quinta-feira, 18 de junho de 2015

PALAVRAS EM ESTADO DE DICIONÁRIO



O finado poeta Carlos Drummond de Andrade falou, certa vez, numa feliz expressão, das "palavras em estado de dicionário". Se referia ele à certas palavras que embora designem algo com perfeição, existem só no dicionário, porque ninguém lança mão delas quando precisa, geralmente porque ignora sua existência.  Já o também finado Millôr Fernandes protestava na abertura de seu "Dicionovário" sobre as "palavras que precisavam ser inventadas", e até mesmo o Guimarães Rosa (também finado) reclamava que "Muita coisa falta nome". Outro poeta, também já falecido, o Mário Quintana, era da mesma opinião, e certa vez afirmou: "nem sempre existe palavra para dizer tudo."

Assim, há inúmeras palavras no “pai dos burros” que há muito foram inventadas, e batizam algo com propriedade e perfeição (e não estou me referindo aos esdrúxulos balípodo ou ludopédio, que os gramáticos de outrora sugeriram para substituir futebol!...), mas ninguém sabe de sua existência. Sim, há palavras que precisam ser inventadas e muita coisa há sem nome; mas porque, então, não usar as que já existem mas que “jazem” nos dicionários à espera de quem as ressuscite? Sobre certas palavras, o artista surrealista René Magritte dissera “Às vezes, o nome de um objeto supre a sua imagem”. Monteiro Lobato, por sua vez, dissera: “O que mais aprecio num estilo é a propriedade exata de cada palavra”. Infelizmente, muitos desses nomes de objetos que “suprem a imagem” e “palavras com propriedades exatas” são as tais “palavras em estado de dicionário”. Curioso é que para se referir à estas coisas e objetos que tem nome mas ninguém usa é que as pessoas geralmente tem de lançar de “volteios”, expressões e adjetivos diversos para explicá-los!...

Leitor contumaz de dicionários, vira-e-mexe eu me deparo com uma dessas palavras “novas”. Aliás, sou colecionador de dicionários, e tenho vários dicionários temáticos.
 
Então, caro leitor, que tal resgatarmos essas palavras “finadas” do seu sono eterno para divulgá-las aos quatro cantos, colocando-a em "estado de voga"! 
 
Aqui, algumas delas, todas colhidas em minhas leituras de Michaelis & Houaiss & Aurélios, para você começar a usar agora:



Tremulina: aquela esteira de luz quando o Sol se reflete nas águas ao se pôr no horizonte.

Piririca: o risco que os peixes deixam na tona d'água ao nadarem junto dela.

Babugem: é aquela espuminha branca que se forma nos remoinhos da correnteza de rios.

Isosmia: mistura ou confusão de cheiros diversos, p. ex., o cheiro típico de um supermercado.

Pleorama: a paisagem que se desenrola aos olhos do viajante.

Geosmin: é o popular “cheiro de chuva”, termo inadequado este, uma vez que esse cheiro no ar não é da chuva, mas de um certo fungo que se eleva do chão nestas circunstâncias.

Galicínio: o canto do galo ao amanhecer.

- Poreiomania: o hábito de caminhar sozinho quando se está contrariado.

- Canícula: a hora mais quente do dia, o meio-dia, sob um sol de verão.

- Quiriri: a calada da noite; a hora mais silenciosa da madrugada.

- Amagar: através de um movimento de nosso corpo, instigar o cavalo a trotar.

- Piparote: golpe dado com a mão num articulação do polegar e do dedo médio arremessando um objeto ao longe.

- Fosfeno: a mancha branca na visão que surge quando se pressiona os olhos por um certo tempo.

- Frufu: o ruído do vento nas folhas das árvores.

- Nefelibata: se diz da pessoa que “vive nas nuvens” (o meu caso...)

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segunda-feira, 8 de junho de 2015

LIVROS E REVISTAS LIDOS POR MIM EM MAIO DE 2015


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1- Primeiras investigações sobre os humanóides extraterrestres dentro do chamado "fenômeno uraniano". Henry Durant, 1980. Ótimo e interessante livro. O pesquisador analisa de forma sistemática e profunda os quatro diferentes tipos de extraterrestres avistados e registrados no planeta, oferecendo casos espetaculares de contatos de 1º grau com inúmeros seres.






2- Viagens e Caçadas em Mato Grosso. Heitor Pereira da Cunha, 1918. Narra a viagens de caça no Pantanal na primeira década do século passado, junto do ex-presidente dos EUA, o Coronel Theodore Roosevelt. Um livro mediano, e prefiro o livro do próprio Rooselvet, que escreveu com mais propriedade e sentimento. Cunha era verdadeiramente obcecado por matar não só onças como qualquer animal que passasse diante do cano de sua arma, e matava sem porquê, pelo puro prazer de exercer a "nobre" atividade de caçador... Aliás, dizia sentir "água na boca" por matar onças, sendo guloso por suas "palhetas"...


3- UFO - Triângulo das Bermudas e Atlântida. Peter Nobile, 1970. Um ótimo livro, de leitura agradável e ricamente ilustrado, trazendo os casos clássicos da ufologia mundial, e um estudo feito sobre a possibilidade da  existência da lendária Atlântida.






4- Largada para o infinito - A história do Cabo Canaveral.  William Roy Shelton, 1963. Eu, que vim ao mundo em plena aurora da era espacial, cerca de quatro anos após o lançamento do Sputnik, e no exato ano do primeiro cosmonauta ia ao espaço, o russo Yuri Gagarin, este livro é um prato cheio! Ele condensa os princípios da história da corrida espacial norte-americana a partir daquela que é considerada a maior base de lançamentos de foguetes do planeta. São descritos os principais lançamentos, seja levando satélites, seja levando naves exploratórias à planetas vizinhos na era da pré-chegada do homem à Lua, e mostrando também, em relação à bem-sucedida Rússia, os sucessivos fiascos que passou os EUA neste processo do final da década de 1950. Leitura agradável e muito instrutiva.


5- Universo - As inteligências extraterrestres. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, 1980. Mais um dos inúmeros livros daquele que foi considerado o maior astrônomo brasileiro da modernidade. O livro reúne diversas crônicas publicadas no Jornal do Brasil entre os anos de 1978 e 79, englobando assuntos diversos nas áreas da Astronomia, Astronáutica e Exobiologia, destacando-se a importância das ciências espaciais na vida do homem e a possibilidade de vida extraterrestre. Um ótimo livro, como é de se esperar desse notável cientista.


6- Ufologia - Seitas Ufológicas - Parte 2. Fev. 2007. Este número discorre sobre o surgimentos de seitas ufológicas, ou seja, o fenômeno social em que determinadas pessoas, passando ao largo de pesquisas e estudos sistemáticos sobre o tema, se entregam ao culto ou adoração a ETs de uma forma religiosa ou mesmo, beirando o messianismo, crendo que, em breve, serão salvos pelos "irmãos cósmicos". Alguns, se dizendo contatados e que receberam mensagens e conselhos de Ets, fundam seitas, no que são seguidos por inúmeros adeptos. Estes, vão desde os bem-intencionados aos charlatões, tal como em muitas religiões que assolam nosso País, lembrando que este é um terreno fertilíssimo para o surgimento de grupos fanáticos. Os textos constituem uma ótima abordagem do fenômeno surgido com o advento da Ufologia Moderna, a partir de 1947. 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

RESENHAS DE LIVROS LIDOS POR MIM EM ABRIL DE 2015


 
1- História desconhecida dos homens desde há cem mil anos. Robert Charroux, 1976. Relatos de incríveis e antiquíssimos mistérios do mundo todo, muitos deles inexplicáveis. Um clássico do gênero;







 
2- Grandes enigmas da humanidade. Luiz Carlos Lisboa e Roberto Pereira de Andrade, 1986. Livro escrito por dois brasileiros com os mesmos temas do livro anterior: uma miscelânea de fantásticos mistérios seculares;







3- Noites Tropicais. Nelson Mota, 2000. Grande livro daquele que foi um dos maiores agitadores musicais do País na época da Contracultura, e a que se seguiu, atuando nos mais diversos gêneros musicais, como bossa nova e rock, p. ex. Uma incrível e minuciosa viagem por estas épocas instigantes;



4- Mobby Dick. Herman Melville, 1851. Não correspondeu à expectativa (que nem era tanta...), e achei-o um livro mediano, cujos altos não empolgam, ao contrário do livro seguinte. E o desfecho é previsível e sem-graça. Sou da opinião que não merece o título de "clássico" Ultimamente, me senti na obrigação de ler os clássicos do século 19, para saber o que há por detrás deles;



5- "Cinco semanas em um balão". Júlio Verne, 1863. Grande livro, e o primeiro dele. Viajei pela África com este livro, vendo-a o tempo todo em histórias contadas a partir do céu. O grau de precisão é tal que as histórias parecem verídicas, e o autor nos passa a clara sensação de estarmos com ele vivenciando a viagem. Um clássico por excelência!

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O CARINHO DO BRASILEIRO NO USO DOS PRONOMES DE TRATAMENTO POSSESSIVO


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A poeta norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), reconhecida entre as escritoras mais importantes do século XX da Língua Inglesa, escreveu boa parte de sua obra no Brasil, onde morou entre 1951 e 1967. 

Elizabeth apreciava muito nosso idioma, que dizia ser "cheio de diminutivos, aumentativos, formas carinhosas etc.”. Sua palavra predileta em português era "coitado", “uma das primeiras e mais úteis palavras que um estrangeiro aprende”. Em um de seus comentários mais famosos, observou ironicamente o uso que o brasileiro faz dos pronomes de tratamento possessivo ao lidar no dia-a-dia com as pessoas:


"— Aqui você chega e o zelador, o porteiro, o cozinheiro abraçam você com carinho e a chamam de 'senhora' e 'minha filha' ao mesmo tempo!...



   

No conto “Pílades e Orestes”, Machado de Assis, se refere à um caso algo também semelhante:

“Chamava à filha 'a minha alemãzinha', apelido que foi adotado por Quintanilha apenas modificado para o plural: “a nossa alemãzinha”. Pronomes possessivos dão intimidade; dentro em pouco, ela existia entre os três, — ou quatro, se contarmos Gonçalves, que ali foi apresentado pelo amigo; — mas fiquemos nos três.”





Fato algo semelhante se deu séculos antes, mas desta vez com um menino, também não brasileiro, mas português, que viria a ser também literato muito famoso quando adulto. Me refiro ao célebre Padre Viera (1608-1697), aliás, um dos maiores escritores da Língua Portuguesa. No texto a seguir  uma passagem real de sua vida  há indícios de que esta forma de tratamento há muito já era vigente em terras lusitanas:

“Em Lisboa, Vieira teria no máximo seis anos, por que veio ao Brasil em 1614, perguntou-lhe um cônego, no adro da antiga Sé de Lisboa: 

— De quem sois, meu menino? 

— Sou de Vossa Mercê, pois que me chama seu.


Outro que se refere ao assunto é o escritor Pedro Nava (1903-1894), em seu livro "Galo das Trevas" (1981). Em determinado trecho deste livro de memórias, lê-se:

“Baixou os ouvidos sobre as regiões de baixo da clavícula. Em ambos os pontos ele sentiu como vento dum furacão ao longe — o sopro cavernoso. 
— Agora deita de lad'um pouco, minha filha, primeiro, lado direito, depois esquerdo, pr'eu escutar tuas costas. 
O minha filha dito com extrema doçura não atritou os ouvidos suspicazes da Conceição porque esse minha filha era o tratamento dos médicos com todas as doentes. Automático. Só que o Egon o dizia com uma doçura de coração amante paterno. Repetindo por gosto.


Uma cinquentenária reportagem sobre o cais da cidade paulista de Santos, publicada na extinta revista Realidade, de setembro de 1968, onde comenta a "rivalidade" entre prostitutas santistas e cariocas, traz uma curiosidade:


“E as cariocas são as mulheres mais alegres. Defendem-se em espanhol, inglês e alemão. Chamam:
— Shotime, Faive dolar. Ten Táuse.
Tratam o gringo com classe. São educadas, carinham.
— Filhinho, meu filhinho."




Pedro Bloch (1914-2004) um médico foniatra, jornalista, compositor, poeta, dramaturgo e autor de livros infanto-juvenis, numa de suas obras recolheu esta história ocorrida com a filha de um amigo seu, e é provável que se trate da atriz Regina Casé: 
 

“Um preto velho, muito feio, pediu a um pirralho:


- Meu bichin, vai vê um caneco d'água pr’eu bebê!

- ‘Meu bichinho’ não, eu não sou bicho.!

 Ó xente! Não se zangue não, meu filho Taís pontos

- ‘Meu filho’ Não que, se eu fosse seu filho, era bicho.

"CRIANÇA FALANDO DIFÍCIL
O meu amigo Casé tem uma filhinha que, desde que tinha este tamanhinho assim, já era incrível.
Tem saídas prodigiosas, tão prodigiosas que muitos dos amigos mais íntimos só acreditavam vendo e ouvindo. 
Certo dia começou a usar a palavra 'autêntico'. Era 'autêntico' pra cá, 'autêntico' pra lá. 'Autêntico' isso, 'autêntico' aquilo. 
Foi quando alguém, vendo-a gastar palavra tão difícil para tão fácil idade, observou:
 — Que negócio é esse, menina? Deixe disso! Você não sabe o que é autêntico! 
— Sei, sim! — protestou o pingo de gente. 
— Não sabe, minha filha! — insiste a visita. 
E a garotinha explica pra liquidar o assunto:
— Quer ver: quando a senhora me chama de 'minha filha' não é autêntico. Agora, quando mamãe diz 'minha filha' é autêntico."



Um caso muito engraçado envolvendo este assunto foi recolhido pelo escritor Leonardo Mota em seu livro "No Tempo de Lampião! (1968):

 

“Um preto velho, muito feio, pediu a um pirralho:


- Meu bichin, vai vê um caneco d'água pr’eu bebê!

- ‘Meu bichinho’ não, eu não sou bicho.!

- Ó xente! Não se zangue não, meu filho!...

- ‘Meu filho’ Não que, se eu fosse seu filho, era bicho.




Hoje, no Brasil, está na moda, mesmo entre homens, a expressão “querido”, que a usam como forma de carinho, respeito e bem-querer em qualquer situação. Curiosamente, nos tempos do escritor Charles Dickens (1812-1870), certa vez, num jantar, sentado ao lado da jovem mulher de um famoso médico americano, Dickens ouviu-a dirigir-se carinhosamente ao marido chamando-o por “querido”, e consta que esta expressão era inusitada na época. Dickens achou tanta graça nisto, que desatou a rir até cair da cadeira, esparramando-se no chão, com os demais convidados tendo apenas uma visão dos seus pés agitantes no acesso de riso incontrolável.

A esta altura, não nos esqueçamos daquela velha mania nossa de que quando queremos enfatizar ou engrandecer alguma atitude, como, p. ex., o ato de se dar um belo golpe numa pessoa, dizermos: “Uma senhora cacetada!”  Mas, vamos a um exemplo dessa expressão, em que o substantivo “senhora” temum uso inusitado, funcionando como uma espécie de adjetivo aumentativo. O trecho abaixo foi extraído do conto “A consulta do Lau”, do livro “Leréias: Histórias contadas por eles mesmo” (1945), do escritor regionalista Valdomiro Silveira (1873-1941b):
 

“─ O home’, Lau, é dos bons. E tem uma senhora filha, Eita menina placiana e conversada!” ”


Num curioso trecho de uma reportagem extraída de um exemplar da revista Playboy, de novembro de 1989, onde o articulista expõe regras de etiqueta, ele diz que a expressão "minha senhora" soa pesada, alegando que "há muito tempo elas preferem ser chamadas de senhora".

Alguém também já escreveu que a interjeição tão comum em nossas bocas, a tal de "minha nossa!", é frase nascida de algum bipolar... Reconheça-se: bem típico de nosso povo. Fazer o quê, brasileiro é assim mesmo, "tá ruim, mas tá bom"...


FONTES:
Contatar o autor.
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domingo, 5 de abril de 2015

"O CRISTO MAIS CONHECIDO DE TODOS OS TEMPOS"!


Robert Powell, no papel de Jesus Cristo, no célebre filme que você reassiste todo ano, o "Jesus Cristo de Nazareth", de Franco Zefirelli, lançado na Páscoa de 1977.  Na verdade o filme veio de uma minissérie feitas para as TVs inglesas e italiana, com duração total de cerca de 6 horas.


Cita-se que  Powell foi escolhido a dedo, porque Zeffirelli queria um ator igual às imagens do Vaticano. Se diz que o fato de o diretor transformar visualmente o seu Jesus em uma espécie de Apolo não é tão questionável assim. Um artista eclético como fora Leonardo da Vinci, ao ser indagado sobre o motivo de seu Cristo na Santa Ceia ser quase loiro, respondeu que, a partir de aprofundadas pesquisas, seu Cristo era o mais próximo do verdadeiro Jesus. 

O Cristo interpretado por ele, desde então, se tornou uma imagem muitas vezes usada na arte devocional popular, e seu papel se tornou tão forte e emblemático que a imagem que as pessoas do mundo todo tem em mente quando pensam em Jesus Cristo é a sua. 

O mais curioso é que Powell quase nunca pisca ao longo de todo o filme, e quando interpretou o papel, tinha a mesma idade de Jesus, ou seja 33 anos. 

Powell, sem dúvida, trouxe para o cinema o retrato definitivo de Jesus. Antes de sua performance apaixonada e perfeita, havia poucos casos em que Cristo tinha sido visto e marcado tanto - é como se a tela estivesse aguardando o homem certo para o papel certo. Powell é perfeito - dizem ainda hoje! Com isto, o Cristo de Powell se tornou O mais conhecido de todos os tempos, o que não é pouco!