terça-feira, 8 de julho de 2008

AS INSCRIÇÕES FEITAS NAS CASCAS DAS ÁRVORES VÃO PARA CIMA ENQUANTO ELAS CRESCEM?

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“Lendo-os, a gente repassava um dos
mais interessantes capítulos da história
da fazenda. Quem não gosta de um lugar
não deixa espontaneamente nele,
como um pouco de si, o seu nome.”
(...e os Campos de Jordão foram Pindamo-
nhanguaba. Balthazar de Godoy Moreira. 1969)


“Ai! coqueiro do mato! Ai! Coqueiro do mato!
Em vão tentas os céus escalar na investida...”
(Juca Mulato. Menotti del Picchia. 1917)



Não são poucas as pessoas que acreditam que uma inscrição feita na casca de uma árvore vá aos poucos subindo para o alto, imaginando que o tronco cresça para cima. Nada mais equivocado, no entanto esta é uma lógica oriunda mais do universo infantil do que do de adultos, embora entre estes existam crentes nesta falácia. Eu próprio, nos meus tempos de adolescente, fiz uma poesia falando algo semelhante. O assunto dá ibope: em 1998 foi tema de uma questão no vestibular de Biologia da Unesp de Rio Claro, São Paulo.

A crença é antiga e oriunda da poesia bucólica latina. Virgílio (71-19aC) faz menção ao fato em sua obra Bucólicas (X, 52-54); Ovídio (43aC-17dC) cita-o em seu livro Heróides (23), bem como Petrônio (14aC-66aC), que escreveu sobre uma árvore que cresceu e um ramo encobriu as inscrições: Crescit arbor, gliscit ardor, ramus implet litteras. O engano passou da antiguidade à literatura moderna. Vou citar dois exemplos. O primeiro, do poeta brasileiro Fagundes Varella (1841-1875), na poesia "As Letras":

“Na tênue casca de verde arbusto
Gravei teu nome, depois parti;
Foram-se os anos, foram-se os meses,
Foram-se os dias, acho-me aqui.
Mas ai! o arbusto se fez tão alto,
Teu nome erguendo, que mais não vi!
E nessas letras que aos céus subiam
Meus belos sonhos de amor perdi”

O segundo, "Versos de circunstância", é de Jean Cocteau (1889-1963), poeta, dramaturgo, romancista e desenhista francês:

“Em vez de gravá-lo em mármore,
Guarde teu nome numa árvore,
Que ela crescendo, há de ver
Teu nome também crescer”

A título de curiosidade, transcrevo aqui a estrofe de minha infeliz poesia:


“Num gomo de velha palmeira
Gravei meu romance a punhal
No tronco que no céu mergulha
Lá onde não pisa o mortal.”


Desde as primeiras expedições dos catalães e portugueses, tinham os navegantes o costume de gravar os seus nomes em árvores, destacando as espécies baobá (Adansônia digitata) e a dracena (Dracaena draco), que, obviamente, não é o conhecido arbusto ornamental. Nem sempre o faziam por veleidade ou vão desejo de glória; muitas vezes a inscrição era para eles uma espécie de marco, algo como um símbolo de posse, um meio de assegurar à sua pátria os direitos de primeiro colonizador. Os navegantes portugueses escolheram, com frequência, para este fim, a bela divisa do infante D. Henrique, duque de Vizeu: Talent de bien faire

Essas árvores, por seus troncos largos e robustos, era um prato cheio àqueles que gostavam de praticar tais hábitos. A descrição mais antiga de que se tem notícia do baobá data do ano de 1454; é a do veneziano Luís Cadamosto, cujo verdadeiro nome era Alviso ele Ca-da-Mosto. Encontrou ele, na desembocadura do Senegal, onde se juntou a António Usodimare, troncos cujo circuito avaliou em 17 toesas ou seja, aproximadamente, 33 metros. Pôde compará-los com as dracenas que de antes tinha visto. Perrottet, na sua Flora de Senegâmbia, diz ter achado baobás que mediam 10 metros de diâmetro por 23 ou 26 apenas de altura. O botânico Michel Adanson (1727-1806) indicou dimensões iguais na descrição de sua viagem feita em 1748. Os maiores troncos de baobás, que viu com os próprios olhos em 1749, uns nas ilhotas Madalenas, próximo de Cabo Verde, outros na desembocadura do Senegal, tinham de 8 a 9 metros de diâmetro e 23 de altura, com uma coroa de 55 de largura. Adanson acrescenta, porém, que outros viajantes encontraram troncos que chegavam a ter 10 metros de espessura. Navegantes holandeses e franceses tinham gravado os seus nomes nas cascas em letras de 16 centímetros de comprimento. Uma destas inscrições era do século XV, e não do XIV, como, por equívoco, Adanson afirma em sua obra Famílias das plantas, publicada em 1763. Outras não datavam de mais além do século XVI. Adanson calculou a idade das árvores, pela profundidade das incisões que tinham sido cobertas por novas camadas de madeira, e também comparando a sua espessura com a dos troncos das árvores da mesma espécie cuja idade era sabida. Para um diâmetro de 10 metros, Adanson achou uma idade de 5.150 anos.



Quanto ao fato de se crer que uma inscrição numa casa de árvore vá para o alto com o suposto crescimento do tronco e, por isso mesmo, não ser mais visível do chão, há certas espécies que possuem tal capacidade de regeneração que os talhos feitos em sua casca desaparecem por completo com o passar dos anos – uma explicação simples para o sumiço ou a “invisibilidade” de uma inscrição.

O viajante português Augusto Emílio Zaluar, em sua obra Peregrinação pela província de São Paulo – 1860-1861, cita um caso clássico envolvendo D. Pedro I: certa feita, o imperador passando por Guaratinguetá, deixou suas iniciais numa figueira monumental que se situava na entrada da cidade. Zaluar escreveu:

"Aí pernoitou esse dia, e foi por ocasião que entalhou a sua inicial no tronco da figueira. A árvore hoje tem crescido a ponto que as letras P. I., que então ficavam na altura do braço de um cavaleiro, agora tem a elevação de mais de três homens".

Agora, o biólogo e desenhista de botânica Wenilton vai falar: na verdade, o desenvolvimento de uma árvore ocorre de duas maneiras: a primeira pelas extremidades de todos os ramos, nos quais há um grupo de células que se dividem, fazendo-os alongar; a segunda, pelo câmbio, que é uma camada de células que recobre a parte do lenho da árvore. Quando as células do câmbio se dividem, o tronco, os galhos, os ramos e as raízes tornam-se mais grossos. (Na foto, inscrição minha em coqueiro em frente a casa onde eu morava na Usina Palmeiras; ela está na mesma altura de quando foi feita, quando tinha uns 10 anos. Saudades...)

Enfim, o fato de uma inscrição numa árvore ir para cima não passa de mera crendice popular – uma mentira pra lá de cabeluda! Verdade mesmo, só o daquele causo estrelado por um famoso contador de histórias ararense – o velho Civilico que, certa vez, esqueceu seu relógio dependurado numa pequena árvore quando foi pescar e, anos depois, retornando ao local, viu o mesmo lá em cima, num galho da árvore já crescida, e, pasmem, funcionando.. É que um raminho de cipó dava corda no bichinho enquanto crescia!... Êta fumico forte!


BIBLIOGRAFIA (9 fontes):
Contatar o autor.
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O CORUCÃO, UM CURIANGO AMANTE DAS LUZES DA CIDADE

Nas noites de inverno ararenses, quem tem o hábito de olhar para cima, seja para ver a lua, o céu estrelado ou as nuvens, não raro se depara com algumas aves brancas fazendo evoluções sobre as luzes da cidade. Trata-se da ave conhecida popularmente como corucão (Podager nacunda), um tipo de curiango, ave pertencente à família Caprimulgidade. É espécie corpulenta, notável pelo porte, tendo 29,5 cm de comprimento e 71 cm de envergadura.

Chama a atenção pelo branco intenso do ventre, cor esta também encontrada no pescoço anterior, na extremidade da pequena cauda (macho) e nas extremidades medianas das asas (remiges primárias), sob a forma de uma larga faixa. O alto da cabeça é de cor marrom-escuro, o dorso também, porém salpica­do de manchas pretas e amareladas. Os sinais brancos, mais desenvolvidos no macho, se destacam vivamente nas horas do crepúsculo, e na barriga são tão reluzentes que podem passar à cor-de-rosa quando expostos à luz do sol poente – esses sinais podem fazer com que a ave se assemelhe à um quero-quero (Vanellus chilensis), com o qual divide o mesmo habitat, ou a mocinha-branca (Xolmis coronata). Sua plumagem desarmônica e policrômica o camufla perfeitamente no ambiente em que vive, e só nos damos conta de sua presença no momento em que, espantados por nós, alça vôo subitamente dentre as moitas de capim rasteiro. Caso isto aconteça, o bando poderá facilmente ser localizado, bastando para isso olhar atentamente os arredores. O autor localizou um bando nos capinzais recém-cortados e queimados do jardim Rosana, e só deu conta dele quando alguns exemplares levantaram vôo, pois estavam perfeitamente camuflados entre as cinzas e carvões da queimada recente de capinzais, sendo mesmo quase impossível localizá-los (foto acima). O bico é provido de cerdas (vibrissas) tal corno os pelos sensoriais dos gatos, atribuindo-se à eles diversas funções. Os pés são pequenos, sendo que a unha do dedo médio possui também pequenas cerdas, dando-lhe o formato de um pente (unha pectinada). Este motivo, os distingue dos quero-queros, pois o corucão fica o tempo todo repousando com o ventre colado ao chão, enquanto os quero-queros caçam insetos caminhando entre a vegetação.

Sua silhueta de vôo (desenho), muito bonita quando vista de frente, é semelhante ao mocho-dos-banhados (Asio flammeus). Muito hábil no voar, é um verdadeiro acrobata aéreo – para perseguir os insetos em seu vôo irregular, faz manobras rápidas e ágeis, dá mergulhos fulminantes, freadas inesperadas em vôo reto, faz curvas abruptas para qualquer lado e ângulo. Chega até a librar no ar como os beija-flores, combinando o vôo rasante dos andorinhões (Apodidade sp.) com o voar ondulado dos quero-queros, tudo em movimentos silenciosos devido à maciez de suas penas.

Costuma sair do repouso cerca de meia hora depois do pôr-do-sol, não levantando vôo juntos. Caça em bandos, à procura de insetos, voando alto por cima das águas e dos campos, quando patrulha seguidamente uma área e faz mudanças bruscas de direção.. Chega a voar durante o dia, caso as nuvens obscureçam o sol. Pousa em estacas, e chega, à noite, a pousar próximo dos refletores das praças, fato observado pelo autor na praça “Calçadão”. Nas horas de caça, são facilmente visíveis no céu com seus vultos brancos destacando-se sobre à iluminação urbana refletida no céu. Nos eventos noturnos no Parque Ecológico, na época de inverno, chamam a atenção por caçarem voando alto por sobre as luzes do recinto. Em regiões selvagens, se avistam queimadas, lá se vai o bando a caçar os insetos expulsos pelo fogo, e chegam a voar tão baixo e de modo arriscado, que podem ser vistos à luz das labaredas. O fato de o corucão caçar sobre as luzes das cidades, talvez seja uma modificação desse hábito primitivo. Durante o período das secas, que vai de abril à setembro, são vistos mais facilmente à noite caçando insetos à grande altura sobre a luz laranja dos refletores de vapor de sódio (lâmpada Lucalox): essa luz com cor alaranjada semelhante à dos crepúsculos, o corucão tem por ela uma predileção especial. Ao que parece, junho é o mês que o corucão começa a freqüentar a zona urbana em busca de insetos. Aliás, desde que a administração municipal começou a trocar as luzes de vapor de mercúrio das ruas e avenidas (que desde meados da década de 1960 davam uma luminosidade azulada à cidade) pelas econômicas lâmpadas de vapor de sódio, os corucões começaram a caçar de modo disperso na zona urbana, ao contrário do que acontecia no início da década de 1990, quando poucos edifícios usavam esta última luz, como, p. ex., p. ex.. a Torque, a Civemasa e a igreja Matriz. Esta adaptação às luzes urbanas, é provável que possa levar o corucão à sinantropia, ou seja, à buscar gramados para repouso diurno dentro da zona urbana, fato que se deu há muito tempo com o quero-quero, que começou a freqüentar os campos de futebol.

Em setembro de 1970, a Enciclopédia Bloch fez uma previsão que levou cerca de 25 anos para se cumprir: “Dentro de pouco tempo, as cidades serão mais belas à noite. É que suas avenidas, ruas e praças estarão iluminadas pela lâmpada Lucalox – criada e desenvolvida por engenheiros norte-americanos. A Lucalox, utilizando o vapor de sódio metálico em altas temperaturas e pressões, apresenta uma eficiência de quase o dobro das grandes lâmpadas a vapor de mercúrio. E isto, além de proporcionar um índice de iluminação jamais atingido, significa uma sensível redução de postes e luminárias dos tempos atuais. (...) Trata-se da maior fonte de luz artificial jamais conseguida pelo homem, que utiliza o vapor de sódio metálico em altas temperaturas. Montadas em postes de 9 metros, espaçados de 26 metros, apresentam uma eficácia de mais de 100 lúmens por watt, quase o dobro das grandes lâmpadas de vapor de mercúrio. Em futuro próximo, segundo a previsão dos cientistas, as cidades, praças, ruas, aeroportos e todas as grandes áreas que necessitem de grande iluminação poderão manter excelente luminosidade com muito menos luminárias e postes, graças à Lucalox, considerada a luz do futuro.”

O corucão não tem um canto atrativo como os curiangos comuns. Costuma, como a maioria, cantar com mais freqüência nas horas crepusculares e em noites de luar. Voz: “pro-pro-pro...”, “trro ttt-rro” ou “prrr-du” (canto conto um sapo, seqüências prolongadas).

Ouça no link abaixo algumas vocalizações do corucão:

http://www.xeno-canto.org/sounds/uploaded/BEYMZHZHIB/Podager_nacunda.mp3

http://www.xeno-canto.org/sounds/uploaded/AOPMSCIDIA/Podager_nacunda_SC.mp3

http://www.xeno-canto.org/sounds/uploaded/BEYMZHZHIB/Podager_nacunda_III.mp3


O corucão não faz ninhos, pondo diretamente sobre a terra, areia ou pedras. Em geral, põe dois ovos elípticos, com os pólos iguais. São muito miméticos, fortemente salpicados.

Além dos locais citados, o corucão pode ser encontrado em paisagens abertas, pastos, campos limpos próximos dos curso d’água e cerrados. Um lugar da cidade onde ele pode ser encontrado durante o dia é nos gramados do aeroclube.



Veja alguns vídeos do corucão nos links abaixo:

http://ibc.hbw.com/ibc/phtml/votacio.phtml?idVideo=4759&Podager_nacunda

http://ibc.hbw.com/ibc/phtml/votacio.phtml?idVideo=4758&Podager_nacunda

* Fotos e desenhos do autor.

FONTE:

Contatar autor.
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segunda-feira, 7 de julho de 2008

AS CRIANÇAS FRENTE AO AQUECIMENTO GLOBAL: OS CIENTISTAS DO AMANHÃ

V-Newton Daltro - biólogo e escritor


Você, amigo, um dia, já parou para pensar qual a influência que os noticiários diários sobre o aquecimento global causam na cabeça das crianças? Quem poderia calcular qual o impacto que todo esse enchurrada de informações catastróficas têm numa mente jovem e ainda em formação?

Sabe-se que muitas das informações que uma criança absorve nesse período da vida em que o espírito é livre, curioso e despreocupado, ficam mais facilmente gravadas em sua memória receptiva, deixando assim uma recordação mais vívida, sentida e duradoura, não importa se se coisas felizes ou não. Este fato, há muito foi confirmado pelo antigo alienista espanhol Juan Luis Vives, que concluiu que o quê vemos ou ouvimos nos primeiros anos de nossa juventude, relembramos com mais facilidade e precisão quando adultos, por que nessa época “contemplamos tudo como novidade e observamos cuidadosamente o que nos produz admiração e assim é nossa alma”. E esses assuntos ecológicos, por seu próprio tom alarmista, faz com que algo mude dentro das crianças, mas algo que os impregna de alguma espécie de emoção isenta de qualquer convenção normativa – nestas cabecinhas tão temerárias quanto mal-formadas, não há ainda o domínio simbólico para processar tudo o que ouvem.

Para usar a mim mesmo como exemplo, lembro-me que, quando menininho, ouvi dizer que “o Rock ia acabar” – e realmente se dizia isso àquela época! – e eu fiquei realmente preocupado e, inocentemente, perguntei a mim mesmo quando isso poderia acontecer!... Noutra, eu brincava com a bolinha de borracha (uma "perereca") de um amigo com muito mais idade que eu, e ele me pedia que, a cada arremessada, eu batesse com a bola cada vez mais forte no chão; e assim o fiz, e, a cada vez, a bola ia mais alto para cima. À certa altura, bati a bola com tanta força no chão que ele gritou: – “Não bate tão forte assim, que a bolinha vai entrar em órbita!” Eu arregalei os olhos e, em minha ingenuidade, fiquei apavorado!... Estávamos em plena era fascinante das conquistas espaciais e o assunto da moda era “o homem em órbita em volta da Terra”, “o homem em órbita da Lua”, e eu estava começando a ser seduzido pelo assunto, portanto, justificava-se minha reação sobre a tal da bolinha entrar em órbita... Tem outra: com certeza, o milésimo gol do Pelé foi uma verdadeira paulada na minha cabeça, mas o milésimo do Romário... ah, foi uma piada – particularmente, é um feito, mas só se pisa uma primeira vez na Lua...

E as reações de muitas crianças, após ouvirem falar dos prováveis cataclismas que nos aguardam, têm sinais de comportamento compulsivo – medo e pavor são as palavras recorrentes. Ansiedade e mesmo pânico são relatados por pais e educadores. Normalmente, as crianças não tem a mesma capacidade de discernimento dos adultos, e costumam amplificar e superestimar os efeitos daquilo que ouvem – para usar uma expressão que vem a calhar, “criam tempestades em copos d’água”. As reações de algumas crianças chegam a ser hilárias, misturando realidade e fantasia: uma delas, citada num jornal, disse que ia haver “uma infecção global” que ia acabar com o mundo quando ela crescesse! Outra, acreditava que a água ia acabar mesmo, fato, aliás, que os próprios adultos acreditam, mas, o nível de água existente no planeta não se altera nunca – o que acontecerá é que as formas de se obtê-la é que tornarão mais difíceis – a quantidade de água que se perde no espaço é irrisória, e cometas e hidrometeoros, de tempos em tempos, injetam certa quantidade d’água no planeta ao adentrar a atmosfera. Uma criança foi mais realista: “A água de beber vai acabar, mas a água do mar vai aumentar, e invadir as cidades da praia.” As crianças cariocas imaginam mesmo que a cidade será invadida pelo mar, debaixo de uma violenta tempestade de água, ventos e raios. O caso mais engraçado é o de uma criança que, ao ver sua mãe acender um incenso, pediu a ela que o apagasse, para não “por em risco” a camada de ozônio!...

É uma pena que, à maioria de nós, esses temas não causem o mesmo impacto e a preocupação que causam às crianças, e, ainda que rações pueris, não tenhamos as mesmas sensações e temores delas, o que, por um ponto de vista positivo, poderia exigir de nós medidas mais imediatas e eficazes.

Por outro lado, todo esse manancial de informações alarmantes, muitas vezes, vão ao encontro de suas inclinações inatas, inclinações estas, que dependendo da criança, convém frisar, são mais de cunho existencial do que meras curiosidades de criança aprendiz. E isso tem um lado bom: em geral, quando adultas, terão elas uma consciência sobre estes problemas de maneira mais profunda que nós, e muitas delas poderão vir a trabalhar em áreas científicas no futuro, fato que se deu, em termos, com este que vos escreve. A escritora adventista Ellen White, era da opinião que “Pelos pensamentos e sentimentos alimentados nos primeiros anos, determina cada jovem a história de sua vida”, e, assim, creio, serão esses os frutos gerados pelas preocupantes transformações ecológicas dos dias atuais: o surgimento de uma nova classe de cientistas que, trabalhados pelas dores próprias, transformarão suas vidas em instrumentos que determinarão uma nova era na história do planeta.

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PS: A ilustração, é recriação minha para a pintura “O Grito”, de Eduard Munch, em que inseri a célebre e infeliz criança atingida por uma bomba napalm na guerra do Vietnã. - ela é Kim Phuc, menina que viria a se tornar um símbolo da atrocidade inerente às guerras, ao ser registrada em deseperada fuga com outros meninos e meninas. Sua imagem revelaria a impotência das vítimas durante os sucessivos confrontos e seu desespero nas covardes desvastações. E tempo, recordemos que as guerras se incluem entre os principais agravadores do efeito estufa, e as crianças estão entre as suas maiores vítimas.


O GRANDE COMETA MCNAUGHT EM JANEIRO DE 2007: UMA BELA SURPRESA QUE POUQUÍSSIMOS FELIZARDOS VIRAM!...


Novamente, a humanidade pôde presenciar a chegada um novo e grande cometa brilhante cruzando o Sistema Solar, o MCNaught, descoberto em agosto de 2006.

A foto acima, do McNaught (com zoom de 12 vezes), foi feita por mim a partir dos capinzais do lado sudoeste do Jardim Rosana – um dos melhores pontos para a observação do lado leste da cidade. Infelizmente, havia muitas nuvens no céu, e não pude fazer uma tomada melhor, mostrando a cauda em sua totalidade.

Tão estranho quanto frustrante é se chegar à conclusão que, quanto mais retornamos no tempo, mais incríveis e impressionantes são os eventos astronômicos. Os cometas e chuvas de estrelas, fenômenos tão freqüentes e deslumbrantes no século XIX e nos anteriores, no seguinte deixaram a desejar, acontecendo raramente e, ainda assim, timidamente; e o nosso século, pelo que se constata, lamentavelmente, até o momento, ainda não soube repetir à altura um destes raros eventos astronômicos que encantaram e assombraram os nossos afortunados antepassados.

Só para ficar em alguns exemplos significativos, no século retrasado tivemos diversos cometas gigantes. Destacam-se: o primeiro, em 1811, o cometa Flaugergues, o maior objeto do Sistema Solar do ano, cuja cauda atingia 70° (metade do céu tem 90°), e foi visível por mais de um ano; o segundo, em 1843, também com 70° de cauda, que foi visto à olho nu e em pleno meio-dia. Depois, em 1858, tivemos o Donati, famoso por sua cauda tripla que atingia 50º; o Tebbutt, que teve seu apogeu de brilho entre setembro e outubro de 1861, e pode ser visto à olho nu durante 9 meses, com caudas gêmeas brilhantes, uma reta e uma curvada, e, por fim, o de 1864, o cometa Tempel.

No século seguinte tivemos , em 1910, a fenomenal aparição do Halley e a do Ikeya-Seki em 1965 (foto cima) – um cometa belíssimo! – e, desde então, lá se vão trinta anos que o mundo não vê a aparição de um cometa razoável – me refiro ao cometa West (foto abaixo), que aparecera em 1976.

Foi o astrônomo australiano Robert McNaught quem descobriu este novo cometa e o batizou com seu nome. Era um cometa pequeno e as previsões sobre sua performance não eram muito promissoras – como tem acontecido com muitos cometas recentemente, ele faria a sua costumeira trajetória em torno do Sol e não chamaria muito a atenção. Mas os cometas são astros imprevisíveis e nunca se sabe com precisão como eles vão reagir aos ventos solares que incidem em sua coma (a “cabeleira” do cometa) e a esfolam formando uma cauda. Mas, felizmente, o McNaught foi uma grande surpresa para a comunidade astronômica: mal começou a se aproximar do Sol e ficou cem vezes mais brilhante que o Halley em 1986, e seis vezes mais que o Halle-Bop em 1997. O McNaught pôde ser visto a olho nu, e o seu comprimento equivaleu à 1 grau no céu, ou seja, o diâmetro de duas luas cheias. Ele podia ser visto após cerca de meia hora acima do lugar onde o Sol se punha, porém, ele era melhor visualizado um pouco mais tarde, à partir das 20h30, assim, o céu estaria um pouco mais escuro e era melhor o contraste entre sua luz e o fundo do céu.

Outra bela foto estrangeira do McNaught

O grande problema deste cometa foi que a mídia brasileira o noticiou tardiamente, e ele já estava se despedindo do Sistema Solar, sendo que o melhor dia para sua observação foi 15 de janeiro (chovia em Araras). No entanto, durante ainda uns dois ou três dias ele pôde ser visto com facilidade a olho nu, mas, como ele estava se afastando do Sol, por volta dia 20/01 foi necessário o uso de um binóculo ou telescópio.

Até o próximo grande cometa! Se Deus quiser...

Veja no link abaixo as belíssimas fotos do McNaught feitas em todo o mundo:

http://www.nightskyhunter.com/Comet%20Mc%20Naught%20Gallery.html

Aqui, uma belíssima foto do Mc Naught, por Stephane Guisard, Santiago de Chile, nos Andes, 13000 pés de altitude. Repare a lua nova à direita. A foto foi feita no dia do meu aniversário: 21 de janeiro de 2007 - presente melhor, impossível!...

Dica: clique na foto para vê-la maior; depois de aberta, clique F11 no teclado.

sábado, 5 de julho de 2008

AS REINAÇÕES DO ROCKEIRO LOBÃO NO MUNDO DAS DROGAS!...


Hoje, galera, insiro aqui mais algumas relíquias da ARCA DO COBRA: duas reportagens de revistas nacionais sobre a polêmica prisão do rockeiro Lobão, quando ele foi pego com drogas há vinte anos atrás. Atente para as fotos do fotogênico e sarrista Lobão.

“Drogado risonho - Às gargalhadas, Lobão vai para a prisão”


Na quarta-feira da semana passada, o juiz Paulo César Dias Panza, da 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, condenou o cantor e compositor João Luiz Woerdenbag, o “Lobão”, a seguir uma nova carreira — a de presidiário. Julgado por ter sido flagrado com cocaína e maconha na alfândega do aeroporto do Galeão há três meses, um ano depois de outra prisão por porte das mesmas drogas, Lobão acabou condenado a um ano de prisão — e ainda tem pela frente o julgamento por outro flagrante, de maconha e haxixe, realizado em março. Caso crônico de consumo e apologia de drogas, o cantor entrou para o julgamento certo de que seria absolvido e fazendo gozações, riu diante do juiz enquanto ouvia sua sentença e saiu do tribunal com o mesmo bom humor. “A vida é uma brincadeira”, comentou Lobão numa conversa com seus advogados logo após o julgamento enquanto esperava o transporte para a prisão. “Eu nunca vi ninguém desse jeito depois de ser condenado a um ano de cadeia”, conta o detetive Bento Pereira, que ouviu o compositor cantarolando momentos depois da decisão do juiz.
“O juiz deve ter achado que eu não sou uma boa pessoa, diz Lobão sobre a condenação. Na sentença que assinou, Panza deixou evidente sua péssima impressão sobre o cantor. “Verifica-se, pois, que se vai tomando rotina ser o acusado preso por uso de entorpecentes”, escreveu o juiz. “O acusado, apesar de tecnicamente primário, já registra antecedentes, não tem boa personalidade nem conduta social.” Em sua decisão, o magistrado lembrou também as recentes entrevistas de Lobão sobre seu envolvimento com drogas. “Ao ser entrevistado pela revista Amiga afirmou que suas prisões são uma perseguição da sociedade, dizendo ainda que o uso de drogas é mais uma posição política do que existencial”, lembrou Panza. Lobão diz que foi mal interpretado, mas, em seguida, defende a idéia de o Brasil exportar cocaína para Estados Unidos, “ganhando dinheiro com isso”.

“COMO UMA FEIJOADA” Aos 29 anos, com quatro casamentos, o roqueiro Lobão é um tipo particularmente nocivo de viciado — pois gosta de fazer propaganda das drogas que consome. “Eu sou um expert no assunto”, diz. “Posso dizer que a nicotina, o álcool, a heroína e o ópio são as únicas drogas são as únicas que causam dependência física”, garante com a naturalidade de quem separa refrigerantes que engordam de produtos dietéticos. A maconha é sua “droga do coração”. Sobre a cocaína, ele afirma ter certeza de que não causa a menor dependência física. O perigo, segundo Lobão, está apenas na quantidade que se ingere. “E como uma feijoada”, compara. “Se você comer demais, vai fazer mal. Se cheirar cocaína demais, vai acabar alucinado.”
Músico de sucesso, Lobão funciona como uma espécie de guru para seus pares. “Como Sartre, ele é um novo filósofo francês no Terceiro Mundo”, arrisca o letrista Tavinho Paes, parceiro do compositor, num equívoco geográfico. Trata-se, segundo a descrição de Tavinho Paes, de um tipo original de filosofia movida a cocaína. “Quando compôs Decadence avec Elegance, ele cheirou, cheirou, cheirou e fez a música”, conta o amigo de Lobão. “Ele tem jogo de cintura para enfrentar o poder desenfreado da polícia”, anuncia Bernardo Vilhena, outro parceiro do cantor. Há um roqueiro, porém, que pensa diferente. “Ele é um criminoso pequeno diante da impunidade dos que praticam grandes crimes contra a nação”, sentencia o cantor Lulu Santos. com o cuidado de não elogiar o consumo de drogas.

SUICÍDIO - O juiz Panza decidiu condenar Lobão também a uma multa de cinqüenta salários mínimos. Encerrado o julgamento, Lobão passou a residir na cela 12 da Polinter, de onde será transferido a um presídio comum, sem direito a cela especial — pois não dispõe de um diploma universitário, tendo abandonado os estudos no 2º grau. No passado, por duas vezes, Lobão tentou suicidar-se tomando doses reforçadas de Rivotril, o remédio que usa para controlar sua epilepsia. Carioca, músico que aprendeu a tocar bateria sozinho ainda na infância, antes do julgamento da semana passada. Lobão fazia planos de realizar uma turnê pelo país no começo de junho e lançar seu novo disco no Canecão, no Rio de Janeiro, no mês seguinte. “Vamos tocar normalmente o trabalho de divulgação do disco que não depende da presença dele”, diz a empresária Carmela Forsin. Vamos tentar também uma autorização especial para que ele possa gravar um programa de televisão que já estava marcado. Na quinta-feira, seus advogados anunciavam a disposição de entrar com recurso — para que o cantor possa cumprir a pena em liberdade. Na sexta- feira os amigos músicos de Lobão preparavam uma manifestação de solidariedade ao roqueiro para pedir sua libertação. A idéia era realizar um show com dúzias de artistas e mostrá-lo pela televisão na noite de domingo junto com o videoclipe que ele pretendia gravar na prisão.

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“LOBÃO, DE NOVO” NA SEGUNDA CONDENAÇÃO FALTOU CELA ESPECIAL



O roqueiro Lobão não faltou ao show em Volta Redonda, na semana passada, em lembrança aos três mortos no conflito entre o Exército e grevistas da CSN. Lobão tinha presença confirmada, mas corda o risco de não ir. Havia sido condenado, dias antes, a nove meses em regime de prisão semi-aberta (pernoitando na cela), por porte de drogas. No exato momento da homenagem, deveria estar cumprindo pena. Não estava. Lobão não ganhou sursis - que lhe permitiria livre movimento —, mas foi beneficiado por uma deformidade do sistema carcerário fluminense. No Rio não há prisão albergue para sentenças especiais como a sua.
Seu caso com a lei toma proporções inéditas. Lobão, em nenhum momento, esquivou-se da postura de confronto ao conjunto de regras que normatiza as drogas. Prega o direito à decisão de consumo como prova de liberdade. “Minha condenação é um sintoma do cerceamento da liberdade”, entende.
Rita Lee, assim como o ex-Mutante Arnaldo Antunes (sic!), Gilberto Gil, a apresentadora Scarlet Moon e vários outros, integram o séqüito de notáveis que sucumbiram frente à lei. dos com tóxicos, e foram punidos.
Exemplos do passado evidenciaram que a confirmação do uso de tóxicos não logrou tentos para os que arriscaram a admiti-lo. O senador Fernando Henrique Cardoso, em plena campanha pela Prefeitura de São Paulo, há três anos, teve abalada a sua candidatura por reconhecer que experimentou maconha e não gostou.
O escritor e fundador do Partido Verde, Fernando Gabeira, também viu-se como alvo. Adversários, em 86, lhe lançaram um rótulo: “Quem bebe, fuma e cheira vota no Gabeira.” Na imprensa re uma declaração sua deturpada, colocando-o como favorável à liberação das drogas. Gabeira é favorável à descriminalização da droga e a um tratamento mais complexo do tema, envolvendo comunidades terapêuticas para os viciados em entorpecentes pesados e campanhas conscientizadoras. A idéia está mais perto de ser viabilizada.do que se imagina. Uma comissão de estudo dá forma a um projeto de lei sobre tóxicos que reavalia as sanções dispensadas aos usuários. “O nosso anteprojeto em hipótese nenhuma deverá sugerir a prisão aos condenados por porte de drogas, mas sim alternativas como prestar serviços à comunidade ou freqüentar cursos de esclarecimentos”, garante o advogado Evaristo de Moraes Filho, que integra a comissão. A teoria que vigora entre os seus cinco membros é a de que “cadeia não resolve o problema”. O próprio jurista tem uma visão condescendente: “O uso”, diz ele, “deve ser abordado como comportamento anti-social, e não crime, com medidas sem caráter punitivo.” O tráfico mereceria punições mais rigorosas.

O tráfico mereceria punições mais rigorosas.
As propostas que porventura brotem da comissão, atravessem o crivo do Ministério da Justiça e em seguida do Congresso, para entrar em vigor, não contemplam, em todo caso, Lobão. Não há tempo. O roqueiro, exerce um papel alavancador das mudanças sobre o tema. Para o psiquiatra Manoel Faustino, do Núcleo de Drogas da UERJ, em que pese a tese de que lei não deve ser infringida, Lobão, ao reclamar de sua aplicação nos limites em que funciona, ajuda a derrubar tabus. “Acho que atitudes como a de Lobão estão contribuindo para o reinado de leis mais humanas e não para o reinado da falta de leis ou da anarquia”, avalia.

* * *

PS.: Em breve, prometo publicar o depoimento incrível que o Lobão fez para a revista BIZZ, no período em que ficou detido.

FONTE:
Contatar autor.
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"JOÃO GORDO É O NOVO REI DE INTERLAGOS"


Aqui, galera, uma engraçada e antiga entrevista com o polêmico João Gordo, da banda Ratos do Porão, em que ele mostra seu humor escrachado e detona o Ayrton Senna! A reportagem é do ano de 1992, e foi um free-lancer do João para o não menos polêmico jornal, o extinto Notícias Populares. Senna morreria dois anos depois.


Comentarista do NP é ovacionado pela galera presente
no autódromo e retribui a gentileza com muita dignidade
João Gordo, especial para o NP



Ontem, eu fui a sensação do Autódromo Os quase mil desocupados que estavam nas arquibancados me chamavam de “rolha de poço”, “piloto de provas do Sadia” e “manequim da Ultragás”. Não agüentei a humilhação e mostrei a bunda pra galera.

Encontrei o Christian Fittipaldi no box da Minardi. Ele é um cara legal e não tem nada de fruta, como dizem por aí. Já o Ayrton Senna é um nojento de nariz empinado, que não quis falar comigo. Tomara que ele pare na última volta, sem gasolina.

O incrível é que o povão gosta desse panaca. Ele está milionário e vocês todos pobres. Quando morre, ninguém leva nada pro caixão Por isso, torço por gente simples e legal, como o time da Andrea Moda.

Fiquei contente quando o Giuseppe, mecânico da Ferrari, me falou que o carro da Andrea Moda é bom. Ontem os mecânicos ligaram o motor e deu pra sentir o ronco possante da máquina.

As gostosas começaram a aparecer por aqui. E olha que por enquanto só tem piloto vagabundo: um tal de Ayrton Senna, o simpático ex-fruta Christian e o famosíssimo J.J. Lehto (ou será J. J. Lento?).

Quando pintarem as feras, vai chover mulher! É bom mesmo, porque até agora só choveu segurança, polícia e pentelhos. (Notícias Populares, 6 de abril de 1992)

O João Gordo não estava errado em sua opinião sobre o Senna: curiosamente, no dia anterior – o sábado do Grand Prix – o Senna foi entrevistado pelo NP e se mostrou grosseiro. O NP escreveu: “Senna chegou mal-humorado pra entrevista coletiva que rolou no Hotel Transamérica. ‘Espera eu colocar o boné pra começar a filmar e bater fotos, senão derrubo todos os microfones dessa mesa’, foi dizendo logo de cara.”

DUAS FRASES DE AYRTON SENNA EM QUE ELE

COMENTA O RISCO DE MORRER DURANTE AS CORRIDAS:

“Nunca levo em conta a possibilidade de um acidente, mas o medo é uma coisa constante no meu dia-a-dia.”

“Convivo com o medo de morrer e ele me fascina.”

sexta-feira, 4 de julho de 2008

OLAVO BILAC E AS ESTRELAS




Fazendo coro à postagem anterior, "A NATUREZA E A SENSIBILIDADE HUMANA", e cumprindo minha promessa de dar continuidade ao assunto, disponibilizo aqui uma jóia poética do sensibilíssimo poeta Olavo Bilac, "As estrelas", extraída do livro "Poesias Infantis", lançado no distante 1904.

Infelizmente, este livro está esgotado e jamais foi relançado relançado (pobres crianças...). Repare que o poema faz parte de um livro de poemas dedicado exclusivamente à meninada [coisa meio rara hoje em dia, em se falando de qualidade (e sucesso...)], mas, pareando-o com o célebre poema "Ouvir estrelas", ele não deve nada e é tão sensível quanto.



As estrelas

Quando a noite cair, fica à janela!
E contempla o infinito firmamento.
Vê que planície fulgurante e bela!
Vê que deslumbramento!

Olha a primeira estrela que aparece
Além, daquele ponto do horizonte...
Brilha, trêmula e vívida... Parece
Um farol sobre o píncaro do monte.

Com o crescer da treva
Quantas estrelas vão aparecendo!
De momento em momento uma se eleva,
E outras, em torno dela, vão nascendo.

Quantas agora!... Vê! Noite fechada...
Quem poderá contar tantas estrelas?
Toda a abóbada está iluminada:
E o olhar se perde e cansa-se de vê-las.

Surgem novas estrelas imprevistas...
Inda outras mais despontam...
Mais acima das últimas que avistas,
Há milhões e milhões que não se contam...

Baixa a fronte e medita:
- Como, sendo tão grande na vaidade,
Diante desta abóbada infinita,
É pequenina e fraca a humanidade!

Belíssimo poema! Que vivíssimos déjà vu ele evoca! Basta lê-lo para... o Bilac que o diga: como não recordar aqui do belo quarteto do canto XXIX da série de poemas Via Láctea do Bilac:

Por tanto tempo, desvairado e aflito,
Fitei naquela noite o firmamento,
Que ainda hoje mesmo, quando acaso o fito,
Tudo aquilo me vem ao pensamento.

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