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segunda-feira, 15 de março de 2021

FARINHA DE JATOBÁ E CÃIBRAS

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Tenho o costume de comer farinha de jatobá faz décadas, depois que soube que ela tem as mesmas propriedades de energéticas do pó de guaraná. Todo ano vou coletar frutos, que depois retiro a polpa das sementes, e bato-a no liquidificador par fazer a farinha, que pode ser tomada com água ou leite. Dizem que esta farinha cheira à chulé, e cheira mesmo, mas ela é agradável e adocicada. Daí que, vira e mexe, eu sinto umas cãibras estranhas no pé. Um dia destes, relendo o livro "Bandeirantes d'Oeste” (1952), do sertanista Willy Aurelly, ele fala de um incidente ocorrido com seu pessoal após o consumo de farinha de jatobá. Diz ele:

“Pus a cabeça fora do abrigo providencial e deparei com meus rapazes nus como vieram ao mundo, sob tormenta Infernal, esmagando frutos jatobá e deliciando-se colocar por farinhento."

Quando chegara a noite, ele comentou o que aconteceu:

“Tudo era paz e sou atacado por violentíssimas câimbras. Dores insuportáveis, enlouquecedoras! Já uma vez, no alto rio das Mortes, após penetração cansativa até a serra da Piedade sofrerá mal idêntico juntamente com ele Henri Julien. Caí grotescamente, gemendo de dor. Não tardou que Valderino sentiu o mesmo e, logo a seguir, Aristides. Estorcíamo-nos em dores, suando frio, gemendo, quase perdendo os sentidos. Paulo aqueceu cobertores, envolvendo-nos neles. Melhoramos logo, para em seguida acordemos o bravo rapaz e o gaúcho, agora atacados pelo Mal.  Só os índios e o Augusto nada sentiam. Esse, querendo pontificar:

- Tá í macacada! Vocêis bebem pinga e sofrem as câimbras. Eu nunca bebi estou bom.

Não se vangloriar a, é que se atira ao chão, emitindo gemidos prolongados. Todos rimos com a desdita do bom companheiro, pois que as cãibras vieram, oportunamente, para desmenti-lo! E lá foi um cobertor quente também para o abstêmio que custou a se refazer.

- Quá! De hoje em diante não rejeito mais minha ração! Tanto faz…

A despeito de experimentar melhoras, não podíamos fazer movimentos bruscos e nem manter-nos em pé. As cãibras voltavam e vimos obrigados, para alimentar as fogueiras, a arrastar nos pelo chão. E durante a noite toda, quem se incumbiu do quarto de guarda, fê-lo sentado, pela impossibilidade de se erguer. Que nos teria acontecido se tivéssemos sido atacado pelos índios naquela situação?”

Notemos porém que Willy parece não ter se alimentado de jatobá durante o temporal, e no surto de cãibras em outra ocasião ele não menciona a ingestão de jatobá pelo pessoal.

O Visconde de Taunay, em seu livro "Viagens de outrora" (1921), Se referindo a farinha de Jatobá que consumia com seu pessoal atravessando os sertões do Mato Grosso, não se referiu à acessos de cãibra após o consuma, mas louvou os benefício do fruto:

“Uso destes frutos provou bem nas forças contra as diarreia e serviu de muito para o sustento geral. É, pois, com reconhecimento profundo que os expedicionários de Mato Grosso devem falar de estilismo vegetal”.

Daqui para diante, vou prestar mais atenção nos acessos de câimbra  e a ingestão de farinha de jatobá, para saber se há uma relação entre eles, mas à princípio, acho que é mera coincidência.

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