Lá estava ele, pousado num galho de sangra-d'água a fitar
paciente o calmo espelho das águas do lago abaixo de si. À sombra, mantinha-se imóvel e
vigilante, mas de quando em quando, um leve levantar da cabeça traíaa sua presença.
Subito, ele defeca nas águas e peixinhos afoitos pululam sobre os
dejetos. Num átimo, o pequeno pássaro se deixa cair sobre o cardume, e logra
caçar um deles. Ele volta ao galho, engole o peixinho e enquanto faz a
digestão, espera que outros peixes ressurjam. Um peixe solitário é
atraído por um novo dejeto, e, após degluti-lo, habilmente consegue escapar da
nova investida do vertiginoso mergulho do pequeno pássaro.
Notai então, caro leitor, um curioso fato , o dos peixinhos que escapam e ainda assim conseguem se alimentar dos
dejetos, pois se alimentam daquilo que provavelmente se tornarão se caçados
pelo martim-pescador: os próprios dejetos de que eles também sobrevivem.
Se analisarmos
mais fundo, notaremos então que, na verdade, há dois ciclos: um, o do peixe, que
é uma espécie de "canibalismo" escatológico, já que ele come dejetos
compostos por peixes digeridos; o outro, o da alimentação do martim, onde ele
come o peixe que se alimentou de seus próprios dejetos! Estranhas maravilhas da
natureza, amigos!
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