ENTREVISTANDO TONINHO HORTA
por Wenilton Luís Daltro
10/09/1999
Toninho Horta, músico e compositor, um dos principais componentes do lendário “Clube da Esquina”, do qual faziam parte Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, dentre outros, esteve fazendo um show acústico, no Bar Academia no dia dez deste mês, aproveitando uma folga na agenda em sua passagem de férias pelo Brasil. A entrevista, realizada num sábado à tarde no saguão do Hotel Marques, foi uma conversa descontraída e agradável. Mais por inexperiência minha que por vontade de falar do entrevistado, o que estava previsto para ser um breve depoimento, acabou se transformando num longo bate-papo que chegou a durar quase uma hora. Toninho rasgou o verbo e respondeu as perguntas com grande riqueza de detalhes, com certeza, muita coisa inédita para os leitores e fãs. Apesar de ter se estendido a beça nas respostas, tão curiosas elas foram que sequer notamos o tempo passar, ao menos para mim, fã de carteirinha... Inúmeras foram as lembranças do início da sua carreira, muitos os fatos curiosos, dicas e particularidades sobre sua brilhante trajetória como músico, considerado o “Embaixador da MPB no planeta”. O eminente guitarrista de jazz, Pat Metheny citou num elogio único que “Toninho é o Herbie Hancock do violão bossa-novístico”. A conceituada revista norte-americana Guitar Player, em sua versão nacional, o coloca como um dos maiores guitarristas e violonistas do mundo.
O show no Bar Academia foi no formato unplugled, com o Toninho se apresentando sozinho com um único violão, um show quase intimista, não fosse o seu animado pique de fazer um espetáculo em que incitava a platéia a acompanhá-lo seja cantando, seja com palmas ou intimando uma pessoa de uma mesa próxima a fazer percussão com o que estivesse às mãos. Os que gostam de músicas instrumentais com riqueza harmônica e melodias sofisticadas, uma voz calma e aveludada, enfim, uma música sensível, particular e personalíssima, não tiveram o que reclamar. Resumindo: um grande show!
Aqui, o resumo dos melhores momentos da entrevista, das cerca de 30 perguntas que lhe foram feitas; boa parte delas fora suprimida devido ao seu conteúdo muito técnico e, obviamente, por falta de espaço no jornal onde seria publicada. Nela, Toninho Horta mostra como fez, de uma maneira bem natural, como ele diz, o mundo se curvar perante a sua sensível e sofisticada música.
1- Toninho, seus CDs estão sendo lançados no Brasil, finalmente?
R: É, eu estou num processo de colocar no mercado os meus últimos CDs lançados no exterior, que são: “De Tom para Tom”, com título em inglês: “From Tom to Tom”, que é um tributo à Tom Jobim, e esse título é de uma música que eu fiz para ele, logo após seu falecimento em 1994, e ela foi gravada com os vocais da Gal Costa, em inglês – uma das poucas vezes que ela cantou nesta língua em sua carreira. O outro CD é um trabalho em dueto com o flautista italiano de jazz e também músicas originais, tanto minhas como dele. Esse CD inaugura o catálogo do meu selo chamado Nicola Stilo, com standarts de jazz e também músicas originais, tanto minhas como dele. Esse CD inaugura o catálogo do meu selo chamado“Aqui, oh! Records”, que será lançado no Brasil, assim como os outros CDs que lancei para outras companhias, e que estou providenciando a licença para lançá-los aqui, tudo isto, para esse pessoal que segue nosso trabalho – gente que tem essa mesma visão que a gente tem musicalmente; logo, poderão adquiri-los sem ter que recorrer à importação. É um projeto de médio a longo prazo, e na medida do possível iremos lançá-los no país.
2- Toninho, em que pé está o song-book?
R: Não, não é um song-book meu. É um livro – o maior banco de dados em termos de partituras de MPB que já foi feito no país, um trabalho de melodias e cifragens – a bíblia do músico do novo milênio – eu acredito – pela variedade de canções não só importantes pelo ponto de vista histórico, mas também pela contribuição no enriquecimento do músico – músicas com melodias criativas, harmonias inventivas e ritmos interessantes. Todos esses parâmetros foram levados em conta para compor esse chamado “Livrão da Música Popular Brasileira” (título não definitivo), com cerca de 500 músicas, que está previsto para ser lançado em março do ano 2000.
3- Foi difícil para o Nê do Bar Academia conseguir uma vaga na tua concorrida agenda, você que pouco para no país?
R: Mais ou menos, pois às vezes há desistências, e eu não esperava fazer este show aqui. Nesta brecha que eu tinha neste feriado eu ia estar com meu filhos o tempo todo, mas surgiu esta oportunidade, e sempre que eu posso eu faço shows, ainda mais no Brasil, onde eu estou querendo ressemear meu trabalho. Acho importante tocar meu violão, fazer uma primeira visita e depois voltar com uma produção mais requintada, e poder trazer uma banda para poder mostrar o meu trabalho como artista de uma forma mais completa, tocando guitarra com o suporte da banda. Foi muito interessante fazer esse show aqui em Araras.
4- É experiência nova?
R: Eu toquei muito em Campinas, onde há muitos músicos que tem uma ligação muito grande com minha música. Em Araras notei que minha música é nova para a maioria, e eu acho isso muito importante, porque assim podemos ampliar o círculo das pessoas que gostam de boa música e só assim a gente pode crescer.
5- Você tem música brotando em diversos galhos em sua árvore genealógica. Como isto influenciou em sua formação musical?
R: Meu avô, João Horta, era maestro de bandas no interior de Minas, onde fez várias missas para diversas igrejas. Tenho um projeto de pesquisa da obra dele e já estou recolhendo material com o pessoal da família, e preciso de tempo para visitar essas cidades por onde ele passou, como, p. ex., Diamantina, Mariana, Itaverava, entre outras, onde ele compunha músicas sacras registrando-as em papel de pão (risos). Isto vai dar trabalho também, e é um projeto de médio a longo prazo.
6- Aquele pequeno arranjo de banda marcial no final da música Diamond Land é uma homenagem ao seu avô?
R: De uma certa maneira sim. Minha mãe, desde que eu era criança, sempre falava nas bandas de música. Eu sempre tive uma admiração muito grande por este tipo de iniciativa musical que está aí, perdurando até hoje, e eu acho isto interessante para a formação dos jovens músicos, de uma forma assim – diferente – quer dizer, a estrutura da música só com sopros e percussão, que dá uma sonoridade muito bonita, marcial, aquela coisa muito forte. Então, eu gosto demais disso e esta música não deixa de ser uma homenagem ao meu avô. Enfim, tudo isto tem a ver com minha formação e, completando essa influência musical da família, há meus pais que tocavam bandolim e violão e meus irmãos mais velhos que também tocavam e cantavam. Então, a música teve em mim uma influência hereditária muito natural. Eu sempre amei a música, desde que eu nasci. Minha mãe dizia que com um ano de idade eu pedia para ela tocar um tango famoso para mim ouvir. Com três anos eu chorei ouvindo Debussy, e com sete ou oito anos eu já ouvia Os grandes compositores clássicos, chorava e entrava debaixo da cama (risos). Era uma emoção muito forte, então, realmente, eu tinha que ser músico.
7- Que boas lembranças guarda de Elis Regina, você, que chegou a acompanhá-la?
R: Elis tinha uma personalidade muito forte, era muito brincalhona. Naquele tempo, eu tinha vinte e poucos anos, usava camisetas rasgadas e ela tinha a mania de ficar enfiando o dedo nos buracos da camiseta para fazer cócegas. Foi uma experiência muito boa tocar com ela. Ela gravava o que queria e para cada música tinha uma interpretação própria e ia a fundo, mesmo, no trabalho – um dos artistas mais geniais que o Brasil já teve, e foi uma honra eu tê-la acompanhado durante uma temporada, no ano de 1970, na época do disco “Ela” . Elis quase gravou uma composição minha, “Aqui, oh!”, mas ela dizia que minhas músicas eram muito avançadas.
8- Toninho, comente sua empatia musical com o Milton Nascimento.
R: Empatia total. Éramos da mesma região, mesmo estado. Milton foi para Belô com quase 20 anos; eu tinha 15 e nos conhecemos através do meu irmão Paulo Horta, que era amigo do Marilton (irmão de Lô Borges) que era líder da banda em que o Bituca era crooner e baixista. Meu irmão me apresentou à ele e, em pouco tempo, já estávamos fazendo músicas juntos, como, p. ex., “Segue em paz”, nunca gravada – isso, 5 anos anterior ao Clube da Esquina. Então, eu já tinha toda essa ligação, essa admiração mútua. Quando fomos classificados juntos no Festival da Canção no Rio em 1967, Milton já tinha “Travessia” e mais duas músicas, e eu era o segundo artista brasileiro, além do Bituca, que tinha mais de uma música no festival. Eu concorri com “Carnaval”, parceria com Milton Borges, que na época já era parceiro do Milton, e a música “Maria madrugada”, em parceria com minha prima Julia Horta. Então, chegamos com a bola toda. Todos perguntavam: – Quem são esses mineiros que tem mais de duas músicas no festival?! Na época, só o Vinícius de Moraes tinha. E o Milton, por sua voz e sua postura conseguira classificar Travessia em segundo lugar e foi aquela ovação, e, para a música do Brasil, foi uma renovação, e a abertura para todo o pessoal do Clube da Esquina. Então, nós temos muita amizade, eu toquei por anos na sua banda. Hoje, ambos com banda própria, nos encontramos às vezes nos aeroportos, e, em algumas ocasiões especiais, como festas e shows, sempre em contatos rápidos, mas um dia, quem sabe, possamos nos reunirmos novamente e fazermos um novo trabalho.
9- Você parece ser um compositor muito fecundo e chega a lançar vários CDs num mesmo ano. De onde brota tanta inspiração?
R: É, às vezes acumula material. De repente você fica dois anos sem gravar e aí pinta vários projetos, discos em parceria, faz uma reedição de um trabalho, uma regravação... ,então, teve um ano que eu lancei um disco gravado ao vivo na Rússia, outro em Nova Yorque, gravado pela Polydor do Japão e mais um, só com voz e violão, chamado “Durango Kid” etambém o relançamento do “Terra dos pássaros”, então, às vezes acumula vários trabalhos. Por exemplo, agora, no final deste ano, eu tenho três trabalhos para fazer – um, com músicas inéditas; outro com gravações romãnticas de outros autores nacionais, músicas não tão badaladas, que pretendo gravar com caráter mais acústico e percussão verdadeira, não eletrônica. Gravarei Beto Guedes, Lô Borges, Milton, Guilherme Arantes, Dori Caymmi, Edu Lobo, etc, e um outro que não posso falar, que é um projeto mais arrojado, que eu tenho que esperar o momento certo para comentá-lo.
10- Como se sente com os elogios da crítica, por levantar da poltrona uma platéia e fazê-la acompanhá-lo com palmas, isto, uma coisa rara em meio a um clube jazzístico conservador e tradicional?
R: Eu sempre procurei fazer meu trabalho da maneira mais pura e fora de modismos, então, até nos clubes de jazz eu sempre tentei mostrar minha brasilidade, e uma das formas que eu vejo de poder agradar o público é fazer um show interativo com eles.Quando a música é muito harmônica e as pessoas não tem um preparo cultural para acompanhar as harmonias sofisticadas, você tem que pegá-las pelo lado da simpatia, de cantar junto, e isso aconteceu em alguns clubes norte-americanos. Eu acho isso superimportante, isso depende de artista para artista; evidentemente que eu já fiz shows mais sérios em que eu falei superpouco e toquei mais, mas como eu sou brasileiro, que tem mais espírito, mais expontaneidade, ao contrário dos jazzistas estrangeiros, que são supercontidos e sérios. Enfim, meus shows não são programados. Tudo depende do meu estado de espírito no momento e do pique das pessoas, mas isto é uma coisa rara de acontecer em meus shows.
11- A vida de músico cigano-cosmopolita tem lhe dado os sonhados lucros, coisa difícil no brasil neste estilo musical?
R: Eu consigo viver relativamente bem, e acho que tenho que sair fora do Brasil para poder ter essa sobrevivência mais cômoda. Eu ganho, mas também invisto. Não sou rico, mas é óbvio a comodidade de se trabalhar no exterior, onde se é mais respeitado e, é claro, falando-se em termos de remuneração, é mais significativo. Já no Brasil, em festivais e bons eventos, eles tem sido mais concensiosos e sempre correspondem com as nossas expectativas, porém, a grana é um fator não tão importante em meu trabalho. Primeiro, a riqueza maior que eu procuro, é dar os jovens a oportunidade de poderem ter uma diretriz através desses livros didáticos que farei, e do selo Aqui, oh! Records, em que quero preservar a arte de Minas Gerais, as músicas folclórica e barroca, o álbum sobre meu avô, os projetos especiais, etc. Fiz um seminário em 1986, com a nata dos instrumentistas brasileiros – tenho tudo isto registrado e vou começar a reeditar parte deste material. Com isso, eu quero dar o mínimo de minha contribuição com a minha visão de músico universal, e poder deixar um trabalho que as pessoas possam ter acesso e verem a importância disto para o futuro. Essa é a minha riqueza principal que eu corro atrás.
12- Você foi considerado o melhor guitarrista do mundo na categoria jazz em 1977, e o oitavo no ano seguinte. A revista Guitar Player, em sua versão nacional, comentou o ano passado que se existissem duas listas, uma com os melhores guitarristas do mundo, e outra com os melhores violonistas, você estaria nas duas. Como que você lida com essa massagem no ego?
R: É relativo. Eu continuo fazendo o que sempre fiz. Na verdade eu nunca trabalhei para isso. Eu consegui esses méritos pelo fato de eu ser uma pessoa cuja música tem uma certa particularidade de quem sempre fugiu aos modismos. Eu fiz essa mistura bem ampla de jazz, música clássica, bossa nova, música sacra e folclórica mineira, também com pitadas de funk e pop; então, daí essa universalidade, e graças à Deus, eu sempre toquei com muitos bons músicos e ouvi boas músicas, ao contrário do descartável de hoje, que não dá cultura para o ouvido da molecada. Eu, desde cedo sempre tive um bom gosto musical, e isto resultou num instinto criador muito grande e consegui já na adolescência mostrar uma personalidade como compositor e instrumentista, a nível de progressão de acordes, então, isto marcou na minha vida como músico e no mundo inteiro, então, o que eu faço desde a adolescência até hoje é o mesmo trabalho, só que mais evoluído e depurado, muito ligado nas progressões de harmonia e tudo muito intuitivo, sem regras de escrita musical. Leio partituras e faço orquestrações, mas aprendi a ler depois que já tinha começado a compor. Nunca quis ser aquele guitarrista que sabia todas as escalas, que tocava rápido para a galera delirar. O importante é as pessoas reconhecerem meu trabalho por causa de uma personalidade, por causa de uma coisa única, então o pessoal ouve dois acordes ou uma frase e diz –Isto é Toninho Horta , então, isto para mim é o mais importante.
13- Chopim quando se sentava par improvisar ia em busca da “nota azul”. E você, o que diz da sua “nota que dói”. Dá para traçar um paralelo com o “azul sem manchas do planalto central”, notas e acordes que desafiam a gravidade, como disse o Pat Metheny, se referindo à sua música?
R: Eu acho que tudo é momento – você colocar o acorde na hora certa ou dar uma nota bem interpretada no lugar certo; aquilo alí, as pessoas que são sensíveis vão sentir – é difícil explicar, porquê são milhões de notas e milhões de oportunidades que tenho de mostrar isto às pessoas em disco ou ao vivo. Há músicos, como Keith Jarret, p. ex., que tocam com tanta emoção que transpassam e transcendem a técnica – aquela coisa de profunda emoção (Toninho compôs para Jarret uma música especial, gravada no CD da revista Guitar Player, intitulada “Profunda emoção”). Então, quem é um músico sensível e está ouvindo outro cara sensível, a relação da música fica mais próxima, mais grandiosa – você sente a profundidade do toque daquele cara. Agora, é claro que nem todas as pessoas que estão nos ouvindo tem essa possibilidade de ouvir e sentir como sentimos. Agora, falando deste termo que você usou, a “nota que dói”, me lembro quando descobri o acorde A-5° – pela minha irmã Berenice que o tocou para mim pela primeira vez – quando eu ouvi esse acorde, ele me doeu, pois era um acorde mais triste, sensível e puro, então, eu sempre adorei, isto é, invariavelmente, eu sempre fiz músicas que tem esses acordes e notas que doem.
15- Toninho, particularmente, acho que sua composição “Dona Olímpia”, do disco “Terra dos pássaros”, uma das mais tocantes e emotivas da MPB instrumental. Pareceu-me que ela (a senhora que inspirou a música) encerrou seu depoimento chorando aquele dia – há uma carga emocional muito forte encerrada naquela música. Você poderia comentá-la?
R: Eu conheci Dona Olímpia através de Luiz Alberto Sartori de Minas Gerais, cineasta, amigo de adolescência, que quis fazer um documentário com ela, que era uma pessoa descendente de imperadores, que deu uma “pirada de cabeça”, teve distúrbios – um tipo popularíssimo da ruas de Ouro Preto. Ela se trajava muito bem, de uma maneira exótica, com flâmulas, chapéus – uns quarenta diferentes! –, roupas coloridas, sapatos gastos, e ela tinha como intenção arrecadar dinheiro para uma sobrinha dela se formar em universidade. Então, ela fez uma promessa de pedir dinheiro nas ruas. Ela tinha por costume contar histórias da época do Império, de sua família, isto, sempre mendigando. Eu participei desse documentário e acompanhei parte das filmagens, e utilizei parte dela em meu disco. Quando foi gravado aquele take, eu estava presente e me emocionei muito com sua sinceridade – uma pessoa boníssima, maravilhosa, um caráter incrível – , e ela acaba a fala chorando. Eu fiz 4 músicas para o filme, que viraram sucesso: Dona Olímpia, Aquelas coisas todas, Serenade e Pilar.
16- Toninho, já se pode falar numa escola Toninho Horta de se tocar guitarra e violão, assim como a de Jimi Hendrix, p. ex., ou você se considera impar e personalíssimo à ponto de não deixar crias?
R: Com certeza. Já deixei, sem constituir oficialmente, mas fiz escola no mundo inteiro, p. ex., um cara em Israel, dois na Itália, no Japão vários, em todos os lugares do Brasil sempre tem alguém que toca meu estilo. Agora, eu fui dar um workshop na cidade de Itajaí em Santa Catarina, e tinha vários músicos que vieram do sul, dentre eles um cara chamado Dinho de Porto Alegre que tocava exatamente as minhas músicas harmonicamente, então, quer dizer, eu estou criando uma escola por aí, com certeza. Eu tenho planos de lançar um método com livro de partituras par o próximo ano, mas primeiro eu vou editar aquele ”livrão” de MPB, par depois sair com este trabalho aí.
17- Agora, Toninho, para finalizar, que dicas daria aos músicos ararenses que querem ser um novo Toninho Horta – ter sua bagagem, seu talento, inspiração e essa capacidade incrível como arranjador. Existe um kit musical que colocaria na cesta básica deles?
R: Dar um recado para eles não serem um novo Toninho Horta (risos). Eles tem que ser um novo fulano de tal – a pessoa que está fazendo o seu trabalho . Eu acho, o que eu consegui em termos de ter um trabalho personalístico – as pessoas valorizarem exatamente este lado – , não personal, mas de bom gosto – é você procurar sempre ouvir coisas até que você não entenda muito. Você, p. ex., deve ouvir coisas mesmo que você não goste, como música clássica, jazz, harmonias da Bossa Nova – Tom Jobim é essencial para qualquer músico – compositores americanos, ouvir de tudo sem preconceito, agora, principalmente, a pessoa deve gastar bastante tempo, não só assimilando essas culturas, esses estilos de várias pessoas, mas também desenvolver um estilo próprio – misturar uma coisa com a outra – , e eu fiz isso de uma maneira muita intuitiva, natural e tudo, mas acho que é possível ainda se fazer isto tudo, mesmo que você seja um estudante que gosta de ser aplicado e estuda aquelas escalas que o professor manda e tudo. Eu acho também, que não se deve deixar de lado a emoção, e procurar nunca fazer mais escalas do que usar o tempo para a criação, que é o mais importante. Nos EUA, p. ex., eles não seguem isto – ficam tanto tempo na escola e tem que fazer tanto trabalho em casa, e não tem tempo para criar, então é por isso que saem aqueles robozinhos, que ficam tocando bem parecido. Então, no Brasil, a gente ainda tem a oportunidade de poder ir para casa, ir para o mato e levar o violão e começa a pensar em pouco de cada coisa – misturar um a viola caipira com um pedaço de Tom Jobim, ou com uma reflexão de jazz, ou com um a sensibilidade de um violino da música erudita, e assim é que a pessoa vai descobrir um caminho próprio, é claro que tem pessoas que se preocupam mais com lado rítmico, outro com o harmônico, mas música é música e tudo o que for feito com o coração aberto, eu acho que se chega à algum lugar e vai atingir o coração das pessoas, eu tenho certeza.
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