No livro Rio Claro Sesquicentenária lançado pelo Museu Histórico e Pedagógico “Amador Bueno da Veiga” de Rio Claro em 1978, encontra-se a informação de que o D. Pedro II, em companhia da Imperatriz Thereza Christina, visitou Rio Claro pela primeira vez em setembro de 1878 com o propósito de conhecer o ramal férreo da Cia. Paulista de Campinas a Rio Claro, inaugurado em agosto de 1876. Em outro trecho diz:
“As nove horas da manhã, SS. Majestades, após um lauto desjejum, seguiram viagem no trem imperial para a cidade de Araras, com a promessa de D. Pedro de aqui voltar, pois, conforme declarou, foi muito bem recebido e tratado
Era o dia 21 de setembro, ocasião em que o Barão de Araraquara, José Estanislau de Oliveira, foi condecorado com o título de Visconde de Rio Claro. O Imperador vinha para a região após ter participado da Exposição Internacional da Philadelphia em 25 de junho 1876. Dois meses depois, em novembro de 1876, o “grande passeador” viajava em visita ao Líbano, a Síria e a Palestina. No ano anterior, em 20 de agosto de 1875, ele participou da inauguração do trecho de ferrovia que ligou Jaguariúna à Mogi Mirim.
A segunda visita de D. Pedro II à Araras se deu em 7 de maio de 1887. Foi quando Bento de Lacerda Guimarães e se irmão José receberam os títulos por decreto imperial de Barão de Araras e Barão de Arari, respectivamente. Nesta mesma data, Joaquim Egídio De Sousa Aranha, que era presidente da Cia. Paulista, construtor da Estrada de Ferro Jundiaí a Campinas foi também condecorado, recebendo a comenda de Marquês de Três Rios, e ainda condecorado com a Grã-Cruz da Imperial Ordem de Cristo. Foi rico proprietário urbano e rural, e destacando-se a fazenda Santa Gertrudes, no município de Rio Claro, mas não há informaçõe se ele foi condecorado em Araras ou Santa Gertrudes. Sabe-se que D. Pedro, no final de outubro do ano anterior, esteve na região visitando Limeira, quando se hospedara no palacete da fazenda Morro Azul, propriedade do senhor Rodrigo Brandão.
Para enfatizar os estreitos laços que o monarca tinha com algumas famílias de fazendeiros ararenses, relembro que em sua última passagem por São Paulo, em 1887, D. Pedro II fez questão de visitar em seu palacete a matriarca Da. Veridiana Valéria da Silva Prado, proprietária em Araras das fazendas Campo Alto e Engenho Velho.
Cita-se que após a inauguração da Igreja Matriz “Nossa Senhora do Patrocínio”, em janeiro de 1881, sua importância e a repercussão foi tamanha que Dom Pedro II aproveitou para conhecê-la. O prédio é uma réplica exata da Igreja de São João de Latrão, de Roma. Cita-se também que, a pedido de seu filho, o Barão de Araras aproveitou essa visita de D. Pedro II para libertar seus escravos.
À época dessa visita à Araras, o Imperador estava com 62 anos e doente de anemia – “parecia um velho consumido, marcado por rugas profundas, um olhar perdido e a imensa barba branca”. Após esta visita à nossa cidade, ele partiu para a Europa em 30 de junho para cuidar da saúde debilitada.
O professor Vicente Ferreira dos Santos, em sua coluna Cigalhos publicada na Tribuna do Povo, foi o historiador que mais escreveu sobre esta segunda visita, porém, estranhamente, disse estar presente no evento que ocorrera doze anos antes de ele ter nascido (1898) e mais, cita (com detalhes!) que não só viu a Imperatriz como também beijou sua mão... Nos seis textos seus publicados que usei para compor esta reportagem, além das inverdades, Vicente também se equivocou nas datas.
Em 6 de fevereiro de 1956, o jornal Semanário de Araras entrevistou um cidadão ararense que realmente presenciou a segunda visita do Imperador à Araras – o senhor João Antonio Eliseu –, nascido em 25 de janeiro de 1875. Também equivocado na data, citou que a visita se deu na mansão de Bento Lacerda de Guimarães, que se tornaria o futuro Palácio Hotel, hoje Banco Itaú.
Ele escreveu:
“Vi D. Pedro II, quando da sua visita à nossa terra, isto em 1885 mais ou menos. O Imperador veio de trem, sendo recebido na estação da Cia. Paulista de nossa cidade pelo Cel. Justiniano, que para servir a nobre visita mandou vir um carro tipo Cupê, todo de vidro, bem como uma parelha de cavalos argentinos, que transportou o imperador através de nossa cidade, indo parar no Palácio Hotel para o almoço, e em seguida levou-o à Fazenda São Joaquim, de propriedade do referido Cel.”
Disse ainda que o cocheiro foi o senhor José (Juca) Pinto, e complementou:
“Foi uma festa e tanto, que naquele tempo foi a que mais gente reuniu em nossa terra.”
Lilian Schwarcz também diz que
“Com D. Pedro II viajavam, também, os rituais monárquicos e alguns cerimoniais: disposições e provinciais para a chegada do soberano a diferentes cidades, as recepções grandiloqüentes em seu retorno à corte; nestas, os moradores eram instruídos a iluminar a frente de suas casas e a orná-las com tapeçarias, ao mesmo tempo que as ruas pelas quais passasse o cortejo imperial deveriam ser areadas e juncadas de folhas e flores”.
Nestas visitas era costume também hastear
“bandeiras, missa e te-deum, bandas de música, repique de sinos e lencinhos de cambaria agitados no ar. (...) Gastava-se muito dinheiro nessas ocasiões. Costumavam-se construir palanques, decorar toda a cidade, assim como se comunicava com antecedência a roupa apropriada para as recepções”.
Ainda segundo Vicente Ferreira dos Santos, a estrada por onde o monarca passou quando se dirigiu à Araras (ao que parece, na segunda visita), ficou conhecida na época como Estrada do Imperador. Ela partia da fazenda Remanso – onde ele se hospedara – passava pela fazenda Paineiras, e ao entrar no bairro do Facão, ia ladeando a estrada de ferro até chegar à estação, por onde seguia pela atual avenida Washington Luís indo desembocar no entroncamento das atuais ruas Liberdade e Nunes Machado, por onde tinha acesso ao centro da cidade. Portanto, quem passa atualmente pela avenida Limeira (“estrada do Facão”), está se deslocando por esta via onde o Imperador com sua carruagem real e a guarda de honra passaram há mais de um século atrás. A fazenda Remanso, à época, pertencia ao político Bento Francisco de Paula Souza, por sinal, então deputado na Assembléia Legislativa.
Mapa por Wenilton Daltro
Já o historiador Nelson Martins de Almeida citou que o Imperador, quando de sua visita, plantou uma palmeira-real (Roystonea oleracea) na fazenda Montevidéu, mas não especificou a data do feito. Esta palmeira, da qual restou o tronco, fui fulminada por um raio anos atrás. Como se sabe, todas as palmeiras-reais distribuídas pelo país que no século XIX vieram ornar as fazendas do baronato do café, são filhas das palmeiras-reais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro criado por D. João VI, palmeiras estas biopirateadas à mando deste monarca, que incumbiu um oficial da Real Armada Portuguesa de “subtrair” 20 caixotes do Jardim de
D. Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina ainda estiveram outras vezes na região: em 1877, ou 1878, segundo outra fonte, o monarca visitou Pirassununga, quiça na mesma data em que esteve em Araras; anos depois, em 31 de outubro de 1886, fizera uma rápida visita à Descalvado, e em 7 de novembro domesmoano retornara novamente à Rio Claro, donde partiu para São Carlos do Pinhal (na foto, na citada data, D. Pedro II
É possível que no diário que o Imperador escreveu – lançado pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – sejam encontrados mais dados sobre estas viagens empreendidas à nossa cidade, bem como hajam fotos em seu acervo particular. Também, uma consulta mais atenta às atas da Câmara Municipal desse período, bem como aos arquivos da fazenda São Joaquim, onde ele esteve hospedado, talvez revelem outros pormenores.
BIBLIOGRAFIA (23 fontes, consultar o autor)
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