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Vandré, no exílio europeu em 1970. |
O
Geraldo Vandré encerrou carreira em 1973, e certamente nunca mais voltará, por
nada neste mundo, por dinheiro nenhum, nem que lhe paguem mais que ofereceram
pela volta dos Beatles. Pensando bem: ele encerrou carreira ou ela está em
aberto? Em se tratando do excêntrico Vandré, tudo se pode esperar...
As
vezes eu fico pensando na qualidade do novo material que o Vandré poderia ter
colocado no mercado, e chego a desconfiar que ele havia se esgotado e, por isso
mesmo, encerrou carreira, mas, obviamente, a coisa não era bem assim.
Victor Jara (1932-1973) |
Se
analisarmos claramente, veremos que ele abandonara o lado romântico e
bossanovista (em que ele também era ótimo) da virada dos anos 50/60 e partira
depois para o Novo Regionalismo (ou Música de Protesto) junto com, p. ex., o
Sergio Ricardo, mas, finalmente, entrara de cabeça naquele estilo chileno (que
muita gente acha que é estilo original dele, mas, infelizmente não é) e foi até
o final com ele. Ouçam a ótima Quilapayún, uma banda chilena de música
folclórica, e constatem como o Vandré tem muito do estilo. Há quem diga que
Victor Jara ─, o maior cantor chileno ─ é “o Vandré do Chile”, mas eu acho que é
o contrário: é o Vandré que é o Victor Jara do Brasil... Numa incrível
coincidência, nosso grande vate encerrara carreira no mesmo ano em que a
ditadura chilena matou Jara, inclusive chegando antes ao horror de decepar suas
mãos com um facão!
Das Terras de Benvirá, gravado na França, 1970. |
Andei
ouvindo outras gravações do período e era, com todo o perdão da colocação, a
mesma ladainha chilena de sempre, aquele estilo de “Caminhando” ou
"Réquiem para Matraga”, sempre baseado em poucos acordes. “Fabiana”, uma
de suas últimas canções (dos anos 90) ─ que por sinal tem uma poesia que eu
acho absurdamente linda, num estilo que só ele tem ─, me decepcionou melodicamente
falando, pois é mais do mesmo. Neste período final de sua carreira, a impressão
que se tem é que ele se viciou neste estilo ou não conseguia mais fugir dele
Haveria o Vandré se esgotado e não conseguia mais compor nada que fosse além de
três acordes neste gênero chileno? Assim sendo, talvez um novo material seu
correria o risco de se mostrar enfadonho, porém, quem ouve dele por exemplo
“Depois é só chorar”, sabe das coisas complexas e tocantes que ele era capaz de
compor mesmo sendo um violonista de modestos recursos.
“Das
Terras de Benvirá”, sua ultima gravação ─ que eu acho soberba ─ é seu canto do
cisne, e ela é incrível por vários motivos: um disco impressionantemente
acústico e composto basicamente com músicas de dois acordes, variando nos
estilos nordestino e chileno ─ imaginem um disco feito totalmente com dois
acordes: isso é Vandré, isso é “Das Terras de Benvirá”! Penso que nunca ninguém
deste país, na amargura do exílio, compôs um disco tão intenso, a um tempo
amargurado, revoltado, agressivo e terno. “Saudades do Brasil” do Tom Jobim é
lindo, mas esse disco do Vandré é, parodiando o nosso hino, “um choro intenso”!
Ele sussurra, geme, grita e berra, talvez de saudades do Brasil, e com aquela
voz que só ele tem: inimitável, máscula e depurada como nunca. Aquela gravação
numa TV alemã em 1970 (foto) mostra bem isso, aquela intensidade interpretativa que só
ele tinha.
Esquecendo
o Jara, talvez o Vandré fora – em que pese a comparação, mas querendo nivelar
por cima ─ o melhor e mais original equivalente ao Bob Dylan que tivemos no
Brasil!
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