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sábado, 25 de outubro de 2008

A FILOSOFIA MOLEQUE, DO MESTRE GONZAGUINHA

Esta postagem - capítulo de um livro meu com textos extraídos de criações minhas no Orkut -, é dedicado a minha querida Duda Souza, amiguinha que, em nossas brincadeiras, me faz sentir criança de novo. É na agradabilíssima "tarefa" de brincar com essa querida pessoinha que consigo reviver e enxergar melhor o menino que ontem fui, bem como entender o que é o fascinante mundo das crianças.

Houve gente que após ler o prefácio do primeiro livro, em que meu biógrafo se referiu à mim como “moleque”, e pensou que ele estava usando esta palavra no sentido literal, e me colocou como um adulto que não cresceu, sujeito ingênuo e até mesmo irresponsável!... kkkkkk... Nos textos que se seguem, vou dar algumas explicações e desfazer alguns falsas interpretações aos equivocados que vêem a coisa por este viés caduco. O “moleque” a que ele se referiu, é, sem pretensões de minha parte, o moleque que viveu e vive dentro dos artistas e personalidades como, p. ex., o Ziraldo, Mozart, Ronald Golias, Einstein, Picasso, Spielberg, Gonzaguinha, etc. Na foto inserida aqui, há a letra de uma música do Gonzaguinha, “Por aí” (disco “Moleque”), que é um mote existencial dele, e um lema para mim: o teor deste verso é uma alegoria e tem a ver com a sua postura artística (e guerreira) em meio aos “anos de chumbo”, em que batia de frente com a Ditadura. Junto das fotos seguintes há outros textos sobre a “psicologia” Moleque.

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Em um número especial da extinta revista Música dedicado ao Gonzaguinha, lia-se: “Este homem simples – e ao mesmo tempo complexo, na sua simplicidade –, que se auto-define como um moleque é mais que nunca um 'homem que tem o topete de cutucar qualquer vespeiro, que desafia tudo o que é imposto' e que encara a vida como uma coisa real, 'dura e difícil', mas que crê 'nos valores da pessoa humana’”. Ele próprio se define: “Moleque eu fui. Moleque eu sou. Moleque serei...” E ser moleque, para ele, “é estar sempre à vontade, em qualquer lugar, bem descontraído. Aprontar um monte de coisas, algumas delas sem pensar e outras bem maquinadas. Ser moleque é criar e viver todos os momentos da vida e estar à vontade em todos os lugares. (...) Minha infância foi passada no Estácio, onde eu pegava rabeira de caminhão, subia em muro e roubava fruta no pomar do vizinho. Com essa infância, o quê que poderia me tornar?”. Na ilustração, o selo da editora musical “Moleque” criado por ele.

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Cita-se q/ o escritor Fernando Pessoa era como uma criança q/ não cresceu. O escritor Otto Lara Resende disse: “Há em mim um velho que não sou.” Pablo Picasso afirmou: “É preciso muito tempo para se tornar jovem.” Já o filósofo dinamarquês Soren Kierkgaard era da opinião que “A verdadeira maturidade é atingir a seriedade de uma criança brincando”, opinião semelhante à de Nietzche: “Ser maduro é reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar”. Richard Steele, escritor irlandês, sentenciou: “Jamais envelhece quem guarda a criança dentro de si.” Voltando no tempo, cito Arquimedes: “Brincar é condição fundamental para ser sério”. Fernando Sabino, em seu livro “O Menino no Espelho”, usou a seguinte epígrafe: “Quando eu era menino, os adultos perguntavam: – 'Que é que você quer ser quando crescer?' Hoje não me perguntam mais. Se perguntassem, eu responderia: 'Quero ser menino'.”

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Agora, leiam, do mesmo Fernando Sabino, esta pérola sobre o assunto: “Para conquistar a condição de adulto, o ser humano tem que trocar a inocência da criança pela experiência do homem feito. A partir desse momento, todo o seu empenho deve se voltar para desaprender o que aprendeu e recuperar a inocência perdida e tornar a olhar o mundo com os olhos lavados de pureza, de quem vê a vida pela primeira vez, como os da criança que ele foi. Como quem renasce a cada manhã. Os santos, os loucos, os mendigos, os perseguidos, os humilhados e ofendidos chegam lá mais depressa.” Já o poeta José Paulo Paes, escreveu: “Para ser poeta é preciso ver o mundo como a criança o vê: com os olhos de novidade.” Outro poeta, o Mário Quintana, ao ser perguntado sobre o fato de “ser sempre uma criança”, respondeu que “é preciso nunca perder a criança que se tem dentro de si.”

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Quanto à mim, sou moleque por que eu não traí a criança que ontem fui – em tudo o que acreditava antes eu ainda acredito e não perdi o espírito de aventura, e me acompanha uma vontade natural de esbanjar dinamismo e energia. Não se pode abrir mão do que é bom e saudável, como subir em árvores, telhados, muros e montanhas, correr, nadar em rios, andar de bicicleta, atirar de estilingue, bater uma bola na rua, soltar papagaio, acampar, curtir a natureza, uma fogueira, um luau, em suma, não perder a capacidade infantil de se divertir e se maravilhar. Oras, e o futebol, não é uma brincadeira infantil elevada à categoria de esporte, ou seja, 22 marmanjos correndo atrás de uma bola de capotão?!... Qualquer esporte tem suas raízes na infância, carregando consigo parte daquela ingenuidade de “ser melhor que o outro”, “ser mais forte”, “correr mais rápido”, etc. Mas uma das coisas mais estúpidas q/ se vê são esses torcedores fanáticos que brigam e até matam seus “rivais”, e por quê? Simples: perderam o espírito infantil da brincadeira saudável que é o esporte.

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Enfant terrible, pero sin perder la ternura: na foto, V-Newton em seus tenros anos: de japona gola alta, topete com brilhantina, e, dá um close na pose de "pancudo", o olhar destemido, o dedinho colocado malandramente no bolso.. o sapato bicolor!... kkkkkk... - aos 5 anos, e como diria o Gonzaguinha, já “tendo o topete de qualquer barra encarar”!... Ser “moleque”, é fazer parte também da filosofia da comunidade do Orkut “Aproveito a vida prá caralho” ou a “Carpe Dien”; ser “moleque”, é ser um malandro sem sê-lo, como ensinava o velho Kid Morengueira - o rei do samba-de-breque; ser “moleque”, é ser um autêntico italiano, para quem o casamento só deve vir depois do 50, ou seja, extrair todo o sumo da juventude!... Em se falando de mulheres, a bela Marylin Monroe, por exemplo, era considerada uma “moleca” pela crítica porque dizia-se que ela conservou a chamada “emotividade poética” após a adolescência. Enfim, “ser moleque” é “seja moderno (ou pareça ser) ou pereça”. Um trecho de uma música do finado Jessé diz tudo: “Brinca com o tempo/ Tem o tempo na mão”...

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Quem se sente jovem, não tem a necessidade de resgatar a juventude. Comigo não tem essa de “no meu tempo...”, mas sim, meu tempo é aqui e agora, e sempre, melhor dizendo, “infinito enquanto dure”. Aqui, o desabafo do personagem Kevin Arnold (foto), da série “Anos Incríveis”, que foi citado no episódio “Coda”: “Quando somos crianças, somos um pouco de cada coisa. Artista, cientista, atleta, erudito. Às vezes parece que crescer é desistir destas coisas, uma a uma. Todos nos arrependemos por coisas das quais desistimos. Algo de que sentimos falta. De que desistimos por sermos muito preguiçosos, ou por não conseguirmos nos sobressair, ou por termos medo.” Steven Spielberg, cineasta, em 1996 disse no Estadão: “Sofro de síndrome de Peter Pan – não quero crescer. Eu não acho que é um valor negativo se sentir jovem e querer fazer filmes que fazem as pessoas se sentirem jovens.” Outro televisivo, o humorista mexicano Chaves (Roberto Bolaños), revelou o seu ideal de vida: “Envelhecer sem nunca perder a juventude.” Já o Vinícius de Moraes disse certa vez que “o jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.” Coisas de poeta...

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Este depoimento é de Pedro Bandeira (foto), o autor de Literatura Juvenil mais vendido no Brasil, em entrevista para o estadinho de 30 de junho de 2007:
– “Como é a criação do seus personagens? Algum deles foi inspirado nos filhos e netos?”
– “Os personagens nasceram da observação, de todas as crianças e, principalmente, da criança que eu fui e que ainda mora em mim. Eu tenho 65 anos, mas eu tenho 2 anos, 3 anos, 5 anos, tudo que eu fui eu ainda sou.”

O maior leitor e maior bibliófilo do Brasil, o grande José Mindlin, 93 anos, ao ser interrogado por uma criança de 6 anos no Caderno 2 do Estadão, em 4 de outubro de 2007:
– “Porquê você resolveu conversar com crianças?”
Ele respondeu:
– “Eu ainda tenho muito de criança dentro de mim, de modo que gosto de ouvir o que outras crianças têm a dizer. Conversar com você me dá muito prazer.”

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Em 1-7-2007, o Estadão entrevistou alguns motoqueiros, ops, motociclistas. O tom da reportagem era provocativo: “o que esses tiozões fazem agindo como adolescentes?” Um deles, o Vicente, disse: “Idade não é número. (...) Eu tenho espírito jovem, gosto de rock, acampamento, me sinto bem e tenho pique para isso.” Velho p/ ele é seu filho de 19 anos. “Ele estuda Direito, só anda de terno e ouve música clássica. Parece que tem 60 anos.” Sobre a música q/ ouvem, perguntou-se: “Mas, vem cá... não enjoa não: Mais de 20, 30 anos ouvindo as mesmas músicas? Outro, o Pateta, foi incisivo: “Que nada. Tem música que não dá para esquecer.” Trovão, 50 anos, lembrou q/ por mais jovem q/ seja, o mundo real exige seriedade e caretice às vezes, leia-se emprego e casamento. Mas do alto do seu meio século de existência, e mesmo realista, ele ñ entregou os pontos:“Já fui moleque, adolescente, jovem. Mas nunca abandonei meu lado motociclista.” E a reportagem fechava-se assim: “Afinal, com a maioridade, vem a maturidade.”

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Aqui, outras celebridades dão seu parecer sobre o assunto: “Meu corpo é velho, mas minha mente não acompanha. Quando eu tiver setenta anos, então vai acabar esta minha adolescência.” (Paulo Leminski, poeta paranaense, poesia sua ao lado). Leo Rosten, em Captain Newman. M. D., escreveu: “Compreendemos melhor as pessoas se as olharmos – por mais idosas ou imponentes ou importantes que sejam – como se fossem crianças. Pois a maioria dos homens nunca amadurece: apenas cresce.”. Simone de Beuvoir (1908-1986) dizia algo semelhante: “O que é um adulto? Uma criança de idade.” E esta, antiqüíssima, de Marcial (40-102), poeta e aforista hispanolatino: “Um homem bom é sempre um homem iniciante”. Para fechar este bloco, mais esta, do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007): “Toda a minha criatividade provém de minha infância”(...) A razão por que apreciam o que faço é que sou uma criança e assim me dirijo à platéia.”

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Alguns acham que têm um lado negativo isso de ser “adulto-criança”. Veja este texto, extraído da revista “Viva Melhor – Como você recebe uma crítica”: “O modo como cada um reage tem a ver com coisas muito antigas. Ana Verônica afirma que são resquícios pré-verbais, ligados ao processo de socialização: há pessoas que não suportam a idéia de perder os privilégios da infância. Já adultas, essas pessoas não conseguem lidar com as dificuldades, e todos os obstáculos geram muita raiva. É como se alguém quisesse lhes roubar o direito de viver em paz, sem problemas, como na infância...” Fecho esta série com uma bonita frase, porém, infelizmente, ela é de autoria de uma pessoa no mínimo suspeita: Mark David Chapman, nada mais nada menos que o assassino de John Lennon: “Quando uma criança se torna adulta, ela vira um impostor em nove em cada dez casos. Eu nunca virei um adulto”...

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E, para finalizar, transcrevo aqui uma passagem muito especial da Bíblia, extraída de S. Mateus 18,1-5.10, que tem como tem a criança com tema: “Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos Céus?’ Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: ‘Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe. Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus vêem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus’.” Na foto, eu e a minha querida Dudinha, em nossas intermináveis brincadeiras noite afora no jardim Maria Lúcia, tirando o sono dos vizinhos...
Fecho estes escritos com uma frase do grande poeta e escritor inglês, Percy Shelley (1792-1822): “Os meninos se alegram de parecerem homens; e os homens choram porque deixaram de ser meninos.”
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