobo, etc, e um outro que não posso falar, que é um projeto mais arrojado, que eu tenho que esperar o momento certo para comentá-lo.

10- Como se sente com os elogios da crítica, por levantar da poltrona uma platéia e fazê-la acompanhá-lo com palmas, isto, uma coisa rara em meio a um clube jazzístico conservador e tradicional?

R: Eu sempre procurei fazer meu trabalho da maneira mais pura e fora de modismos, então, até nos clubes de jazz eu sempre tentei mostrar minha brasilidade, e uma das formas que eu vejo de poder agradar o público é fazer um show interativo com eles.Quando a música é muito harmônica e as pessoas não tem um preparo cultural para acompanhar as harmonias sofisticadas, você tem que pegá-las pelo lado da simpatia, de cantar junto, e isso aconteceu em alguns clubes norte-americanos. Eu acho isso superimportante, isso depende de artista para artista; evidentemente que eu já fiz shows mais sérios em que eu falei superpouco e toquei mais, mas como eu sou brasileiro, que tem mais espírito, mais expontaneidade, ao contrário dos jazzistas estrangeiros, que são supercontidos e sérios. Enfim, meus shows não são programados. Tudo depende do meu estado de espírito no momento e do pique das pessoas, mas isto é uma coisa rara de acontecer em meus shows.


11- A vida de músico cigano-cosmopolita tem lhe dado os sonhados lucros, coisa difícil no brasil neste estilo musical?

R: Eu consigo viver relativamente bem, e acho que tenho que sair fora do Brasil para poder ter essa sobrevivência mais cômoda. Eu ganho, mas também invisto. Não sou rico, mas é óbvio a comodidade de se trabalhar no exterior, onde se é mais respeitado e, é claro, falando-se em termos de remuneração, é mais significativo. Já no Brasil, em festivais e bons eventos, eles tem sido mais concensiosos e sempre correspondem com as nossas expectativas, porém, a grana é um fator não tão importante em meu trabalho. Primeiro, a riqueza maior que eu procuro, é dar os jovens a oportunidade de poderem ter uma diretriz através desses livros didáticos que farei, e do selo Aqui, oh! Records, em que quero preservar a arte de Minas Gerais, as músicas folclórica e barroca, o álbum sobre meu avô, os projetos especiais, etc. Fiz um seminário em 1986, com a nata dos instrumentistas brasileiros – tenho tudo isto registrado e vou começar a reeditar parte deste material. Com isso, eu quero dar o mínimo de minha contribuição com a minha visão de músico universal, e poder deixar um trabalho que as pessoas possam ter acesso e verem a importância disto para o futuro. Essa é a minha riqueza principal que eu corro atrás.

12- Você foi considerado o melhor guitarrista do mundo na categoria jazz em 1977, e o oitavo no ano seguinte. A revista Guitar Player, em sua versão nacional, comentou o ano passado que se existissem duas listas, uma com os melhores guitarristas do mundo, e outra com os melhores violonistas, você estaria nas duas. Como que você lida com essa massagem no ego?

R: É relativo. Eu continuo fazendo o que sempre fiz. Na verdade eu nunca trabalhei para isso. Eu consegui esses méritos pelo fato de eu ser uma pessoa cuja música tem uma certa particularidade de quem sempre fugiu aos modismos. Eu fiz essa mistura bem ampla de jazz, música clássica, bossa nova, música sacra e folclórica mineira, também com pitadas de funk e pop; então, daí essa universalidade, e graças à Deus, eu sempre toquei com muitos bons músicos e ouvi boas músicas, ao contrário do descartável de hoje, que não dá cultura para o ouvido da molecada. Eu, desde cedo sempre tive um bom gosto musical, e isto resultou num instinto criador muito grande e consegui já na adolescência mostrar uma personalidade como compositor e instrumentista, a nível de progressão de acordes, então, isto marcou na minha vida como músico e no mundo inteiro, então, o que eu faço desde a adolescência até hoje é o mesmo trabalho, só que mais evoluído e depurado, muito ligado nas progressões de harmonia e tudo muito intuitivo, sem regras de escrita musical. Leio partituras e faço orquestrações, mas aprendi a ler depois que já tinha começado a compor. Nunca quis ser aquele guitarrista que sabia todas as escalas, que tocava rápido para a galera delirar. O importante é as pessoas reconhecerem meu trabalho por causa de uma personalidade, por causa de uma coisa única, então o pessoal ouve dois acordes ou uma frase e diz –Isto é Toninho Horta , então, isto para mim é o mais importante.

13- Chopim quando se sentava par improvisar ia em busca da “nota azul”. E você, o que diz da sua “nota que dói”. Dá para traçar um paralelo com o “azul sem manchas do planalto central”, notas e acordes que desafiam a gravidade, como disse o Pat Metheny, se referindo à sua música?

R: Eu acho que tudo é momento – você colocar o acorde na hora certa ou dar uma nota bem interpretada no lugar certo; aquilo alí, as pessoas que são sensíveis vão sentir – é difícil explicar, porquê são milhões de notas e milhões de oportunidades que tenho de mostrar isto às pessoas em disco ou ao vivo. Há músicos, como Keith Jarret, p. ex., que tocam com tanta emoção que transpassam e transcendem a técnica – aquela coisa de profunda emoção (Toninho compôs para Jarret uma música especial, gravada no CD da revista Guitar Player, intitulada “Profunda emoção”). Então, quem é um músico sensível e está ouvindo outro cara sensível, a relação da música fica mais próxima, mais grandiosa – você sente a profundidade do toque daquele cara. Agora, é claro que nem todas as pessoas que estão nos ouvindo tem essa possibilidade de ouvir e sentir como sentimos. Agora, falando deste termo que você usou, a “nota que dói”, me lembro quando descobri o acorde A-5° pela minha irmã Berenice que o tocou para mim pela primeira vez – quando eu ouvi esse acorde, ele me doeu, pois era um acorde mais triste, sensível e puro, então, eu sempre adorei, isto é, invariavelmente, eu sempre fiz músicas que tem esses acordes e notas que doem.

15- Toninho, particularmente, acho que sua composição “Dona Olímpia”, do disco “Terra dos pássaros”, uma das mais tocantes e emotivas da MPB instrumental. Pareceu-me que ela (a senhora que inspirou a música) encerrou seu depoimento chorando aquele dia – há uma carga emocional muito forte encerrada naquela música. Você poderia comentá-la?

R: Eu conheci Dona Olímpia através de Luiz Alberto Sartori de Minas Gerais, cineasta, amigo de adolescência, que quis fazer um documentário com ela, que era uma pessoa descendente de imperadores, que deu uma “pirada de cabeça”, teve distúrbios – um tipo popularíssimo da ruas de Ouro Preto. Ela se trajava muito bem, de uma maneira exótica, com flâmulas, chapéus – uns quarenta diferentes! –, roupas coloridas, sapatos gastos, e ela tinha como intenção arrecadar dinheiro para uma sobrinha dela se formar em universidade. Então, ela fez uma promessa de pedir dinheiro nas ruas. Ela tinha por costume contar histórias da época do Império, de sua família, isto, sempre mendigando. Eu participei desse documentário e acompanhei parte das filmagens, e utilizei parte dela em meu disco. Quando foi gravado aquele take, eu estava presente e me emocionei muito com sua sinceridade – uma pessoa boníssima, maravilhosa, um caráter incrível – , e ela acaba a fala chorando. Eu fiz 4 músicas para o filme, que viraram sucesso: Dona Olímpia, Aquelas coisas todas, Serenade e Pilar.

16- Toninho, já se pode falar numa escola Toninho Horta de se tocar guitarra e violão, assim como a de Jimi Hendrix, p. ex., ou você se considera impar e personalíssimo à ponto de não deixar crias?

R: Com certeza. Já deixei, sem constituir oficialmente, mas fiz escola no mundo inteiro, p. ex., um cara em Israel, dois na Itália, no Japão vários, em todos os lugares do Brasil sempre tem alguém que toca meu estilo. Agora, eu fui dar um workshop na cidade de Itajaí em Santa Catarina, e tinha vários músicos que vieram do sul, dentre eles um cara chamado Dinho de Porto Alegre que tocava exatamente as minhas músicas harmonicamente, então, quer dizer, eu estou criando uma escola por aí, com certeza. Eu tenho planos de lançar um método com livro de partituras par o próximo ano, mas primeiro eu vou editar aquele ”livrão” de MPB, par depois sair com este trabalho aí.

17- Agora, Toninho, para finalizar, que dicas daria aos músicos ararenses que querem ser um novo Toninho Horta ter sua bagagem, seu talento, inspiração e essa capacidade incrível como arranjador. Existe um kit musical que colocaria na cesta básica deles?

R: Dar um recado para eles não serem um novo Toninho Horta (risos). Eles tem que ser um novo fulano de tal – a pessoa que está fazendo o seu trabalho . Eu acho, o que eu consegui em termos de ter um trabalho personalístico – as pessoas valorizarem exatamente este lado – , não personal, mas de bom gosto – é você procurar sempre ouvir coisas até que você não entenda muito. Você, p. ex., deve ouvir coisas mesmo que você não goste, como música clássica, jazz, harmonias da Bossa Nova Tom Jobim é essencial para qualquer músico – compositores americanos, ouvir de tudo sem preconceito, agora, principalmente, a pessoa deve gastar bastante tempo, não só assimilando essas culturas, esses estilos de várias pessoas, mas também desenvolver um estilo próprio – misturar uma coisa com a outra – , e eu fiz isso de uma maneira muita intuitiva, natural e tudo, mas acho que é possível ainda se fazer isto tudo, mesmo que você seja um estudante que gosta de ser aplicado e estuda aquelas escalas que o professor manda e tudo. Eu acho também, que não se deve deixar de lado a emoção, e procurar nunca fazer mais escalas do que usar o tempo para a criação, que é o mais importante. Nos EUA, p. ex., eles não seguem isto – ficam tanto tempo na escola e tem que fazer tanto trabalho em casa, e não tem tempo para criar, então é por isso que saem aqueles robozinhos, que ficam tocando bem parecido. Então, no Brasil, a gente ainda tem a oportunidade de poder ir para casa, ir para o mato e levar o violão e começa a pensar em pouco de cada coisa – misturar um a viola caipira com um pedaço de Tom Jobim, ou com uma reflexão de jazz, ou com um a sensibilidade de um violino da música erudita, e assim é que a pessoa vai descobrir um caminho próprio, é claro que tem pessoas que se preocupam mais com lado rítmico, outro com o harmônico, mas música é música e tudo o que for feito com o coração aberto, eu acho que se chega à algum lugar e vai atingir o coração das pessoas, eu tenho certeza.

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