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domingo, 9 de outubro de 2022

REGIME MILITAR: TEMPO DE PAZ, AMOR E MASSAVILHAS…

Eu tenho inúmeras coleções de revistas de rock dos anos 70 e 80, e Ditadura era um assunto que raramente entrava nas pautas das reportagens e os músicos mal se referiam à ela, pelo contrário, só falavam maravilhas... Motivo: todo mundo tocou, compôs, fez shows, gravou, foi nas TVs, e curtiram adoidado a Contracultura. 

Aconteceram problemas? Certamente que sim, mas raros problemas graves, e se aconteceu, é porque o músico ou a banda se envolveu em subversão e comunismo, cutucando a onça com vara curta. O próprio Osvaldo Vecchione do Made in Brazil (o show do tanque) admitiu que erraram ao cutucar os militares com seu show “Massacre” e foram censurados! 

Oras, e o Alice Cooper - o inimigo público nº 1 dos EUA, o terror das famílias conservadoras e tradicionais norte-americanas, à violência explícita, cobras, espadas, guilhotina, camisa de força, etc. e os militares não deram um pio, inclusive, a banda teve de fazer um show especial para eles e, até o momento, nada consta de repressão ou censura! Aliás, crianças foram aos shows! E, então?! 

E, por outro lado, o que dizer das vigilâncias do Regime Militar contra os avanços do comunismo, que estimulou a criatividade dos músicos daqueles tempos, em especial os da MPB? Quantas obras primas não foram criadas e inspiradas por aquela situação? Pois é…

Na verdade, o grande problema da maioria das bandas de rock brasileiras eram as gravadoras, pois era muito difícil gravar e dar continuidade à vida e ao projeto da banda. A maioria das bandas acabou por isso, por não poderem registar expor suas obras (não comerciais = não vendáveis) ao País. Mesmo assim, havia shows a rodo e festivais ocasionais por todo o País, suprindo a galera ávida por rock. 

Agora, computando no geral, depois de tudo passado, alguns músicos daquela época querem inventar falsas narrativas falando horrores do Regime Militar, como se tivessem esmagados por uma máquina! Menos, menos!... Ponham a mão na consciência! Obviamente, houve delegados e militares preconceituosos com “cabeludos vagabundos e drogados” que agiram arbitrariamente e, sem o aval (e até conhecimento) dos superiores, agiram à sua maneira, fazendo muita gente ser presa por arruaças e drogas, bebedeiras, ter o cabelo cortado e banho forçado etc., mas eram casos isolados e não rotineiros. Uma grande verdade é que havia muita “neura” em relação aos “óme”... 

Vale lembrar de compositores inteligentes e letristas notáveis, como, p. ex., o Chico Buarque e o Gonzaguinha, que apesar de muito censurados, conseguiam driblar a Censura e falar de forma cifrada o que bem entendiam. Definitivamente, militarismo não era tema recorrente no rock setentista brasileiro, e quem protestava contra a guerra (Vietnan) bem sabemos de que pátria era. Nossos rockeiros tinham mais o que fazer, falando das massavilhas da Contracultura.

Que se fique claro: uma coisa era a temática “sexo, drogas & rock’n’roll” dos rockeiros; outra, bem diferente, as dos cantores de música de protesto, vide Vandré, Sérgio Ricardo, João do Vale etc., e geralmente eram este que arrumavam encrenca com o Regime, portanto, convém não misturar as coisas!

Já li depoimento memoriais e bibliográficos da maioria das bandas e artistas de rock setentistas, e quase todas passam ao largo do assunto ditadura, provando que nada ou pouco sofreram.

Oras, a maioria dos brasileiros conterrâneos daqueles criativos e fecundos tempos de paz & amor tem uma admiração e saudade danada de tudo o que viveram, e, tenham a certeza, que se houvesse uma máquina do tempo, podem crer que os rockeiros brasileiros eram os primeiros da fila para retornar àquelas massavilhas!