Uma das histórias mais marcantes envolvendo o célebre dr. Narciso Gomes (1857-1923) – o “Pai dos Pobres” – foi recolhida pelo locutor e radialista Cardoso Silva e publicada no extinto Jornal de Araras, em 25 de junho de 1953. Décadas depois, o escritor Emilio Wolff publicou-a em um livro biográfico e, mais recentemente, o professor Adilson Costa Oliveira transformou-a numa história em quadrinhos.
Essa história narra uma curiosa passagem envolvendo esse famoso médico, uma história de cunho sobrenatural, mas que o espiritismo explica normalmente, em que ele, mesmo depois de morto, fora atender um paciente na zona rural da cidade. O ocorrido se deu em Araras, cidade do interior de São Paulo, sendo considerado fato histórico na cidade. Foi no distante 24 de agosto de 1923, data de falecimento do médico.
NARCISO, VESTIDO DE BRANCO
por Cardoso Silva
Terça feira chuvosa. Ruas velhas borradas de lama. E uma espécie de fúnebre pregão reboando em todos, os cantos da velha Araras
– Doutor Narciso morreu!...
há embaixo, na rua Tiradentes, na casa que ficava quase à esquina, junto da desaparecida Farmácia Aurora (onde hoje é loja de calçados) foram chegando as pessoas amigas, os políticos, o povo, enfim, que levava uma lágrima sentida ao cadáver do pai dos pobres na e mais tocante das homenagens silenciosas!...
A cidade ficou soturna. Um movimento lento levava as criaturas para o esquife de Narciso Gomes. Feriado local. Luto nas almas companheiras do homem de grande caráter. Do médico de confirmada sabedoria. E a noticia se espalhando, cada vez mais:
– Doutor Narciso morreu!...
Naquela tarde o chouto surdo dos pés acompanhantes levariam o cadáver do político honesto em caixão pranteado para a Necrópole Municipal. A chuva continuava. Dir-se-ia, que também, chorava a natureza sincera da Araras que já aconteceu!
* * *
Chuva cai. Lama vermelha nos caminhos molhados. Uma casa de caboclo. Uma enferma, esquálida, muito pálida, sobre cama humilde. Arqueja. Arfa. Pneumonia dupla. Uma cliente do dr. Narciso Gomes. O marido – um caboclo magro e forte – nervoso. Percebe a febre dominando a pobre esposa. E pensa:
– Chove muito. Ele não virá.
A doente geme. O marido sofre. Derrepente, pancadas secas na porta de velhas tábuas. O caboclo atende. Ë o médico que chega. O dr. Narciso, em pessoa. E como sempre:- todo vestido de branco. Terno de linho branco. Sapatos brancos, de praia. Meias brancas. Gravata branca numa camisa branca de duro colarinho branco. E – curioso! – cabelos brancos. Entra. Cumprimenta cordial, afável. Como sempre. E atira a clássica pergunta:
– Como vai a nossa doente ?
Vão ao quarto. A alegria do caboclo é tanta que nem repara que ainda está chovendo muito, lá fora, mas, que o querido médico não está molhado. Que seus pés não trouxeram barro do caminho. Que não havia, sequer, um cabriolé à porta. O caboclo nem se lembra de perguntar sobre a maneira pela qual dr. Narciso ali chegara. O médico examina sua paciente. Sorri e afirma:
– Você, compadre, ainda hoje mande aviar esta receita que vou dar. Não precisarei vir mais, entende? Sua mulher está salva. Basta que tome, direitinho, o remédio que receito.
– Sim, senhor, doutor. Ainda hoje...
E, após ter feito a receita, assina e data. Depois, num sorriso paterno, carinhoso, despede-se da sua cliente. E o caboclo:
– Quando é que volta, doutor?
– Não sei – suspirou dr. Narciso.
E vendo que o médico se afastava do quarto, o caboclo:
– Já se vai? Não quer que lhe acompanhe?
– Não – foi a resposta. Para onde vou, preciso ir sozinho.
E a um gesto seu fez com que o marido ficasse junto da doente. E saiu. O caboclo escutou quando a porta se abriu e o ruído foi acompanhado pelo ribombo de um trovão mais forte. A chuva continuava cair...
* * *
A mesma tarde de chuva. O caboclo entra em Araras e percebe o ar de tristeza que envolvia a cidade toda. Ruma, direitinho, para a Farmácia Aurora. Encontra-a fechada. O caboclo pensa que é feriado nacional. Bate ao portãozinho, de lado. A senhora do farmacêutico atende e o caboclo, molhado de chuva:
– Tarde! Vim mode aviar uma receita!
– Meu marido não está. Foi ao cemitério, no enterro... O senhor, se quiser, pode entrar e esperar na farmácia. Não há-de ficar sob a chuva!
– Brigado, eu espero!
Na foto, a Farmácia Alemã, de Paulo Kuhlmann, 1914 (atual Sapataria Buzolin), onde se deu o corrido.
E esperou. Sentado num banco característico da conhecida botica da cidade velha. Veio o farmacêutico. Saudou o freguês, num sorriso. Mas, o caboclo notou tristeza no rosto amigo do simpático farmacêutico. Explicou, ao que vinha, O espanto foi natural:
– Mas, o senhor está certo do que diz? Isso foi hoje?
– Sim, senhor. Hoje... ali pelas duas horas. Depois que ele saiu tomei do cavalo e vim depressa porque ainda hoje devo começar a dar o remédio p’ra mulher!
O farmacêutico não aguentou mais:
– Não posso crer! Nessa hora estávamos fazendo sentinela ao cadáver do dr. Narciso Gomes e ele, de fato, estava inteiramente vestido de branco.., até os sapatos! Se estou chegando do cemitério agora mesmo! Se estou vindo do enterro dele...
É justo! O caboclo empalideceu. Começou a suar frio. Tomou novo alento e estendeu a receita. Ali estava a assinatura autêntica do dr. Narciso Gomes. Ali estava a data assinalada.
Mesmo depois de morto, dr. Narciso, vestido de branco, fora socorrer mais um dos seus pobres. O cabodo estava lívido. E o farmacêutico desmaiou.
S. Paulo - junho de 1953
Mas que imensa alegria ver a história de meu bisavô na Web!
ResponderExcluirHá alguns anos prometi que iria digitaliza-la após visitar o túmulo em Araras onde está Dr. Luis Narciso, meu avô paterno Lula, entre outros antepassados.
Mas com a correria do dia a dia começei a fazer um resumo do livro do Sr. Emílio Wolff apenas este ano.
Em breve vou complementar a história de vida exemplar deste homem iluminado!
Seu bisavô é o nome de nossa Rua em São Paulo SP
ExcluirOlá, gostaria de entrar em contato com vc, sobre a continuação dos trabalhos do dr narciso
ExcluirQue história linda! Ontem converssando com uma vizinha humilde e que é benzederira, pedi a ela que me benzesse e nas suas orações ela pede ao Dr Luiz Naciso gomez.Hoje acordei tão bem e resolvi pesquisar quem seria esse Dr. Estou encantada e feliz de conhecer essa história de vida!
ExcluirMeu bisavô também!
ExcluirQue bom que você tenha gostado da matéria, Simone!
ResponderExcluirQuando vier para Araras, contate pelo Orkut uma amiga minha, a Zanza N R, que o sogro dela está escrevendo outra biografia do Dr. Narciso.
Aqui o endereço dela no Orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#ClickTracker.aspx?sei=CAMQARoFemFuemEgASjS1YVFMAE&sig=676bad8f63a69b25bea19c90aa881bbe&url=%2FProfile.aspx%3Fuid%3D874959185366840487&psg=Xv1AQ4fp6iWCE9VpBcZEZDTbb5U%3D
Vale lembrar que todos os anos, no dia da morte do Dr. Narciso (24/Agosto/1923), o também hoje saudoso locutor ararense Luiz Carlos Dalgé (o Zíze), da Rádio Clube Ararense, lia esta crônica “Dr. Narciso Gomes, vestido de branco”. Muitos sintonizavam o rádio nesse dia, ao meio-dia, só para ouvir aquele vozeirão choroso declamar aquele que foi para os ararenses o verdadeiro “Pai da Pobreza”.
ResponderExcluirele nasceu em araras?
ResponderExcluirpreciso fazer uma pesquisa de um cara q virou lenda, mas q nasceu aki em Araras
Não ele o Dr. luiz Narciso Gomes nasceu na Bahia
ExcluirNasceu em mar grande Bahia
Excluir(...) "Narciso Gomes, médico baiano, domiciliado em Araras, entrou para o diretório republicano em 1908, e foi um chefe político de grande prestígio, tendo sido eleito deputado estadual em 1919. Em 1922, foi reeleito, tendo falecido em 1923. O Dr. Luiz Narciso Gomes, alcunhado 'Pai da Pobreza', por ser muito caritativo, foi o fundador do Hospital S. Luiz, que foi solenemente inaugurado a 11 de novembro de 1908. A Irmandade da Santa Casa foi fundada a 25 de março de 1906; o novo edifício, agora em funcionamento, foi iniciado em 9 de fevereiro de 1915, data natalícia do Dr. Luiz Narciso Gomes." (...) Fonte: Coleção Estado Novo - Municipio de Aráras - 1939.
ResponderExcluirMeu colocou o nome do meu irmão maís velho Luiz Narciso Gomes Neto em homenagem ao avô!
ExcluirFiquei emocionada, Dr. Luiz Narcízo Gomes é meu bisavô também e fiquei de fato tocada com a reportagem e gostaria de saber mais , vi aqui um comentário de Simone que provavelmente é uma prima que não conheço. Mais interessante é saber que meu pai Arlindo Gomes em vida também exercia a mesma função do meu bisavô, foi um médico sem ter estudado e trabalhava com verdadeira dedicação à pobreza! Magnífico!
ResponderExcluirMas o dr. Narciso era médico formado pela Escola de Medicina da atual Universidade Federal da Bahia
ExcluirOla mim chamo Theobaldo Narciso Gomes e é a primeira vez que vejo essa historia ser contada, ele e bisavo do meu pai, gostaria de saber algo mais sobre ele.
ResponderExcluirSimone de onde vc é, tem muita gente da familia de Luiz Narcizo aqui na bahia, onde mora?
ResponderExcluirItapetinga Bahia ele era avô do meu pai, meu bisavô
ExcluirPrimeiramente, nunca devemos explicar por mais o que podemos explicar por menos. Pode ser que o Dr. Narciso Gomes tenha se equivocado ao datar a receita. Pode ser também uma lenda, criada pelo povo num momento de comoção pela perda de tão ilustre médico, político... Onde está essa tal receita? Alguém dispõe do original dela? Sugiro, a quem possa interessar, "A alma NUNCA se separa do corpo" [http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=56032&cat=Artigos&vinda=S]. Que o senso crítico, a evolução das Ciências Humanas, o século 21 etc., sejam respeitados.
ResponderExcluirATUALMENTE, TODOS SABEMOS QUE O MUNDO MATERIAL E ESPIRITUAL SE ENTRELAÇAM, NÃO HÁ COMO DIZER QUE TUDO ACABA COM A MORTE DO CORPO, JÁ ESTÁ MAIS QUE PROVADO, É FATO.
ExcluirOlha, somente pela fé podemos crer que "não há como dizer que tudo acaba com a morte do corpo, já está mais que provado, é fato". Conheço muitas, mas, muitas pessoas que já fizeram muito mais caridade do que Chico Xavier (por exemplo) e nunca apareceram tanto, porque são despojados, humildes, verdadeiros… Se Chico, respeitável como ser humano, está em livros e agora em filmes, é porque ele está diretamente vinculado ao espiritismo. Falou Chico Xavier (no Brasil, um país terceiromundista), falou em impossíveis comunicabilidades do além com o aquém e vice-versa. Gente, estou cansado de implorar, diretamente a Deus, para falar com meus falecidos pais, na minha casa, a qualquer hora do dia ou da noite, sem intermediários, e NUNCA fui atendido. Pergunto: será que sou discriminado por Deus? Não me venham com aquela quixotesca balela de que tenho que “desenvolver a mediunidade”, que aí eu choro…
ExcluirCaro Luiz Roberto, experimente em prece a Jesus pensar em seu pais com todo amor que sente por eles, com as lembranças boas e felizes e vai perceber que vai sentir a presença deles, pois eles estão por perto, basta que entramos em sintonia...não vai ter uma carta psicografada, pois isso requer alguns requisitos que não possuimos, mas com certeza a sua vibração de amor vai até eles e com certeza vc tbém vai receber a vibração deles...eles estão aí muito mais perto do que imagina...
ExcluirAnônimo, somente agora tomei conhecimento de sua postagem/resposta a mim. Vamos lá. É evidente que se eu ficar pensando em meus pais, sentirei a presença próxima deles e isso é muito natural e nada sobrenatural. Quanto aos "requisitos" para uma (im)possível psicografia de meus pais, permito-me perguntar: o que seriam, no seu entender, esses "requisitos"? Olha, adianto que sou muito bem experimentado nisso, então veja lá o que tem a me dizer.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir´Newton, fiquei feliz em achar esta história.
ResponderExcluirEstava pesquisando e a encontrei aqui.
Penso que você não ficará aborrecido por eu ter copiado e colado na comunidade do orkut do IDE de Araras-SP.
Convido você e a todos a fazerem parte desta comunidade.
Abrçs
Fiquei muito feliz com os relatos do Dr. Narciso Gomes, e gostaria de saber mais sobre seus familiares.
ResponderExcluirObrigado, Terezinha! Pode usar a matéria sim sem problemas. Obrigado à todos pelos elogios! A Biblioteca Municipal de Araras tem muitos volumes do livro sobre o Narciso Gomes publicado pelo escrito e pintor Emílio Wolff, "Pai da Pobreza", lançado em 1982. Veja foto do livro aqui: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:vjYbuLLzidkJ:futebolararense.sites.uol.com.br/Cidade/Livros/livros.htm+Pai+da+Pobreza+Em%C3%ADlio+Wolf&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
ResponderExcluirOla Simone, meu nome Theobaldo Narcizo Gomes e o do meu pai é Luiz Narcizo Gomes Neto, desculpe por nao entrar em contato , mas em breve entrarei e gostaria que aqueles que sao parentes se quiserem deixar o msn para facilitar o contato. abraço a todos
ResponderExcluirEu me chamo Claudia Gomes sou neta de Theobaldo Narciso Gomes filho do meu bisavó Luis Narciso Gomes
ExcluirEu quem agradeço a todos! Tenho um sonho de digitalizar o livro que o Sr. Emílio Wolff entregou pessoalmente nas mãos de meu saudoso avô, o "Lula".
ResponderExcluirInfelizmente são poucas cópias, mas é algo que almejo fazer!
Abraço!
Eu me sinto honrrada por ser bisneta de uma pessoa tão ilustre. Dr. Luiz Narcizo Gomes é avô do meu pai Arlindo Gomes. corre na minha veia o sangue de uma pessoa, que dedicou seu amor ao próximo. eu me sinto muito feliz por isso.
ResponderExcluirEu moro em Itapetinga Ba. e fiquei muito feliz quando eu vi a história do meu bizavô na Web. meu nome é Lucimeire santos Gomes.
ResponderExcluirDr Luiz Narciso Gomes
ResponderExcluirAvô do meu pai Arlindo Gomes
Eu e minha neta passamos por proceprocedimento cirúrgico feito pelo Dr.Luiz Narciso Gomes 27/10/2018
ResponderExcluirSou Tataraneto de Luís Narciso Gomes ,e é com muita emoção e alegria que leio os comentários a seu respeito. Obrigado povo de Araras pelo carinho com meu tataravô.
ResponderExcluirDr. Narciso Gomes era avô da minha mãe, Dalva Gomes, já falecida, que era filha de Daniel Gomes. Aqui na Bahia,a família que ele tinha, antes de ir para São Paulo.
ResponderExcluirTenho interesse em adquirir o livro Pai da Pobreza. Onde encontro?
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