quarta-feira, 30 de julho de 2008

A ASCENSÃO METEÓRICA DA BANDA SECOS & MOLHADOS

Galera, direto da ARCA DO COBRA, mais duas reportagens e fotos inéditas da banda Secos e Molhados, que mostram sua vertiginosa ascensão, todas extraídas da extinta revista POP. A primeira, de maio de 1973, traz o grupo com pouco mais de um ano de carreira, prestes a lançar o primeiro LP. A segunda, em janeiro do ano seguinte, com o LP lançado e 100 mil cópias vendidas já na primeira semana do lançamento!

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SHOW

Paradão por algum tempo, o rock volta agora a pintar violento todas as tardes de domingo, no grande auditório do Museu de Arte de São Paulo. Entre muitos grupos novos, três da pesada e de São Paulo mesmo estão atacando com tremendos banhos de som. Secos e Molhados, Alpha Centauri e Grupo capote.

SECOS E MOLHADOS

Fazendo misérias no palco, com o vocalista Ney Matogrosso muito louco, batom vermelho, turbante colorido, brincos e um imenso xale vermelho cheio de franjas enrolado no corpo, o Secos e Molhados conseguiu de cara deixar a platéia toda elétrica, numa ligação que foi aumentando de número por número. Com mais de um ano de carreira, o grupo já conseguiu deixar sua marca e agora termina a gravação do primeiro LP, que em junho deverá estar pintando, mostrando um trabalho totalmente novo dentro do rock brasileiro: a musicalização de versos e poemas da literatura brasileira, com uma interpretação cheia de força e violência. Pondo música em Prece Cósmica e As Andorinhas, de Cassiano Ricardo, A Rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes, Mulher Barriguda e Tem Gente com Fome, de Solano Trindade, e também em algumas letras suas (O Patrão Nosso de Cada Dia, O Vira e Preto Velho). João Ricardo (violão acústico e harmônica de boca), um dos integrantes do grupo, consegue efeitos incríveis, e junto com Willie Verdager (baixo), Marcelo Frias (bateria) e Gerson Conrad (violão), mais os vocais de Ney, o som se trans­forma numa pauleira das mais sensacionais. Antes do lança­mento do LP, o Secos e Molha­dos parte para o primeiro show fora de São Paulo, ainda este mês, no Teatro da Paz, no Rio.

PS: atentem para a música Tem Gente com Fome, do Solano Trindade, que nunca foi gravada pela banda, mas pelo Ney tempos depois.

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SECOS & MOLHADOS

Eles estão revolucionando o som pop brasileiro

Com roupas louquíssimas, muita maquilagem e um som da pesada, eles são um sucesso incrível: 100 000 discos vendidos em poucos dias.







Para eles, cada show é um ritual Ney Matogrosso pinta o rosto alongando a linha dos olhos a a testa. João Ricardo cobre com tinta branca a cara toda, e Gérson desenha um coração ao lado do nariz. Já está tudo pronto: mais uma vez os Secos & Molhados vão cantar para uma casa lotada de gente que vibra com o grupo que Caetano Veloso definiu como “uma das coisas mais importantes que já aconteceram na música brasileira”. E a crítica também tem elogiado muito o trabalho musical que eles fizeram em cima de poemas de Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo. Mas quem é quem no Secos & Molhados? Os compositores João Ricardo (harmônica de boca) e Gérson Conrad (violão) acompanham as incríveis vocalizações de Ney Matogrosso, além de mais quatro caras que fazem um som da pesada: Marcelo Frias (bateria), Sérgio Rosadas (flauta transversal e ocarina), John Prado (guitarra) e Willy Verdaguer (contrabaixo). Em 1971 eles fizeram a música para a peça Corpo a Corpo, de Antunes Filho. Mas foi depois da primeira apresentação em público, na Casa de Badalação e Tédio (São Paulo), que o grupo estourou. O primeiro LP já vendeu 100 000 cópias e continua nas paradas (Sangue Latino, Rosa de Hiroshima e Vira são as faixas de maior sucesso). E. renovando-se a cada apresentação, eles parecem dar vida às palavras de Ney Matogrosso: “Sem regras estabelecidas é bem melhor a gente viver”.

Eles misturam música e poesia. E a receita deu certo


PS: reparem que as pinturas ainda não eram aquelas pelas quais eles viriam a ser reconhecidos.


Propaganda da gravadora Continental


FONTE:
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O RETORNO DA ONÇA-PARDA À ARARAS E REGIÃO

Numa certa data de 1990, Araras foi pega de surpresa com uma surpreendente notícia. Naquele dia, os colunáveis, esportistas e políticos tiveram que se conformar ao se ver seu brilho ofuscado pela sombra de um insuspeito animal: com 60 quilos de puro músculo, garras cortantes e instinto matador, uma onça-parda (Felis concolor) fora morta às margens do rio Mogi Guaçu, no sítio de Geraldo Jesus Ramos, pescador que, acidentalmente, a caçou numa armadilha de capivaras. Infelizmente, Geraldo cometeu o desatino de matá-la com a intenção de aproveitar o seu couro. Denunciado, foi autuado e processado por crime ambiental.

Um guarda florestal da unidade local, o que me passou as informações acima, citou que, em 2006, em certa estrada da cidade de Iracemápolis, foram atropeladas, no mesmo local e em circunstâncias diferentes, três onças da mesma espécie. Em 1997, um exemplar adulto foi atropelado na rodovia que liga Pirassununga à Analândia (foto). Ela foi encontrada morta às margens da estrada e foi trazida para Araras pelo amigo Joemilson Ramos para que eu a fotografasse. Na década de 1980, dizia-se que uma outra fora morta nas matas da fazenda Mata Negra. No final da década de 1990, José “Zéca” Daltro, ao descer o Morro da Corredeira, nas Cascata, viu um exemplar em pleno dia atravessando a pista que leva aos ranchos de pesca. Um outro amigo contou-me que na curva da estrada que dá acesso à fazenda Riachuelo, uma onça-preta, também conhecida como jaguaretê – forma negra mielínica da onça-pintada – foi atropelada por um caminhão em 2004. Um colega seu, caçando na fazenda Santa Cruz certa vez, foi perseguido por uma onça-parda. Ela fugiu quando ele disparou um tiro em sua direção.

A DELICADA SITUAÇÃO DA ONÇA-PARDA

Apesar de fazer parte da lista oficial de animais em extinção do IBAMA, a população de onças pardas vem aumentando em muitas regiões do país onde há muitas décadas não eram vistas. Apesar de estar incluída na lista brasileira de animais em extinção, seu numero vem aumentando visivelmente. Uma reportagem da revista Veja de setembro de 2005, cita que, no Brasil, as onças suçuaranas, como também conhecidas, estão se tornando freqüentes em torno das cidades e áreas rurais. “Recebemos de dez a vinte chamadas por ano para retirar onças-pardas dos sítios, ruas e até das casas das pessoas, e esse número cresce ano a ano”, diz Rogério de Paula, coordenador do programa de conflitos entre predadores e populações humanas do Centro Nacional de Predadores do Ibama. Elas têm sido observadas, inclusive em áreas urbanas ou de grande densidade populacional, como a Serra da Cantareira, no entorno de São Paulo, Ribeirão Preto, Peruíbe, Sorocaba, Uberlândia e Brasília, etc. Nos dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, em Campinas, elas são vistas em plena luz do dia cruzando estradas vicinais e trilhas de matas. Em Minas Gerais, ela é o novo freqüentador do colégio de Caraça depois do lobo-guará, que começo a aparecer por ali a partir do inverno de 1982. O pessoal orienta as pessoas a não se assustarem com as suçuaranas, “pois elas não costumam atacar as pessoas. (...) ela come bezerros, cabritos e até cachorros, mas não vê a gente como presa". Em Araxá, começaram a registrar a ocorrência de mortes em rebanhos bovinos causadas por suçuaranas. Na fazenda Santa Lúcia, cujo rebanho atinge 5.500 cabeças, num ano foram mortos 400 animais. Hoje a fazenda tem cinco cães de caça da raça maremano e os ataques são mínimos, “só ocorrem quando os cães não estão perto”. “Uma onça parida, com dois filhotes, pode matar 70 bezerros num ano”, afirma o presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira. Na reserva florestal das Indústrias Klabin de Papel e Celulose, no Paraná, ao se realizar um censo para verificar a quantidade de animais silvestres existentes, os pesquisadores tiveram uma surpresa: eles verificaram que aumentou o número de suçuaranas na reserva. Já existem cerca de cem exemplares naquela área, composta por 100 mil alqueires de floresta plantada e 85 mil alqueires de mata natural.

As suçuaranas se encontram em risco permanente por vários motivos: a especulação imobiliária em áreas rurais, o perigo de atropelamento nas estradas, os caçadores clandestinos, a degradação das áreas verdes, a falta dos chamados corredores ecológicos. Para complicar, para elas perambularem, caçarem, abrigarem-se e procriarem, necessitam de territórios relativamente amplos (40 a 50 km2, ou cerca de 5 mil campos de futebol). O fato de elas estarem sendo vistas nos “sertões” ararenses, é um claro sinal de que, aqui, elas estão encontrando relativas condições de sobrevivência, mas isso não indica que elas estejam vivenciando um boom populacional – para uma espécie “vingar” em uma determinada área requer-se pelo menos 2 mil indivíduos. Segundo o maior especialista em felinos do país, o zoólogo Peter Crawshaw, do Ibama, “A população de pardas gira entre 30.000 e 50.000 e está caindo”.

DISTRIBUIÇÃO, HABITAT, ALIMENTAÇÃO E MANIFESTAÇÕES

A onça-parda era o felino de mais ampla distribuição do Continente, e podia ser encontrada desde o Canadá até o Estreito de Magalhães. Por estar no topo da cadeia alimentar, ela está entre os primeiros animais a serem prejudicados pelos danos ambientais. Pode atingir 1,30m e pesar de 30 a 90 kg, dependendo da região que freqüenta A reprodução ocorre a cada dois anos aproximadamente, com ninhada de 2 a 4 filhotes, e seu período de vida é de aproximadamente 15 anos. É um animal solitário e caça sempre ao entardecer. De alimentação bem vasta, também persegue cervos, alces, ratos, lebres entre outros, atacam cavalos, gados e galinheiros de fazendeiros. A polícia florestal local , até o momento, não registrou ataques de onças à animais domésticos, tampouco à criações, o que indica haver fartura de presas selvagens, como, p. ex., o coelho tapiti, que vive em capoeiras e canaviais, e do qual a onça-parda pode caçar diversos exemplares numa só noite.

Quem ouvir pelos matos sons semelhantes ao gato doméstico, porém mais altos, pode se tratar de uma onça-parda. Ela costuma vagar por matas, campos, pastagens e capoeiras, e, às vezes, é obrigada a atravessar estradas e, também, o caminho do mais temível de todos os predadores, o Homo sapiens.

ONÇAS NA ARARAS ANTIGA E REGIÃO

Numa matéria publicada na Tribuna do Povo em 1935, dentre os animais proibidos de se caçar em todo o território nacional pelo Serviço de Caça e Pesca, as onças não estavam na lista. Curiosamente, se lia:

“Quando ocorrem em zonas de plantações ou de criação, mediante requisição ao Serviço de Proteção e Pesca, poderão ser caçados os seguintes animais: onças, gatos do mato, raposa do campo, jacaré, aves granívoras (papagaios, periquitos, pombas, sanhassos e melros).”

Em agosto do mesmo ano, novamente a Tribuna publica outra matéria sobre o tema:

“Conforme edital que vem sendo publicado no ‘Diário Oficial’ e de acordo com o art. 119 do Código de Caça e Pesca, encerrar-se-á a 31 do corrente a atual estação de caça neste Estado.
Até de abril do ano próximo, o exercício de caça estará proibido e as estrada de ferro e outras vias de transporte não poderão receber para despacho quaisquer animais selvagens, vivos ou mortos, de pelo ou não, salvo ordem especial do Departamento de Indústria Animal.”

A foto ao lado, é de uma caçada realizada próximo à Porto Ferreira em 1939, em que o autor do livro disse ser a última onça capturada na região. O exemplar é uma onça-pintada (Panthera onça), ao que se sabe, extinta na região, mas se é verdade que se atropelou aquela onça-preta, é provável que a pintada exista na região.

Martinho Prado Júnior, proprietário da fazenda Campo Alto em Araras, recordando-se do antigo dono de sua fazenda – a Guatapará – em Ribeirão Preto, comprada em 1895, escreveu:

“Todas essas glebas que estava percorrendo tinham pertencido ao já falecido,na época, tenente Antonio de Souza Diniz, grande sertanejo que chegou a possuir 68 mil alqueires e ainda queria adquirir maior área porque “os filhos e filhas estava aumentando e a caça estava ficando rara”. Os descendentes desse terrível caçador de onças herdaram a sua paixão. Um deles, o Capitão Gabriel Junqueira, médico, advogado, juiz, árbitro popularíssimo, tinha no seu ativo 86 onças pintadas. Até hoje, depois de quase um século, os Junqueiras ainda conservam o prestigio da família e a mesma paixão pela caça”.

O caçador e pescador Francisco de Barros Júnior, em seu livro Caçando e Pescando por todo o Brasil (3ª série), em cena passada provavelmente na década de 1930, traz a história de um pescador que se deparou com uma onça às margens do rio Mogi Guaçu:

“Contou-me velho caçador, que, certa vez, no Mogi Guaçu, estava nos galhos de uma grande árvore tombada sobre o rio mas ainda presa ao barranco pelas raízes, à espera de uma anta que os cães haviam levantado, e dos quais não tinha notícias havia mais de uma hora.
Com a arma carregada a bala, atravessada sobre as coxas, ocupava-se em picar fumo para um cigarro. De onde estava, até o barranco, haveria uns oito ou dez metros, e sua posição o colocava de costas para ele. Perdido em pensamentos por um negócio que o preocupava, nem se lembrava da corrida, quando sentiu estremecer de leve o galho em que estava sentado. Olhou meio desinteressado por cima do ombro direito, e viu uma enorme pintada já sobre o tronco, encolhida como para saltar. ‘Fiquei frio e angustiado, disse-me ele; pensava em como poderia defender-me apenas armado daquela faquinha de ponta, cujo comprimento não chegava a um palmo!... E assim nos encarando, ficamos por alguns segundos, que para mim duraram uma eternidade. Por fim, talvez como válvula de escape para a tensão em que estavam meus nervos, larguei num berro de pavor, ao mesmo tempo em que estendi para a frente, como ameaça, o braço armado com a faca. Saaai Diaaabo! A fera assustando-se, deu um salto, embrenhou-se na mata. Só então é que me lembrei da espingarda...’
Isso por certo, foi o que aconteceu àquele nosso saudoso amigo...”

MORTES POR ATAQUE DE ONÇA

A única morte por ataque de onça registrada no Brasil foi a de uma criança, nas cercanias da cidade de Carajás, Pará, em 1992. No EUA, entre 1890 e 1990, elas mataram seis cidadãos, afirmou o biólogo Paul Beier, da Universidade da Califórnia. “Mas de lá para cá, um período bem menor, já pegaram outros quatro”, alertou. Apesar de a suçuarana ser um animal arredio, é bom não facilitar e procurar não ir sozinho para os campos, matas e rios e, mantendo-se constantemente vigilante, se colocando num lugar seguro e bem iluminado de onde se possa avistar toda a redondeza e, assim, procurar evitar um provável ataque traiçoeiro. Suas garras são bastante fortes, o que os tornam ótimos trepadores de árvores, além disso são capazes de grandes saltos, podendo chegar a seis metros de extensão quando está caçando, ou saltar muros de cinco metros e mesmo saltar de lugares com quinze metros de altura.

Com as novas leis ambientais coibindo a caça, e a proibição do uso particular de armas, a tendência agora é que sua população aumente e creio que não será difícil aos que freqüentam as regiões isoladas de Araras se depararem com uma. É conveniente não ir sozinho para os campos, matas e rios e, mantendo-se constantemente vigilante, procurar se colocar num lugar seguro, de onde se possa avistar toda a redondeza e, assim, procurar evitar um provável ataque traiçoeiro.

Os cientistas são da opinião que é possível conviver pacificamente com esse felino, desde que eles não fiquem sem comida. O maior caçador de onças no país, o Tonho da Onça, de Rondonópolis – 600 onças mortas no currículo e hoje convertido ao conservacionismo –, concluindo que ela não tem culpa nos incidentes em que está envolvida, sentenciou numa breve frase o real problema da onça-parda no Brasil: “Aquilo é fome”.

Tem gente que acha que elas não tem nenhum papel de importância na natureza, mas cientistas afirmam que os carnívoros influenciam a composição vegetal de um ecossistema e o processamento da energia solar na Terra, ou seja, o modo como o predador age afeta o quão verde pode ser o ambiente – é como se o tipo de vegetação predominante estivesse ligado ao modo como as onças fazem as caçadas – vagando em buscas de presas ou ficando parados para fazer emboscadas. Mas o que isso tem de bom ou ruim? A perda dos mais altos predadores da cadeia, no qual as onças se incluem, pode afetar o resto das espécies, seja na sua abundância, seja na sua diversidade. Em última análise, a presença ou não de onças numa região serve como indicador de qualidade ambiental: quanto mais onças numa mata, maior a biodiversidade geral da vida que existe nela. Infelizmente, existe quem, mesmo sabendo dos riscos pelos quais ela passa, defenda a idéia de que as elas devem ser invariavelmente mortas. À estes recomendo uma célebre frase do escritor Bernard Shaw: “Quando um homem quer matar um tigre, diz que é esporte; quando um tigre quer matá-lo, diz que é ferocidade”...

FILHOTES DE JAGUATIRICA SÃO ENCONTRADOS EM CANAVIAL DE ARARAS

Uma outra espécie de felino que também pode ser encontrado na cidade é a jaguatirica (Pantera pardalis): em 11 de março de 2008, três filhotes foram achados por cortadores de cana num canavial do município. Os três – duas fêmeas e um macho – foram abandonados pela mãe, que provavelmente sentiu a presença do homem nas proximidades do ninho e fugiu, largando para trás a cria. Os animais, com cerca de uma semana de vida, foram levados inicialmente para uma clínica veterinária em Pirassununga, a 213 km da capital, onde foram alimentados com leite de vaca, creme de leite, ovo e vitamina.

COMO AGIR SE VOCÊ SE DEPARAR COM UMA ONÇA:

- Tente parecer maior do que é. Levante os braços e fique nas pontas dos pés;
- Não se deite nem finja de morto. Ela ataca na hora. Se você se agachar, ela pode pensar que você é um quadrúpede. Só vai fazê-la lamber os beiços...;
- Grite, jogue coisas, ameace partir para a luta. Acredite: ela tem mais medo de você do que você dela;
- O mais importante: não fuja. Sair correndo de um predador assim é quase como pendurar no pescoço um aviso "sou uma presa". E ela é mais rápida...


BIBLIOGRAFIA

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terça-feira, 29 de julho de 2008

O DEBOUT DO MADE IN BRAZIL NA PRIMEIRA GRANDE REVISTA BRASILEIRA DE ROCK

Atenção, galera, diretamente da ARCA DO COBRA, outra entrevista inédita (na internet), sobre o debout da banda de rock Made in Brazil, publicada na revista POP, no distante abril de 1975!

MADE IN BRAZIL - A VIOLÊNCIA DO ROCK

No meio da enxurrada de grupos de rock que apareceram no ano passado,

o Made in Brazil voltou aos palcos, com muita androginia e violência.


É um grupo que não esconde suas intenções. Nos cartazes de shows, nos textos que manda para a imprensa, em tudo o que faz, o Made in Brazil deixa sempre clara sua marca: a violência do rock. Quando toca, o grupo promove um verdadeiro ritual de agressividade, usando clichês de androginia, decadência e deboche, onde a maior preocupação é chocar o público e levá-lo a dançar. É assim que os caras do Made garantem que chegarão à posição que pertencem há muito tempo – e de maior conjunto de rock do Brasil. De 1969 até agora, mais de trinta músicos já tocaram no grupo. A formação atual é: Osvaldo (baixo e vocal), Celso (guitarra), Maurício (teclados), Júnior (bateria) e Fenilli (percussão). À frente desses cinco, encarnando as curtições mais debochadas possíveis, aparece Cornelius Lúcifer, o vocalista andrógino, de voz grossa e agressiva, que usa uma crista de galo na testa.

No palco, Cornelius Lúcifer é a encarnação do demônio. Cospe no público, faz mirias com o microfone e corre de um lado para o outro como um doido. Rebola, pula, dança e grita: “Sou o rei do rock do Brasil”.


* A formação do MADE na foto é, da esquerda para a direita: Onisvaldo: teclado; Oswaldo Vecchione: baixo; Cornelius Lúcifer: vocal; Rolando Castelo Júnior: bateria; Celso Vecchione: guitarra-solo; e Fenili: percussão.

FONTE:
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segunda-feira, 28 de julho de 2008

OS GRANDES FESTIVAIS DE MÚSICA DE ÁGUAS CLARAS


Recentemente, tive o desejo de fazer uma página sobre os grandes festivais de Águas Claras, que ocorreram em 1975, 1981, 1983 e 1985 na fazenda Águas Claras em Iacanga/SP. O primeiro foi considerado "o maior festival de música brasileira a céu aberto". Foram verdadeiros woodstocks tupiniquins, e, hoje em dia, infelizmente, já não se fazem mais festivais assim. Mas como uma organizadora do festival - a iluminada Sétima Lua - já fez um blog, limitei-me a postar uma matéria aqui falando destes saudosos dias de música, paz amor e natureza ( e drogas...)! Abaixo, o cartaz de 1975.



Aqui, um trecho do depoimento que Sétima Lua fez, falando das bandas que participaram:

"Na 6a. feira à tarde a primeira banda a se apresentar foi a moçada da Orquestra Azul, e na madrugada da 2a. feira, se me lembro bem, o último show foi o do Terço, cuja tarefa hercúlea de encerrar uma maratona daquele naipe, foi muito bem desempenhada mostrando quem é bom faz ao vivo. Entre a primeira e a última banda, como esquecer o exótico buffet vegetariano do Antonio Peticov que alimentou nosso corpo e nossa alma; do big temporal que alguém vaticinou que ia, mas não foi; das peripécias do Arnaldo Baptista pela fazenda e sua antológica apresentação com a Patrulha do Espaço... sentado na platéia; da elegância do Terreno Baldio e dos charmosos arranjos do Moto Perpétuo; dos contagiantes Jazzco, Apokalypsis e Rock da Mortalha; da farra do Som Nosso de Cada Dia (alô alô Pedrinho Batera, onde quer que você esteja); dos times musicais Burmah, Mitra, Dan Rockabilly, Tony Osanah, Cogumelo (a banda) e tantas outras pérolas que subiram naquele histórico tablado."

Veja, só a galera e os hippies, na edição de 1975. Não mudou nada...



Um comentário deixado pelo Aranha:

"1975 foi diferente dos outros, mesmo porque era uma época diferente, público diferente e tudo mais diferente. Chegamos na terça feira e já haviam algumas barracas, pessoal com os quais repartiamos comida, gentileza e etc e tal, tudo com espírito solidário e muita qualidade. Dava prá ficar mais uma semana lá sem esforço. O encerramento foi o com O Terço mesmo, enfim, pura magia! Estive em todos os outros, todos muito bons mas 75 foi diferente."

O "woodstock brasileiro", em 1981. Revista:



Aqui vai o link do blog "Aguas Claras Festival":
http://aguasclarasfestival.blogspot.com/

Comunidade no Orkut:
http://www.orkut.com.br/CommTopics.aspx?cmm=431543&na=3&nst=-2&nid=431543-987281379-2491515398924004624

Fotos da Silene, no Orkut, dos festivais de 1981 e 1983:
http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom.aspx?uid=5061372775480700106&pid=1227283585532&aid=1227175799$pid=1227283585532
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segunda-feira, 21 de julho de 2008

OS 100 ANOS DA PRIMEIRA CORRIDA DE AUTOMÓVEIS DA AMÉRICA DO SUL


CONDE SYLVIO ÁLVARES PENTEADO - UM PILOTO ARARENSE, “O HOMEM MAIS RÁPIDO DO BRASIL” 

No início do século 20, no primeiro semestre de 1908, fervilhavam as manchetes sobre acontecimentos automobilísticos no Brasil, e o principal dentre os realizados na época ficou conhecido como “A Primeira Competição Automobilística na América do Sul”. Considerada a primeira corrida oficial do país, foi realizada pelo Automóvel Club de São Paulo no distante 26 de julho de 1908. Neste data, um domingo, um ararense mudaria a história do automobilismo no País ao vencer essa pioneira corrida. O autor da façanha foi o conde Sylvio Álvares Penteado, nada mais nada menos que neto mais velho do Barão de Araras. Nascido em Araras em 25 de julho de 1881, era muito jovem ainda no dia da competição: mal acabara de completar 27 anos, foi considerado “o homem mais rápido do Brasil”, na verdade, da América do Sul.

O Parque Antarctica foi o palco da largada e chegada, isto numa época em que as ruas de São Paulo eram tranqüilas e dominadas por modernos bondes elétricos, disputando espaço com carroças e outros veículos tracionados por animais. O itinerário seguia por uma estrada muito precária, que ficou conhecida como “Circuito de Itapecerica”. Era uma estrada ruim, de solo empoeirado e acidentado, e saía do Parque Antártica indo até Itapecerica, na Zona Oeste de São Paulo, num circuito em forma de laço, cujo percurso completo atingia 75 km. No Parque se reuniram 10 mil pessoas, com ingressos ao valor de 2 mil réis, e 400 mil saíram às ruas para ver a competição. 
  
 

Sylvio competiu com um Fiat italiano de 40 cavalos. Para participarem, carros pagavam 100 mil réis e motos 50 mil réis. Eram 5 categorias e só poderiam conduzir condutores amadores, ou seja, que não fossem pilotos ou mecânicos assalariados. Inscreveram-se 16 carros e 3 motos nesta competição, que, na verdade, era mais um rallye do que efetivamente uma corrida, pois cada piloto largava individualmente, com 5 minutos de intervalo entre eles. 

Às 13h16m, após a partida do primeiro piloto da categoria D – o carioca Gastão de Almeida – explodem as palmas e os gritos: é a platéia paulistana que aplaude de pé nas arquibancadas do Parque Antártica a partida do Fiat de Sylvio. Horas depois, às 14h46m05s, a multidão ouve o barulho de motor de um competidor que se aproxima do ponto de chegada. Todos esperam ver o carro Lorraine-Dietrich de Gastão... mas quem surge é o conde Sylvio...

Acontece que, em Santo Amaro, o mesmo Gastão, que levava 5 minutos de vantagem sobre Sylvio, perdeu o reservatório de óleo, que caiu a 6 quilômetros da chegada. Assim, Sylvio, que vinha logo atrás, o ultrapassou e conseguiu chegar em primeiro lugar, completando o trajeto em 1h30m55s.

Após a célebre corrida, da noite para o dia Sylvio se tornou uma figura popular e ídolo dos paulistanos. Nas semanas seguintes, ao vê-lo passar com seu carro indo para o trabalho, todos o reconheciam e diziam: “Lá vai o nosso herói!”.
 
Poderia usar aqui o chavão: “guardada as devidas proporções”, mas para referir ao conde Sylvio, convém colocá-lo no mesmo pódio que Ayrton Senna, uma vez que por sua façanha ele nada deve à Senna: Sylvio foi um dos primeiros pilotos de automobilismo no Brasil e vencedor da primeira corrida; logo, ele não tinha antecedentes neste então esporte nascente.
 
Esta corrida foi um evento fascinante de uma fase histórica do automobilismo brasileiro, e coube ao nosso ilustre conterrâneo estrelar esse que é um dos mais belos momentos do chamado automobilismo romântico brasileiro.

Sylvio faleceu aos 75 anos, em 1956, sendo considerado um dos líderes e grandes fomentadores da indústria brasileira.


BIBLIOGRAFIA:

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domingo, 20 de julho de 2008

PARDAL, 100 ANOS DE BRASIL?


Não se pode imaginar a paisagem brasileira sem presença do café, a cana de açúcar, o algodão, certas espécies de bambu, o capim colonião, a mamona e o eucalipto – plantas exóticas introduzidas que promoveram uma verdadeira “colonização da paisagem” no país, dando a inúmeras regiões naturais uma característica estética que originalmente não era a sua, e que a maioria da população, há muito, sempre acreditou ser. Quanto às aves introduzidas, o que dizer, então, do “onipresente” pardal – pássaro exótico que em 2006, segundo o consenso geral, completou 100 anos de Brasil, ave cuja vocalização está entre as mais ouvidas dentre os pássaros que costumam habitar as zonas urbanas?

“Pardo pardal por que palras?

Palro e sempre palrarei

Porque sou o pardal pardo

Palrador d’El Rei.”

(Travalínguas colhido em 1954)



No ano 1983, o filósofo carioca Nataniel Dantas escreveu na revista “Cultura” do MEC (Ministério da Educação e Cultura): “Os pardais (Passer domesticus L.) estão fazendo 81 anos de Brasil, sem que um poeta, um cronista ou os jornais digam alguma coisa”. Ele pode ter se equivocado na estadia do pardal em terras brasileiras, mas agora que chegamos ao provável centenário da introdução deste pássaro no Brasil, é oportuno discorrer sobre ele e suas implicações, que, por ser ave introduzida, é acusado de trazer problemas aos locais onde apareceu, fato que não impediu os mexicanos de transformá-lo em ave símbolo. Sabe-se de naturalistas que tinham verdadeira aversão ao pardal. m deles, o conservacionista e taxidermista Willian Hornoday, em sua “História Natural” escreveu: “Deixa-me molhar a pena em ácido corrosivo; ferve-me o sangue ao pensar que devo escrever seu nome!”. O pardal é citado até mesmo na Bíblia em alguns salmos (84; 102). Nelson Vainer cita a famosa a história de Frederico Guilherme II da Prússia, o Grande, Rei da Prússia (1740-1786) “que, irritado contra os pardais, estipulava um prêmio de seis cêntimos pela cabeça de cada pardal morto. Resultado: a destruição desta ave foi rápida e os insetos, livres desse de seu terrível inimigo, atacaram de tal forma as culturas a ponto de as árvores frutíferas nem sequer chegaram a dar folha. Outro resultado: o mesmo monarca, certo que cometeu outro erro gravíssimo, revogou o seu decreto e estipulou outro preço – a importação de pardais!”

No Brasil é personagem de lendas de cunho religioso ou não. Seu nome foi popularizado entre as crianças brasileiras na figura do personagem de histórias em quadrinhos, o Professor Pardal, criado por Carl Barks para os estúdios de Walt Disney em 1952, cujo nome nos EUA é Gyro Gearloose, uma gíria, algo como a popular expressão “fora do cabo”. Na realidade, este personagem não é um pardal, mas sim um frango...

No Brasil, se tem introduzido aves exóticas desde os tempos coloniais. Com fins ornamentais trouxeram o pombo doméstico (Columba livia doméstica), os galináceos (Phasianidae) como provisão alimentar, e até aves com a finalidade de se combater pragas naturais, como o próprio pardal, e, em alguns casos, a introdução foi acidental, como aconteceu com o bico-de-lacre (Estrilda astrild). Pelo que leremos a seguir, poder-se-á constatar que o pardal adquiriu cidadania plena na Terra Brasilis, não honorária, naturalmente...

DISSEMINAÇÃO

É consenso que o pardal surgiu no Velho Mundo já no período Terciário, entre 65 e 2 milhões de anos atrás. A diáspora desta ave, pertencente à família dos Ploceídeos é impressionante: sua disseminação se deu a partir das regiões de entorno da Europa e da Ásia, invadindo, em seguida, a África. Foi introduzido na Austrália, Nova Zelândia, na América do Sul e na do Norte, aonde chegou primeiro a Cuba (1850), depois aos EUA, no ano seguinte, quando 100 pássaros foram soltos em Brooklyn, Nova Iorque. Hoje, a presença do pardal é garantida em quase todos os países do mundo, o que lhe caracteriza como uma éspecie exótica e bioinvasora. A bioinvasão é a chegada, o estabelecimento e a expansão de uma espécie exótica em um local onde não é o seu habitat natural historicamente conhecido, resultante de dispersão acidental ou intencional por atividades humanas (Carlton, 1996). Hoje é encontrado até mesmo no Pólo Norte ou nas estepes geladas da Terra do Fogo (foto) e na Argentina (1872). Consta que o pardal, por seu alto grau de especialização e grande potencial biótico para a vida em um novo meio, dobrou, durante cerca de um século, sua área de distribuição geográfica mundial como resultado de sua introdução, ora intencional, ora acidental, habitando atualmente mais de um quarto do globo, sendo considerado, numericamente, a segunda ou terceira ave do Mundo, tendo à sua frente a galinha doméstica, seguido pelo estorninho (Sturnus vulgaris). Como ave sinantropa, é imbatível, e ao contrário da África, por exemplo, não existem espécies congêneres de exigências bióticas semelhantes. É considerado pássaro com alto quociente de inteligência, estando sempre alerta e desconfiado, inclusive não se deixando domesticar. Sentindo ameaçado, foge imediatamente, estratégia que o tornou ave privilegiada dentre todas no que diz respeito à autodefesa.

NO BRASIL

Não se sabe com precisão quando o pardal veio para cá disputar os beirais de telhados com as residentes andorinhas, e há diversas versões sobre sua introdução no Brasil. Entre as versões mais aceitas destacam-se duas: uma, é a que diz que o engenheiro e prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, autorizou, em 1903, a soltura de exemplares provenientes de Lisboa na região de Campo de Santana. O renomado ornitólogo Helmut Sick cita história algo semelhante, e, assim como Werner Bokermann, dá a data de 1906, e diz que foi Antônio B. Ribeiro, que trouxe de Leça da Palmeira, Portugal, 220 exemplares, para soltá-los na mesma região carioca com a aprovação de Passos, e acrescenta que “alegaram colaboração de Oswaldo Cruz na sua campanha de higienização da cidade, pois os pardais eram considerados inimigos dos mosquitos e outros insetos transmissores das enfermidades que grassavam no Rio”. Curiosamente, o professor Manoel Pereira de Godoy, ex-funcionário do CEPTA, de Pirassununga, em seu livro Contribuição à História Natural e Geral de Pirassununga(1974), citando Helmut Sick, num dado extraído da publicação Zoologia - Boletim do Museu Nacional do Rio de Janeiro, No 207, página 8,diz que “o Prefeito Pereira Passos mandou uma pessoa buscar 200 casais de melros... e trouxe pardais!”.


Na verdade, o pardal se alimenta basicama vacinação em massa, a situação já estava sobre controle e havia apenas 9 casos de febre amarela. A iniciativa de Pereira Passos teve também um conotação simbólica – o prefeito achou que os pardais iam “tornar o rio mais atraente”, fixando não só na terra como nos ares a imagem da civilização que ansiava. Segundo a professora Maria Ercília do Nascimento, por ser pássaro comum nas grandes capitais européias, o pardal foi associado à modernidade e ao progresso. Além destas duas versões, há outras, como a que atribui a um negociante português sediado no Rio Grande do Sul, a encomenda do primeiro casal, e mesmo ao jornalista Assis Chateaubriand, que os teria trazido de Paris para auxiliar as URBs brasileiras. Outra ainda, cita que foi o engenheiro e jornalista Garcia Redondo quem mandou vir pardais da Europa, e, considerando-os “muito proveitosos, sendo insetívoros por excelência”, soltou-os no Rio, em setembro de 1907.


Cita-se que no Recife, os minúsculos insetos conhecidos popularmente como “lacerdinhas”, Gynaikothrips ficorum (Marchal, 1908), infestavam figueiras ornamentais da espécie Ficus retusa (var. nitida Thumb.), do Parque 13 de Maio, e traziam problemas às pessoas que passavam por sobre estas árvores nas horas quentes do dia, caindo-lhes nos olhos, provocando forte irritação com o líquido cáustico que expeliam. Inicialmente cogitou-se de exterminá-los através de fumigação, mas constatou-se que o procedimento seria nocivo às árvores. Não se têm informações precisa sobre quem sugeriu a introdução de pardais neste parque como forma de se erradicar os “lacerdinhas”. Comenta-se que o primeiro casal a entrar no Recife (1964 ?), eram provenientes de Santos, trazidos por um Português. Em 1979, a Prefeitura do Recife, anunciou pela imprensa que iria acabar com a “praga de pardais”, mas temendo a polêmica que tal medida poderia gerar, desistiu de levar a empreitada adiante. Há registros de que estes insetos surgiram no Brasil em 1961, vindos da Ásia Oriental, invadindo, a partir de então, diversos estados brasileiros. Helmut Sick, em seu livro Ornitologia Brasileira, 1997, faz um amplo e minucioso apanhado com localização e datas sobre a disseminação do pardal no Brasil.


Em 5 de abril de 1914, num artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, Rodolpho von Ihering, então assistente do Museu Paulista, atacava violentamente o pardal e sua importação. O professor acusa o pássaro estrangeiro de granívoro e, portanto, destruidor de lavouras. Ressalta ainda o fato do pardal afugentar os úteis pássaros nativos como o tico-tico (comedor de insetos), a corruíra, os anus, os bem-te-vis e as tesouras. Citando um relatório norte-americano sobre a nocividade do pardal, Ihering pediu imediata caça e destruição da ave. Mas Nelson Vainer cita que, mais tarde, Ihering também fora realista com a situação, do qual transcreveu: “Apesar de sermos inimigos declarados desta ave estrangeira (...), devemos agora incluí-lo no rol da nossa fauna, pois em vários pontos do país já se acha o pardal acimado, de forma a não mais podermos nutrir a esperança de um dia vê-lo desaparecer.”


A introdução deliberada de animais, feita sempre sem nenhum estudo científico levando em conta seu impacto, é praticada em todo o planeta e em todas as épocas. Mesmo assim, são imprevisíveis suas implicações, pois nunca se sabe se uma espécie exótica virá a se tornar praga, seja por competir com as espécies nativas, seja comprometendo o meio ambiente e o próprio ser humano. Eurico Santos, denominando-o “calamidade de pena e bico”, acusou o pardal de atacar a corruíra (Troglodytes aedon) e o tico-tico (Zonotrichia capensis), chegando mesmo há afirmar que não havia mais corruíras nos litorais e havia rareamento de tico-ticos. Uma publicação no Nordeste, sob o tema ecologia, apresentou-o como “mau caráter”. Herman von Ihering, afirmando que todas as suas credenciais são negativas, definiu-o como “briguento e egoísta”. A má fama do pardal chegou mesmo a ser cantada em uma marcha lançada no Carnaval de 1948 (Continental, 78 rpm), pelo grupo “Namorados da Lua”, do qual o cantor Lúcio Alves fazia parte.

Há relatos antigos sobre matanças de pardais na Europa. Thomas Keith em O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1988), diz: “Quanto aos pardais, a mesma paróquia (Deeping St. James, Lincolnshire) viu, entre 1764 e 1744, a destruição de cerca de 14 mil, mais 3500 ovos. Freqüentemente, esses troféus eram expostos nos adros das igrejas ou pendurados no estábulo – que Gilbert White (The Natural History of Selborne. 1788, carta para Pennant) chamava ‘o museu do campônio’.”. EM outra passagem menciona: “No começo do século XIX na Inglaterra, o foco deslocou-se novamente e houve uma proliferação de clubes suburbanos de pardais, cujos membros competiam para ver quem matava maior número dessas aves”.

O escritor Sergio Milliet cita que, por volta de 1810, a Câmara de São Paulo insistia sobre a urgência da matança em massa dos tico-ticos e viras, considerados altamente prejudiciais às lavouras. Mais, tarde, em 1820, um edital (Reg. Geral XVI, 119) mandado publicar em todas as freguesias, estabelecia um limite de 24 assassínios para cada “cabeça de casa em particular” e uma multa de 1$200 “contra aquele, ou aqueles, que assim não cumprirem”. Milliet menciona também que os “pássaros continuaram a viver e proliferar, com exceção do pobre tico-tico, hostilizado pelo pardal, que outro administrador entusiasta introduziu no Brasil”.

No município baiano de Souto Soares, em janeiro de 1994, o Centro de Recursos Ambientais da Bahia tentou dar cabo de uma praga de pardais que invadiu a cidade com a ajuda de dois gaviões carijó (Buteo magnisrostris) e quatro caracarás (Polyborus plancus), considerados predadores naturais destas aves. O biólogo Geraldo Aquino, que levou as aves do zoológico de Salvador até a cidade, afirmou que este é um tipo de controle de praga biológico e eficiente. “Um sobrevôo das aves predadoras já é suficiente para espantar os pardais da zona urbana”, citou. Como “pagamento”, as aves ganharam a liberdade.

Em todo o planeta há relatos de competição de aves autóctones com alienígenas, geralmente sempre em detrimento das primeiras. Todas as espécies translocadas que têm se adaptado à novas situações ecológicas, ou se apoderaram de um nicho disponível – o que é bem pouco provável na maior parte dos casos – ou tomaram-no das aves residentes. No caso do Brasil, Sick assevera que ele “encontrou um ‘nicho’ aberto” e sua introdução foi mais artificial do que natural, e houve mesmo quem, se aproveitando do fato de que ele era desconhecido entre as populações do interior, chegou a negociá-lo como ave de gaiola, situação em que o pardal chega a viver 23 anos.


ALIMENTAÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCRIAÇÃO


Gregário por excelência, seus bandos podem atingir até meio milhar de exemplares. Como não se bastasse a sua onipresença e alta capacidade sinantrópica (adaptação às zonas urbanas), o pardal é onívoro e se alimenta de tudo o que lhe seja possível comer. Sick cita que “é extraordinário como o pardal descobre sempre novas fontes de alimento graças à observação atenta, verificando logo se há vantagem de um novo prato”. Surpreendentemente, em março de 1971, o pardal foi encontrado no Atol das Rocas, ilhas situadas a 250km do continente. Convém ressaltar que neste atol não há água potável e os dois exemplares encontrados – um casal – estavam em péssimo estado. Sobreviveram comendo beldoegra-da-praia (Portulacaceae?) e minúsculos crustáceos conhecidos por “pulgões-da-praia”. Em 1985 foram encontrados 16 exemplares saudáveis, o que denota a alta capacidade adaptativa deste resistente pássaro. O jornalista Nóbrega da Cunha relatou, em pesquisa publicada na revista “O Campo”, uma experiência que sobre a voracidade do pardal. Em um sítio seu em Jacarepaguá, plantou um lote de sementes de um sorgo norte-americano. Em sua experiência, documentada com fotografias, ele menciona que foram devorados 95% dos grãos. Não é consenso geral que o pardal cause prejuízos em hortas e pomares, danificando sementeiras e brotos de mudas de árvores, bem como culturas diversas. Há, porém, estudos comprovando que ele tem preferência pelo arroz, seguindo-se o milho, hortaliças, grãos e frutas.


Apesar de ser pássaro muito conhecido, muitos o confundem ainda com o igualmente popular tico-tico. O macho distingue-se da fêmea (pardoca) por seus tons castanhos mais escuros, possuindo uma coroa cor de chocolate e o bico escuro. Destoa da parceira também pela larga gravata preta no peito e pelo filete castanho-avermelhado que se estende dos olhos à nuca, mais escuro nele. Chamam também a atenção duas listas brancas na coberteira das asas.


À cada estação de acasalamento, o pardal, que é monógamo, procura uma pardoca que esteja próxima para procriar. Eurico dos Santos menciona que um tal de Clark matou as fêmeas de um casal de pardais do dia 25 de março até 1o de junho, e, em princípios de junho o macho já estava com sua quinta fêmea. Os ninhos, enormes em relação à ave, são construídos entre fevereiro e maio. Os lugares para a construção do ninho são os mais diversos, como em vãos de forros de telhados, buracos em edifícios e muros, estruturas de semáforos, campânulas de luzes urbanas, ocasionalmente o fazendo em ocos de árvores e coqueiros, etc. A verticalização das grandes cidades não é favorável à sua acomodação e acarreta seu declínio populacional. Cita-se também que a umidade excessiva exerce influência negativa no pardal e, fato comum, são muito frágeis à temporais e chuvas de granizo. Atualmente, se vê ninhos de pardais até mesmo no emaranhado das fiações elétricas improvisadas nas favelas do país, as populares “gambiarras” (foto). Uma vez pronto o ninho, ele se exibe à companheira eriçando a penugem negra do pescoço. Se isto a seduzir, ela entra no ninho e ambos estão prontos para constituir família. O ninho é macio no interior, forrado de vegetação seca, penas, fios de cordas e papel, porém, bastante desleixado no lado externo, onde já se encontrou até fios de cabelo. No Rio de Janeiro, na época de carnaval, o pardal costuma forrar o ninho com confetes. De um a cinco ovos são postos, e ambos podem incubá-los, revezando em períodos pequenos de alguns minutos cada, com incubação durando até 14 dias. A taxa de mortalidade dos filhotes em seu primeiro ano de existência é alta, mas há referências de que a procriar até três vezes por ano. Eurico dos Santos menciona que um certo Th. Bisschop retirou do ninho de um pardal os ovos, cada vez que eram postos, e, no transcurso de 4 meses, obteve 29 ovos. O mesmo menciona que o pardal, às vezes, se apodera de ninhos de andorinhas e joões-de-barro. Sick menciona que também se aproveita de pombais.


PREDADORES


Muitos falcões e corujas (suindara, Tyto alba) caçam o pardal. Já gatos, cachorros, ratos, gambás (Didelphis sp.), morcegos (Desmodus rotundus) e muitas espécies de serpentes se alimentam de seus filhotes e ovos. Cita-se um caso, que em Rio Claro/SP, “revelou perspectivas de vir a ser controlado pela comuníssima ave parasita brasileira, o chupim, Molothrus bonariensis”, mas, na realidade, todos estão muito aquém de exercer controle populacional sobre o fecundíssimo e “imperialista” pardal. No rio Grande do Sul, o gavião chimango, Milvago chimango, bem como o anu-branco, Guira guira, foram vistos saqueando ninho de pardais.

O pardal, no que tange ao tema “aves nocivas ao homem”, não chega a ser pior que outras aves residentes com características semelhantes (vide caturrita, o próprio chupim, etc), aliás, o também exótico pombo-doméstico tem se mostrado bem mais nocivo que o pardal. Seus ninhos podem abrigar o barbeiro, percevejo transmissor da doença de Chagas, e, tempos atrás, foi realmente confirmada no pardal a presença de Toxoplasma gondii, micróbio causador da toxoplasmose, mas não há relatos de epidemias. Werner C. A. Bokermann, biólogo do zoológico de São Paulo, diz que ele é responsabilizado pela transmissão da bouba, virose comum a aves domésticas. Apesar de ser acusado de competir na alimentação com canários-da-terra ou afugentar pássaros como as andorinhas e corruíras, desalojando-os de seus ninhos, o fato não chega a constituir um problema sério. O pardal também tem seus pontos positivos: há relatos de que, em época de reprodução, destrói quantidades consideráveis de insetos em plantações, e colabora com a limpeza das cidades se alimentando de resíduos e lixos domésticos. Não há mais nada o que se fazer para se erradicá-lo do país, talvez seja mesmo desnecessário. Helmut Sick chegou mesmo a considerá-lo “inexterminável”, mas não se sabe com precisão se a situação é irremediável. Em 1972 foi proposto a “Semana de Combate ao Pardal”, campanha que acabou não vingando. Assim como as cobras, o pardal veio a se tornar vítima de propaganda injusta, baseada apenas nas opiniões nem sempre corretas do senso comum, com direito ao primeiro lugar no pódio de animal nocivo pela Portaria no 1 de 5-1-1957. É oportuno relembrar o escritor Vivaldo Coaracy: “Não haverá nisso muito preconceito, talvez até um pouco de xenofobia, por ser o pardal ave importada?”.

Gustavo Pacheco, membro do OAP - Observadores de Aves de Pernambuco, comentou:“Certamente, se um dia acontecer de todas as espécies nativas abandonarem os centros urbanos, ficará o fiel pardal para nos consolar”. Curiosamente, na obra de ficção científica “A Máquina do Tempo” (1869), o escritor H. G. Wells, menciona a existência de pardais no ano de 802.701. Caluniado como é, só restaria ao “raçudo” pardal o reconhecimento de granjear, tal como as baratas, a fama de antediluviano – per omnia saecula saeculorum...


BIBLIOGRAFIA

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INTERNET

www.sombras.com.br/lucio/lucio.htm

www.saudeanimal.com.br


– Foto P&B do pardal nas fiações elétricas: Robson Fernandes. O Estado de São Paulo, 2003.

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