Até poucas décadas atrás, era comum a maioria dos países distantes terem um conceito totalmente equivocado sobre o Brasil, achando-o um país selvagem onde só havia mato, índios, cobras e onças. Esse mal é oriundo dos tempos coloniais, com os exploradores e cronistas dizendo coisas mirabolantes sobre o Brasil em seus livros lançados em seus países de origem. Muitas das gravuras antigas que foram retratadas em seu livros possuem imagens exageradas sobre nosso país, desvirtuando os costumes da cultura indígena.
Num livro escrito sobre o Brasil pelo pastor, missionário e escritor francês Jean de Léry (Côte-d'Or, c. 1536 - Suíça, c. 1613), encontra-se, desde a primeira edição de 1578, uma gravura na qual se distinguem diversas representações do fantástico, tais como dragões, demônios atacando os seres humanos e, bem caracterizando o "Novo Mundo", um enorme bicho-preguiça. Até mesmo os peixes voadores assumem proporções irreais em relação aos demais elementos da cena (ver graura abaixo).
Um dos poucos e pioneiros a falar bem do país foi o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt, que ao ver Manaus na época da borracha, comparou-a às melhores cidades de sua terra, o que se deu em 1913. No entanto, em 25 de março de 1931, tivemos uma outra recaída quando o Brasil recebeu a visita de do Príncipe de Gales, o rei George e seu irmão Edward. Segundo a escritora Ivan Thaumaturgo, ambos vieram "fardados de branco, com capacetes, como se o Brasil fosse uma selva. Essa indumentária indignou nossa fibra patriótica. As pessoas comentavam que eles deveriam estar esperando desembarcar no meio de animais selvagens."
O
famoso sertanista Hermano Ribeiro da Silva, nascido em Campinas, em excursão em
ao interior de Goiás, em 1932, portanto no ano seguinte à vinda do rei George,
procurou desmentir afama de o Brasil ser um país infestado de cobras:
“Ao
subir a rampa, se não é Raimundo gritar em tempo, quase piso sobre uma
jararacuçu. A gente, nos sertões, deixa de precaver-se das cobras porque
somente aparecem com raridade. Semelhante fenômeno contradita o que geralmente
se pensa lá fora, na visão que estabelece terrível e permanente ameaça das
serpentes nas regiões inóspitas do país. Aqui a multidão das seriemas, dos
lagartos, dos pássaros cauãs e de tantos outros inimigos das cobras combate-as
incessantemente, de maneira que o perigo apenas existe em grau bastante
reduzido. Em todas as excursões que realizei venho observando esse fato, que já
Up. de Graff consignava no interessante livro sobre ‘Os caçadores de cabeças’,
escrito no período dos 7 anos em que viveu na Amazônia. Afrânio do Amaral, o
ilustre cientista que dirige o Instituto Butantã de São Paulo, escreve com a
autoridade dos seus conhecimentos as seguintes palavras a propósito do
assunto: ‘De acordo com as estatísticas do Instituto do Butantã, verifica-se
que, ao contrário de estar diminuindo em São Paulo e no sul do Brasil em geral
a densidade da população ofídica, parece que está aumentando pari-passu com o desenvolvimento
agrícola que se tem observado nessa região. Efetivamente, há alguns anos eu
venho mostrando, em trabalhos publicados na América do Norte e entre nós, que a
crença de serem as nossas florestas infestadas de ofídios é absolutamente
infundada, pois nelas esses répteis encontram muitos inimigos e inúmeros
concorrentes na luta pela vida. Logo, porém, que se derrubem as florestas e se
iniciam as queimadas, e as culturas dos campos, não somente se destroem quase
todos os inimigos das serpentes, mas também se propicia a vida, dos ofídios,
core o estimulo que passa a receber a criação dos roedores. Esse fenômeno,
observado em São Paulo e nos Estados vizinhos, foi por mim assinalado no
sudoeste dos Estados Unidos e na América Central, e está sendo registrado na
Austrália, em Dava, na Índia, no México e em outros regimes tropicais e
sob-tropicais do lobo’.”
Quando os repórteres suecos entrevistaram o jogador Pelé na copa da Suécia em 1958, perguntaram para o rei se havia cobras no Brasil e se a capital era Buenos Aires... O que eles não se tocaram é que os tais “animais” estavam debaixo do próprio nariz deles: a nossa seleção totalmente composta por cobras da bola...
Parece mal de escocês: quando o rockeiro Dan McCafferty, cantor da banda escocesa Nazareth veio receber disco de ouro no Brasil, em 1975, pela vendagem do compacto “Love Hurts”, numa coletiva para a imprensa, surpreso pelas vendagens do disco em nosso país, ele disse: “Eu achava que aqui no Brasil não existisse nem vitrola!” ...
Em 1974, quando o midiático Hans Donner veio ao Brasil, e aqui arranjou um emprego na Globo, na Áustria “Todos diziam: você é louco de trocar a Áustria por um lugar de bananas e macacos”, recorda-se.
Quanto aos suecos, o que eles precisavam saber é que, além dos cobras da seleção, houve uma outra cobra que aqui no Brasil deu o maior ibope: exatamente a jibóia do Alice Cooper... Neste mesmo ano, saía uma matéria na revista POP, onde uma garota baiana de Salvador, Rosana de Almeida, 16 anos na época, mostrava-se indignada com o que a revista Circus escreveu sobre a passagem de Alice Cooper no Brasil. Aqui, inédita na Internet, a polêmica matéria:
O BRASIL, SEGUNDO OS SOBRINHOS DA TIA ALICE
“O que eu tenho pra dizer é importante e interessa a todo mundo. Estou voltando dos EUA (morei alguns meses em Rochester, Michigan) porque não agüento mais de saudade daqui. Bem, mas vamos ao lance. Lá existe uma revista chamada Circus, que publicou uma reportagem sobre a excursão de Alice Cooper ao Brasil. O título? Alice Assaults Brazil! (Alice Ataca o Brasil!) Pra começar, eles falam do Brasil de um jeito que, quem lê, pensa que o nosso pais não passa de uma selva, com índios, cobras e feras. Não estou dando uma de patriota, mas o caso é que dá raiva ver esses caras dando uma idéia, completamente errada do que a gente realmente é. Eles dizem que na ‘Terra do Amazonas’ a macumba é uma religião ainda mais importante que o catolicismo, e que a vinda de Alice foi para nós o maior acontecimento, desde que os portugueses descobriram o Brasil, há quatro séculos (vejam só). E dizem mais: ‘São apenas dez horas daqui ao Rio de Janeiro de avião, mas dez anos no tempo. Para o rock. o Rio ainda está na Idade da Pedra. Contando com apenas dois ou três grupos de rock, a juventude daquele pais depende totalmente dos Estados Unidos’. E continuam: ‘A industria de discos na América do Sul é tão pobre, que os discos brasileiros só podem ser ouvidos três vezes, pois ficam tão estragados que têm de ser jogados fora’. E falam que a visita de Alice Cooper foi uma loucura, um escândalo, que até parecia que ele era um ser de outro planeta. Está certo, acredito que deve ter sido realmente uma loucura ver Alice, mas duvido que tenha sido esse escândalo que eles falaram. E mesmo que fosse, eles esquecem que lá fora é a mesma coisa, ou até pior: em abril, na Inglaterra, a loucura foi tanta num show de David Cassidy, que uma garota de 14 anos morreu de ataque cardíaco, e mil outras saíram feridas, pois queriam agarrar o homem de qualquer jeito... Os brasileiros é que são monstros, eles não... Enfim, essa é a idéia que eles têm aqui: uma terra de selvagens.”
E a POP acrescentava:
“O que a Circus não disse, Rosana, é que o ‘cavalheiro’ Alice Cooper e seu grupo de ‘civilizados ‘fizeram misérias e causaram mil estragos nos hotéis por onde passaram, em São Paulo e no Rio.”
Tem outra coisa que os suecos e norte-americanos não sabem: na década de 1950, muito antes da Tia Alice (como Alice Cooper era carinhosamente chamado no Brasil) vir desfilar aqui com sua jibóia, a gostosona da dançarina capixaba Luz del Fuego (Dora Vivacaqua) já barbarizava num palco dançando com uma jibóia... E tem mais, a belíssima Luz Del Fuego criou no Brasil o primeiro clube de nudismo de que se tem notícia, na ilha do Sol em Paquetá!... Esta, enfim, era a verdadeira entidade selvagem urbana que a Circus desconhecia...
E já que falamos de rock aqui, convém lembrar do grande sucesso de Rita Lee, a música Luz Del Fuego, dedicada à polêmica dançarina:
“Eu hoje represento a loucura
Mais o que você quiser
Tudo que você vê sair da boca
De uma grande mulher
Porém louca!”
Mais o que você quiser
Tudo que você vê sair da boca
De uma grande mulher
Porém louca!”
Na verdade, no retorno da banda aos EUA, não houve sérias intenções de banda escrachar o Brasil, aliás, os show do Palácio das Convenções foi considerado o maior show já realizado por eles, que atingiu seu recorde de público, cerca de 80 mil pessoas, e também um recorde mundial em apresentações em recinto fechado, inclusive com direito à inclusão no livro Guinnes Book. E mais, neste retorno, o próprio Alice Cooper se encarregou de propagandear o Brasil como um excelente lugar para shows elém de possuir um público muito louco. e maluco por rock.
E já que falamos de mulheres bonitas brasileiras - como a sensual Luz Del Fuego, - convém recordar que numa entrevista a revista Poeira Zine de julho/agosto de 2004, o baterista Neal Smith (foto) da banda do Alice Cooper revelou:
Assim sendo, por esta massagem em nosso ego - nosso verdadeiro e principal "orgulho nacional"! -, a banda está devidamente perdoada pela zoação feita em cima de nós na revista Circus.
Opinião semelhante teve o baixista Stanley Clarke sobre a música brasileira e a beleza de nossas mulheres, numa entrevista para a revista "cover guitarra" em março 2000.
“Alguma mensagem para os seus fãs no Brasil?
Clarke - Vocês são uns privilegiados. Possuem - indiscutivelmente - a melhor música do mundo, os músicos mais fantásticos e as mulheres mais bonitas. Até hoje, nunca toquei ou conheci algum músico brasileiro que não tenha me impressionado a ponto de tirar o meu sono (risos). Só espero que seus leitores, se algum dia eu conhecer alguns deles, possam continuar a me mostrar que a tradição de genialidade musical brasileira continua imbatível. Deve ter alguma coisa na água que vocês bebem (gargalhadas)...”
Recentemente (março 2011), o ator Jude Law, em visita ao Brasil, no primeiro dia de desfiles das escolas de samba no carnaval do Rio, ficou rodeado de mulheres e disse estar impressionado com a beleza das brasileiras. Em entrevista ao jornal "Estadão", ele desabafou: "O que tem na água deste país? São as mulheres mais lindas do mundo".
Anos antes, em agosto 1987, o tecladista Brian Eno, ex-Roxy Music, em entrevista à revista Bizz havia dito o mesmo:
O escritor norte-americano James Ellroy, 63, participante da FLIP 2011 em Paraty, revelou uma nova visão sobre o Brasil nos EUA:
Curiosamente, a última frase dita pelo Alice Cooper à um jornalista da Folha De São Paulo, em 9 de abril de 1974, após a série de shows que fez no Brasil foi sobre "nossas riquezas" - já à caminho do avião que o levaria de volta aos EUA, ele declarou: "Adorei as mulheres brasileiras."
Um outro personagem, fazendo coro ao Alice Cooper et caterva, desta vez um músico brasileiro, recentemente disse uma besteira não menor sobre o suposto primitivismo do Brasil - mais especificamente a Amazônia -, e isto como se estivesse em meados do século 20... A autor foi o jovem Thomas, nada mais nada menos que o baterista da banda Restart, que numa infeliz entrevista disse sobre como seria tocar no Amazonas:
Com a típica alienação dos estudantes adolescentes modernos que não gostam de estudar, o baterista ignora que a capital amazonense Manaus tem mais de 1,8 milhão de habitantes, além de ser sede de várias indústrias e da famosa Zona Franca!...
Para finalizar, vamos mostrar que o brasileiro também tem jogo de cintura para se safar das pessoas com essas idéias alienadas. Numa de suas entrevistas em seu famoso programa na Rede Globo, o apresentador Jô Soares contou ao grupo teatral As Olívias, que, em sua juventude, usou um curioso modo para terminar um namoro com uma moça alemã que conhecera na Europa. Como estivesse no Brasil, resolveu por fim ao caso através de uma carta, o que o fez 9 meses depois... Humorado que é, disse como desculpa que tinha se perdido na selva amazônica... A moça, além da carta toda picada, devolveu-lhe um bilhetinho lacônico onde se lia: “Mentira!”... As atrizes entrevistadas concordaram que fora do Brasil tem gente que ainda acha que nosso país é ainda um país selvático, no que o apresentador completou: “Eu inventava que em volta do estádio Maracanã tinha um fosso cheio de jacarés!”...
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Estava eu procurando saber um pouco mais sobre essa turnê do Alice Cooper em 74 no Brasil e cheguei ao seu Blog.
ResponderExcluirNão lí muito, fui ao que me interessava, mas achei o "V-Newton por ele mesmo" muito massa.
Outro dia volto para ler mais.
Abraço
Obrigado, Ram Horizonte! Volte sempre!
ResponderExcluirRam, baixe gratuitamente este exemplar da revista Poeira Zine Nº 5, que tem a cobertura completa dos shows do Alice Cooper no Brasil: http://www.poeirazine.com.br/downloads.html
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