Este texto foi bolado em princípios de 1996, mas, infelizmente, não teve o seu destino inicial: o de participar de um concurso estudantil sobre a Antártica. Acontece que, relendo-o hoje, achei interessante o que escrevi na época e resolvi fazer algumas melhoras e disponibilizá-lo neste blog. Mas vamos ao assunto.
O glaciologista Jefferson Cardia Simões (foto), diretor do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e líder da Expedição Deserto de Cristal, em recente matéria no jornal Folha de São Paulo (22-2-2009), desfez alguns dos principais enganos na percepção que o público brasileiro tem da Antártida. Dentre outros assuntos, ele afirmou que
“'Mesmo após 25 anos de presença do Brasil na região, com a inauguração da estação Antártica Comandante Ferraz, em 1984, ainda permanecem muitos mitos sobre o ambiente antártico.' Diz ainda que 'Dificulta também a má definição da região tratada nos textos, confundindo o continente propriamente dito (cerca de 13,7 milhões de quilômetros quadrados) com a região antártica (ou seja, o continente e o oceano Austral juntos). O uso de termos arcaicos (oceano Glacial Antártico) só faz piorar essa situação'.”
Simões também chama a atenção para o fato de que “Noventa por cento do volume do gelo do planeta está no continente antártico.”
Agora, vamos ao que eu escrevi em 1996.
Vocês já repararam que, até pouco tempo, a região polar que mais dava ibope era o pólo Norte? Então, só se falava
Sobre o simpático mascote antártico, digo, o pinguim – animal que, por sinal, inspirou um dos maiores vilões inimigos do Batman –, se eu perguntasse ao leitor se acaso a nossa deliciosa cerveja Antártica se chamasse Ártica, qual o animal que deveria estampar o rótulo da garrafa no lugar do pinguim, ele saberia responder? Se respondeu urso branco acertou. Por quê? É que não há pingüins no pólo Norte, tampouco há ursos brancos no pólo Sul (vejam a paródia que fiz com o selo da cerveja Antártica...). Curiosamente, o estúdio Walter Lantz – o mesmo responsável pelo endiabrado Pica-Pau – criou o personagem Chilly Willy – conhecido no Brasil como Picolino –, que é um pequeno pinguim que mora no pólo Sul mas não gosta do frio... – adora comer peixe e viver em lugares quentinhos. Por causa destas suas preferências, ele vive se metendo
AS AURORAS AUSTRAIS
Mas, falando sério, no que diz respeito ao belíssimo fenômeno das auroras, elas são freqüentes nas regiões boreais, entretanto, elas se manifestam também nas regiões antárticas. É que, supondo que o fenômeno somente se produzisse nas regiões árticas, em 1621, o astrônomo francês Pierre Gassendi denominou-o “aurora boreal”. Em latitudes do hemisfério sul é conhecida como aurora austral, nome batizado no séc. XVIII pelo navegante James Cook (o descobridor da Austrália), uma referência direta ao fato se situar no pólo Sul.
Aurora austral e, à esquerda, o cometa Mc Naughty, que apareceu na virada de 2006-2007.
Versão meridional da aurora boreal, a auroras austrais (southern lights) ocorrem em toda a Antártida e algumas vezes no extremo sul da Austrália e da Nova Zelândia. Com menos freqüência, ocorre também no extremo sul da América do Sul, na região de Ushuaia e Punta Arenas. Na foto ao lado, aurora austral fotografadada pelo satélite IMAGE, em 1 de setembro de 2005. O motivo de ocorrerem mais raramente na América do Sul se dá pelo fato de o pólo magnético terrestre estar situado do lado da Oceania e não da América. Para quem não tem cacife para ir até os pólos desfrutá-las, recomendo o filme Happy Feet, que se passa na Antártica e apresenta uma aurora austral. Tem mais: no filme, “Frequency” (2000), com Dennis Quaid, uma aurora boreal causa uma anomalia temporária nas comunicações, e um filho conseguiu comunicar-se com seu pai por rádio amador voltando trinta anos no passado e, assim, conseguiu alterar a curso da história.
Poucos sabem, mas até o famoso o “Sol da meia-noite” existe também na Antártida, mas somente no pólo Sul geográfico. Isso se desenvolve devido à incidência de dias após dias sem noites, pois esses não se escurecem nas regiões polares. Acontece que os pólos permanecem em oito meses ininterruptamente iluminados e quatro dentro da divisão normal, com dia claro e noite escura. Dos oito meses iluminados, em somente dois o sol é visível, isso, devido ao fato de o sol ficar abaixo da linha do horizonte.
Falando nisso, se você uma dessas raras pessoas que curte os horários após o pôr-do-sol – que é o meu caso (foto) –, aqueles momentos de clima aconchegante a que se dá o nome de “noitinha”, hora boa para pescar (e beber...), e acha esses momentos de duração muito rápida aqui no Brasil, saiba que em certas regiões do Ártico é possível vivenciar esse “fenômeno” com mais "durabilidade", apesar do frio desgraçado (as coisas boas nunca vem juntas...). Conversando com o cientista acima, o Jefferson, que trabalha na Estação Comandante Ferraz situada no pólo Sul, ele esclareceu uma dúvida antiga minha à esse respeito. Inicialmente, ele disse que “Na Estação Comandante Ferraz já não ocorre o sol da meia-noite, pois ela está ao norte do Círculo Polar. Lá, a noite mais curta do ano tem 4 horas e 12 minutos (como uma penumbra).” Depois, perguntei-lhe se essa ‘penumbra’ seria aquele momento antes do amanhecer, ou aquele após o crepúsculo (a noitinha), em que o céu acima do horizonte fica todo avermelhado, estando o sol logo abaixo da linha do horizonte. E perguntei-lhe isso porque sempre quis saber em que região do pólo sul eu poderia curtir esses momentos crepusculares de maneira mais prolongada, momento em que, repito, o sol está ‘girando’ logo abaixo do horizonte.
Ele me respondeu:
“No auge do solstício de verão, você não chega ter uma noite escura em Ferraz, pois apesar de o Sol estar abaixo do horizonte, ainda permanece um pouco de luz difusa. Assim, são quase 4 horas como aquele momento apos o pôr-do-sol ou do nascer.
Mas não é como você descreve! Por outro lado, logo antes de nascer, o fenômeno que você descreve ocorre, e certamente dura uma pouco mais do que nos trópicos. O problema é ter um dia sem nuvens a 62°S.”
Muitas pessoas viajam milhares de quilômetros até as regiões setentrionais com o intuito de observar as auroras boreais, mas não acredito que alguém (eu, por exemplo...) vá até o pólo Sul para apenas desfrutar esses horários serenos após o crepúsculo, mesmo porque uma parcela irrisória dos humanos sabe disso...
Auroras austrais. Atentar para o fato de que este vídeo não é uma filmagem, mas sim uma animação feitas com várias fotos montadas em sequência e em velocidade alterada (mais rápida). Explicando melhor, ele é feito através do recurso conhecido como
CURIOSIDADES
Os primeiros seres humanos a atingirem o pólo sul geográfico foram o explorador norueguês Roald Amundsen e seu grupo (foto), em 14 de dezembro de 1911, e o fizeram usando equipamentos, alimentos e animais usados normalmente no pólo Norte, como trajes esquimós, trenós leves, esquis, suprimentos para 2 anos e 97 dos melhores cães da Groelândia, etc. Mas acontece que o pólo Sul é mais frio que o seu antípoda.
Fato que deixou cientistas perplexos é a diversidade e o grande número de espécies semelhantes encontradas tanto no Oceano Ártico quanto nas águas geladas que cercam a Antártida, ao todo, 235 espécies. Das
POLO SUL MAGNÉTICO?! SIM, ELE EXISTE...
Mas outra novidade, tão incrível quanto as auroras austrais, é o pólo Sul Magnético. Sim ele existe, e é o ponto mais próximo do pólo Sul Geográfico, lugar onde as linhas de campo do campo magnético da Terra apontam diretamente para o chão, no entanto, as nossas bússolas traidoras insistem em apontar para o Norte! Na ilustração, sua posição em 1980. Ele não coincide propriamente com o pólo Sul Geográfico e nem possuiu um lugar geométrico constante. Ele foi descoberto em 16 de janeiro de 1909 por três exploradores: Douglas Mawson, Edgeworth David, e Alistair Mackay, membros de uma expedição liderada pelo Sir Ernest Henry Shackleton. Nest data, eles marcaram esse ponto com as coordenadas 72° 25′ sul e 154° longitude, e mais tarde, no ano de 1970, ele foi marcado a 66° sul. Curiosamente, o explorador Alexander Von Humboldt (1769-1859), numa de suas viagens equinociais, ao passar pelo caminho estreito que leva de Micuipampa à antiga cidade dos Incas em 1799, Cajamarca (norte do Peru), fez “uma observação magnética de interesse geral para a ciência”: ele determinou o ponto em que a inclinação da agulha magnetizada passa do norte para o sul, ou antes, o lugar em que o viajante corta o equador magnético.
LAGO DE ÁGUA DOCE SOB O GELO!
E tem mais: no pólo Sul existe um lago de água doce sob o gelo, que foi descoberto em 1957 por cientistas soviéticos – o Vostock – onde se encontra a água mais pura e antiga do planeta, isto, sob uma camada de gelo de
“'O lago tem 450 mil anos. A comunidade científica considera que a descoberta do Vostok é a descoberta geográfica mais extraordinária do século XX', afirma Valeri Lukin, chefe da expedição, citado pela agência oficial 'Itar-Tass'”.
À esta altura, deve ter leitor perguntando qual a origem do famoso bibelô antártico, digo, o pinguim novamente, mas o pinguim de geladeira... Pois bem: as primeiras geladeiras se assemelhavam a grandes armários, ocupando muito espaço. Então, para atrair os compradores e alertá-los de que o tal “móvel” era uma geladeira, a fábrica australiana Kelvinator (ilustração) passou a enviar pequenos bonecos de pinguins para as lojas que adquirissem seu produto, a fim de serem colocadas sobre as geladeiras como atrativo. A tática surtiu efeito e ganhou a simpatia dos compradores, que começaram a pedir para os lojistas o pinguim como brinde. Assim, esse hábito kitsch acabou se espalhando por todo o planeta. Ainda bem que a moda não se estendeu para outros utensílios de cozinha, se não poderíamos correr o risco de ver, p. ex., bibelôs de urubus em cima de lixeiras...
Enfim, caros leitores adeptos do moderno imã de geladeira, da próxima vez em que alguém vier lhes contar vantagens sobre o pólo Norte, encha o peito e informe-lhe sobre todas as belezas do sul maravilha que você aprendeu aqui. Se não se recordar de tudo, indique-lhe meu blog...
FONTES (17):
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